27.11.10

Sete povos das missões

Parte 1A partir de 1862 os Guaranis e os Jesuítas reiniciam a segunda fase das Reduções Jesuíticas denominada de Sete Povos. A finalidade desta ocupação era deter o avanço português em direção ao litoral sul, para tal o governo espanhol determinou a fundação de povoados a partir do Uruguai, ocupando as terras com estâncias e lavouras.A organização dos Sete Povos assemelhava-se à estrutura dos povoados espanhóis: com uma praça central tendo em volta as diferentes edificações. Num dos lados da praça erguia-se o complexo formado pela igreja, residência dos padres, cemitério, cotiguaçu, colégio, oficinas e horta.A praça era um espaço cívico-religioso com uma cruz latina em cada canto, tendo também uma coluna com o orago do povoado. Aos domingos e dias santificados os nativos realizavam procissão, jogos, danças e teatros. Na saída da missa os adultos recebiam a ração diária da erva-mate. Depois da refeição noturna, a comunidade se reúne na igreja para orar.No primeiro dia de cada ano elegia-se o CABILDO que governaria o povo naquele ano, sendo os eleitos, por formalidade, aprovados pelo governador de Buenos Aires.Cada povo dividia-se em classes, segundo o oficio, tendo cada um seu ALCAIDE privativo. As mulheres, também segundo o oficio, tinham alcaides próprios: velhos de conduta exemplar. Os meninos e meninas a partir dos 5 anos, eram confinados a alcaides ou aias, respectivamente, que os deveriam assistir tanto material como espiritualmente, bem como procuravam habitua-los desde pequenos aos trabalhos a que seriam destinados.Cada povo dividia-se em PARCIALIDADES que levaram nomes de santos, de 8 a 10, conforme a população. Cada PARVIALIDADE era assistida por 4 a 6 caciques, a quem eram confiadas de 40 a 50 famílias para zelar, determinar e controlar o trabalho, distribuir terras, etc.O cacicado era hereditário, continuação do cargo de quando ainda não eram missioneiros e constituía certa nobreza. No entanto no trabalho não havia privilégios.

Parte 2Quarenta anos haviam passado no exílio os nativos fugidos dos bandeirantes e no RS, o gado estava se multiplicando prodigiosamente. Este gado era considerado por eles de sua propriedade.Quando este gado começou a ser explorado por espanhóis e portugueses, depois do cerco da Colônia do Sacramento, em 1680, os Tapes que ainda sofriam a saudade da pátria, decidiram retornar. Fato que foi reforçado com a fundação pelos portugueses em 1686 da cidade de Laguna.Não se localizavam precipitada ou desordenadamente nativos liderados pelos missionários, se antecediam escolhendo cuidadosamente o lugar: alto de uma coxilha, com boas terras cultiváveis para a agricultura e águas abundantes. A distancia entre um povo e outro devia ser de 25 a 30 km, um dia de caminho para a época. A torre da igreja se via a torre da igreja do Povo vizinho, o que facilitava a comunicação por sinais convencionais em caso de perigo e necessidade de socorro mútuo.Escolhido o lugar, vinham os homens, sempre auxiliado pelos demais povos, construíram as casas de madeira e palha no inicio. Plantavam as primeiras lavouras e quando essas começavam a produzir, chegava toda a população que daria inicio ao povo.São Francisco de BorjaFundado em 1682, a principio era apenas era apenas uma espécie de colônia do Povo de São Tomé, de onde partiram 195 pessoas.Agregou-se a este Povo, uma pequena aldeia, construída pouco antes, com nativos genoas: a Jesus Maria dos Genoas.Recebendo nova leva de São Tomé formou-se um povo a parte, em 1687. O fundador deste Povo foi o Padre Francisco Garcia. Menção especial merece o irmão José Brazanelli que orientou a construção da Igreja e das casas do Povo, bem como treinou e comandou os nativos em vários combates contr a Colônia do Sacramento e a Confederação dos Genoas, instigados pelos portugueses. São Francisco de Borja contava em 1707 com 2814 habitantes.São Luiz GonzagaDescendentes das antigas reduções de São Joaquim e Santa Tereza, cujos retirantes haviam sido recolhidos pelo Povo de Conceição (o mais antigo da Banda Ocidental do Uruguai) eram as 2.922 pessoas que iriam formar São Luiz Gonzaga, em 1687. Presidiu o retorno o Padre Alonso de Castilho. Superior de todos os Povos e foi o 1º Cura o Padre Miguel Fernandes. Em 17007 contava com 1997 habitantes.São NicolauAnte a investida bandeirante os habitantes da redução de São Nicolau ladearam o rio Uruguai onde, em 1651, formaram um só Povo, com o nome de apóstolos, com os nativos também fugidos do Tape e da redução desse mesmo nome.De apóstolo saíram 3000 pessoas em 1687, voltando para o lugar primitivo a que deram o mesmo nome, isto é, São Nicolau.Duas desgraças marcam o inicio deste novo Povo: um furacão devastador e um incêndio que destruiu quase tudo, a partir da Igreja. Refizeram-se logo desses revezes e, em alguns anos o Povo e a Igreja já estava reconstituído com pedra. Foi seu construtor o Padre Anselmo de La Mata. Em 1707 contava com 5386 pessoas.São Miguel ArcanjoA primitiva redução de São Migel fora fundada em 1632 pelo Padre Cristóvão de Mendonça, à margem direita do rio Ibicuí. Fugindo dos bandeirantes, sua população refugiou-se nas proximidades de Conceição.Em 1587, alegando falta de espaço para a expansão de suas lavouras, resolveram retornar 4195 pessoas fixando-se na Bacia do rio Piratini, no local onde conhecemos hoje as ruínas desse povo.Já em 1690 os nativos estavam construindo uma ampla casa de seis aposentos para os padres... estando bem adiantadas outras cem, destinadas aos nativos, todas cobertas de telhas de barro, que fabricavam na doutrina.A famosa igreja das atuais ruínas foi construída pelo arquiteto irmão João Batista Primoli, que construira antes a catedral de Córdoba, o Cabildo e a Igreja de São Francisco de Buenos Aires. Dirigiu a construção da Igreja de São Miguel de 1735 a 1744 com o auxilio exclusivo de pedreiros e carpinteiros Guaranis em numero de 1000.Em 1697 parte da sua população 2832 pessoas desmembrou-se, indo fundar São João Batista. Em 1707 possuía 3110 habitantes.São Lourenço MártirFoi fundada em 1690 com nativos do Povo de Santa Maria Maior, descendentes dos fugitivos do Gaíra. Esse Povo foi liderado pelo Padre Bernardo de La Veja, instalando no inicio 3510 pessoas. Em 1707 eram 4519 os habitantes deste Povo.São João BatistaEm 1597, considerou-se que as redondezas do povo de São Miguel já não bastavam para prover a população: dele saíram então, 2832 pessoas dando origem ao Povo de São João Batista.Foi fundador desse Povo, talvez o mais genial dos missioneiros que trabalhavam nos povos missões, o Padre Antonio Sepp. Era musico, com sólida formação de musica vocal e instrumental. Artista: os instrumentos de sua orquestra foram todos feitos por ele e seus discípulos.A Igreja teve inicio em 1708, ano em que já havia mais de 3400 nativos neste povo. Arquiteto construiu o Povo e a “Igreja, que nada ficava devendo às Igrejas BAvarias”, segundo testemunho da época. Extraiu o primeiro ferro das Missões, fazendo instrumentos de toda a espécie, bem como os sinos da Igreja do seu Povo. Sua obra-prima foi o relógio da torre da Igreja que ao dar as horas, fazia desfilar pelo mostrador 12 apóstolos. No povo de São João Batista havia artista em todas as profissões, todos orientado pelo Padre Sepp.Santo Ângelo CustódioConceição fora o Povo que abrigava maior numero de nativos que haviam fugido dos bandeirantes. Dele se desmembrou, em 1687, o Povo de São Luiz Gonzaga.Considerando ainda em excesso de população, nova leva partia em 1706 e, depois de atravessar o rio Uruguai, localizava-se na confluência do rio Ijuizinho com o rio Ijuí. No entanto, por ser reduzido o espaço para a expansão do povo no ano seguinte, em 1707, transpondo o rio Ijuí radicou-se onde hoje se ergue à cidade do mesmo nome. Eram 2879 os seus primeiros habitantes. Deve-se ao Padre Diogo de Hasse a fundação do Povo de Santo Ângelo Custódio.Estes Sete Povos, com os 23 Povos da Banda Ocidental do Uruguai formavam uma província, sob a jurisdição do Provincial dos Jesuítas. No entanto, cada a relativa autonomia interna.Este texto foi escrito pela Professora Patrícia Barboza da Silva licenciada pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande - FURG.Referencias bibliográficas:FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Nova Dimensão 1996, 5ª ed.Colonialismo e Missões Jesuíticas. Porto Alegre, EST, 1983.LAZAROTTO, Danilo. Historia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Sulina, 1982.QUEVEDO, Julio. Rio Grande do Sul Aspectos das Missões. Porto Alegre, Martins livreiro, 1991.

