20.6.12

Confira a evolução dos jogos e brincadeiras ao longo da história


Fundamentais para a formação das crianças, os brinquedos acompanham a humanidade desde a Pré-História. De lá para cá, mudaram muito pouco. Os materiais são outros, mas a função é a mesma: divertir e ensinar.


Texto Jeanne Callegari / Ilustrações Vanessa Reyes


Em 1888, o inglês William Flinders Petrie começou a escavar as ruínas de Kahun, ao sul do Cairo, o primeiro sítio arqueológico a mostrar a rotina dos antigos egípcios. Entre as descobertas estava um bastão de 28 centímetros decorado com talhos vermelhos e pontinhos pretos. O objeto em forma de curva, um ancestral do nosso bumerangue, datava de cerca de 1 800 anos antes da era cristã. Era, provavelmente, um brinquedo de criança.

Outros achados mostram que a humanidade brincava muito antes de aprender a escrever, e que jogos como cinco-marias já eram conhecidos na Pré-História. "Desde que existem crianças, existem brinquedos", diz Cristina Von, autora de A História dos Brinquedos (Ed. Alegro). "Brincar é parte essencial da formação do ser humano." Na atividade lúdica, a criança descobre o corpo, aprende a se socializar, a resolver problemas, a imaginar. As brincadeiras de antigamente não são muito diferentes das atuais. "Fiquei surpresa ao perceber que as coisas mudaram tão pouco", afirma a escritora e pesquisadora Deborah Jaffé, integrante do comitê do museu da infância Victoria & Albert, de Londres. Se o conceito é o mesmo, a tecnologia de fabricação e os materiais evoluíram e se diversificaram, acompanhando as inovações de cada período. A produção em massa veio depois da Revolução Industrial. E os brinquedos ficaram mais baratos.

Eles traduzem a capacidade do homem de criar e reciclar. Não faltam exemplos de objetos que trocaram de função. Como o bumerangue, que nasceu como arma e virou brinquedo. Melhor se divertir do que guerrear.

Assoprar, pular e jogar

Cinco-marias, nécara, jogo-do-osso. Três nomes diferentes para a mesma brincadeira pré-histórica: lançar uma peça para o alto e, antes que ela atinja o chão, pegar outra. Na Antiguidade, os nobres usavam pepitas de ouro, pedras preciosas, marfim ou âmbar. Já a amarelinha evoluiu do jogo-dos-odres, praticado em Roma. Os participantes saltavam com um pé só sobre sacos feitos com pele de bode, untados com azeite. Nessa época, canudos de palha eram usados para assoprar bolinhas-de-sabão. A prática foi popular na França no século 17, onde recebeu o nome de bouteilles, por causa da garrafa que guardava uma mistura de água, sabão e açúcar.

Querida dona redonda

Um dos brinquedos preferidos de todos os tempos, a bola era feita de bambu, no Japão, e de crinas de animais, na China, 6 500 anos atrás. Romanos e gregos faziam as suas de bexiga de boi, couro ou penas. A bola de futebol chegou ao Brasil com o jogo, em 1894. O brasileiro Joaquim Simão fez a primeira na cor branca.

Pequenas moças

Estatuetas de barro são fabricadas desde a Pré-História. Mas foi no Egito, há 5 mil anos, que as bonecas deixaram de ser ídolos religiosos para se tornarem brinquedos. Na Grécia e em Roma, algumas tinham cabelo de verdade. Esta, de madeira, é europeia (1680). As casinhas de boneca foram criadas em 1558, na Alemanha.

O ursinho do presidente

Os bichos de pelúcia existem desde o século 19. O mais famoso é o teddy-bear, o ursinho. Durante uma caçada, em 1902, o presidente americano Theodore Roosevelt se recusou a abater um urso ferido por outro participante. Disse que seria uma atitude antiesportiva. A história virou cartum num jornal popular e inspirou Morris Michtom a criar um brinquedo novo: "o urso de Teddy", o apelido de Roosevelt.





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Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/livros/2012-05-25/d-pedro-enviava-pelos-pubianos-e-desenhos-eroticos-para-a-amante.html

Do Instantâneo ao Eterno


As unidades de tempo variam do infinitesimalmente breve ao interminavelmente longo. As descrições a seguir tentam dar sentido a esta vasta diferença cronológica

por David Labrador

©0mela/ Shutterstock



Atossegundo: (Bilionésimo de um bilionésimo de segundo.) Os eventos mais efêmeros que os cientistas conseguem mensurar são calculados em atossegundos. Cientistas criaram pulsos de luz que duram apenas 250 atossegundos usando laser de alta velocidade. Embora o intervalo pareça breve, de modo inimaginável, é um éon comparado com o tempo de Planck – cerca de 10-43 segundo – que se acredita ser a menor duração possível.

Femtossegundo: (Milionésimo de bilionésimo de segundo.) Um átomo numa molécula costuma completar uma vibração simples em 10 a 100 femtossegundos. Mesmo reações químicas rápidas costumam levar centenas de femtossegundos para se completarem. A interação de luz com pigmentos na retina – processo que permite a visão – leva cerca de 200 femtossegundos.

Picossegundo: (Milésimo de bilionésimo de segundo.) O bottom quark, partícula subatômica rara em aceleradores de alta potência, dura um picossegundo antes de se deteriorar. A vida média de uma ligação entre as moléculas de água em temperatura ambiente é de três picossegundos.

Nanossegundo: (Bilionésimo de segundo.) Um feixe de luz no vácuo viajará apenas 30 cm neste tempo. O microprocessador de um computador pessoal costuma levar um terço de dois nanossegundos para executar uma instrução simples, como a adição de dois números. O méson K, outra partícula subatômica rara, tem vida de 12 nanossegundos.

Microssegundo: (Milionésimo de segundo.) Esse feixe de luz terá viajado agora 300 m, cerca do comprimento de três campos de futebol americano, mas uma onda de som ao nível do mar terá se propagado apenas um terço de 1 mm. O clarão de um estroboscópio comercial de alta velocidade dura apenas um microssegundo. Após o estopim queimar, uma banana de dinamite leva 24 microssegundos para explodir.

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O cérebro de um recém-nascido cresce cerca de 1-2 mg por minuto.


[continuação]

Milissegundo: (Milésimo de segundo.) É o tempo de exposição mais curto de uma câmera fotográfica comum. Uma mosca doméstica bate as asas a cada três milissegundos; uma abelha melífera faz a mesma coisa a cada cinco milissegundos. A Lua viaja ao redor da Terra dois milissegundos mais lentamente a cada ano conforme sua órbita gradualmente se alarga. Na ciência computacional, um intervalo de 10 milissegundos é conhecido como jiffy.

Décimo de segundo: A duração do famoso “piscar de um olho”. O ouvido humano precisa deste tempo para discernir um eco do som original. O Voyager 1, nave especial que viaja pelo Sistema Solar, distancia-se do Sol cerca de 2 km durante esse período de tempo. Um diapasão afinado em lá, acima do dó médio, vibra 44 vezes.

Segundo: O batimento cardíaco de uma pessoa saudável dura esse tempo. Em média os americanos comem 350 pedaços de pizza nesse tempo. A Terra viaja 30 km ao redor do Sol, enquanto o Sol completa 274 km em sua jornada pela Galáxia. Não é tempo suficiente para a luz da Lua alcançar a Terra (1,3 segundo). Tradicionalmente o segundo era a sexagésima (60ª) da vigésima quarta (24ª) parte de um dia, mas a ciência forneceu uma definição mais precisa: é a duração de 9.192.631.770 ciclos de um tipo de radiação produzido por um átomo de césio 133.

Minuto: O cérebro de um recém-nascido cresce 1-2 mg neste período. O coração trêmulo de uma víbora bate mil vezes. A pessoa média consegue falar 150 palavras ou ler cerca de 250 palavras. Quando Marte está mais próximo da Terra, a luz solar refletida da superfície do Planeta Vermelho nos alcança em cerca de quatro minutos.

Hora: As células reprodutivas levam cerca desse tempo para se dividirem em duas. Uma hora e 16 minutos é o tempo médio entre erupções do gêiser Old Faithful, no Yellowstone National Park. A luz de Plutão chega à Terra em 5 horas e 20 minutos.

