A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE HISTÓRIA E DA CULTURA NA FORMAÇÃO DE CIDADÃOS[1] Fábio Oliveira Pinzan[2] Certo dia, numa aula na faculdade, escutei um professor dizer "falta um pouco de moral na política e na sociedade brasileira", e fiquei a me perguntar como fazer para mudar essa realidade. Sei que o professor de História é um grande agente que pode mudar isso, porque "não basta ensinar história" temos que: Iniciar os jovens no conhecimento da história da humanidade (ou parte dela) e transmitir-lhes informações indispensáveis à construção da tão desejada cidadania, ou seja, a formação de uma sociedade de indivíduos conscientes, responsáveis, autônomos. (RIBEIRO, 2004, p. 76). A responsabilidade de formar cidadão, na escola, está majoritariamente na disciplina de História. "A Reforma Francisco Campos[3] colocava o estudo da História como instrumento central da educação política" (FONSECA, 2006, p. 52). Porém, mesmo que a história seja detentora do conhecimento das origens, não cabe somente a ela mudar essa realidade onde a falta de moral e civismo é evidente em nossa sociedade. O professor de história, tendo como tarefa transmitir uma 'memória nacional', não apresenta condições de cumprir isoladamente com este trabalho. O poder governamental, (...), tem examinado a necessidade de se valer de outros instrumentos educacionais para sustentar e fazer perpetuar, na memória dos alunos, quem deve ser considerado agente histórico responsável pelos 'destinos do país' (BITTENCOURT, 1988, p. 43). Vimos então que a autora supracitada diz que o poder governamental já reconhece que não cabe somente ao ensino de história essa formação cívica e moral. Essa responsabilidade tem permanecido com tal disciplina pelo fato de ela "ser a legitimadora 'da tradição nacional, da cultura, das crenças, da arte, do território'" (BITTENCOURT, 1988, p. 43). O professor de História pode ensinar o aluno a adquirir as ferramentas de trabalho necessárias: o saber-fazer, o saber-fazer-bem, lançar os germes do histórico. Ele é o responsável por ensinar e a valorizar a diversidade dos pontos de vista. Ao professor cabe ensinar o aluno a levantar problemas e a reintegrá-los num conjunto mais vasto de outros problemas. (SCHMIDT, 2003, p. 57). Para que seja cumprido o seu papel, o ensino de história tem que ir além da história, no que diz respeito a formar cidadão, com uma consciência moral e cívica. A tarefa de fazer do ensino de História instrumento de legitimação de poderes e de formação de indivíduos adaptados à ordem social não poderia se resumir, no entanto, à imposição de uma abordagem da História que privilegiasse o Estado e a ação dos "grandes homens" como constituidora da identidade nacional. (FONSECA, 2006, p. 71) Sabemos que, com a Nova História, deixou-se de estudar somente a história política e militar, onde se cultuava os nomes dos "grandes heróis" e suas respectivas datas. Porém é importante conhecer um pouco dessa história para dar um sentido a nossa identidade nacional. É preciso conhecer o processo histórico, para sabermos, por exemplo, o que significa os monumentos de nossa cidade, qual a razão de se preservar o que encontramos nos museus, isso também é cultura cívica e é extremamente necessária para enaltecer o sentimento de brasileiro, a nossa identidade. Há ainda um estereotipo que perpetua desde o regime militar, de que a cultura cívica é quase que um culto militar. Esquecemos que ela pode ser usada hoje, como já foi dito acima para engrandecer o sentimento de brasileiro. Precisa-se ensinar mais sobre as histórias dos nossos "heróis", nossa história, pois isso será muito importante para a formação de uma identidade. Uma abordagem muito relevante no ensino de história e que ajuda na formação de cidadãos, é a cultura. Mas com isso nascem as problematizações, o que é cultura? Como funciona a cultura? E a mais difícil, como conciliar cultura e ensino de história? Podemos entender que: Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante. (LARAIA, 2006, p. 59). Cultura são regras, convenções impostas por determinados grupos, sociedades. Tudo o que nos cerca tem um significado imposto pela nossa sociedade. Um exemplo disso é a cor preta. Nas sociedades ocidentais ficou convencionado que, a cor preta significa luto, já nas sociedades orientais essa mesma cor que é triste para nós, significa alegria, pode ser o nascimento de uma criança. Portanto, a cultura é um complexo de regras que nos são imposta. Saber como a cultura funciona, ou ainda, tentar ver uma cultura de forma concreta não é fácil, pois a cultura não é estática, bem pelo contrário, porque "qualquer sistema cultural está num contínuo processo de modificação" (LARAIA, 2006, p. 95), portanto a cultura é dinâmica. A cultura opera em tudo aquilo que nos rodeia, nos costumes, nos pensamentos, no que vestimos, no que comemos, no que acreditamos. Funciona naquilo que fazemos e no que não fazemos ou não podemos fazer. Então cultura é um regimento de tudo que nos cerca. O professor de história tem que ensinar aos alunos o saber-fazer histórico. O professor também é um agente/sujeito transmissor da cultura e deve utilizar-se desta ferramenta para formar cidadão, "como sugere Fernando Savater, no seu livro O valor de educar, (...), 'preparar competidores' e 'formar homens completos'" (RIBEIRO, 2004, p. 77). A pessoa que usufrui dos seus direitos e deveres que, lhe foi imposta por uma sociedade democrática, pessoa esta que tem consciência do poder que tens em mãos, que pode modificar