Autoria: Patrícia Barboza da SilvaFonte:
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Querela das Investiduras

A Querela das Investiduras: disputas entre o poder monárquico e clerical.

Durante a Idade Média, costumamos definir a existência de uma comunhão de interesses entre a classe clerical e nobiliárquica. No entanto, no interior do Sacro-Império Germânico observamos uma relação conflituosa entre os nobres que tinham influência política nesse território e a autoridade papal. Entre os séculos X e XII, o desentendimento entre essas duas classes tomou proporções cada vez maiores.

O poder de intervenção dos nobres na hierarquia eclesiástica começou a sofrer forte oposição quando clérigos da abadia de Cluny, região da França, defenderam um processo de reformas que desse maior autonomia à Igreja. A prática de subordinação dos clérigos aos reis, também conhecida como cesaropapaismo, começou a sofrer intensa oposição pelos clérigos integrantes da ordem de Cluny.

No ano de 1058, o papa Nicolau II criou o Colégio dos Cardeais, que tinha como função primordial eleger o papa. No ano de 1073, o Colégio dos Cardeais elegeu Gregório VII, integrante da Ordem de Cluny, para comandar a Igreja Católica. Entre outras ações, Gregório VII reafirmou o voto de castidade e proibiu que qualquer autoridade monárquica concedesse alguma espécie de cargo religioso.

Em resposta, Henrique IV, rei do Sacro-Império, reuniu os bispos subjugados ao seu poder político para anular o poder de Gregório VII. O papa, tomando conhecimento dos planos do rei germânico, ordenou a sua excomunhão e livrou os bispos germânicos do poderio de Henrique IV. Implorando o perdão do papa, Henrique permaneceu três dias e três noites rezando na neve. Obtendo o perdão papal, o nobre germânico organizou tropas militares incumbidas de derrubar o papa.

Acuado, Gregório VII se exilou na França. Depois de diversos conflitos entre as tropas papais e germânicas, um trégua foi assinada por meio da Concordata de Worms. Por meio desse acordo, os limites do poder eclesiástico e real tiveram seus limites estabelecidos. A partir de então, somente o papa teria o direito de conceder qualquer espécie de cargo religioso.

Por Rainer Sousa

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As influências germânicas e romanas no Ocidente Medieval.

Villa: unidade produtiva romana que influenciou na formação dos feudos medievai

No estudo da passagem da Antigüidade para a Idade Média estamos acostumados a assinalar o processo das invasões bárbaras como o grande marco inicial do mundo medieval. Dessa forma, temos a enganosa impressão de que tal fato histórico gerou um fenômeno de substituição dos costumes dentro da Europa. Em outros termos, a cultura da civilização romana morreria para dar lugar aos “rudimentares” costumes dos povos bárbaros.

Contrariando tal idéia, podemos assinalar claramente como existem algumas permanências de origem clássica e germânica que subsistem em meio às profundas transformações da Idade Média. Dessa maneira, podemos ver que o consolidado ideal renascentista que coloca a Idade Média como o momento de interrupção da cultura greco-romana, pode ser observado em outra perspectiva.

Entre os germânicos podemos notar a questão do individualismo como uma das bases de sua cultura política. Os clãs guerreiros tinham grande autonomia e, em épocas de paz, não havia nenhuma lei que pudesse estar acima daresponsabilidade que o indivíduo tinha sobre os seus atos. Dessa maneira, cada chefe familiar tinha autoridade para estabelecer as leis submetidas à sua família. A maior experiência de organização política observada entre os germânicos se dava durante a formação do comitatus.

O comitauts era um tipo de organização política temporária que se empreendia durante a ocorrência de alguma guerra ou conflito. Um chefe guerreiro era designado para comandar um grupo de soldados organizados contra a invasão de um outro povo guerreiro. Nesse acordo, o chefe do grupo militar prometia defender o interesse de seus comandados. Em troca, os comandados prometiam obedecer às decisões do chefe guerreiro. Esse tipo de relaçãosocial instituída pela lealdade influenciou na criação das relações de servidão; e susserania e vassalagem, presentes na Idade Média.

A economia dos povos germânicos também estabeleceu uma série de práticas que foram desenvolvidas no interior dos feudos. A produção de riquezas era concentrada no uso das terras cultiváveis. A produção agrícola, o pastoreio e a caça eram as principais atividades desenvolvidas. A lógica da produção não era voltada para o acúmulo, mas para a subsistência da população local. O comércio era feito em baixa quantidade, sendo a grande parte feita a partir de trocas naturais.

Outro traço característico da cultura germânica a se introduzir na Europa Medieval tem a ver com a organização social. Divididos entre guerreiros, homens livres inferiores e escravos, a sociedade germânica era desprovida de mecanismos capazes de permitir a ascensão social dos indivíduos. Na sociedade medieval essa mesma imobilidade era justificada pela influência cultural e ideológica exercida pela Igreja no interior dos feudos.

Entre os romanos, as mudanças causadas pela crise da sociedade escravista trouxeram uma série de práticas que também se instituíram no mundo medieval. A crise agrícola promovida pela falta de escravos incentivou a divisão das grandes propriedades em villas que se dedicavam ao consumo local e tinham suas terras distribuídas entre arrendatários que davam parte de sua produção ao proprietário das terras.

Além disso, a desintegração das classes sociais romanas e a ruralização da população trouxeram à tona a formação de novos grupos sociais. Os colonos, que arrendavam as terras de um grande proprietário, poderiam ser antigos escravos, plebeus e clientes que não mais poderiam se servir da assistência do Estado, do poder econômico de um senhor, ou de práticas econômicas vinculadas ao comércio. Essa transformação proporcionou o aparecimento da vindoura e predominante classe servil da Idade Média.

A partir do entrecruzamento dessas características dos povos romanos e germânicos temos uma compreensão maior de como a Idade Média e as práticas feudais se instituíram durante determinado período histórico. De fato, os traços predominantes do sistema feudal se consolidaram a partir do século IX. Entre os séculos XII e XV o predomínio do sistema feudal perdeu espaço para outro conjunto de transformações que abriu portas para a formação das sociedades modernas.

Por Rainer Sousa

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Alexandre, O Grande

Em julho de 356 a.C., o filho de Olímpia e do rei Felipe II da Macedônia nasceu, na mesma época em que seu pai empreendia importantes vitórias militares. Inspirado por tal eventualidade e aconselhado por seus sacerdotes, Felipe II resolveu nomeá-lo Alexandre, que significa “o vencedor de heróis”. Com o passar do tempo, o adjetivo dado àquela criança foi confirmado com o surgimento de um dos maiores conquistadores de toda a Antigüidade.

Segundo o biógrafo, Plutarco de Queronéria, Alexandre sempre demonstrou um comportamento impetuoso e marcado pelo interesse em grandes realizações e honrarias. Quando jovem era um exímio atleta, chegando a ser indicado para participar dos Jogos Olímpicos. No entanto, o grande esportista também tinha forte inclinação para o mundo da música, da poesia e da tragédia. Esse seu lado sensível o inclinava a ver com desdém o caráter despótico e opressor com que seu pai dominava os povos estrangeiros.

A futura capacidade de liderança de Alexandre foi comprovada em um incidente envolvendo um garboso e irrequieto cavalo chamado Bucéfalo. Este animal foi oferecido a um alto preço a seu pai, que recusou-o por conta de sua natureza arisca. Repudiando a decisão do pai, apostou o valor do animal caso conseguisse montar e guiar o impetuoso cavalo. Ao conseguir montar o animal, Filipe II percebeu o caráter singular de seu filho e, sem perder tempo, contratou o filosofo Aristóteles para educá-lo.

O tempo de aperfeiçoamento com o célebre pensador grego foi seguido pelas primeiras experiências militares de Alexandre. Em 340 a.C., com apenas 16 anos, assumiu o trono macedônico temporariamente enquanto seu pai se ocupava em guerras. Dois anos depois, comandou com destreza os exércitos que lutariam contra as cidades gregas de Atenas e Tebas. Com essas vitórias, o Império Macedônico conquistou importantes regiões da famigerada Grécia.

Depois da morte de seu pai – assassinado pelo tio de sua esposa Cleópatra – Alexandre aproveitou do prestígio junto aos exércitos macedônios para declarar sua nova condição de Rei da Macedônia. No ano de 335 a.C., seguindo uma tradição perpetuada pelos gregos, Alexandre foi consultar os ídolos e sacerdotes e sensitivos sobre o seu futuro enquanto rei. Depois de receber dois sinais positivos em Delfos e Lebetra, o novo rei organizou um exército com milhares de soldados.