Dia: Para os seres humanos, talvez esta seja a unidade de tempo mais natural, a duração de um giro completo da Terra em torno do seu eixo. Atualmente calculada (dia sideral) em 23 horas, 56 minutos e 4,1 segundos. A rotação terrestre está se desacelerando constantemente devido ao arrasto gravitacional da Lua e a outras influências. O coração humano bate cerca de 100 mil vezes num dia, e os pulmões inspiram cerca de 11 mil litros de ar. Neste mesmo período, uma baleia-azul bebê acrescenta 91 kg ao seu peso.




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A Lua se distancia da Terra 3,8 m por século.


[continuação]

Ano: A Terra percorre um circuito ao redor do Sol e gira em seu próprio eixo 365,26 vezes. O nível médio dos oceanos se eleva entre 1-2,5 mm, e a América do Norte se distancia cerca de 3 cm da Europa. A luz de Próxima do Centauro, a estrela mais perto da Terra, leva 4,3 anos para alcançá-la – aproximadamente o mesmo tempo que as correntes de superfície do oceano levam para circum-navegar o planeta.

Século: A Lua se distancia da Terra 3,8 m; espera-se que os CDs normais se degradem nesse período. Osbabyboomers (os nascidos entre 1945 e 1964) terão uma chance em 26 de viver até os 100 anos, mas as tartarugas-gigantes poderão chegar até os 177 anos. Os CDs graváveis mais sofisticados poderão durar mais de 200 anos.

Milhões de anos: Após viajar por 1 milhão de anos uma espaçonave movimentando-se à velocidade da luz ainda não teria chegado a meio caminho da galáxia de Andrômeda (a 2,3 milhões de anos-luz de distância). As estrelas mais massivas, as supergigantes azuis, milhões de vezes mais luminosas que o Sol, vão se extinguir em mais ou menos esse tempo. Devido ao movimento das placas tectônicas terrestres, Los Angeles se moverá cerca de 40 km na direção norte-noroeste de sua localização atual em um milhão de anos.

Bilhões de anos: Levou aproximadamente esse tempo para a Terra recém-formada esfriar, criar oceanos, dar origem a uma vida unicelular e trocar a atmosfera primitiva com alto teor de dióxido de carbono por outra rica em oxigênio. Enquanto isso, o Sol orbitou quatro vezes o centro da Galáxia. Como o Universo tem de 12-14 bilhões de anos de idade, unidades de tempo além de 1 bilhão de anos não são muito comuns. Mas cosmólogos acreditam que o Universo provavelmente continuará se expandindo indefinidamente, até muito após a última estrela se extinguir (em 100 trilhões de anos) e o último buraco negro se evaporar (em 10100 anos). Nosso futuro se estende muito mais à frente que os rastros de nosso passado.

Fonte:

Massacre da praça da Paz Celestial


Por Emerson Santiago

O episódio que ficou conhecido como o massacre da praça da paz celestial refere-se ao desfecho de uma série de manifestações ocorridas entre 15 de abril a 4 de junho de 1989 em Pequim, capital chinesa. Neste período, manifestantes, sobretudo estudantes universitários, intelectuais e trabalhadores acamparam na Praça da Paz Celestial (Tian An Men) com o objetivo de reivindicar maior liberdade política. Ao reprimir tais manifestantes, as forças do governo encurralaram os manifestantes com armas e tanques, provocando um grande número de mortes, uma verdadeira chacina. As vítimas do massacre podem ter chegado a milhares, não se sabe exatamente o número de mortos e feridos, embora o governo tenha reconhecido oficialmente a morte de “apenas” poucas centenas de pessoas. Os sobreviventes foram perseguidos e presos, e até hoje, o tema é proibido na sociedade chinesa.



Os protestos de Pequim fazem parte do movimento que varreu todo o mundo socialista no final da década de 1980 e que resultou no colapso da maioria dos governos do bloco socialista. Alguns poucos regimes, entre eles o chinês, sobreviveram a esta época de mudanças radicais, mas não sem alterações na sua política chamada “linha dura”, de antagonismo ao mundo capitalista. De fato, a China começou a investir a partir destes protestos numa política de abertura de sua sociedade e economia, apesar de haver até hoje ainda um controle estatal à mídia e à influência cultural externa.

Os protestos por reformas no regime chinês têm sua origem na exoneração de Hu Yaobang de seu cargo de secretário geral do Partido Comunista chinês por Deng Xiaoping, por ser considerado um liberal reformista. Ao mesmo tempo em que os regimes socialistas enfrentavam os protestos populares, principalmente na União Soviética e no leste europeu, em abril de 1989 morre Hu Yaobang, e durante o seu funeral, estudantes se reúnem na Praça da Paz Celestial reivindicando um encontro com o primeiro-ministro Li Peng. O pedido não é aceito e os estudantes decidem iniciar uma greve nas universidades da capital chinesa. Os protestos acabaram por atrair operários, camponeses e cidadãos comuns, no que se transforma em um movimento por maior liberdade de expressão dentro do país, bem como melhorias nas condições de vida e fim da corrupção.

A 20 de maio o governo decreta lei marcial e acaba pondo um fim aos protestos de modo violento. Nesses 23 anos, apesar da economia chinesa ter dado um salto fantástico, a repressão política e a censura, bem como o desrespeito aos Direitos Humanos são ainda negligenciadas pelo partido comunista no poder desde 1949.

Bibliografia:
Repressão de estudantes na Praça da Paz Celestial completa 23 anos. Disponível em: <http://www.portugues.rfi.fr/mundo/20120604-repressao-de-estudantes-chineses-na-praca-da-paz-celestial-completa-23-anos> Acesso em: 04 jun. 2012.
Massacre na Praça da Paz Celestial. Disponível em: <http://www.igeduca.com.br/biblioteca/que-dia-e-hoje/massacre-na-praca-da-paz-celestial.html> Acesso em: 04 jun. 2012.
Nos 23 anos do massacre da Praça da Paz Celestial, China bloqueia todas as referências à data nas mídias sociais. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/cotidiano/nos-23-anos-do-massacre-da-praca-da-paz-celestial-china-bloqueia-todas-as-referencias-a-data-nas-midias-sociais/55835/> Acesso em: 04 jun. 2012.




Fonte:

Qual é a origem da pizza?





Seus criadores foram mesmo os italianos. Mas existem várias hipóteses para explicar a chegada do ancestral da pizza à Itália. A principal delas conta que, três séculos antes de Cristo, os fenícios costumavam acrescentar ao pão coberturas de carne e cebola. Só que o pão deles era parecido com o pão sírio, redondo e chato como um disco. A mistura também foi adotada pelos turcos, que preferiam cobertura à base de carne de carneiro e iogurte fresco. "Durante as Cruzadas, no século XI, o pão turco foi levado para o porto italiano de Nápoles", conta o sociólogo Gabriel Bollaffi, da USP. Os napolitanos tomaram gosto pelo petisco e foram aperfeiçoando-o com trigo de boa qualidade para a massa e coberturas variadas, especialmente queijo. Nascia, então, a pizza quase como a conhecemos hoje. Faltava só o tomate, introduzido na Itália no século XVI, vindo da América, e incorporado como ingrediente tão básico quanto o queijo.

A mais antiga pizzaria que se conhece está em Nápoles e foi fundada em 1830. A pizza Margherita também surgiu nessa cidade, em 1889, feita de encomenda para o rei Umberto I e a rainha Margherita.

Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-ea-origem-da-pizza

Plano Real Fim da inflação e conquista da estabilidade econômica




As notas de Real, que se tornaram a moeda nacional em 1994

Durante a segunda metade do século 20, o Brasil foi o país com a maior inflação em todo o mundo. Essa difícil trajetória só foi interrompida em 1994, com a implantação doPlano Real, que tornou estável a economia brasileira. Esse período da história do país é relatado e explicado a seguir numa entrevista com o cientista político Sérgio Fausto, ex-assessor do Ministério da Fazenda.


O que é inflação?Inflação é o aumento dos preços de bens e serviços comercializados numa economia. O contrário chama-se deflação. A inflação não se refere a um ou outro preço tomado individualmente. Ela se refere sempre à média de um conjunto de preços. Só para fins de raciocínio, imagine uma economia na qual cinco bens e serviços sejam transacionados. A inflação é o aumento médio dos preços desses bens e serviços em um determinado intervalo de tempo.

