Em 1º de agosto de 1936, Hitler abria oficialmente os Jogos Olímpicos de Berlim, com os quais os nazistas pretendiam apresentar uma imagem positiva do regime. Mas o destaque acabou sendo um atleta negro: Jesse Owens.
Estádio decorado com bandeiras nazistas na cerimônia de abertura
Em 1931, ao escolher Berlim como a cidade-sede das Olimpíadas de 1936, o Comitê Olímpico Internacional (COI) não percebeu – ou não quis perceber – a nuvem marrom (cor do nazismo) que se aproximava no horizonte político da Alemanha.
Depois dos jogos, o próprio número 2 do regime, Rudolf Hess, afirmaria numa reunião do NSDAP (partido nazista) em Nurembergue, que Berlim jamais teria sido escolhida em 1931 se o mundo soubesse quem estaria no poder na Alemanha cinco anos mais tarde.
O fato é que, mesmo depois de Hitler chegar ao poder, em 1933, o COI não revisou sua decisão de 1931. Alguns países, principalmente os Estados Unidos, convocaram o boicote dos Jogos Olímpicos. Mas esses apelos fracassaram também devido à ação de funcionários como Averz Brundage, que mais tarde se tornaria presidente do COI.
Os nazistas aproveitaram o evento para propagandear suas ideias e não economizaram para isso. O orçamento dos jogos foi ampliado em 20 vezes. O resultado foi a construção do mais moderno complexo esportivo até então. O Reichssportfeld (hoje conhecido como Olympiapark Berlin) tinha como ponto central o Estádio Olímpico de Berlim, com capacidade para abrigar 100 mil pessoas.
Os organizadores criaram o cortejo da tocha olímpica, que existe até hoje. Um sino gigante com a inscrição "Ich rufe die Jugend der Welt" (Eu chamo os jovens do mundo) – celebrou a chegada da tocha na cidade olímpica. Dessa forma, o regime nazista tentava se apresentar como pacífico e aberta para o mundo.
O governante nazista de Berlim, Julius Lippert, disse em discurso três dias antes da abertura dos jogos para os representantes do Comitê Olímpico: "Berlim saúda os guerreiros olímpicos do todo o mundo. Saúda ainda, nos senhores e com os senhores, os representantes de mais de 50 nações, com as quais toda a Alemanha deseja conviver como num reduto de paz no espírito da compreensão mútua."
Era o lobo em pele de cordeiro. Por ordens de Hitler foram retiradas dos arredores da cidade olímpica todas as referências antissemitas ou que pudessem manchar a imagem da Alemanha pacífica que ele pretendia apresentar aos visitantes. O pasquim nazista Der Stürmer, por exemplo, foi recolhido de todas as bancas de revistas nas proximidades do complexo olímpico.
Para os nazistas os Jogos Olímpicos tiveram um sabor de vitória e sucesso. No final a Alemanha arrebatou 38 medalhas de ouro, sendo a recordista de medalhas daquelas Olimpíadas. Apesar disso, quem se consagrou como a grande estrela daqueles jogos foi um atleta negro americano: Jesse Owens, que competiu quatro vezes e nas quatro levou a medalha de ouro.
As novidades dos jogos de Berlim não se limitavam apenas aos mais modernos estádios, mas também à cobertura dos jogos. Pela primeira vez mais de 41 países puderam acompanhar aos jogos através do rádio. Houve também uma programação de 19 horas para uma mídia recente, a televisão.
Na visão dos nazistas, os jogos foram um sucesso. Na mesma reunião do NSDAP em Nurembergue, Hess afirmou que os jogos foram uma "providência do destino" para o regime.
Autor: Stefan Nestler (cs)
Fonte: DW