os rumos da política do lugar onde vive, com o voto, por exemplo, essa pessoa é um cidadão. A pessoa que, também, está preocupada com os políticos que ela elegeu e como anda a sua administração, essa pessoa exerce a cidadania. Pensando no passado, ficava mais fácil quando existiam disciplinas específicas para isso, às esquecidas OSPB (Organização Social e Política Brasileira) e a EMC (Educação Moral e Cívica) que: De acordo com o Decreto Lei 869/68, tornou-se obrigatória no currículo escolar brasileiro a partir de 1969, (...). Ambas, EMC e OSPB, (...) ficaram caracterizadas pela transmissão da ideologia do regime autoritário ao exaltar o nacionalismo e o civismo dos alunos e privilegiar o ensino de informações factuais em detrimento da reflexão e da análise. (MENEZES e SANTOS, 2002). Essas disciplinas foram retiradas dos currículos escolares por serem consideradas "disciplinas da época da ditadura militar". Grande parte do que era ensinado nessas disciplinas ficaram perdidas e, uma pequena parte cabe hoje ao professor de história ensinar. Realmente naquela época era para "transmissão da ideologia do regime autoritário" (MENEZES e SANTOS, 2002), mas hoje vivemos em uma democracia[4]. Os cidadãos brasileiros são livres para escolher quem são seus representantes. Assim, tendo a EMC e OSPB como disciplinas escolares, estariam reforçando a formação de nossos cidadãos. "Só se peleja pelo que se respeita. Só se respeita o que se ama. Só se ama aquilo que se conhece"[5]. A identidade brasileira atualmente, está focada em ícones como o futebol, o samba, o "jeitinho brasileiro", a persistência[6]. Falta nas escolas uma cultura cívica, como havia a cerca de vinte anos atrás nas aulas de Educação Moral e Cívica e de Organização Social e Política Brasileira. Tinha-se o hasteamento da Bandeira Nacional e se cantava os hinos nacional, estadual e municipal. Passavam aos alunos os conhecimentos dos três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, e com isso havia um maior conhecimento de como funciona a política desta nossa "pátria amada, idolatrada"[7]. Conforme a seguir, Cantar corretamente os diferentes hinos patrióticos na sala de aula e nas cerimônias cívicas da escola era fundamental para incultar nos alunos o amor à pátria através da reverência a seus símbolos, dentre os quais se destacam os hinos, a bandeira e os heróis e datas nacionais homenageados por ocasião de feriados. (NASCIMENTO). Penso que cabe ao professor e a escola Mais amor ao estudo, mais methodo e mais dedicação aos alunnos, esforçando-se pelo aproveitamento delles, obrigando-os a executar os hymnos nacionaes, em cuja escola são mal cantados. (RELATÓRIO Apud NASCIMENTO). Portanto para termos uma sociedade mais composta de cidadãos, com um senso crítico aguçado sobre nossa política atual e nossa sociedade, penso que temos que começar a corrigir na base da sociedade, as crianças. Deve-se começar com as novas gerações, o "futuro da nossa Nação", os que serão votados e aqueles que irão eleger no futuro. É possível, por meio do ensino de história e também da escola, ensinar nossas crianças a pensar, a deixar de lado o senso comum. Ensinar o que é cultura, o que é política, o que é moral, o que é civismo. Assim, talvez se possa modificar a frase "falta um pouco de moral na política e na sociedade brasileira". REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. "As 'Tradições Nacionais" e o ritual das festas cívicas". In: PINSKY, Jaime (org). O ensino de história e a criação do fato. 11. ed, São Paulo: Contexto, 2004. FONSECA, Thais Nívia de Lima e, História & ensino de História. 2. ed, 1 reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. "EMC (Educação Moral e Cívica)" (verbete).Dicionário Interativo da Educação Brasileira. EducaBrasil. São Paulo: Midiamix, 2002. NASCIMENTO, Dorval do. Inspeção Escolar, Patriotismo e Escola: organização da inspeção escolar e cultura cívica nas escolas primárias de Santa Catarina (1900-1930). RIBEIRO, Marcus Venicio. "Não basta ensinar História; para uma boa formação os alunos precisam entender bem o que lêem e saber pensar e escrever". In: Nossa História, ano 1, n. 6. Rio de Janeiro, Abril. 2004. SCHMIDT, Maria Auxiliadora. "A formação do professor de História e o cotidiano na sala de aula". In: BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes (org). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003. [1]Artigo feito como requisito de avaliação à Disciplina de Ensino de História II, ministrada pela Professora Daniele Reiter. Dourados, Novembro de 2009. [2]Acadêmico da segunda série do curso de História da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD. [3]Nome da primeira reforma educacional de caráter nacional, realizada no início da Era Vargas (1930-1945), sob o comando do ministro da educação e saúde Francisco Campos. Essa reforma, de 1931, foi marcada pela articulação junto aos ideários do governo autoritário de Getúlio Vargas e seu projeto político ideológico, implantado sob a ditadura conhecida como "Estado Novo". [4]regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos. [5]Ditado popular de autor desconhecido. [6]Diz-se que o povo brasileiro é muito persistente. Tem-se até um ditado popular de autor desconhecido sobre a persistência deste povo que diz, " sou brasileiro e não desisto nunca". [7]Trecho do Hino Nacional Brasileiro, com letra de Joaquim Osório Duque Estrada (1870 – 1927) e música de Francisco Manuel da Silva (1795-1865). Tornou-se oficial no dia 1 de setembro de 1971, através da lei nº 5700.