Digamos que o preço desses produtos, no intervalo de um ano, aumentou 5% no caso de um deles, reduziu-se 2,5% no caso de outro e manteve-se inalterado no caso dos três restantes. Supondo que os cinco produtos tenham o mesmo peso no índice de preços dessa economia, a inflação do período foi de 2,5%.


Como a inflação é medida?A inflação, assim como a deflação, é medida por índices de preço. Eles se dividem basicamente em índices de preço ao consumidor e índices de preço ao produtor ou no atacado. Os índices de preço são compostos por itens que integram a cesta de consumo do consumidor final ou do produtor.

Os institutos encarregados de apurar a inflação atribuem pesos diferentes a cada um dos itens conforme a sua importância na cesta de consumo das pessoas e das empresas e apuram a variação dos preços desses itens, em geral mês a mês.

Em suma, a inflação ou a deflação reflete a variação média positiva ou negativa, respectivamente, de um conjunto de bens e serviços que representam o padrão de consumo das pessoas ou das empresas em uma determinada economia.


Você poderia apresentar um histórico do processo inflacionário brasileiro na segunda metade do século 20?Sim. É possível expor brevemente essa história, identificando as seguintes fases:

1) de 1958 a 1964, quando a inflação, alimentada primeiro pelo excesso de gasto público do governo JK e depois pela crise política que desembocou no golpe militar, passou de cerca de 20% para aproximadamente 80% ao ano;

2) de 1964 a 1973, quando a inflação declinou progressivamente para a faixa dos 15% ao ano, graças a um programa bem sucedido de estabilização realizado pelo primeiro governo militar e à existência de boas condições na economia internacional;

3) de 1974 a 1979, período marcado pelo primeiro choque do petróleo, que apanha o Brasil quase sem produção interna dessa fonte de energia, e por um endividamento crescente do país no exterior, numa tentativa imprudente de manter o país crescendo no mesmo ritmo do período anterior;

4) de 1979 a 1985, quando a inflação, que já havia atingido 100% ao ano no período anterior, ultrapassa os 200% ao ano, na esteira de um segundo choque do petróleo e de um choque de juros que pegou o Brasil muito endividado e levou à moratória da dívida externa;

5) de 1986 a 1994, quando vários programas heterodoxos de estabilização, baseados no congelamento de preços, fracassaram e levaram a inflação a patamares superiores a 1000% ao ano;

6) de 1995 até agora, quando a inflação converge progressivamente para níveis muito próximos aos observados nos países desenvolvidos.


Quais as causas da inflação brasileira?Em toda essa história, a inflação sempre esteve ligada a desequilíbrios internos (muito especialmente o crescimento exagerado da despesa do governo, levando a um aquecimento da demanda muito acima da capacidade da oferta), a choques externos (mudanças desfavoráveis na economia internacional) e a turbulências políticas internas (incertezas quanto ao comportamento do governo em relação à economia), fatores que muitas vezes se retroalimentaram.


De que modo se dava essa retroalimentação?Como essa foi uma história longa no Brasil, a sociedade aprendeu a se defender da inflação. O resultado foi o mais complexo e abrangente sistema de indexação de preços que já existiu em qualquer país. Todos os agentes econômicos buscavam vincular os seus preços a índices de inflação. Assim, a inflação do presente tendia a reproduzir a inflação do passado. Salvo quando havia muita incerteza em relação ao que aconteceria com a economia no futuro. Por isso a inflação subia sempre em degraus, mas nunca descia. Nesse processo, os preços subiam de elevador e os salários de escada. Ou seja, quem recebia salário ia perdendo poder de compra.


Nesse contexto, o que representou o Plano Real?O Plano Real conseguiu mudar o rumo dessa história. Desarmou o sistema de indexação, restabeleceu a confiança em que o governo não faria loucuras na economia e virou uma página complicada da história brasileira.


O que significava a inflação para o cotidiano dos brasileiros?A inflação foi certamente uma das principais causas de concentração da renda no Brasil na segunda metade do século 20, pelas razões apontadas acima. Quem estava em bons empregos, tinha um negócio bem estruturado e aplicações financeiras no banco podia defender-se da inflação e até ganhar com ela. Ganhar em detrimento daqueles que não tinham como se defender dela, os mais pobres, porque estes não conseguiam indexar os seus salários, não tinham aplicações financeiras, etc.

Além de ser uma espécie de imposto contra o pobre, a inflação dificultava o planejamento da vida de todas as pessoas, famílias e empresas porque quando se tem inflação alta, crônica e crescente o futuro é uma incógnita, mesmo o futuro imediato. Como se não bastasse, a inflação facilitava a trapaça e a má fé porque as pessoas tinham dificuldade de memorizar e comparar preços de serviços e produtos.


Quais as tentativas dos governos para conter a inflação?De 1986 a 1994, houve nada menos de seis planos de estabilização fracassados: Cruzado 1 (fevereiro de 1986) e 2 (novembro de 1986), Bresser (1987), Verão (1988), Collor 1 (1990) e 2 (1991). A inflação retrocedia momentaneamente, mas voltava com ainda mais força logo adiante, ao passo que a confiança em que o governo pudesse resolver o problema diminuía a cada vez.


Por que elas fracassaram?Um dos erros básicos foi supor que o congelamento de preços pudesse parar a inflação por tempo suficiente e criar as condições políticas para atacar as causas de fundo da inflação (desorganização das finanças públicas, uma economia muito fechada, etc.). Na verdade, o congelamento de preços criava interesses políticos na manutenção daquela situação artificial e insustentável. Resultado: os problemas de fundo não eram atacados, o congelamento desorganizava a economia e, quando acabava, a inflação voltava explosivamente.


Quando e como foi criado o Plano Real?O Plano Real se desdobrou em três fases e, diferentemente dos anteriores, foi anunciado antecipadamente à sociedade. Em nenhum momento houve congelamento de preços. A primeira fase, que durou do final de 1993 a fevereiro de 1994 consistiu na batalha por aprovar no Congresso medidas que assegurassem um mínimo de controle sobre as contas públicas. Essa foi uma lição aprendida com os planos anteriores: como a inflação alta ajudava o governo a fechar as suas contas, se o objetivo era derrubá-la e mantê-la no chão, era preciso tomar as rédeas das contas públicas.

A segunda fase transcorreu de fevereiro a junho de 1994 e foi marcada pela progressiva cotação dos preços em URV, uma unidade real de valor, ou seja, uma referência estável de valor. O cruzeiro novo não saiu de cena de imediato. A cada dia, o BC fixava uma taxa de conversão da URV em cruzeiros, baseada na média de três índices diários de inflação.

A URV era uma quase moeda, porque servia de unidade de conta, de reserva de valor, mas não de meio de pagamento. Ou seja, os bens e serviços continuavam a ser pagos em cruzeiros novos, mas passaram a ter referência numa unidade de valor estável, mais ou menos como se fosse um substituto do dólar. Assim, a URV permitiu o alinhamento dos preços sem necessidade e as inconveniências do congelamento. A terceira fase começa com a emissão da nova moeda, o Real, em lugar dos cruzeiros novos. A URV foi a parteira do Real.


Quais as razões do seu sucesso?Eu apontaria quatro razões. A primeira é que a sociedade brasileira havia chegado a um ponto máximo de saturação com a inflação, a tal ponto que mesmo os setores e grupos que se beneficiavam dela estavam dispostos a virar aquela página da história.

A segunda é o aprendizado com a experiência fracassada dos planos anteriores (alguns dos "pais do Real" haviam participado do Cruzado 1). A terceira é que a economia brasileira já era mais aberta às importações do que nas vezes anteriores (e a possibilidade de importação disciplina os preços internos).

A quarta, mas não menos importante, foi a liderança do então ministro da fazenda e depois presidente Fernando Henrique Cardoso, que conseguiu reunir uma equipe econômica qualificada, convencer o presidente Itamar, mobilizar força política na sociedade e no Congresso e, finalmente, conquistar dois mandatos presidenciais que permitiram avançar na consolidação da estabilidade econômica.


