Foi uma espécie de passeata de longa duração, realizada por políticos e militares brasileiros entre os anos de 1924 e 1927. Em suas marchas pelo país, os integrantes da coluna combatiam o governo do então presidente ArthurBernardes e de seu sucessor, Washington Luís. Além disso, defendiam o voto secreto e a obrigatoriedade do ensino primário para toda a população, entre outros objetivos. Esses eram os ideais, digamos, positivos do movimento. Mas ele também tinha um caráter golpista e elitista, ao contrário do que muitos imaginam. Para compreender as motivações dos revoltosos, é preciso lembrar um pouco da política da época. O presidente Arthur Bernardes (1922-1926) governou o país em constante estado de sítio, apoiado por lideranças rurais, em um sistema que isolava politicamente os grupos urbanos. Diante desse quadro, a classe média em ascensão - militares, funcionários públicos, pequenos proprietários e trabalhadores em geral - começou a reivindicar sua fatia no bolo. O clima de tensão culminou no tenentismo, movimento que promoveu vários levantes contra o governo, como o ocorrido em São Paulo em julho de 1924. O golpe liderado pelo tenente-coronel Isidoro Dias Lopes, da Força Pública Estadual - a polícia militar da época - foi escorraçado por tropas federais. "Os rebeldes juntaram-se aos tenentes do Rio Grande do Sul, que em 29 de outubro, sob o comando do capitão Luiz Carlos Prestes, amotinaram várias unidades militares naquele estado. Paulistas e gaúchos deram início, então, à marcha que ficou conhecida como a Coluna Prestes", diz a historiadora Marly de Almeida Gomes Vianna, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Em seu percurso, os rebeldes realizaram uma campanha de propaganda política, mas não conseguiram derrubar o governo. Batalhão numeroso O número de participantes na Coluna Prestes oscilou muito. Alguns grupos aderiam à coluna devido a algum interesse específico, mas se desligavam em seguida. O efetivo também incluía mulheres, ainda que em número reduzido. Em seu auge, durante a passagem pelo atual Mato Grosso do Sul, a marcha tinha cerca de 1 500 pessoas A união faz a força Os revoltosos em retirada entraram no Paraná e, no início de 1925, reuniram-se com a tropa do capitão Luís Carlos Prestes, que havia partido do Rio Grande do Sul. A coluna estabeleceu seu quartel-general em Foz do Iguaçu, mas teve de fugir devido à perseguição liderada pelo general Cândido Rondon Última volta Entre fevereiro e março de 1927, após atravessar o Pantanal, uma parte do grupo chegou ao Paraguai, enquanto o restante foi para a Bolívia. Com o movimento desmantelado, os revolucionários optaram pelo exílio. No ano seguinte, Prestes seguiu para a Argentina, onde aderiu ao comunismo. Maior inimigo Como a tática da coluna era basicamente evitar confrontos com as tropas inimigas, as mortes ocorriam mais por doenças do que por ferimentos no campo de batalha - não existem dados precisos sobre o número de baixas. Diante das dificuldades encontradas no trajeto, as deserções também eram muito comuns Até tu, lampião? Fugindo das tropas federais, a coluna atravessou o país até o Maranhão, percorreu o Nordeste e retornou por Minas Gerais, promovendo comícios e divulgando manifestos contra o governo. Existem boatos de que até Lampião, o mais famoso cangaceiro do Brasil, teria entrado em confronto com os revoltosos, mas não há registros históricos que comprovem isso O lado negro Os historiadores não chegam a um consenso sobre esse assunto, mas o fato é que a coluna também cometeu muitos delitos por onde passou. Há relatos de saques e estupros em algumas comunidades, mas os crimes eram punidos com rigor pelos líderes do movimento, às vezes até mesmo com a execução dos culpados Quando um não quer... Como os revoltosos não tinham a menor chance contra as tropas do governo, eles optaram por táticas de despistamento. Às vezes eram espalhados boatos sobre a intenção da coluna de passar por determinado lugar, quando, na verdade, ela estava bem distante dali Primeiros passos Diante do avanço de tropas federais para reprimir o levante tenentista ocorrido em 1924 em São Paulo, parte dos revoltosos decidiu deixar a capital do estado em 28 de julho daquele ano, sob comando do major Miguel Costa, da Força Pública de São Paulo. Esse foi o começo da famosa coluna. Na fuga, eles enfrentaram um bombardeio de artilharia que destruiu parte da cidade Na Livraria: As Noites das Grandes Fogueiras: Uma História da Coluna Prestes - Domingos Meirelles, Record, 1995 A Coluna Prestes: Rebeldes Errantes - José Augusto Drummond, Brasiliense, 1991 Na Internet: www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/anos20/ev_crisepol_prestes.htm Extensão da marcha Cerca de 25 mil quilômetros Duração Julho de 1924 a março de 1927 Meios de transporte A maioria andava a pé; os líderes, a cavalo ou em lombo de burro Fonte: Marcha radical
Do sul ao nordeste, a coluna atravessou o país. Mas seus líderes acabaram no exílio
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Heróis da resistência
As condições de transporte eram precárias, mas a marcha percorreu milhares de quilômetros