Fascinado pela idéia de que era descendente do herói grego Aquiles, Alexandre homenageava seu admirado na medida em que conquistava novas terras. Na Batalha de Issos, deflagrada em 1º de novembro de 333 a.C., Alexandre passou a conhecer a exuberante cultura material do povo persa. No momento em que conquistou os palácios do rei persa Dario, o imperador Alexandre – em sinal de respeito – não tomou para si a mulher ou as filhas do rei derrotado.

A atitude amistosa de Alexandre em relação aos povos conquistados rendeu-lhe impressionante admiração. Na corte de seu reino, diversos membros da administração pertenciam ao mundo oriental. No entanto, sua postura compreensiva despertava a desconfiança e o ódio de alguns nobres macedônios. Em dado momento, Clitus – um dos seus fiéis guardiões – foi morto por Alexandre por dizer que o rei se esquecia dos costumes de seu povo.

Mesmo sendo alvo de tantas críticas, Alexandre não hesitou em fortalecer a aliança com os persas ao desposar a princesa oriental Roxane, em 327 a.C.. O gesto realizado pelo imperador macedônico inspirou diversos de seus generais e soldados a tomarem essa mesma atitude, selando a fusão entre os mundos grego e asiático. No ano de 324 a.C. uma grande festa de casamento uniu vários membros da nobreza macedônica às filhas da elite persa. Na mesma ocasião, Alexandre casou-se com mais duas princesas persas.

Em meio às suas conquistas e viagens, Alexandre, O Grande, convivia com o deleito de grandes banquetes e o ardil de seus inimigos. A primeira de suas perdas aconteceu quando Heféstion, seu mais fiel companheiro, morreu tomado por febre. Inconsolável, o rei organizou violentos ataques contra os povos que resistiam à dominação macedônica. Esse período ficou conhecido como o “sacrifício dos funerais de Heféstion”. Logo em seguida, outros maus presságios acometeram Alexandre.

Durante o período em que se dirigia à Babilônia, um dos generais de Alexandre encontrou um fígado para sacrifícios desprovido de lóbulo. Em outra situação, a diadema de Alexandre caiu no mar e um desconhecido ousou sentar-se em seu trono. Tais eventualidades, para o supersticioso Alexandre, eram interpretadas como presságios de morte ou derrota. Ainda sim, o ambicioso rei continuava a conduzir impetuosamente suas grandiosas obras e conquistas militares.

No dia 3 de junho de 323 a.C., Alexandre começou a sentir uma forte febre que o atingira logo depois de um grande banquete. Ao longo dos dias, seu estado febril aumentou vertiginosamente, obrigando-o a seguir viagem carregado em uma esteira. Dez dias depois, o glorioso rei macedônico não resistiu à sua agonizante situação física. Por conta de seus inimigos, alguns levantaram a suspeita de que o jovem conquistador teria sido vítima de um complô político. No entanto, uma das hipóteses mais aceitas indica que ele teria contraído malária.

O corpo de Alexandre foi levado à capital do Império Macedônico, Aigiai. Logo em seguida, Ptolomeu cuidou dos preparativos para que o corpo de Alexandre fosse sepultado em uma imponente construção localizada na cidade egípcia de Alexandria. Com o fim do governo de Alexandre, o império foi alvo da disputa de ambiciosos generais, que esfacelaram a unidade político-territorial em favor de suas próprias ambições. O esfacelamento permitira o fim de toda a conquista realizada por este singular militar e estadista.

Por Rainer Sousa
Fonte: Brasil Escola

Livros e História, mudando o Mundo

"...o livro passou e mudou, mudou como um rio, ao passo que você passou na vida, passou a viver também..." M. Tsvetaiva.

Aparentemente, um livro não é senão que um conjunto de páginas manuscritas ou impressas, protegido por uma capa, dependendo da época histórica, que serve para matar o tempo ou entreter alguém, com a função de ilustrar ou afastar o tédio e a mediocridade da nossa existência. Algo sem conseqüências muito extraordinárias ainda que, em geral, socialmente valorizado.

Agente de mudanças
Todavia pensar assim é um engano. A sua dimensão e seu impacto sobre os fenômenos da história mostra sua verdadeira faceta: a de ser o maior agente das mudanças do mundo. Sem ser preciso mencionar a importâncias das obras religiosas (A Bíblia, o Alcorão, etc.), na conversão de milhões, ainda que pouco se saiba da vida de Cristovão Colombo, nenhum estudioso dos Descobrimentos nega o efeito que a leitura das crônicas de Marco Pólo ("As viagens") causou sobre o capitão genovês e o conseqüente desbravamento do Oceano Atlântico e o encontro de outros povos e civilizações.

Nesta mesma esteira, encontra-se a enorme implicação que produziu nos aventureiros que se lançaram na conquista espanhola do Novo Mundo a leitura das façanhas do cavaleiro "Amadis de Gaula" (de Rodrigues de Montalvo, de 1508) e de "Dom Quixote de La Mancha" (obra maior de Cervantes, de 1606). Assim como nada abalou tanto a Cristandade ocidental e o poder papal como a publicação da "Resoluções" de Martim Lutero, em 1518, como não se entende a desapropriação dos bens da Igreja Católica na Inglaterra, sem levar em conta o impacto causado pelo panfleto "A súplica dos mendigos" de Simon Fish, de 1529, que fez com que Henrique VIII simplesmente decretasse o fim do poder clerical no seu reino.

A Revolução Francesa de 1789 explode bem antes, a partir das primeiras linhas do "O Contrato Social" de J.J.Rousseau, de 1762, que diz: - o homem nasce livre, mas esta encadeada em todas as partes. -, assim como toda a efervescência social e revolucionária dos séculos 19 e 20 encontra-se nos parágrafos iniciais do "Manifesto de 1848" de Karl Marx. Lembrando ainda que foi o "Senso Comum" de Thomas Paine quem definitivamente impulsionou os norte-americanos à Independência de 1776, e que foram os eletrizantes versos de Theodor Körner - "Então povo, ergue-te e deixe que a tempestade se abata sobre nós" - quem fizeram os alemães insurgir, em 1813, contra a ocupação napoleônica.

Ninguém nega que a melodramática e um tanto piegas novela "A cabana de Pai Tomas", de Harriet B. Stowe , 1851-2, fez mais pela causa da abolição nos Estados Unidos do que todos os discursos libertários que a antecederam. Bem como coube aos versos do "Navio Negreiro" de Castro Alves, 1869, "Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?!"... desmoralizar para sempre com a escravidão entre nós.

Sem deixarmos de mencionar que boa parte da legislação social inglesa resultou das candentes, comoventes e realistas novelas de Charles Dickens, escritas entre 1838 e 1849 ("Oliver Twist", "David Copperfield", etc.), como as andanças erráticas e inconformistas de Che Guevara resultaram da leitura de "O gaúcho Martin Fierro" de José Hernandez, de 1872. E assim tem sido a longa e gloriosa crônica dos livros, flagelo das ditaduras e luz da humanidade.

Fonte: VOLTAIRE SCHILLING

O que foi a Revolta da Chibata?

No dia 22 de novembro de 1910, marujos liderados pelo marinheiro negro, João Cândido Felisberto, iniciaram uma insurreição contra os castigos físicos, baixos salários e péssimas condições de trabalho na Marinha brasileira da época.

No início do século 20, a maior parte dos trabalhadores da Marinha brasileira era composta por mulatos e negros, escravos libertos ou filhos de ex-escravos. As condições de trabalho eram precárias: os marinheiros tinham remuneração baixa, recebiam péssima alimentação durante as longas viagens nos navios e, o mais grave, estavam submetidos a punições corporais, caso desobedecessem alguma regra.

Mais de duas décadas após a abolição da escravidão, a prática de castigos físicos ainda era comum na Marinha brasileira. Punições típicas do período colonial haviam sido revogadas com a Proclamação da República, em 1889, e reintroduzidas pelo Decreto 328, de abril de 1890. O rebaixamento de salário, o cativeiro em prisão solitária por um período de três a seis dias, a pão e água, para faltas leves ou reincidentes, e as 25 chibatadas para faltas graves eram penas regulamentadas em plena República.

Esse contexto revoltava centenas de marujos que durante os anos de 1908 e 1909 passaram a se organizar, buscando, sem sucesso, negociar melhorias trabalhistas com o governo. No dia 21 de novembro, o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes, acusado de embarcar com uma garrafa de cachaça, foi violentamente punido não com 25, mas com 250 chibatadas, na presença de todos os tripulantes.