Fonte:

O Filme perdido de Charles Chaplin




Em 1923, Edna Purviance fazia seu último filme ao lado de Charles Chaplin: The Pilgrim - O pastor de almas (1923) . Chaplin despedia-se de sua atriz principal que fora sua companheira de tela durante 8 anos. Mas ele não queria deixá-la a míngua, e pretendia iniciar uma carreira de sucesso para Edna em dramas. Resolveu produzir e dirigi-la em A Woman of Paris: A Drama of Fate - Casamento ou luxo (1923):



O filme não foi sucesso, e a surpresa causada por um filme de Chaplin sem Chaplin, somada a drama (gênero que ele nunca dirigira antes) fez dele um fracasso. Vendo hoje em dia o filme, chegamos à conclusão de que se talvez Chaplin não tivesse colocado seu nome como diretor, este poderia ser considerado um dos maiores clássicos do cinema mudo.



Em 1926 ele estava filmando The Circus, e entregou a direção de um novo filme em que Edna atuaria, “A Woman of the Sea” (1926) para Josef von Sternberg.



Seria o primeiro filme em que ele apenas produziria, deixando o resto à cargo de outras pessoas. Quem conhece Chaplin sabe que ele não era muito bom em delegar funções, e gostava de participar de todas as fases da produção.

Mas ele nunca aprovaria o resultado final do filme. Resolveu jogar tudo fora. Talvez temesse outro fracasso como o anterior estrelado por Edna Purviance, ou talvez fosse o velho problema de só aprovar algo que em que ele tivesse total participação.

Sabe-se lá.

O que sabemos é que ele mandou queimar tudo em junho de 1933. Ainda surgiram boatos dizendo que ainda havia uma cópia do filme, mas nada foi confirmado.

Para piorar a situação, sua esposa Oona O’Neil, seguindo suas recomendações, queimou os últimos registros em 1991.

Só recentemente, em 2005 foram descobertas algumas fotos do filme:







Linda Wada, escritora americana fã de Edna Purviance (e amiga aqui do nosso site), publicou um livro recentemente, o único até agora sobre a atriz. Nele ela mostra algumas dessas fotos (umas inclusive coloridas).

Fonte: http://cinemaclassico.com/index.php?option=com_content&view=article&id=2791:qa-woman-of-the-seaq-o-filme-perdido-de-charles-chaplin&catid=54:conte-mais&Itemid=65

Escravidão


José Roberto Pinto de Góes
Professor de História do Brasil/UERJ
Pesquisador do CNPq


Por quase quatro séculos, o sucesso do tipo de sociedade criada no Brasil dependeu da escravização de grande parte da força de trabalho. No século XVI, prevaleceu a escravidão dos indígenas. As primeiras caixas de açúcar que chegaram à Europa, do Brasil, eram fruto do trabalho forçado de índios. Vários fatores se combinaram para que aos índios sucedessem os africanos, na virada para o século XVII. Os jesuítas, embora às vezes perdessem a paciência com eles (Nóbrega chegou a escrever que os índios eram “cães em se comerem e matarem, e são porcos nos vícios e na maneira de se tratarem”), não vieram para a América portuguesa para escravizá-los, mas para convertê-los à santa fé católica, além de vesti-los, naturalmente. A disputa entre jesuítas, ávidos por almas, e colonos, muito precisados de mão de obra, marcou o século XVI e também o seguinte. A Coroa procurou conciliar os interesses e, sob pressão dos jesuítas, em 1570, criou restrições legais à escravidão dos indígenas. Mas a exceção aberta à “guerra justa” não melhorou muito a situação deles.

O que parece ter sido decisivo na substituição da mão de obra indígena pela africana foi a combinação de três fatores: um crescente decréscimo da população indígena (nos anos 1540, mais pela guerra; nos anos 1560, mais por pestes e epidemias), a multiplicação dos engenhos necessitados de cativos e as boas relações dos portugueses com dirigentes e comerciantes africanos envolvidos com o mercado de escravos. A mudança foi rápida no recôncavo baiano, a ser exemplar os resultados colhidos por pelo historiador Stuart Schwartz na documentação do Engenho Sergipe do Conde. Os índios eram 93% dos escravos em 1574, 63% em 1591, e nenhum em 1639. Isso não quer dizer que os índios ficaram livres de serem escravizados para sempre. Quando a Holanda atacou as possessões portuguesas da África, em meados do século XVII, e fez escassear o suprimento de africanos, eles voltaram a ser escravizados. Aliás, como mostrou o historiador John Monteiro, em São Paulo esse processo de substituição da mão de obra prosseguiu século XVII adentro. A população indígena só alcançou alguma segurança jurídica em meados do século XVIII, por iniciativa do governo do Marquês de Pombal. De qualquer forma, de modo geral, desde o século XVII a escravidão foi predominantemente de africanos e descendentes.


A escravidão africana

Escravos africanos, ainda em pequeno número, já viviam no Brasil em meados do século XVI. Em 1539, Duarte Coelho, donatário de Pernambuco, solicitou isenção do imposto que devia pagar pela importação de “peças” africanas. A combinação açúcar, mão de obra escrava africana e grandes lucros já era conhecida desde o século anterior, quando foi testada nas ilhas atlânticas, sobretudo na Madeira. O tráfico transatlântico de pessoas logo se tornaria um dos mais lucrativos ramos do comércio colonial. Estima-se que cerca de 10 milhões de africanos chegaram vivos na América durante o tempo em que o tráfico transatlântico fez circular os navios negreiros, também conhecidos como tumbeiros pelo grande número de mortes que a viagem causava. Este tráfico acabou em 1865. Cuba foi a última área escravista a receber africanos escravizados. Destes 10 milhões de indivíduos, cerca de 3.600.000 foram trazidos para o Brasil. Pelas estimativas mais recentes, 50 mil até 1600, 560 mil no século XVII, 1.891.000 no século XVIII e 1.145.000 no século XIX.

Africano é a palavra que usualmente se aplica a uma grande variedade de povos e tradições culturais diversas. O historiador Robert Slenes observou, de maneira bastante perspicaz, que o africano foi uma criação americana, pois era em cidades como o Rio de Janeiro que tradições distintas podiam se mesclar e se fundir numa nova identidade, que não era mais propriamente mina, rebolo, angola etc. Mesmo essas designações ainda são muito imprecisas, pois geralmente nomeavam portos ou lugares de embarque no continente africano. Os historiadores costumam discernir três grandes macro-regiões provedoras de escravos. A situada na África Ocidental subsaariana, em torno do Golfo Guiné, a região congo-angolana e o litoral moçambicano. Algumas sociedades localizadas na primeira área já estavam islamizadas, ou em processo de islamização, quando os portugueses apareceram na costa. Nas demais áreas, habitavam povos falantes de línguas bantos, com certas tradições comuns (o tipo de prática religiosa, por exemplo) e as desavenças costumeiras.

A demanda da América por escravos aliou-se à oferta de escravos por parte de dirigentes e comerciantes africanos, ligados ao próspero mercado de escravos. O tráfico, como observou o historiador Manolo Florentino, tornou-se um elemento estrutural tanto no Brasil como na África. No Brasil permitiu a continuidade e a expansão de uma sociedade baseada na exploração do trabalho escravo. Na África, passou a desempenhar um crescente papel no destino de Estados e grupos sociais diversos. A captura de 10 milhões de pessoas, embarcadas em tumbeiros e levadas como escravos para o outro lado do Atlântico, ao longo de quase 4 séculos, não seria possível sem que sólidos interesses ligados ao tráfico transatlântico existissem em ambas as margens do Oceano.










Duas imagens publicadas por Ludwig & Briggs, retratando carregadores de café e os castigos físicos sofridos pelos escravos. c.1840.


A sociedade escravista brasileira dependia largamente do tráfico transatlântico, pois, ao contrário do que ocorreria nos Estados Unidos, cujo tráfico com a África foi proibido em 1807, a população escrava tendia ao decréscimo. Maiores índices de mortalidade e uma maior recorrência na concessão de cartas de alforrias, no Brasil, são geralmente apontados para explicar a diferença. A contínua compra de africanos produzia efeitos no perfil demográfico da população escrava, pois era sexual e etariamente seletiva: privilegiava os homens jovens, prontos para pegar no pesado. Em épocas de grande demanda por escravos, os navios chegavam a trazer, 6, 7 homens para cada 4 ou 3 mulheres. Eis mais um elemento para explicar a dificuldade da população escrava do Brasil em não deixar de encolher.

