No dia 30 de julho de 1980, a Knesset aprovava uma lei anexando Jerusalém Oriental ao território israelense. A medida, uma reação nacionalista à devolução do Sinai ao Egito, bloqueou o processo de paz no Oriente Médio.
Protesto palestino no centro histórico de Jerusalém
"Essa é uma questão essencial para a existência e a identidade dos palestinos como um todo. Fisicamente, Jerusalém está situada no coração da Palestina; é um elo geográfico, mas também histórico, entre seu passado e o futuro", diz a líder política Hanan Ashrawi.
Jerusalém é o principal foco do conflito entre israelenses e palestinos, judeus e muçulmanos. A "cidade santa" é um microcosmo da guerra no Oriente Médio. Enquanto não for definido o destino de Jerusalém, provavelmente não haverá solução para o conflito. Não há perspectiva de paz, porque tanto os palestinos quantos os judeus ressaltam o papel central da cidade em sua vida e em seu pensamento.
"Para nós, nunca houve cidade substituta ou alternativa para Jerusalém. Nunca em nossa história. E eu não falo de 1.300 anos; falo de 4 mil anos", diz o rabino Lau. Desses 4 mil anos, as últimas décadas podem ter sido decisivas para a história da cidade, que se confunde com a história de Israel.
Partilha de Jerusalém
Às vésperas do fim do mandato britânico, em maio de 1948, os líderes judeus proclamaram o Estado de Israel. Países árabes (Egito, Iraque, Síria e Jordânia) enviaram tropas para impedir a criação do país. A guerra terminou em janeiro de 1949, com a vitória de Israel, que, no entanto, teve de partilhar Jerusalém com a Jordânia.
Em 5 de junho de 1967, forças israelenses lançaram um ataque preventivo contra o Egito, a Síria e a Jordânia, que preparavam uma nova guerra contra Israel. A Guerra dos Seis Dias terminou em 10 de junho, com a vitória de Israel, que conquistou o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e as Colinas de Golã, e revogou a partilha de Jerusalém.
Desde então, o governo israelense reivindica todo o território da cidade. Em 1980, deu contornos concretos a essa reivindicação, anexando Jerusalém Oriental. Isso amarrou as mãos até mesmo de israelenses moderados, que estavam dispostos a fazer concessões aos palestinos.
Begin e o acordo de paz
Em 1979, um ano após a assinatura dos tratados de Camp David, Israel firmou um acordo de paz com o Egito – o primeiro com um país árabe. A decisão surpreendeu a comunidade internacional, visto que nessa época o governo israelense era liderado por Menachem Begin. Representante máximo da ala nacionalista, Begin sempre fora contra a devolução dos territórios conquistados na Guerra dos Seis Dias, mas acabou devolvendo toda a península do Sinai ao Egito.
Begin mudou sua posição para não desperdiçar a primeira chance de um acordo de paz. Mas nem todos seus correligionários entenderam esse passo. A direitista Geula Cohen, por exemplo, argumentava que "uma vez aplicado ao Egito o princípio da paz em troca de terra, não seria possível ignorá-lo em relação a Jordânia, Síria e Jerusalém Oriental". Foi dela o projeto de lei aprovado em 30 de julho de 1980 pela Knesset (o Parlamento israelense), oficializando a anexação de Jerusalém Oriental.
Segundo Geula Cohen, somente através da anexação Israel poderia garantir que a parte leste da cidade (habitada por árabes) fosse excluída das futuras negociações de paz. Ela sabia que um voto contra a Lei de Jerusalém teria consequências fatais para a carreira de qualquer parlamentar com aspirações de continuar na política.
Nó da questão
A lei foi rapidamente aprovada, mas ela toca num assunto que causa polêmica há muitos anos. De acordo com uma resolução das Nações Unidas, a cidade deveria ter sido internacionalizada em 1947.
A primeira tentativa realmente séria de negociar um acordo que garantisse direitos semelhantes a israelenses e palestinos fracassou no governo de Ehud Barak. Segundo Kollek, a coexistência de "duas capitais numa cidade é algo impossível. Tem-se duas linhas alfandegárias e duas polícias. Já vivemos numa cidade dividida e isso não foi nada agradável. Não foi bom nem para a cidade nem para os habitantes".
Autoria Peter Philipp (gh)
Fonte:DW