O castigo exagerado do marujo levou ao início da revolta, no dia 22 de novembro, com a participação de cerca de 2.300 marinheiros que, liderados por João Cândido Felisberto, tomaram o controle dos encouraçados Minas Gerais, São Paulo e do cruzador-ligeiro Bahia (recém-construídos na Inglaterra) e do antigo encouraçado Deodoro. Uma carta reivindicando melhores condições de trabalho e modificações na legislação penal e disciplinar com destaque para a extinção das chibatadas foi enviada ao governo. Com os canhões das embarcações apontados para a cidade do Rio de Janeiro, os marinheiros ameaçavam bombardear a capital do país, caso suas exigências não fossem atendidas.

O governo cedeu às pressões dos marujos e em 27 de novembro de 1910 a chibata foi abolida da Marinha de Guerra brasileira. Oficialmente, a anistia estava garantida aos revoltosos liderados por João Cândido - que a partir desse momento, passou a ser tratado pela imprensa como o "Almirante Negro". No dia seguinte, porém, o presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca assinou o decreto 8.400 que permitia a exclusão da Marinha de qualquer marujo cuja presença fosse julgada inconveniente por seus superiores.

Repressão violenta na Ilha das Cobras

Segundo o historiador Marco Morel, cerca de 1.200 homens foram expulsos da Marinha, centenas foram presos e outros 30 foram assassinados. As prisões do Batalhão Naval localizado na Ilha das Cobras, na baía de Guanabara, estavam lotadas e, em 9 de dezembro, uma nova rebelião foi iniciada. O governo rapidamente reprimiu a insurreição e usou a situação para suspender a anistia oficialmente anunciada semanas antes.

João Cândido então foi preso, acusado de liderar a recente rebelião. Na noite de 24 de dezembro, véspera de Natal, 31 marinheiros foram trancados em duas pequenas celas repletas de cal, que teria sido utilizada para higienizar o ambiente. No dia 26, quando os funcionários do cárcere voltaram ao trabalho, apenas dois marujos sobreviviam: João Cândido e João Avelino Lira.

Bastante traumatizado e tendo alucinações, João Cândido foi levado ao Hospital Nacional dos Alienados, no bairro da Urca, onde permaneceu internado por três meses. Depois de recuperado, foi levado de volta à prisão na Ilha das Cobras, cumprindo pena até 30 de dezembro de 1912.

Impedido de retornar à Marinha, João Cândido trabalhou em embarcações particulares, sendo constantemente demitido por pressão da Marinha sobre seus patrões. Passou a ganhar a vida como pescador e comerciante de peixes na Praça XV. Morreu em 1969, aos 89 anos, vitima de um câncer de pulmão.

Em 1977, Aldir Blanc e João Bosco homenagearam o líder da Revolta da Chibata compondo o samba "Mestre-sala dos Mares", interpretado por Elis Regina.

Em 2008, o presidente Luís Inácio Lula da Silva sancionou a lei federal de número 11.756 concedendo a anistia póstuma a João Cândido e a outros marinheiros que participaram da revolta. No entanto, a indenização aos descendentes dos marujos foi vetada pelo presidente da República.

"Mestre-sala dos Mares", de Aldir Blanc e João Bosco

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos
entre cantos e chibatas
Inundando o coração
do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro,
gritava então

Glória aos piratas
Às mulatas,
às sereias
Glória à farofa
à cachaça,
às baleias

Glória
a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
não esquecemos jamais

Salve o navegante negro
Que tem por monumento
as pedras pisadas do cais
Mas salve

Salve o navegante negro
Que tem por monumento
as pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo

Fonte: NOVA ESCOLA

República Romana

As instituições políticas da República Romana: o poder dos patrícios

Os patrícios organizaram o governo republicano de forma a, simultaneamente, monopolizar o poder político em relação à plebe e evitar qualquer tentativa absolutista.

As instituições básicas da República eram o Senado, as Magistraturas e a Assembléia Centuriata.
O Senado era o órgão principal de governo, composto pelos patrícios mais ilustres. Conduzia a política interna e externa. Escolhia os magistrados e controlava o tesouro público. Os senadores eram vitalícios, mas não hereditários.

Os magistrados, escolhidos pelo Senado, eram referendados pela Assembléia Centuriata. Eram anuais (não podiam repetir a magistratura), de origem patrícia e nunca em número de apenas um para cada cargo.

Entre as magistraturas, o Consulado era a mais importante, com dois cônsules dotados de iguais poderes: dentro de Roma, o poder civil (potestas); fora de Roma, o poder militar (imperium). Assim, neutralizavam-se mutuamente, não havendo perigo de um deles assumir o poder absoluto. Em caso de crise interna ou externa excepcionalmente grave, os cônsules eram substituídos por um ditador. A ditadura era uma magistratura legal. Um só homem tinha poderes absolutos delegados pelo Senado, por um prazo máximo de seis meses, improrrogáveis.

Outros magistrados completavam o quadro das magistraturas: Questores, arrecadadores de impostos; Pretores, incumbidos da justiça civil; Edis, que cuidavam das obras públicas; Pontífices, encarregados das cerimônias religiosas oficiais. Estas magistraturas existiam em 509 a.C. Posteriormente surgiram os Censores, que faziam o recenseamento da população e vigiavam a moral pública, e os Tribunos da Plebe, representantes da plebe junto ao Senado.

As conquistas da plebe na República Romana

O monopólio do poder pelos patrícios acarretou problemas para a plebe: constantes mobilizações para a guerra, impostos elevados, endividamento e escravidão por dívidas. Para os patrícios, a guerra trazia espólios em terras e escravos. Por isso a plebe começou a fazer reivindicações.

Para forçar os patrícios às concessões, os plebeus fizeram greves e ameaçaram abandonar a cidade. Por esse meio, obtiveram várias concessões: os Tribunos da Plebe ‘494 a.C.); a Lei das Doze Tábuas (450 a.C.), que transformava as leis orais em escritas; a Lei Canuléia (445 a.C.), que autorizava o casamento interestamental, até então proibido. Mais tarde, os plebeus obtiveram o direito de ocupar as magistraturas inferiores até chegar ao consulado e à ditadura. A Lei Licínia Sextia proibia a escravidão por dívidas; a Assembléia da Plebe (Comitium Plebis), enfim, escolhia os tribunos plebeus e discutia decisões senatoriais do interesse da plebe, votando o plebiscito.

A expansão da república romana

As vitórias da plebe deram-lhe, praticamente, a igualdade política junto aos patrícios; mas isso ocorria nos meados do III século a.C. Nessa época, os romanos já haviam conquistado toda a Itália e estavam iniciando as Guerras Púnicas. Tais conquistas estavam mudando de tal maneira a economia, a sociedade e a vida política de Roma que o sentido da vitória política da plebe tomou-se praticamente nulo.

Em sua expansão imperialista, Roma inicialmente venceu seus vizinhos mais próximos: sabinos, albanos, équos, samnitas. Depois conquistou as colônias gregas do Sul da Itália (Magna Grécia), batendo a cidade de Tarento. Começaram então as Guerras Púnicas, travadas contra Cartago. Na primeira guerra (264 - 241 a.C.), Roma anexou a Sicília; na segunda guerra (218 - 202 a.C.), Aníbal invadiu a Itália, mas foi vencido por Cipião, e Roma ocupou a Espanha e o norte da África, exceto o Reino da Numídia e Cartago; na terceira guerra (150 - 146 a.C.), Cipião Emiliano destruiu Cartago e escravizou seus habitantes. Estava dominado o Mediterrâneo Ocidental. A essa altura, Roma já encetara a conquista do Mediterrâneo Oriental: venceu, sucessivamente, a Macedônia, Grécia, Síria, Ásia Menor, Palestina e, finalmente, o Egito, em 30 a.C.

O comércio interligava Roma às suas províncias em toda a orla do Mediterrâneo. As atividades agrícolas nas províncias foram estimuladas. Na própria Itália, contudo, a agricultura praticamente desapareceu. Os campos ficaram incultos ou subocupados. Uma classe de comerciantes, banqueiros, cobradores de impostos (publicanos) surgiu, sendo denominados homens novos ou cavaleiros (eqüestres). Os patrícios dependentes da exploração fundiária empobreceram, passando a depender dos cargos públicos para manter seu nível social.

A plebe, marginalizada pelo aumento do número de escravos, passou a ser sustentada pelos “homens novos” ou pelo Estado, que distribuíam trigo e proporcionavam espetáculos circenses gratuitamente. Freqüentemente os plebeus serviam como agregados aos mals ricos em troca de proteção e alimentos, recebendo a denominação de clientes (neste caso, já com uma conotação diferente dos antigos clientes, que eram parentes afastados dos patrícios). Os escravos eram numerosíssimos e baratos, sendo considerados seres inferiores, apenas “instrumentos falantes” (instrumenta vocalia).