Uma fonte histórica importante no estudo da escravidão no Brasil são os “relatos de viajantes”, geralmente de europeus que permaneciam algum tempo no Brasil e, depois, escreviam sobre o que haviam visto (ou entendido) nesses trópicos. Existem em maior número para o século XIX. Todos se espantaram com a onipresença da escravidão, dos escravos e de uma população livre, mulata e de cor preta. O reverendo Roberto Walsh, por exemplo, que desembarcou no Rio de Janeiro em finais da década de 1820, deixou o seguinte testemunho: "Estive apenas algumas horas em terra e pela primeira vez pude observar um negro africano sob os quatro aspectos da sociedade. Pareceu-me que em cada um deles seu caráter dependia da situação em que se encontrava e da consideração que tinham com ele. Como um escravo desprezado era muito inferior aos animais de carga... soldado, o negro era cuidadoso com a sua higiene pessoal, acessível à disciplina, hábil em seus treinamentos, com o porte e a constituição de um homem branco na mesma situação. Como cidadão, chamava a atenção pela aparência respeitável... E como padre... parecia até mais sincero em suas idéias, e mais corretos em suas maneiras, do que seus companheiros brancos.

Em apenas algumas horas caminhando pelo Rio de Janeiro, Walsh pôde ver, pela primeira vez (quantos lugares o reverendo terá visitado?), indivíduos de cor preta desempenhando diversos papéis: escravo, soldado, cidadão e padre. Isso acontecia porque a alforria era muito mais recorrente aqui do que em outras áreas escravistas da América, coisa que singularizou em muito a nossa história. É muito possível que os cidadão pretos alcançados pelo olhar do reverendo fossem também proprietários de escravos. Como o personagem Prudêncio, de Machado de Assis, no romance Memórias Póstumas de Brás Cubas. Fato é que, como observou muito argutamente a historiadora Hebe Mattos, a escravidão brasileira não encontrava legitimidade em bases raciais. Como já dissera Joaquim Nabuco, a escravidão no Brasil se caracterizava por se manter acessível a qualquer um: homem, mulher, nacional, estrangeiro, preto, branco e quem mais tivesse algum capital para participar do mercado de escravos. Até 1850, quando finalmente o tráfico externo foi proibido, de fato, os escravos, muito frequentemente, eram mercadorias bem baratas. Ao menos não tão caras que por ela não pudessem pagar alguns africanos forros mais industriosos e muitos mulatos já melhor situados na sociedade.


A insubordinação e o medo

Robert Walsh escreveu que os escravos eram inferiores aos animais de carga. Se quis dizer com isso que eram tratados e tidos como tal, acertou apenas pela metade. Tratados como animais de carga eram mesmo, aos olhos do reverendo e aos nossos, de hoje em dia. Mas é muito improvável que tenha sido esta a percepção dos proprietários de escravos. Não era. Eles sabiam que lidavam com seres humanos e não com animais. Com animais tudo é fácil. A um cavalo, se o adestra. A outro homem, faz-se necessário convencê-lo, todo santo dia, a se comportar como escravo. O chicote, o tronco, os ferros, o pelourinho, a concessão de pequenos privilégios e a esperança de um dia obter uma carta de alforria ajudaram o domínio senhorial no Brasil. Mas, me valendo mais uma vez de Joaquim Nabuco, o que contava mesmo, como ele disse, era a habilidade do senhor em infundir o medo, o terror, no espírito do escravo.

O medo também era um sentimento experimentado pelos senhores, pois a qualquer hora tudo poderia ir pelos ares, seja pela sabotagem no trabalho (imagine um canavial pegando fogo ou a maquinaria do engenho quebrada) seja pelo puro e simples assassinato do algoz. Assim, uma espécie de acordo foi o que ordenou as relações entre senhores e escravos. Desse modo, os escravos puderam estabelecer limites relativos à proteção de suas famílias, de suas roças e de suas tradições culturais. Quando essas coisas eram ignoradas pelo proprietário, era problema na certa, que resultava quase sempre na fuga dos cativos. A contar contra a sorte dos escravos, porém, estava o tráfico transatlântico intermitente, jogando mais e mais estrangeiros, novatos, na população escrava. O tráfico tornava muito difícil que os limites estabelecidos pelos escravos à volúpia senhorial criassem raízes e virasse um costume incontestável.

No período da independência, a escravidão já virara um problema e motivo de debates em certos círculos. José Bonifácio, por exemplo, queria acabar com a escravidão, começando por proibir o tráfico de africanos. Não lhe deram ouvidos - naquele tempo a escravidão gozava de grande autoridade moral, pois não eram poucos os brasileiros que viviam do trabalho escravo. Embora, é bom salientar, a maior parte da população, de tão pobre, nem um escravo podia comprar - e isso acontecia com pretos, mulatos e brancos.

As pressões externas, contudo, sobretudo do governo inglês, foram crescentes na primeira metade do século XIX. Já em 1815, no Congresso de Viena, ficara estabelecido que o comércio de africanos de portos ao norte do Equador estava proibido para o Brasil. Dois anos depois, D. João VI foi obrigado a concordar com um tratado que dava direito à marinha inglesa de interceptar e vistoriar qualquer navio brasileiro suspeito de transportar africanos ilegalmente. O reconhecimento da independência do Brasil custou a D. Pedro I o compromisso de proibir o tráfico externo em 1830. Mas foi apenas no período regencial que, a 7 de novembro de 1831, foi decretada a proibição legal do tráfico transatlântico. A lei, dita “para inglês ver” foi solenemente ignorada por traficantes, fazendeiros e autoridades. Em 1845, o parlamento inglês aprovou obill Aberdeen, que determinava à marinha inglesa apreender qualquer navio negreiro que avistasse, inclusive em águas territoriais de outros países. O Império do Brasil devia decidir agora se valia a pena entrar em guerra com a Inglaterra, em defesa do tráfico. A 4 de setembro de 1850 a Lei Euzébio de Queirós pôs fim, definitivamente, ao tráfico de africanos para o Brasil.








Hunt, G. Sick Slaves. 1822.



O fim do tráfico

O fim do tráfico externo elevou às alturas o preço dos cativos e os fazendeiros mais ricos (grande parte deles donos de grandes cafezais) passaram a comprar e concentrar a mão de obra escrava. Cada vez menos brasileiros se viam ligados à escravidão, que se afigurava cada dia mais como uma aberração. A década de 1870 marcou um novo momento na luta abolicionista. A Lei do Ventre Livre, de 1871, é um exemplo. Desde então, pessoas como Joaquim Nabuco, André Rebouças, José do Patrocínio, Rui Barbosa e muitos e muitos outros se tornaram obcecados com a idéia da abolição Os escravos também. A princesaIsabel também. Foi neste contexto de repúdio generalizado à escravidão que, em 13 de maio de 1888 a princesa assinou a Lei Áurea, que aboliu a escravidão, sem a indenização reclamada por muitos políticos e proprietários. O Rio de Janeiro ficou em festa por dias. Foi preciso que as autoridades tivessem que lembrar ao povo que a vida prosseguia e todos deviam voltar ao trabalho.

A escravidão adquiriu características muito singulares no Brasil. Os números que nos comparam aos Estados Unidos são muito esclarecedores. Para lá, foram enviados 400 mil africanos ao todo, até 1807. Para o Brasil, até 1850, quase 4 milhões. Quando a escravidão levou à guerra civil os estados americanos, existiam lá 4 milhões de escravos. Pelo censo brasileiro de 1872, os escravos eram cerca de 1 milhão e 200 mil pessoas. Em 1888, cerca de 750 mil. Esses números se refletiram, claro, na presença de uma expressiva população livre “de cor” (como é freqüente aparecer na documentação da época), no Brasil. Nos Estados Unidos ela não passava de 5%, enquanto no Brasil era a metade.

Tais considerações ajudam a contextualizar o tal acordo que regulava as relações entre senhores e escravos. Estudos demográficos recentes mostram a presença expressiva de uma população “de cor”, livre, vivendo do mesmo jeito que pessoas “sem cor”, digamos assim, inclusive com uma participação importante no mercado de escravos. Tal como viu Robert Walsh. O conflito, portanto, não se dava por um viéis racial. Além disso, sendo a relação senhor - escravo uma relação pessoal e humana, nela cabia muito mais do que apenas medo e ódio. Mas quem sabe falar bem sobre isso é, pela última vez, Joaquim Nabuco: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil... Quanto a mim, absorvi-a no leite preto que me amamentou; ela envolveu-me como uma carícia muda toda a minha infância; aspirei-a da dedicação de velhos servidores que me reputavam o herdeiro presuntivo do pequeno domínio de que faziam parte... Entre mim e eles deve ter-se dado uma troca contínua de simpatia, de que resultou a terna e reconhecida admiração que vim mais tarde a sentir pelo seu papel”. E uma carta de alforria concedida a uma ama de leite (ou mãe?) do século XIX, que se justificava assim: “por ter me criado em seus peitos e cuidado de minha infância”.

