12.12.11

Segunda Guerra Mundial: a resistência soviética à invasão alemã

24 julho de 1942: soldados alemães dispararam os últimos tiros nas ruas de Rostov, onde atiradores de elite soviéticos resistiam, mesmo depois de a .... Foto: Getty Images
24 julho de 1942: soldados alemães dispararam os últimos tiros nas ruas de Rostov, onde atiradores de elite soviéticos resistiam, mesmo depois de a cidade ter caído, destruída pelos ataques nazistas
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O famoso teórico da guerra Clausewitz já alertava sobre as dificuldades de se conquistar a Rússia. A vastidão do país, as poucas estradas e a determinação do povo em lutar levavam invasores a um assombroso desgaste. E em um capítulo especial sobre os efeitos das marchas prolongadas, ele mostra como essas diminuem o potencial combativo de um exército. Assim, ao penetrarem cada vez mais no solo russo, as forças alemãs começaram a sentir os efeitos destes fatores.

Agora não se tratava de conquistar pequenos países da Europa Ocidental, mas sim uma região que só em sua área européia tinha mais de 5 milhões de quilômetros quadrados - duas vezes e meia superior a da Europa Ocidental.
As linhas invasoras, ao se estenderem por mais de mil quilômetros, dificultaram o abastecimento e o municiamento, assim como se tornaram vulneráveis ao ataque de guerrilheiros na retaguarda. Sendo o exército alemão essencialmente motorizado, havia necessidade constante de combustível e reposição de peças para torná-lo eficiente.
A resistência soviética aumentava de intensidade conforme os alemães se aproximavam de Moscou. O inverno de 1941 foi assaz precoce. O General Guderiam notou as primeiras nevascas na primeira quinzena de outubro. As estradas ficaram enlameadas, diminuindo cada vez mais a capacidade de manobra das divisões panzer. Mesmo assim, os alemães atingiram a periferia da capital soviética em novembro de 1941. A temperatura baixou terrivelmente, entre 20 e 25 graus abaixo de zero. Como esperavam o término da guerra para antes do inverno, foram surpreendidos sem vestuário apropriado.
Hitler ordenou que os exércitos aguardassem a passagem do inverno em suas posições de assalto. A capital seria conquistada na primavera de 1942. É neste momento que, com auxílio de tropas siberianas, o Marechal Zukov inicia o contra-ataque na região de Moscou, surpreendendo os alemães e afastando-os em definitivo.
O pânico das tropas contaminou todo o alto-comando, fazendo com que Hitler afastasse uma série de generais e assumisse o controle direto da guerra. A ordem era resistir em suas posições. Percebeu que uma retirada em pleno inverno, como muitos generais desejavam, poderia se transformar numa catástrofe de enormes proporções, desmoralizando definitivamente suas tropas. Segundo alguns, esta foi uma das poucas ordens sensatas de Hitler.
Até o fim de 1941, caíram sob controle alemão 40% da população soviética, 41% das estradas de ferro, 38% do gado, 58% das siderurgias de aço, 60% do alumínio, 84% do açúcar, 38% dos campos cerealísticos, 63% do carbono e 60% do ferro. Apesar dessas conquistas, nunca os alemães tinham sido postos fora de combate com tanta intensidade: foram 202.251 mortos, 725.642 feridos e 46.511 desaparecidos, perfazendo até fevereiro de 1942, 31% do total da força invasora.
Na primavera de 1942, os alemães retomaram a ofensiva nas regiões do sul da Rússia. Toda a área do Mar Negro foi conquistada, incluindo o Cáucaso. Veio o "verão negro" da história do exército soviético. No entanto, era visível que os russos preparavam-se cada vez melhor para enfrentar os cercos dos blindados inimigos. Tropas aguerridas estavam se forjando no transcorrer das batalhas. Apesar das enormes perdas, os soviéticos passaram a ser abastecidos com um equipamento mais farto e de melhor qualidade, destacando-se o tanque T-34 e os morteiros-foguetes katyushas.
O esforço de guerra soviético
Nos últimos anos da década de 1930, conforme a negra nuvem da guerra se alastrava pela Europa, os soviéticos passaram a construir as fábricas de forma a serem facilmente desmontáveis e conduzidas às regiões fora do alcance da aviação invasora. Quando os alemães atravessaram a fronteira da URSS, em junho de 1941, deu-se início a remoção. Nos Urais foram instaladas 455 indústrias, 210 na Sibéria e 250 na Ásia Central, num total de 1.360.
Isso, no entanto, não evitou que mais de 1,7 mil cidades fossem destruídas, bem como 70 mil aldeias, desabrigando mais de 25 milhões de habitantes. Também foram destruídas 31.850 fábricas, 65 mil quilômetros de estradas de ferro foram totalmente inutilizadas, perecendo ainda 71 milhões de cabeças de gado variado. Mas a mobilização da população propiciou às forças armadas 11,55 milhões de soldados, dos quais 6,35 milhões entraram de fato em combate.