As guerras civis e a crise da República Romana

As instituições políticas da República começaram a se desintegrar. Não mais se adequavam às novas condições de um império universal. A crise da República evidenciou- se durante as guerras civis, no fim das quais foi implantado o Império.

As forças políticas que se defrontaram durante as guerras civis eram as seguintes: os patrícios, que procuravam manter a República e os seus privilégios; os cavaleiros, que almejavam o controle do poder político; os clientes, que serviam de instrumento na luta política; e o Exército que, reformado a partir de 105 a.C., tomou-se profissional, constituindo igualmente um instrumento político nas mãos dos generais.
Os primeiros sinais da crise apareceram com a tentativa dos irmãos Gracos — Tibério e Caio — que pretendiam realizar uma reforma agrária a fim de libertar a plebe de seu estado de submissão. Foram abatidos pelos nobres e cavaleiros unidos.

Surgiram em seguida generais políticos, primeiro Mário e depois Sila; apoiados na plebe e no Exército, exerceram o poder de forma absoluta durante anos. Por volta de 60 a.C., César, Pompeu e Crasso formaram o Primeiro Triunvirato, impondo-o à aceitação do Senado. Crasso morreu na Pérsia; Pompeu. vencido por César, foi assassinado no Egito, cuja rainha, Cleópatra, recebeu a proteção do vencedor. Em Roma, César procurou legalizar o seu poder, obtendo a ditadura. O Senado cumulou-o de títulos, mas César queria a hereditariedade que só o título de “rei” lhe proporcionaria. Por isso foi assassinado por um grupo de senadores liderados por Brutus e Cássio.

Marco Antônio, general amigo de César, uniu-se ao sobrinho deste, Caio Otávio e, juntamente com Lépido, formaram o Segundo Triunvirato. Venceram os assassinos de César na Macedônia e dividiram a República entre si. Mais tarde, Otávio afastou Lépido, venceu Antônio e Cleópatra e se apoderou do Egito. Os tesouros pilhados propiciaram-lhe um exército numeroso e celeiros abarrotailos de trigo para distribuir à plebe em seu nome. Voltou para Roma e foi recebido como salvador da República; na verdade, seria o fundador do Império.

Conclusão

Podemos dizer que a República romana foi o resultado dos interesses políticos da camada patrícia, afastada do poder quando da entrada dos reis etruscos. Os patrícios eram contrários ao absolutismo e toda a história ulterior da República iria confirmar essa aversão. O golpe de 509 a.C. só foi possível graças à crise da monarquia etrusca, abalada pelos ataques dos gauleses. Os patrícios procuraram justificar o golpe em função de razões morais. Assim, não encontramos motivações econômicas profundas para explicar o surgimento da República, mesmo porque não houve transformações que as justificassem durante o período monárquico.

Os patrícios organizaram as instituições republicanas de molde a atender a seus interesses. Assim, detiveram o poder em detrimento da plebe, que se revoltou. Com relação aos plebeus, os patrícios adotaram a tática de fazer concessões graduais, que protelavam uma solução definitiva.

Quando a plebe, enfim, conseguiu igualdade política, já estava sendo afetada pelas mudanças econômicas e sociais que a transformaram em uma camada marginal. Surgiram então os “homens novos”, poderosos adversários dos patrícios na fase final da República. Mesmo neste caso porem os privilégios políticos dos patrícios foram conservados, em virtude da adoção de um critério tradicionalista de participação política, com base nas magistraturas já exercidas.

As Guerras Civis levaram à desintegração do poder do Senado e das demais instituições republicanas Os “homens novos” foram agentes importantes desse processo. Nessa medida, foram também agentes da implantação do Império pois este resultou daquela desintegração política Aos “homens novos“ não interessava uma Republica democrática semelhante a de Atenas porque seria controlada pela plebe, mais numerosa Por isso fizeram abortar a tentativa dos Gracos aliando-se aos patrícios O Império militar era uma exigência do tipo de dominação imposta pelos romanos aos povos do Mediterrâneo — uma férrea dominação militar que exigia um governo central igualmente forte. De fato, as instituições republicanas, adequadas a uma cidade, Roma, não estavam adaptadas ao vasto Império conquistado pela República romana.

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O Bandeirismo

O bandeirismo foi um movimento expansionista desenvolvido pela população de São Paulo de Piratininga deslocando-se paraentradaso interior da colônia, durante boa parte do século XVII. Ao lado deste, devem ser des tacadas as , outro movimento de penetração de interior, cujas diferenças, em relação ao primeiro, são mais tradicionais do que efetivas: as entradas teriam organização oficial e não ultrapassariam a linha de Tordesi lhas, entre outras, ao contrário das bandeiras, que seriam organizadas por particulares e não respeitariam o Tratado de Tordesilhas.

As razões do bandeirismo

Pode-se dizer que a penetração dos bandeirantes a partir de São Paulo, em direção ao Rio Grande do Sul. Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais foi facilitada pelas melhores condições da vegetação, relevo, clima e rios navegáveis, além do fato de os homens de Piratininga estarem livres, no planalto, dos ataques estrangeiros que assolavam o litoral na época. Contudo, foi a pobreza do, habitantes de São Paulo que impulsionou o movimento bandeirista.

Antes que terminasse o século XVI, a capitania de São Vicente já estava mergulhada em profunda decadên cia. O solo pobre das terras litorâneas e o limite imposto pela serra do Mar, além da distância da metrópole, invia bilizaram a economia açucareira. Parte da população vicentina abandonou o litoral, deslocando-se para o pla nalto de Piratininga, onde o quadro econômico, contudo. não apresentava alterações sensíveis.

Dessa forma, isolados no planalto, desprovidos de uma lavoura de porte capaz de atrair os interesses metro politanos e produzindo uns poucos gêneros, destinados basicamente à subsistência, os bandeirantes foram impul sionados a buscar novas riquezas nos sertões: índios que poderiam ser vendidos como escravos e metais preciosos.

São Paulo na época dos bandeirantes

A vila de São Paulo, no início do século XVII, era bas tante pobre e sua população se constituía, na sua maioria, de mamelucos(mistura do branco com o índio). Como era forte a influência indígena, eram homens rudes, que dormiam em redes e se alimentavam à maneira nativa: carne de caça, peixes, frutas e um pouco de farinha, milho, feijão e mandioca.

Para o trabalho, valiam-se do braço indígena, que muitas vezes eram caçados e vendidos como escravos, sendo comum referir-se a estes como os "negros da terra". As bandeiras de caça ao índio mobilizavam todos os homens da vila e, embora dela participassem muitos brancos, sua maioria era constituída de mamelucos e de índios, vitais para o sucesso da empreitada. Portanto, o apresamento de índios para a escravidão era uma prática comum antes mesmo da fase áurea dos grandes ciclos do bandeirismo.

O ciclo de preação do índio

No início do século XVII, havia a necessidade de complementação de braços escravos nos engenhos lito râneos e, a partir daí, o apresamento de indígenas tornava -se uma atividade lucrativa, o que levou o bandeirante a trocar a caça ao índio bravio das matas pelo ataque às missões ou reduções jesuíticas, onde o nativo, já cristia­nizado, conhecia determinados ofícios e estava acostu mado ao trabalho regular. Assim, entre 1612 e 1628, o bandeirante paulista Manuel Preto atacou sucessivas vezes a missão jesuítica de Guairá, trazendo para o cativeiro milhares de índios. Seguiu-se em 1629, bandeira de Antônio Raposo Tavares, cuja violência do ataque acabou obrigando os jesuítas a se fixar em outras áreas como Tapes, no Rio Grande do Sul, e Itatim, em Mato Grosso. Essas missões foram destruídas entre 1637 e 1648 pelo mesmo Raposo Tavares, um dos grandes nomes do bandei rismo de preação.

A época das grandes bandeiras de preação coincidiu com a ação holandesa, tomando as feitorias africanas e desviando o tráfico de escravos para o Nordeste, sob sua ocupação desde 1630. Tanto é que a normalização do tráfico africano na década de 1640 provocou o declínio do ciclo de apresamento.

O ciclo do bandeirismo de contrato

Na segunda metade do século XVII, os bandeirantes passaram a servir aos grandes proprietários rurais do Nordeste e à própria coroa portuguesa, fazendo a guerra aos· índios hostis e destruindo os quilombos, onde se concentravam escravos foragidos. Nessa medida, a atividade bandeirista implicava um contrato e uma forma de remuneração ou compensação, revestindo-se, além disso, de um caráter essencialmente militar.