Quem melhor descreveu a sociedade escravocrata brasileira, na minha opinião, foi mesmo Gilberto Freyre, que, como notou o historiador Ricardo Benzaquen, descreveu uma sociedade onde o despotismo e a confraternização viviam lado a lado, em perpétua tensão e equilíbrio. Talvez nenhuma sociedade escape a esse modelo, de um jeito ou de outro. Mas fato é que a sociedade escravocrata brasileira, guardadas as suas devidas singularidades, foi uma sociedade, um jeito de viver em grupo, como outra qualquer. Simples assim.

Conheça aqui as imagens de escravos registradas por Christiano Junior.

Conheça aqui a história do antropólogo Artur Ramos.




Fonte:

A Independência do Brasil





Hilton Meliande de Oliveira
Mestre em História Política – UERJ




A emancipação política do Brasil, ocorrida em 1822, deve ser analisada sob a perspectiva de um processo que começou a ser desenhado anos antes. Em consonância com boa parte da historiografia que aborda o tema, o ano de 1808 desponta como um marco para o caminhar da Independência política brasileira. Sendo assim, deve-se retornar às ações criadas pela expansão Napoleônica na Europa, que surtiram na criação do Bloqueio Continental, em 1806, que certamente foi um passo decisivo para o processo de Independência política brasileira. Esse ato surgiu como uma forma de enfraquecer a grande rival francesa da época, a Inglaterra, principalmente em sua economia, estabelecendo que os demais países europeus não poderiam comercializar e adquirir seus produtos.

Essa medida interferiu diretamente na Coroa portuguesa, aliada de longa data do governo inglês, que mantinha estreita proximidade diplomática e econômica, já que tinha na aquisição de produtos ingleses sua forma de se suprir de produtos industriais. Essa aproximação não agradava o Imperador francês, que desejava a partir da instauração do referido bloqueio o afastamento das relações político-econômicas entre Portugal e Inglaterra.

Após refletir, e vendo cada vez mais iminente uma invasão por parte de Napoleão, o príncipe regente português d. João VI, tomou a atitude que mudaria de vez a relação entre a metrópole portuguesa e sua principal colônia, o Brasil: decidiu migrar com a corte portuguesa para os trópicos, e do outro lado do Atlântico estabelecer as decisões políticas, antes instituídas no Velho Mundo.

Com esta atitude, d. João retomou uma antiga proposta idealizada desde o século XVI, estabelecer a sede do governo português no Novo Mundo, no Brasil, já que bem antes do século XIX, o Brasil representava a principal colônia portuguesa, graças às suas riquezas, que englobavam desde a extração de recursos naturais, a produção de gêneros agrícolas e o tráfico negreiro, repercutindo em recursos e consequentemente possíveis lucros para a Coroa portuguesa.


A Chegada da Corte e as transformações no Brasil

Com o apoio inglês, a Corte chega ao Brasil em janeiro de 1808, primeiro na Bahia, seguindo posteriormente para o Rio de Janeiro, que se tornaria a sede da Corte portuguesa. Com a Corte no Brasil modificações políticas, econômicas, sociais e culturais começaram a acontecer.

No plano econômico, a Abertura dos Portos às Nações Amigas (1808) e o Tratado de Aliança e Comércio (1810) trouxeram a liberdade econômica legitimada para a então colônia brasileira, além do favorecimento econômico e conseqüente lucro inglês, pois seus produtos, após o tratado de 1810, possuíam uma cobrança alfandegária menor (15%) do que os produtos portugueses (16%) e de demais nações (24%). Dentro desse plano de modificações observa-se a criação do Banco do Brasil, o fortalecimento de uma elite comercial e a revogação das antigas restrições sobre as indústrias no Brasil.

No plano cultural, a vinda da Biblioteca Real, a criação do Horto Real (atual Jardim Botânico), a Imprensa Régia, a Academia de Belas Artes e as Missões Artísticas e Culturais financiadas por d. João tinham o intuito de construir um ideário de civilidade que deveria se aproximar ao modelo de vida europeu, além de desvendar a fauna, a flora e as peculiaridades desse novo continente. Desta forma, a transformação deveria ser ampla para que pudesse dar conta dessa nova esfera político-administrativa que a colônia brasileira receberia a partir de 1808 tornar-se sede do Império Luso e de seus representantes.


A idéia de Reino Unido

Com o transcorrer dos anos a estada da Corte portuguesa caminhou para mudanças significativas no processo de emancipação política brasileira, mesmo que essas modificações não apresentassem uma idéia de ruptura entre as duas partes do mundo luso-brasileiro. Em 1815, a idéia de integração entre Portugal e Brasil alcançou uma importante transformação. A colônia brasileira através de um decreto assume a posição de Reino Unido, com Portugal e Algarves ocupando por lei mesma posição que sua metrópole, Portugal.

Essa medida pode ser analisada sobre dois aspectos: o primeiro marca a vontade de d. João em permanecer no Brasil e a importância dada pelo rei à região, pois em 1814, o Imperador francês já havia sido derrotado pela Santa Aliança, e, portanto, se d. João assim desejasse, poderia retornar e governar o império Luso-Brasileiro da Europa. Ao contrário, deixou Portugal ser administrado por um Conselho de Regência comandado pelo marechal inglês, Beresford.

O segundo implica diretamente com a escolha sugerida no primeiro, ou seja, ao permanecer no Brasil, com a possibilidade de volta para Portugal em segurança d. João acabou por suscitar críticas, que desencadearam a Revolução Liberal do Porto de 1820, fundamental para a independência política brasileira.


A questão pernambucana e a Revolução Vintista em questão

Em março de 1817, outro fator trouxe desconforto para a Corte portuguesa, a Revolução Pernambucana. O descontentamento com as medidas de d. João que favoreciam a elite lusa, reservando os melhores postos para os portugueses no exército, na política e comércio, além do aumento de impostos, para manter as crescentes despesas da Corte, fizeram com que a província de Pernambuco, a partir desses fatos, não mais acatasse as decisões propostas pela Corte Joanina.

Os revoltosos falavam em estabelecer uma República que seria marcada pela tolerância religiosa, mas não criticavam o fim da escravidão. Esse movimento foi contido pelas tropas portuguesas com prisões e execuções.

Os portugueses, que desejavam a convocação das Cortes, começaram a pressionar a volta da Corte portuguesa ainda no ano de 1817. Essas medidas ganharam vulto e força a partir de 1820, com a Revolução Liberal do Porto.

Essa Revolução também conhecida como Revolução Vintista questionava o papel do monarca e suas atitudes, pretendendo delimitar leis e normas que direcionariam as relações entre o Brasil e Portugal, metrópole transformada em colônia com a vinda da Família Real.

Apresentada com o intuito principal de regenerar politicamente Portugal e, principalmente, o papel do português dentro do mundo luso-brasileiro, a Revolução Vintista desejava substituir as práticas do Antigo Regime pelas de um Liberalismo, ainda que suavizado pelas luzes portuguesas.

Em primeiro lugar, pretendia livrar Portugal da situação de opressão em que se encontrava, pelo marasmo econômico, pela ausência do soberano, e sujeito ao autoritarismo do marechal Beresford e dos oficias ingleses. Militares e comerciantes portugueses, parcela que despontou na organização de tal movimento, culpava o domínio britânico e a estrutura política vigente, como elementos centrais para a crise vivida em seu país.

Os burgueses, revolucionários do Porto, pretendiam levar adiante uma estratégia política que mantivesse em alta os interesses da antiga metrópole. Buscavam criar determinadas barreiras para a liberdade de comércio, estabelecida no Brasil, a partir da abertura dos portos. Fazia-se necessário discutir e organizar relações econômicas entre os dois reinos, que, se não pretendia trazer de volta o exclusivismo colonial, buscava diminuir o grau de autonomia alcançado pela política brasileira, atitude essa considerada como um retrocesso pelos deputados brasileiros. Nessa perspectiva, cabia às Cortes Extraordinárias de Lisboa o papel de realocar Portugal no lugar de destaque do mundo luso-brasileiro.

