31.3.11

Principais Escolas de Filosofia da Ciência

Por Prof. Shozo Motoyama
Principais Escolas de Filosofia da Ciência
Como se pode notar pela longa exposição feita até agora, o objetivo de pesquisa da filosofia da Ciência é a própria Ciência. Enquanto os cientistas ocupam-se em estudar a Natureza, os filósofos preocupam-se com a Ciência. Nesse sentido, parece lícito considerá-la como teoria da Ciência. Em verdade como não existe um consenso é mister falar em teorias da Ciência, e não teoria da Ciência. Cada qual de acordo com a sua compreensão sobre a natureza da Ciência montou o seu sistema filosófico. O interessante, é que ao contrário das filosofias dos séculos passados, praticamente nenhum deles advoga a possibilidade de compreender a Ciência independente das características internas da mesma. São filosofias científicas, isto é, filosofias erigidas em íntima associação com a Ciência e com manifesta predileção pelo método científico.

Contudo nesse caso as similaridades são apenas ilusórias. Nas suas formas concretas, as diferenças são bem palpáveis. O próprio objeto, quando detalhado exibe diferenças sensíveis. Alguns privilegiam ou estudam exclusivamente os produtos da produção científica enquanto outros concentram-se no ato da própria produção. Em geral, as técnicas preferidas são as de lógica formal no primeiro caso e as da dialética no segundo. Obviamente cada qual com defeitos e virtudes. O certo é que nenhuma delas conseguiu se impor meridianamente sobre outras. No nosso entender, de uma forma muito ampla elas completam-se, porque cada qual apontou e fixou-se numa das facetas do conhecimento científico.

Assim por exemplo a filosofia analítica enfoca principalmente o problema lingüístico. Nada mais justo, uma vez que toda teoria ou sistema conceitual tem de ser comunicável. Já a corrente francesa chama atenção para a estrutura do espírito científico. No plano das idéias, isto é perfeitamente compreensível portanto existem correntes bem determinadas no subterrâneo dos diversos fenômenos do pensamento científico. Já Taketani aponta a cosmovisão e formas de pensamento como fatores importantes do evolver científico. Sem dúvida, não há que se negar que as teorias são enformadas em grande monta por esse fatores. O idoneismo fala de sistemas conceituais intimamente ligado a uma lingüística em permanente transformação, enquanto o pragmatismo discorre sobre matrizes culturais e biológicos. Em resumo, pode se dizer que estas são algumas das facetas do conhecimento científico ligadas ao social e ao humano. Como o conhecimento científico é feito pelo homem dentro de um ambiente cultural e social, essas ligações tem uma razão lógica. A nossa idéia é de que existe num dado momento histórico, condições intersubjetivas devidas aos fatores humanos e sociais, que atuam como condições de contorno para a atuação da razão científica. Como elas são espécies de estruturas mentais que funcionam como substrato do pensamento do pensamento científico denominamos de "substrato mental".

Outrossim, existe uma realidade objetiva, objeto do conhecimento científico. Essa realidade fecunda e quase inesgotável é a matriz natural do conhecimento científico, se nos for permitido usar o termo. O que o idoneismo apontou com redobrada insistência foi a necessidade da adequação da razão a esse real objetivo. O motivo da renovação constante e permanente das teorias científicas estaria na fecundidade e multiplicidade do real. Se se reconhece a objetividade do mesmo não se pode negar o fato da Ciência estar determinada pelo menos em parte, pelo mesmo. Nesse aspecto, torna-se importante o reconhecimento de níveis retratados em forma de estrutura dentro do real e as suas inter-relações, característica apontada pela teoria de "três estágios".

Entrementes, no nosso entender, é de fundamental importância a interação existente entre os fatores humanos (sociais) e os fatores naturais (reais) para o conhecimento científico. Ela foi apontada com acuidade como uma adequação da razão ao real pelo idoneismo. Contudo, ela é muito mais do que isso. É uma adequação no sentido de que a razão deve assimilar as estruturas do real nos seus sistemas conceituais (teorias), mas ao mesmo tempo ela atua através da prática no real, modificando-o. O intercurso entre os dois é portanto muito mais dinâmico e a sua compreensão é imprescindível para entender a Ciência.

A Filosofia da Ciência é portanto o estudo da natureza da Ciência nos seus diversos aspectos. Embora essa não possa ser esclarecida de forma definitiva devido a sua própria mobilidade e complexidade, ela fornece balizas imprescindíveis para a ação científica. Dessa forma deve ser tomada como uma filosofia aberta e com essa característica é uma inesperável companheira da Ciência aberta, esperança da libertação humana.

Retirado de: Anais do Simpósio sobre Filosofia da Ciência. São Carlos, Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia / Academia de Ciências do Estado de São Paulo. Publicação da ACIESP Nº 12. 24 e 25 de junho de 1978.

Fonte:
http://www.geocities.com/revista_espiral/noosfera6.htm