Nesse ciclo, situam-se as guerras justas contra indí genas, inclusive do Norte do Brasil, e a guerra dos bár baros que culminou com a destruição da Confederação dos Cariris, no Ceará e Rio Grande do Norte. A ocorrên cia mais importante, contudo, foi a destruição doquilom bo dos Palmares (1695), situado no território alagoano e um dos mais importantes movimentos da resistência negra à escravidão. O responsável pelo aniquilamento do reduto quilombola foi Domingos Jorge Velho, um dos mais importantes bandeirantes do bandeirismo de contrato.

O Significado do Bandeirismo

A atuação do bandeirismo foi de fundamental impor tância para a ampliação do território português na Amé rica. Num espaço muito curto, os bandeirantes devas saram o interior da colônia, explorando suas riquezas e arrebatando grandes áreas do domínio espanhol, como é o caso das missões do Sul e Sudeste do Brasil. Antônio Raposo Tavares, depois de destruí-Ias, foi até os limites com a Bolívia e Peru, atingindo a foz do rio Amazonas, completando, assim, o famoso périplo brasileiro.

O bandeirante tornou-se, assim, um dos agentes da expansão territorial que deu ao Brasil sua configuração geográfica atual.

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Sociedade Colonial Brasileira

A sociedade colonial brasileira era um reflexo da própria estrutura econômica, acompanhando suas tendências e mudanças. Suas características básicas, entretanto, definiram-se logo no início da colonização segundo padrões e valores do colonizador português. Assim, a sociedade do Nordeste açucareiro do século XVI, essencialmente ruralizada, patriarcal, elitista, escravista e marcada pela imobilidade social, é a matriz sobre a qual se assen­tarão as modificações dos séculos seguintes.

No século XVIII, a sociedade brasileira conheceu transformações expressivas. O crescimento populacional, a intensificação da vida urbana e o desenvolvimento de outras atividades econômicas para atender a essa nova realidade, resultaram indubitavelmente damineração. Embora ainda conservasse o seu caráter elitista, a socie dade do século XVIII era mais aberta, mais heterogênea e marcada por uma relativa mobilidade social, portanto mais avançada em relação à sociedade rural e escravista dos séculos XVI e XVII. Osfolguedos e festas populares das camadas mais pobres conviviam com os saraus e outros eventos sociais da camada dominante. Com relação a esta, o hábito de se locomover em cadeirinhas ou redes transportadas por escravos, evidencia o aparecimento do escravo urbano, com destaque para os chamados negros de ganho.

A nova elite urbana desse século passou a se preocupar com aeducação dos seus filhos, enviando-os à Europa e possibilitando o surgimento dos intelectuais e dos homens públicos que ajudarão a mudar os destinos da colônia, no século seguinte.

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Economia Colonial

A economia colonial brasileira é integrada ao processo mundial de expansão do capitalismo mercantil. Baseada no monopólio colonial – Portugal tem a exclusividade do comércio com a colônia –, é altamente especializada e dirigida para o mercado externo. Internamente tem caráter predatório sobre os recursos naturais. As técnicas agrícolas utilizadas são rudimentares e provocam rápido esgotamento da terra. A produção está centrada na grande propriedade monocultora, o latifúndio, e na utilização de numerosa mão-de-obra escrava – primeiro dos indígenas e depois dos negros.

Escravidão

O trabalho compulsório do indígena é usado em diferentes regiões do Brasil até meados do século XVIII. A caça ao índio é um negócio local e os ganhos obtidos com sua venda permanecem nas mãos dos colonos, sem lucros para Portugal. Por isso, a escravização do nativo brasileiro é gradativamente desestimulada pela metrópole e substituída pela escravidão negra. O tráfico negreiro é um dos mais vantajosos negócios do comércio colonial e seus lucros são canalizados para o reino.

ESCRAVIDÃO NEGRA – A primeira leva de escravos negros que chega ao Brasil vem da Guiné, na expedição de Martim Afonso de Souza, em 1530. A partir de 1559, o comércio negreiro se intensifica. A Coroa portuguesa autoriza cada senhor de engenho a comprar até 120 escravos por ano. Sudaneses são levados para a Bahia e bantus espalham-se pelo Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo.

TRÁFICO DE ESCRAVOS – O tráfico negreiro é oficializado em 1568 pelo governador-geral Salvador Correa de Sá. Em 1590, só em Pernambuco registra-se a entrada de 10 mil escravos. Não há consenso entre os historiadores sobre o número de escravos trazidos para o Brasil. Alguns, como Roberto Simonsen e Sérgio Buarque de Holanda, estimam esse número entre 3 milhões e 3,6 milhões. Caio Prado Júnior supõe cerca de 6 milhões e Pandiá Calógeras chega aos 13,5 milhões.

Cana-de-açúcar

O cultivo da cana-de-açúcar é introduzido no Brasil por Martim Afonso de Souza, na capitania de São Vicente. Seu apogeu ocorre entre 1570 e 1650, principalmente em Pernambuco. Fatores favoráveis explicam o sucesso do empreendimento: experiência anterior dos portugueses nos engenhos das ilhas do Atlântico, solo apropriado, principalmente no Nordeste, abundância de mão-de-obra escrava e expansão do mercado consumidor na Europa. A agroindústria açucareira exige grandes fazendas e engenhos e enormes investimentos em equipamentos e escravos.

O ENGENHO – Os chamados engenhos de açúcar são unidades de produção completas e, em geral, auto-suficientes. Além da casa grande, moradia da família proprietária, e da senzala, dos escravos, alguns têm capela e escola, onde os filhos do senhor aprendem as primeiras letras. Junto aos canaviais, uma parcela de terras é reservada para o gado e roças de subsistência. A "casa do engenho" possui toda a maquinaria e instalações fundamentais para a obtenção do açúcar.

ECONOMIA AÇUCAREIRA – Estimativa do final do século XVII indica a existência de 528 engenhos na colônia. Eles garantem a exportação anual de 37 mil caixas, cada uma com 35 arrobas de açúcar. Dessa produção, Portugal consome apenas 3 mil caixas anuais e exporta o resto para a Europa. O monopólio português sobre o açúcar assegura lucros consideráveis aos senhores de engenho e à Coroa. Esse monopólio acaba quando os holandeses começam a produzir açúcar nas Antilhas, na segunda metade do século XVII. A concorrência e os limites da capacidade de consumo na Europa provocam uma rápida queda de preços no mercado.

Mineração

Na passagem do século XVII para o XVIII, são descobertas ricas jazidas de ouro no centro-sul do Brasil. A Coroa portuguesa volta toda sua atenção para as terras brasileiras. A região das minas espalha-se pelos territórios dos atuais Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso e torna-se pólo de atração de migrantes: portugueses em busca de fortuna, aventureiros de todas as regiões do Brasil e escravos trazidos do Nordeste. Criam-se novas vilas: Sabará, Mariana, Vila Rica de Ouro Preto, Caeté, São João del Rey, Arraial do Tejuco (atual Diamantina) e Cuiabá.

O QUINTO – A Coroa portuguesa autoriza a livre exportação de ouro mediante o pagamento de um quinto do total explorado. Para administrar e fiscalizar a atividade mineradora, cria a Intendência das Minas, vinculada diretamente à metrópole. Toda descoberta deve ser comunicada. Para garantir o pagamento do quinto, são criadas a partir de 1720 as casas de fundição, que transformam o minério em barras timbradas e quintadas. Em 1765 é instituída a derrama: o confisco dos bens dos moradores para cobrir o valor estipulado para o quinto quando há déficit de produção.

ECONOMIA MINERADORA – O chamado "ciclo do ouro" traz uma grande diversificação social para a colônia. A exploração das jazidas não exige o emprego de grandes capitais, permite a participação de pequenos empreendedores e estimula novas relações de trabalho, inclusive com a mão-de-obra escrava. Os escravos trabalham por tarefa e, muitas vezes, podem ficar com uma parte do ouro descoberto. Com isso, têm a chance de comprar sua liberdade. O período áureo dura pouco: entre 1735 e 1754, a exportação anual gira em torno de 14.500 kg. No final do século, o volume enviado a Portugal cai para 4.300 kg por ano, em média.

DIAMANTES – A exploração de diamantes toma corpo por volta de 1729, nas vilas de Diamantina e Serra do Frio, no norte de Minas Gerais. A produção atinge grandes volumes e chega a causar pânico no mercado joalheiro europeu, provocando a queda nos preços das pedras. Em 1734 é instituída uma intendência para administrar as lavras. A extração passa a ser controlada por medidas severas que incluem confisco, proibição da entrada de forasteiros e expulsão de escravos.

Diversificação agrícola

A agricultura de subsistência e a pecuária desenvolvem-se ao longo dos caminhos para as minas e nas proximidades das lavras. O crescimento demográfico aumenta rapidamente os lucros dessas atividades. Sesmarias são doadas na região a quem queira cultivá-las. Novas culturas surgem em outras áreas da colônia.

