Em 2 de agosto de 1990, tropas do Iraque invadiram o Kuweit. A invasão seguida da anexação do país vizinho desencadeou a primeira guerra contra o Iraque, liderada pelos EUA.
Ruínas em Bagdá, após ataque com mísseis de cruzeiro dos EUA, em 1991
As primeiras unidades das Forças Armadas do Iraque atravessaram a fronteira do Kuweit à 1 hora da manhã. Ao longo de vários dias, mais de 10 mil soldados iraquianos haviam se concentrado na fronteira, mas até então tinha-se esperança de que tudo não passasse de uma ameaça do presidente Saddam Hussein.
O Iraque acusava o país vizinho de provocar baixas no preço do petróleo no mercado internacional, ao vender mais que a cota estabelecida pela Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo (OPEP).
O ditador iraquiano exigia que o Kuweit perdoasse a dívida que seu país contraíra durante a guerra com o Irã (1980-1988), e cobrava uma indenização de 2,4 bilhões de dólares, alegando que os kuweitianos estavam explorando ilegalmente os campos de petróleo do Iraque. Saddam Hussein reivindicava ainda o controle de portos do Golfo Pérsico. No mais, ele advertia que, historicamente, o Kuweit fazia parte do Iraque.
Equívoco árabe
A Liga Árabe tinha esperança de que o conflito pudesse ser solucionado por meio de negociações, pois estava convencida de que Saddam Hussein não tinha interesse no Kuweit ou no petróleo, e o que queria era mesmo dinheiro. O Estado iraquiano estava altamente necessitado de recursos depois da longa guerra com o Irã.
Ainda no dia 1º de agosto houve uma tentativa, na Arábia Saudita, de solucionar o conflito por vias diplomáticas. Os iraquianos abandonaram as negociações e, no dia seguinte, os jornais kuweitianos noticiaram que ainda seriam necessárias mais mediações e negociações.
Invasão sem resistência
No dia 2 de agosto de 1990, enquanto os jornais estavam sendo distribuídos na Cidade do Kuweit, as tropas de elite das Forças Armadas iraquianas já estavam na periferia da capital. Elas haviam percorrido a rodovia de Abdaly, na fronteira ao sul do país, sem enfrentar maior resistência das tropas kuweitianas.
Na época não havia tropas estrangeiras estacionadas no Kuweit, nem acordos de cooperação militar com outros Estados, além dos vizinhos do Golfo Árabe.
Embora a invasão tenha sido uma surpresa, havia muitos indícios e advertências urgentes nos últimos dias: os bancos suspenderam as transferências de dinheiro para o exterior e os voos para fora do país estavam superlotados.
As informações oficiais sobre a situação eram divulgadas com cautela demasiada, embora a família do monarca Kaber al-Ahmad al-Sabah já se encontrasse há tempos em segurança, na Arábia Saudita. Em virtude da censura, muitos se sentiam seguros, achando que as tropas ao longo da rodovia eram kuweitianas. Mas isso durou pouco.
Desorientação e censura
As tropas iraquianas de elite que invadiram o Kuweit cometeram um grande erro: permaneceram durante horas na cidade, por se perderem repetidas vezes, por mais absurdo que pareça. Em seguida, prosseguiram a marcha para o sul e conquistaram o resto do país detentor de um décimo das reservas de petróleo do mundo.
As tropas de ocupação precisaram de vários dias para ter o Kuweit sob controle. Enquanto isso, em Bagdá, ninguém acreditava na notícia oficial sobre a ocupação e dominação do Kuweit pelo Iraque.
No dia 8 de agosto, a situação ficou clara: Bagdá declarou o Kuweit sua 19ª província. No mínimo 200 mil soldados iraquianos encontravam-se naquele momento no Kuweit. As embaixadas que tinham dado refúgio a uma parte dos estrangeiros residentes no país foram obrigadas a fechar suas portas até 24 de agosto e evacuar seus funcionários via Bagdá.
Kuweit apela à ONU
"Meu país foi invadido, meu povo está sofrendo. Volto a pedir aos senhores ajuda e assistência", apelou o então embaixador kuweitiano na Organização das Nações Unidas, em Nova York.
O então presidente dos Estados Unidos, George Bush (pai), prometeu reagir com determinação para revidar a agressão ao Kuweit e anunciou medidas de represália contra o invasor. O Conselho de Segurança da ONU não reconheceu a anexação do Kuweit pelo Iraque. Mas a discussão política durou meses. Saddam Hussein foi instado a retirar suas tropas, mas estava longe de ceder.
Guerra do Golfo
Os Estados Unidos e um grupo de 32 aliados prepararam um contra-ataque e enviaram tropas para a Arábia Saudita. Em janeiro de 1991, meio milhão de soldados estavam estacionados no país.
Em 16 de janeiro começaram os ataques aéreos contra o Iraque e tropas iraquianas no Kuweit. Bagdá reagiu com o lançamento de mísseis contra Israel, na esperança de que uma represália desse país fizesse os aliados árabes romperem a aliança com os EUA. Mas Israel se conteve e não contra-atacou.
O ataque dos norte-americanos e aliados com tropas terrestres começou em 23 de fevereiro. Três dias depois, os aliados ocidentais controlavam o Kuweit e, no dia 27, declararam um cessar-fogo, que Bagdá aprovou em 3 de março, seis semanas depois dos primeiros ataques aéreos. Chegava ao fim a "Operação Tempestade do Deserto" (Operation Desert Storm).
A família real retornou ao Kuweit e a vida se normalizou no país, depois de a monarquia conceder algumas liberdades democráticas.
Autoria Peter Philipp
Fonte: DW