Além disso, visava minar o Antigo Regime transformando as antigas Cortes consultivas do absolutismo em Cortes deliberativas, encarregadas de preparar uma Constituição que subordinasse o trono ao poder legislativo e de reformar as relações econômicas no interior do Império, levantando Portugal do estado de estagnação que se encontrava desde 1808.

O movimento vintista não deveria adotar uma postura radical, a fim de demonstrar que os acontecimentos ocorridos em Portugal não possuíam suas raízes no ideário da Revolução Francesa, evitando, desse modo as possíveis intervenções da Santa Aliança, constituída pelo Congresso de Viena. Tratava-se de uma regeneração. Além disso, visava buscar apoio das demais regiões do Império, sobretudo o Brasil, com a promessa de por um fim ao absolutismo.

As notícias do processo revolucionário do Porto logo chegaram ao Brasil, através de cartas e ofícios de autoria dos governantes do Reino, aportando no Rio de Janeiro. Outras províncias como o Pará e a Bahia, que mantinham comunicação direta com Lisboa, não só tiveram o conhecimento dessas novidades como aderiram de imediato ao movimento constitucional, jurando fidelidade à futura Constituição, que seria elaborada pelo congresso português.

A proximidade dessas províncias não ocorria somente em virtude dos interesses econômicos de comerciantes portugueses nelas estabelecidos, mas também em função de propostas políticas. As províncias do Norte acreditavam que os ideais de um governo liberal emanavam das Cortes portuguesas e não do governo sediado no Rio de Janeiro, que atuava por meio de uma centralização monárquica, nos moldes de uma administração opressora do Antigo Regime.

Com medo de que tal movimento ganhasse a sede do Reino Unido, trazendo acontecimentos nefastos ao império luso-brasileiro, os principais conselheiros de d. João VI resolveram tomar algumas medidas. Hesitava-se entre o retorno de d. João a Lisboa, para tentar evitar os excessos da revolta, mas com o risco de legitimar a revolução e permanecer no Brasil, a fim de conter o contágio das idéias liberais mais radicais, arriscando mesmo a abrir mão do trono dos Braganças na parte européia do império.

Em meio a essa hesitação, as notícias propagavam-se amplamente no Rio de Janeiro e em outras províncias, estimuladas pela circulação cada vez maior de jornais, de folhetos e panfletos políticos que chegavam de Lisboa ou se reimprimiam no Brasil. Iniciando um novo debate político que trouxe, pelo menos, ao longo de 1821, a pregação liberal e o ideário do constitucionalismo nesse lado do Atlântico.


As questões políticas nos anos de 1821 e 1822

No bojo dessa efervescência, o movimento eclodiu no Rio de Janeiro em 26 de fevereiro, quase exclusivamente promovido pelas tropas da Divisão Auxiliadora, exigindo do soberano o juramento imediato das bases da futura Constituição portuguesa, a demissão de alguns membros do Governo e a adoção da Constituição espanhola até a elaboração de uma nova pelas Cortes.

Em meio a essa ‘regeneração’ política, surge a figura de d. Pedro como um novo elemento dentro de tais reivindicações. Comparecendo ao Rossio, Pedro agiu com habilidade aceitando parte das exigências, como o juramento da Constituição que viesse de Lisboa, evitando, contudo, a implantação da Constituição espanhola e a formação de uma junta governativa nomeada pelo clero, nobreza e pelo povo, como acontecera no Pará e na Bahia.

Dessa forma, d. Pedro reafirmava sua posição e a soberania do rei. Essa atitude não colocava d. Pedro como um intermediador entre o povo e as idéias liberais, mas sim como uma alternativa de se manter o império luso-brasileiro, e não sua fragmentação, motivo pelo qual o próprio príncipe jurou a futura Constituição portuguesa, com o intuito de conter o ímpeto revolucionário e manter a unidade do mundo luso-brasileiro, que deveria estar próximo a proposta do Antigo Regime.

Em 21 de abril um incidente na Praça do Comércio foi palco de nova aparição de d. Pedro, legitimando-o como futuro representante das elites que aqui estavam. Uma reunião proposta pelo novo Ministro de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, Silvestre Pinheiro Ferreira, que propunha uma reunião com eleitores da comarca, a fim de aprovar as instruções que seriam deixadas a d. Pedro, com a volta da Corte e de d. João em 24 de abril, trouxe uma multidão de todas as classes transformando a reunião em Assembléia, que exigia de imediato a Constituição espanhola e a nomeação de uma junta, indicada pela assembléia para acompanhar o príncipe regente.

A pressão popular não agradou d. Pedro que usou da força, com o auxílio das tropas e das armas, para dispersar tal movimento. Como contraponto a manifestação, d. João lançou, no dia seguinte, um decreto que colocava abaixo a adoção da Constituição espanhola, iniciando um processo de devassa, além de estabelecer os poderes da regência que ficaria no Brasil, fazendo com que o futuro regente ficasse acima de qualquer possível reivindicação de caráter popular, limitando a participação política e os seus usos.

A regência de d. Pedro, inicialmente foi marcada por problemas financeiros devido ao retorno da Família Real e o não cumprimento das “colaborações” de diversas províncias, que questionavam o regente, como as juntas do norte que demonstravam clara adesão às Cortes, recusando a representação política e econômica do Rio de Janeiro.

No entanto, as províncias do sul, embora continuassem fiéis ao príncipe regente, também recusavam a apoiá-lo financeiramente, fazendo com que d. Pedro dependesse ainda mais do Congresso de Lisboa, o que não o agradava, pois criticava as posições desse Congresso, quanto ao poder executivo.

Outro fator marcante foi a Nova Bernarda, em 5 de julho de 1821, no qual militares portugueses, através de um golpe obrigaram d. Pedro a jurar as bases da Constituição então vinda de Portugal. Essa atitude não foi bem vista por d. Pedro, que criticava a imposição dos oficiais portugueses, que em sua visão desejavam sobrepor seu poder e sua importância.

Em 9 de dezembro chegam ao Brasil decretos de Lisboa, que obrigavam, entre outras coisas, a volta do príncipe regente à Portugal, a criação de uma junta de governo que deveria ser eleita por cada província para governar o Brasil, e que deveriam ser dependentes diretos do governo central de Lisboa. Com isso minimizando a influência administrativa brasileira, restabelecendo a supremacia portuguesa sobre o restante do império e submetendo o rei ao controle da Assembléia e de seu poder legislativo.

Tais medidas não agradaram as elites que estavam aqui no Brasil, pois não desejavam perder os privilégios conquistados com a construção de Reino Unido. Mesmo assim, essa elite ainda não pregava uma separação política entre as duas partes do Reino, e via na permanência do príncipe regente a manutenção da estrutura política e econômica, e desta forma a manutenção de seus privilégios.

Para d. Pedro aceitar os decretos de setembro de 1821 significava acatar as exigências das Cortes, o que não condizia com sua visão sobre a idéia de soberania. Restava a alternativa de permanecer e construir no Brasil uma monarquia mais próxima de suas concepções, pautada em tradições absolutistas, ainda que ilustrada.

Acatando ao manifesto com mais de oito mil assinaturas, que pedia para que o príncipe regente não retornasse para Portugal, o 9 de janeiro de 1822 ficou conhecido pelo Dia do Fico, expressando a intenção de d. Pedro em permanecer no Brasil e estabelecendo um pacto político entre o príncipe e os interesses das elites, que ainda nesse momento não desejavam a total ruptura com o império luso-brasileiro.

Dois dias após a decisão do Fico, tropas portuguesas rebelaram-se contra a alternativa do príncipe e procuraram obrigá-lo a embarcar para Lisboa, mas foram contidas pela movimentação do povo e de soldados brasileiros.

Ao longo do primeiro semestre de 1822, as medidas das Cortes promoveram a união das elites, acirrando cada vez mais o clima de desconfiança contra os portugueses, transformando o ideal do constitucionalismo em separatismo do Brasil.