NOVOS PRODUTOS AGRÍCOLAS – Em meados do século XVII, o algodão, o tabaco e o cacau passam a ser produzidos em larga escala e a integrar a pauta de exportações da colônia. A produção algodoeira desenvolve-se no Nordeste, em especial Maranhão e Pernambuco. O tabaco é produzido principalmente na Bahia, seguida por Alagoas e Rio de Janeiro e, ao longo do século XVII, o produto é usado como moeda de troca para aquisição de escravos nos mercados da costa africana. O cacau é explorado inicialmente apenas em atividade extrativista, no Pará e no Amazonas. Começa então a ser cultivado na Bahia e no Maranhão com mão-de-obra escrava.

INTRODUÇÃO DO CAFÉ – O café é introduzido no Brasil por Francisco de Melo Palheta, em 1727, que o contrabandeia da Guiana Francesa. Durante o século XVIII, seu cultivo limita-se ao nordeste, onde os solos não são adequados. A cafeicultura só se desenvolve no século XIX, quando o produto começa a ser cultivado na região Sudeste.

FRANCISCO DE MELO PALHETA (1670 –?) nasce em Belém do Pará e é considerado o primeiro a introduzir o café no Brasil. Militar e sertanista, em 1727 é mandado à Guiana Francesa e recebe duas incumbências do governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará, João Maia da Gama. A primeira tem caráter diplomático: o governador da Guiana, Claude d'Orvilliers, tinha mandado arrancar um padrão com o escudo português plantado na fronteira entre as duas colônias. A missão de Palheta seria fazer respeitar a divisa, estabelecida pelo Tratado de Utrecht no rio Oiapoque. A segunda tarefa de Palheta é clandestina: deveria obter mudas de café, cultivado nas Guianas desde 1719, e trazê-las para o plantio no Pará. O sertanista cumpre suas duas incumbências. Faz os franceses aceitarem a faixa divisória entre os dois países e traz mudas de café para o Brasil, apesar da proibição formal do governo francês. Conta-se que ele mesmo teve um cafezal no Pará, com mais de mil pés, para o qual pediu ao governo cem casais de escravos.

EXPANSÃO DO AÇÚCAR – A agroindústria açucareira do nordeste volta a se expandir no século XVIII, quando as revoltas escravas nas Antilhas interrompem a produção local. O aumento das exportações brasileiras estimula a expansão dos canaviais para o Rio de Janeiro e São Paulo, já enriquecidos pelo comércio do ouro.

Pecuária

Fator essencial na ocupação e povoamento do interior, a pecuária se desenvolve no vale do rio São Francisco e na região sul da colônia. As fazendas do vale do São Francisco são latifúndios assentados em sesmarias e dedicados à produção de couro e criação de animais de carga. Muitos proprietários arrendam as regiões mais distantes a pequenos criadores. Não é uma atividade dirigida para a exportação e combina o trabalho escravo com a mão-de-obra livre: mulatos, pretos forros, índios, mestiços e brancos pobres. No sul, a criação de gado é destinada à produção do charque para o abastecimento da região das minas.

Conclusão

Concluímos através deste trabalho que durante o período colonial, desenvolveram-se no Brasil várias atividades econômicas para seu sustento e para exportação. Os setores que interessaram à metrópole foram dirigidos ao mercado externo. Destacaram-se as monoculturas exportadoras de açúcar, algodão, tabaco, a mineração de ouro e diamantes. Essas atividades tem custo baixo e são baseadas no latifúndio e na escravidão. A colônia organizava-se como economia complementar a da metrópole. Produz o que a ela convém e compra dela tudo de que necessita. Cada uma das atividades produtivas tem importância maior em um determinado período, ou ciclo.

Autoria: Ana Elisa Ribeiro

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Ciclo do Ouro

Ainda no século XVI, os habitantes de Piratininga encontraram oouro de lavagem, nos arredores da vila de São Paulo, bem como em Iguape, Paranaguá, Curitiba e Santa Catarina. As pequenas proporções das jazidas e a atração exercida pelo apresamento indígena levaram os bandeirantes a abandonar a exploração aurífera.

Nas últimas décadas do século XVII, contudo, a coroa portuguesa passou a estimular os bandeirantes a buscar os metais preciosos, tão esperados pela metrópole desde o início da colonização e tãonecessários a Portugal, no momento em que se agravava sua crise econômico-finan ceira. De próprio punho, os reis de Portugal- D. Afonso VI e D. Pedro II - pediam aos bandeirantes que explorassem a região das Gerais, oferecendo, em troca, títulos e hon rarias.

As primeiras bandeiras de prospecção alcançaram o território de Minas Gerais na década de 1670, destacando- se aí a figura deFernão Dias Pais, o "caçador de esme raldas". Em 1690, Garcia Rodrigues Pais, seu filho, anun ciava a descoberta das primeiras jazidas auríferas; três anos depois, Antônio Rodrigues Arzão encontrou ouro em Caeté, seguido das descobertas das minas deVila Rica e de Sabará, por Borba Gato, em 1700. Seguindo na busca de novas jazidas, Bartolomeu Bueno da Silva desloca-se para o Centro-Oeste, e, em 1725, descobre as minas dos Goiáses.

As Monções

Com a concentração da extração aurífera em Minas Gerais, provocando a maciça migração de reinóis, não tardaram a surgir os conflitos entre paulistas e portugue ses, que acabaram por provocar aGuerra dos Emboa bas. Em desvantagem e derrotados nos confrontos armados, os paulistas deslocaram-se através do rio Tietê, em busca de outras regiões auríferas.

Essas grandes expedições fluviais, que subiam e desciam os rios Tietê, Paraná, Paraguai e outros rios do território mato-grossense, foram denominadas monções. A denominação resultou do ciclo de cheias e vazantes dos rios, determinando ou não a possibilidade de navegação. Além do seu caráter explorador, as monções atuaram co­mo expedições de abastecimento dos núcleos que se for mavam nos sertões.

Uma das conseqüências mais importantes das mon ções foi a descoberta do ouro em Cuiabá, por Pascoal Moreira Cabral, em 1718.

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A Mineração no Brasil Colonial

A época da mineração no período colonial abrangeu basicamente o século XVIII, com o seu apogeu entre 1750 e 1770. Nessa fase da vida econômica da colônia que se voltou quase queexclusivamente para o extrativismo mineral, as principais regiões auríferas foram Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Anteriormente, já haviam ocorrido as explorações do ouro de lavagem, em São Paulo, Paraná e Bahia, mas, com resultados inexpressivos.

Ouro levado para as casas de fundição
Após sua extração, o ouro era levado para as Casas de Fundição. Ali, era quintado, fundido e transformado em barras, assegurando o controle dos lucros da exploração aurífera pela coroa portuguesa.

A mineração dos anos setecentos foi desenvolvida a partir do ouro de aluvião, tendo como características o baixo nível técnico e o rápido esgotamento das jazidas. No extrativismo aurífero, as formas de exploração mais comuns encontradas eram as lavras e afaiscação. A primeira representaria uma empresa em que era utilizada a mão-de-obra escrava e se aplicava uma técnica mais apurada. Já a faiscação era a extração individual, realizada principalmente por homens livres.

Legislação, órgãos e tributos da mineração

A organização da exploração aurífera começou em 1702, quando o Estado português editou o Regimento das Terras Minerais, disciplinando a exploração aurífera estabelecida pela Carta Régia de 1602, que declarava a livre exploração, mediante o pagamento doquinto; em outras palavras, a quinta parte do que se extraía (20%) era o imposto devido à metrópole. Por esse regimento, organizava-se a distribuição das jazidas que eram dividi das em datas - porções das jazidas que representavam a unidade de produção - e passadas para os exploradores mediante o sistema de sorteio, promovido pelaIntendên cia das Minas, principal órgão de controle e de fiscaliza ção da mineração do ouro.

No que refere a tributação, inicialmente existia o quinto, cuja cobrança era dificultada pela circulação do ouro em pó, que permitia a prática cotidiana do contra bando; como exemplo, o ouro era contrabandeado na carapinha dos escravos ou nos famosos santos de pau oco. Com o intuito de efetivar sua cobrança e evitar o contrabando, em 1720, foram criadas as Casas de Fundição - que só vieram a funcionar em 1725, em Vila Rica - com a finalidade de transformar o ouro em barras timbradas e quintadas. Em 1730, o quinto foi reduzido para 12% e, em 1735, foi criado um novo imposto, a capitação, onde se cobrava 17 gramas por escravo em atividade na mineração.