Catastróficas foram as perdas civis e militares. Apesar dos dados serem aproximativos, Ellenstein os calcula ao redor dos 25 milhões de mortos (provocados pelo combate direto contra o inimigo, assim como pela fome, frio e epidemias). Das despesas totais para o esforço de guerra, calcula-se que, a partir de 1942, 60% da receita estatal foi destinada aos produtos bélicos. A produção de aviões atingiu 3 mil unidades por mês a partir de 1943, e a de blindados, 2 mil.
Stalin, no final do conflito, afirmou que seu país havia construído 100 mil blindados e 120 mil aviões. Considerável igualmente foi a ajuda prestada pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha: segundo o General Deane, os aliados ocidentais enviaram para a URSS:
-> 1 mil caminhões, 13 mil veículos de guerra, 2 mil veículos para canhões e 35 mil motocicletas;
-> Milhões de toneladas de produtos de petróleo;
-> Milhões de toneladas de víveres e equipamento ferroviário.
O auge do abastecimento, que se fez em sua maior parte pelo porto popular de Murmansk, ocorreu entre os anos de 1943 e 1944, contribuindo enormemente para a contra-ofensiva geral que levou os alemães à derrota.
A política de ocupação alemã
Como conseqüência lógica da política racista, os nazistas trataram com métodos bárbaros e cruéis as populações do Leste Europeu. Suas vítimas principais foram os poloneses e russos, vistos como untermenschen (seres inferiores) pelos germanos conquistadores. De acordo com os princípios ideológicos de Mein Kampf, diz-nos M. Crouzer, "tratava-se de criar para algumas nações que disto fossem dignas, zonas vitais formadas dum certo número de 'grandes espaços' (grossraum), política e economicamente autônomos, ligados por acordos bilaterais".
O centro seria formado pela Alemanha, que seria a única a ser provida de parques industriais. Na periferia, estariam as nações camponesas - o Baurwall, ou "muro de camponeses", colonizada por alemães (Führungsvolk) e tendo como servos os eslavos. Reduzir as populações do Leste ao estado absoluto de vassalagem foi, pois, a política dos conquistadores. Foram constituídas tropas especiais de extermínio e eliminação de marxistas, francos-maçons, democratas-burgueses, sindicalistas, comissários políticos e, principalmente, judeus.
As regiões do Leste foram administradas pelos comissários do Reich (Reich-komissaer) com autoridade de vida e morte sobre as populações subjugadas. Seus objetivos, segundo Erich Koch eram claros: "Eu não vim aqui para espalhar a felicidade, vim para ajudar o Führer. (...) Não estamos aqui para trazer manhã, mas para criar as bases de vitória. Somos uma raça de senhores que deve se lembrar sempre que o mais humilde trabalhador alemão tem social e biologicamente mil vezes mais valor que a população daqui".
Assim, as escolas e universidades foram suprimidas, permitindo-se apenas o nível mínimo de escolarização. Professores e intelectuais foram fuzilados em massa. Este imenso império de terror era controlado pelo Reichsführer-SS Heinrich Himmler, que supervisionava pessoalmente a ação dos Einsatzuommandos, especializados no genocídio. Para tanto, foram construídos campos de concentração que passaram a eliminar pelo gás milhões de vítimas.
Em Auschwitz, tornou-se possível assassinar com gás um lote de duas mil pessoas em meia hora, e repetir a operação quatro vezes por dia. As mais bárbaras e atrozes experiências foram feitas com os prisioneiros em melhores condições, tornando-se tristemente célebre o Dr. Mengele. A rede de campos era composta por 15 de grande porte (Dachau, Neungamme, Mathausen, Ravesbruck, Chelmo, Treblinka, Sobibor, Maidaneck, Belzec, Belsen, Auschwitz, Theresinstadt) e 900 menores, estando em sua maior parte situados em terras polonesas. Acredita-se que pereceram nos campos de extermínio mais de 10 milhões de pessoas, das quais 60% eram de origem judaica.
Conforme as necessidades da guerra aumentavam, as SS foram encarregadas, juntamente com a Gestapo, de obterem mão-de-obra para a indústria alemã. Inicialmente, solicitou-se o trabalho voluntário, mas a partir de 1942 instituiu-se o trabalho forçado, adotando-se o seqüestro como uma maneira usual. Mais de 3 milhões de operários de ambos os sexos foram trabalhar no Reich, conduzidos como gado em enormes comboios ferroviários.
Pode-se dizer que Hitler ressuscitou a velha política colonialista praticada pelos europeus na Ásia e na África, querendo transformar os eslavos "nos seus negros", "nos seus amarelos". É compreensível, pois, entender a tenacidade com que os russos lutaram.
Fonte;
VOLTAIRE SCHILLING