Por Prof. Shozo Motoyama
Como se pode notar pela longa exposição feita até agora, o objetivo de pesquisa da filosofia da Ciência é a própria Ciência. Enquanto os cientistas ocupam-se em estudar a Natureza, os filósofos preocupam-se com a Ciência. Nesse sentido, parece lícito considerá-la como teoria da Ciência. Em verdade como não existe um consenso é mister falar em teorias da Ciência, e não teoria da Ciência. Cada qual de acordo com a sua compreensão sobre a natureza da Ciência montou o seu sistema filosófico. O interessante, é que ao contrário das filosofias dos séculos passados, praticamente nenhum deles advoga a possibilidade de compreender a Ciência independente das características internas da mesma. São filosofias científicas, isto é, filosofias erigidas em íntima associação com a Ciência e com manifesta predileção pelo método científico.
Assim por exemplo a filosofia analítica enfoca principalmente o problema lingüístico. Nada mais justo, uma vez que toda teoria ou sistema conceitual tem de ser comunicável. Já a corrente francesa chama atenção para a estrutura do espírito científico. No plano das idéias, isto é perfeitamente compreensível portanto existem correntes bem determinadas no subterrâneo dos diversos fenômenos do pensamento científico. Já Taketani aponta a cosmovisão e formas de pensamento como fatores importantes do evolver científico. Sem dúvida, não há que se negar que as teorias são enformadas em grande monta por esse fatores. O idoneismo fala de sistemas conceituais intimamente ligado a uma lingüística em permanente transformação, enquanto o pragmatismo discorre sobre matrizes culturais e biológicos. Em resumo, pode se dizer que estas são algumas das facetas do conhecimento científico ligadas ao social e ao humano. Como o conhecimento científico é feito pelo homem dentro de um ambiente cultural e social, essas ligações tem uma razão lógica. A nossa idéia é de que existe num dado momento histórico, condições intersubjetivas devidas aos fatores humanos e sociais, que atuam como condições de contorno para a atuação da razão científica. Como elas são espécies de estruturas mentais que funcionam como substrato do pensamento do pensamento científico denominamos de "substrato mental".
Entrementes, no nosso entender, é de fundamental importância a interação existente entre os fatores humanos (sociais) e os fatores naturais (reais) para o conhecimento científico. Ela foi apontada com acuidade como uma adequação da razão ao real pelo idoneismo. Contudo, ela é muito mais do que isso. É uma adequação no sentido de que a razão deve assimilar as estruturas do real nos seus sistemas conceituais (teorias), mas ao mesmo tempo ela atua através da prática no real, modificando-o. O intercurso entre os dois é portanto muito mais dinâmico e a sua compreensão é imprescindível para entender a Ciência.
A Filosofia da Ciência é portanto o estudo da natureza da Ciência nos seus diversos aspectos. Embora essa não possa ser esclarecida de forma definitiva devido a sua própria mobilidade e complexidade, ela fornece balizas imprescindíveis para a ação científica. Dessa forma deve ser tomada como uma filosofia aberta e com essa característica é uma inesperável companheira da Ciência aberta, esperança da libertação humana.
Retirado de: Anais do Simpósio sobre Filosofia da Ciência. São Carlos, Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia / Academia de Ciências do Estado de São Paulo. Publicação da ACIESP Nº 12. 24 e 25 de junho de 1978.
Fonte:
http://www.geocities.com/revista_espiral/noosfera6.htm