Em 1750, época do apogeu do ouro, foi instituído o quinto por estimativa, conhecido como finta, ou seja, a fixação de uma cota fixa de 100 arrobas que incidia sobre toda a região aurífera. A partir daí, já com o prenúncio da decadência da mineração, essa cota não era alcançada, gerando-se o déficit que se avolumava a cada ano. Com isso, em 1765, foi instituída a derrama, forma arbitrária de cobrança do quinto atrasado, que deveria ser pago por toda a população da região, inclusive com bens pessoais. E esse quadro, marcado pela extorsiva tributação, aumen tou o descontentamento contra os abusos da metrópole.

A exploração dos diamantes

Por volta de 1729, Bernardo da Fonseca Lobo des cobriu as primeiras jazidas diamantíferas no arraial do Tijuco ou Serro Frio, hoje Diamantina. Teve início, as sim, a exploração dos diamantes, que, como a do ouro, também era considerada um monopólio régio.

Em 1733, foi criado o Distrito Diamantino, única área demarcada em que se podia explorar legalmente as jazidas. A exploração era livre, mediante o pagamento do quinto e da capitação sobre o trabalhador escravo. Em 1739, a livre extração cedeu lugar aosistema de con trato, que deu origem aos ricos contratadores, como João Fernandes, estreitamente ligado à figura de Xica da Silva. Diante das irregularidades e do desvio dos impos tos, além do alto valor que alcançavam as pedras na Europa, em 1771, foi decretada arégia extração, que contava com o trabalho de escravos alugados pela coroa. Posteriormente, com nova liberação da exploração, foi criado o Livro de Capa Verde, contendo o registro dos exploradores, e o Regimento dos Diamantes, procurando disciplinar a extração. Contudo, o monopólio estatal sobre os dia­mantes vigorou até 1832.

As conseqüências da mineração

A mineração foi responsável por impor tantes conseqüências que se refletiram sobre a vida econômica, social, política e administrati va da colônia. De saída, provocou uma grande migração portuguesa para a região das Gerais. Segundo alguns autores, no século XVIII, aproximadamente 800.000 portugueses trans feriram-se para a colônia, o que correspon deria a 40% da população da metrópole.

No Brasil, paralelamente a isto, ocorreu um deslocamento do eixo econômico e demo gráfico do litoral para a região Centro-Leste, acompanhado da inten sificação do tráfico negreiro e do remanejamento do contingente interno de escravos. Com isso, a colônia co nheceu uma verdadeira explosão populacional, ultrapas­sando com folga a casa de um milhão de habitantes, no século XVIII.

O entorno da região mineradora, compreendendo o eixo Minas-Rio de Janeiro, passou a ser o novo centro de gravidade econômica, social e política da colônia; em 1763, um decreto do marquês de Pombal transferiu a capital de Salvador para o Rio de Janeiro.

Geradora de novas necessidades, a mineração condi cionou um maior desenvolvimento do comércio, associa do ao fenômeno da urbanização. Desenvolveu-se o mer cado interno, possibilitando a dinamização de todos os quadrantes da colônia, que se organizaram para abastecer a região do ouro. A vida urbana e o próprio caráter da exploração aurífera geraram uma sociedade mais aberta eheterogênea, convivendo lado a lado o trabalho livre e o trabalho escravo, embora este fosse predominante. Co mo conseqüência, a concentração de renda foi menor, en riquecendo, principalmente, os setores ligados ao abaste cimento.

Finalmente, a "corrida do ouro" promoveu a penetra ção e opovoamento do interior do Brasil, anulando em definitivo a velha demarcação de Tordesilhas.

Uma cultura mineira

Todo o conjunto de conseqüências, anteriormente ci tadas, refletiu-se na vida cultural e intelectual da mine ração, marcada por um notável desenvolvimento artístico.

Na literatura, destacaram-se os poetas intimamente relacionados ao Arcadismo. Na arquitetura e na escultura, emergiram as figuras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e mestre Valentim, nomes importantes do barroco mineiro.

Na música, além da disseminação de uma música popular - modinhas e lundus - sobressaíram-se os gran des mestres da música sacra - barroca, com as missas e réquiens de Joaquim Emérico Lobo de Mesquita e do pa dre José Maurício Nunes Garcia.

Nesse contexto, a influência européia, com os novos princípios liberais disseminados pela Enciclopédia, ali mentaria o primeiro movimento de caráter emancipacio nista: a Inconfidência Mineira.

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Movimentos Nativistas

A partir de meados do século XVII, um conjunto de movimentos nativistas políticos exprimiu a repulsa dos colonos aos abusos do colonialismo português, endurecido depois da Restauração. Esses movimentos, denominados nativistas, podem ser caracterizados pela não contestação ao domínio português como um todo e sim por rebeldias ou conflitos regionais contra aspectos isolados do colonia­lismo, principalmente após 1640, quando a "relativa harmonia" entreinteresses da aristocracia rural local e os da Metrópole foram-se rompendo, na medida em que se intensificava a exploração colonial portuguesa.

A Insurreição Pernambucana (1645-54) contribuiu para o advento desses movimentos, visto que durante a sua ocorrência registrou-se a divergência entre os interesses dos colonos e os objetivos pretendidos pela Metrópole. Daí estarem os movimentos nativistas menos relaciona dos com um ideal emancipacionista, ligando-se mais a um sentimento de defesa de interesses locais ou regionais.

Um Rei de São Paulo?

Em abril de 1641, Amador Bueno da Ribeira foi aclamado Rei de São Paulo. Essa aclamação, entretanto, resultou da divergência entre clãs locais (Garcia-Pires, portugueses, e Camargos, espanhóis), diante da notícia da Restauração em Portugal. Este fato fora interpretado como uma ameaça aos interesses espanhóis na região. Mais tarde, evidenciou-se a tensão entre jesuítas e bandeirantes, devido à escravidão indígena, ocorrendo então um movimento que se denominou a Botada dos Padres para Fora, por parte dos colonos paulistas. Este episódio repetir-se-ia em 1661, no Pará, e em 1684, no Maranhão.

A revolta contra os governadores

No Rio de Janeiro, entre 1660 e 1661, ocorreu um movimento nativista devida à forte política fiscalista aplicada pelo governador português Salvador Correia de Sá e Benevides. Seu líder foi Jerônimo Barbalho, que, após ter deposto o governador devido à decretação dos novos tri butos, foi preso e executado. Na Revolta de "Nosso Pai", em Pernambuco (1664-65), também houve a rebelião local contra o governador português Jerônimo de Mendonça Furtado, alcunhado "Xumbrega", acusado de corrupção e de ser conivente com os franceses. Na realidade, nesse acontecimento já havia indícios da rivalidade entre Olinda e Recife.

O Bequimão

Na Revolta de Beckman ou Bequimão, movimento nativista ocorrido no Mara nhão, em 1684, mais uma vez evidenciou-se a divergência de interesses entre colonos locais, repre sentados pelos irmãos Manuel e Tomás Beckman e a Companhia Geral de Comérciodo Estado do Ma ranhão, que possuía o monopólio do comércio e de introdução de escravos africanos. A rebelião ocorreu contra os abusos da Companhia de Comércio, que não cumpriu os acordos feitos com os colonos, e contra a Companhia de Jesus, que se opunha à escra vidão indígena.

A Guerra dos Emboabas

Outro movimento nativista foi a Guerra dos Em boabas, ocorrida em Minas Gerais (1708-09), resul tante da rivalidade entre os paulistas e os "emboa bas" - forasteiros, principalmente portugueses, que acabavam sendo protegidos pelos órgãos do governo colonial, com o monopólio de diversos ramos co merciais. O movimento eclodiu devido a uma série de incidentes, nos quais sempre havia de um lado os paulistas e do outro os emboabas.

A Revolta de Vila Rica

Em 1720, novamente na região de Minas Gerais, em Vila Rica, ocorreu a revolta de Felipe dos San tos, um dos movimentos nativistas em que mais uma vez encontramos a rebelião contra os abusos do fiscalismo português, caracteri zados pela elevação dos impostos decretada pelo governador, conde de Assumar. Os mineradores re voltados reivindicavam a redução dos impostos, abolição dos monopólios exercidos pelos portu gueses e a extinção das Casas de Fundição.

Guerra dos Mascates

Um dos mais famosos movimentos nativistas foi a Guerra dos Mascates (1710-12), em Pernambuco, moti vada pela forte rivalidade entre os senhores-de-engenho de Olinda e os comerciantes portugueses de Recife, apeli dados de mascates, e que contavam com o apoio do governador Sebastião de Castro Caldas. O conflito irrompeu quando Recife foi elevado à categoria de vila, o que favo recia o grupo português. Ao terminar o movimento, em 1712, Recife passava a ser cidade e capital de Pernambuco, o que acentuou ainda mais a rivalidade da aristocracia pernambucana contra os portugueses.

Neste movimento, como nos demais, deve ser perceb ido o seu sentido não-emancipacionista e a inexistência de interesses que visassem ultrapassar os limites locais ou regionais.

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