Uma série de medidas marcou esse processo: a reformulação do Ministério, anunciado em 16 de janeiro composto por quatro ministros, sendo três portugueses, no entanto ligados ao Brasil por interesses particulares, sendo o outro, o paulista José Bonifácio, monarquista convicto, favorável à idéia de soberania partilhada entre o soberano e a Assembléia. A convocação de um Conselho de Procuradores, em 16 de fevereiro, com o objetivo de articular as províncias ao governo do Rio de Janeiro e a convocação de uma Assembléia Geral das províncias brasileiras, a partir da representação de 23 de maio.

Deve-se ainda enfocar o decreto de primeiro de agosto, em que se declaravam inimigas as tropas portuguesas que desembarcassem sem o consentimento do príncipe regente, além dos manifestos de agosto – O Manifesto aos Povos do Brasil, redigido por Gonçalves Ledo e O Manifesto às Nações Amigas, escrito porJosé Bonifácio. Esses documentos assumiam a separação como um fato consumado, culpando o despotismo das Cortes portuguesas pelo rumo dos acontecimentos, mas não descartavam de todo a integridade do império luso-brasileiro, afirmando que a independência significava um sentido exclusivo de autonomia política, sem, contudo, implicar num rompimento total, que somente foi estabelecido ao longo do Primeiro Reinado.

Assim, a separação entre Portugal e o Brasil despontara como a vitória da elite que estava do lado de cá do Atlântico, e que não desejava ter a liberdade de seus interesses cerceada pelas Cortes portuguesas, principalmente em suas relações comerciais. Essa mesma elite escolheu d. Pedro para se tornar o Imperador e representante dos seus interesses, legitimado pelo povo através de uma Monarquia Constitucional. A oficialização da independência foi estabelecida, mesmo contra gosto de algumas províncias brasileiras, com a aclamação do príncipe regente em Imperador do Brasil.

O sete de setembro, o brado retumbante e às margens do Ipiranga despontaram com a necessidade em criar imagens e atitudes que fizessem dessa escolha um marco de Nação, de País e representatividade que é, e ainda será construído ao longo dos tempos e que poderá ser chamada de Nossa História.


Fonte:

A evolução histórica do inglês e espanhol

Assim como os povos, as línguas alteram sua constituição com o passar do tempo. Misturam-se umas as outras, se adaptam a novas situações (novas invenções e novos costumes geram novos termos), etc. Neste texto discorremos brevemente sobre a história da língua inglesa e espanhola.

Embora, o primeiro povo a habitar as ilhas britânicas tenham sido os celtas, quase nenhum vestígio dessa língua pode ser percebido no inglês moderno que nasce da junção dos idiomas das tribos bárbaras anglas e saxãs. Esse primeiro inglês é chamado de Old English. Quando comparado ao inglês atual, o Old English (ou Anglo-Saxão) é uma língua completamente distinta tanto na gramática quanto na escrita. Seiscentos anos depois, os Normandos (do norte da França) invadem a Inglaterra e a dominaram por mais 300 anos, durante os quais introduzem sua língua e sua cultura. Nasce então, o Middle-English, um cruzamento da língua anglo-saxônica com o francês. Porém, com o surgimento da imprensa (em 1564), as possibilidades para o registro escrito das línguas aumentam imensamente. Assim, o inglês (e todas as outras línguas) inicia um processo de fixação e unificação. Ou seja, a divulgação em larga escala de registros escritos (até então, extremamente limitada) possibilita a difusão de uma língua culta padrão para todas as regiões do país. Surge assim o Modern English, a língua que conhecemos hoje (embora, obviamente existam diferenças de vocabulário e estilo entre os anos de 1500 e hoje, porém, tais mudanças não são grandes o bastante para caracterizar uma nova língua).



Já o espanhol possui uma história um pouco diferente. Como a maioria das línguas neolatinas, grande parte das palavras em espanhol tem sua origem no latim vulgar que era falado pelos soldados romanos que conquistaram a região. Devido ao fato da Espanha se localizar no continente, a presença romana foi bem mais forte na região. Porém, a língua também sofreu influência com a invasão dos Visigodos e com o domínio Árabe, principalmente, no sul do país durante a Idade Média. As palavras oriundas da influência árabe geralmente podem ser reconhecidas pelo prefixo “al”. Assim como no caso do inglês, a invenção da escrita foi essencial para a fixação da língua espanhola, que também teve na fundação da Real Academia espanhola outro processo que auxiliou na fixação da língua.

Muitos temem que a Internet com a sua multitude de registros escritos e audiovisuais acabe por causar alterações muito drásticas nos idiomas. É muito mais provável, contudo, que a Internet gere formas de expressão paralelas que dificilmente chegarão a alterar a estrutura da língua oficial (visto que isso exige tempo e os registros da internet não tendem a ser influentes por muito tempo, sendo rapidamente substituídos devido a sua fluidez). Por isso, não se preocupe caso vá fazer aulas de inglês em Belo Horizonte ou um Curso de Espanhol em Manaus. Apesar das modificações que sofreram e que sofrerão ou do local onde são ensinadas, elas ainda são a língua de Shakespeare e a de Cervantes. E assim continuarão por um bom tempo.

Fonte:

Tchecoslováquia



Por Emerson Santiago

A Checoslováquia ou Tchecoslováquia (Československo ou Česko‑Slovensko em tcheco e eslovaco), oficialmenteRepública da Tchecoslováquia até 1960; de 1960 a 1990, República Socialista da Tchecoslováquia, e de 1990 a 1992, República Federal Checa e Eslovaca foi um antigo estado europeu existente de 1918 a 1992. Com uma área de 127.902 km², sua capital era Praga, os idiomas oficias eram o tcheco e o eslovaco e a moeda oficial era a coroa (koruna). Seu território era limitado pela Alemanha Ocidental (RFA) a oeste, Alemanha Oriental (RDA) a noroeste, Polônia ao norte,União Soviética a leste, Hungria e Áustria ao sul.



Localizada no centro da Europa, a Checoslováquia foi criada em 1918, ao fim da Primeira Guerra Mundial a partir de território pertencente ao então recém-dissolvido Império Austro-Húngaro, que exercera controle sobre a região por séculos. A união dos territórios checo e eslovaco foi oficialmente proclamada em Praga, a 14 de novembro de 1918. A região da Rutênia foi acrescentada pelo Tratado de Trianon em junho de 1920 (foi incorporada, porém, à então União Soviética após a Segunda Guerra, e com a dissolução da URSS, passou a pertencer à atual Ucrânia).

De 1918 a 1946, a Tchecoslováquia foi um estado democrático semelhante à maioria dos estados de economia capitalista do ocidente. A partir de 1946, com o término da Segunda Guerra Mundial e a ocupação soviética, o país torna-se uma república socialista, de regime semelhante aos vários outros surgidos no leste europeu na mesma época, seguindo com tal configuração até o colapso do socialismo em todo o leste europeu. A partir daí, o país abandonou a orientação comunista e finalmente a 1 de janeiro de 1993 deu origem a dois novos estados, a República Checa (capital Praga) e a República Eslovaca (capital Bratislava), existentes até os dias de hoje.

O país possuía grande diversidade étnica, pois além dos dois povos principais, os tchecos e os eslovacos, importantes minorias compunham a população: alemães, húngaros, rutenos (ucranianos), judeus e poloneses. Sua existência era baseada na doutrina do nacionalismo checoeslovaco ou checoslovaquismo, que sustentavam a crença de que checos e eslovacos eram um só povo, que através dos séculos foram divididos pela dominação húngara e austríaca, e que já formariam um povo único durante a existência do estado eslavo da Grande Morávia (833 – 902). No entanto, tal idéia era contestada, principalmente da parte eslovaca, e houve mesmo durante a Segunda Guerra Mundial a criação de um estado eslovaco em separado, mesmo que ainda um estado fantoche submisso à Alemanha Nazista.

Bibliografia:
The First Czechoslovak Republic (em inglês). Disponível em: <http://web.archive.org/web/20070304093927/http://www.czech.cz/en/basic-facts/history/all-about-czech-history/the-first-czechoslovak-republic/>. Acesso em: 24 mai. 2012.

Czechoslovakia (em inglês). Disponível em: <http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/2WWczech.htm>. Acesso em: 24 mai. 2012.

Tchecoslováquia (país antigo). Disponível em: <http://geografia.geral.sites.uol.com.br/h/e/cs.htm>. Acesso em: 24 mai. 2012.




Fonte:

Saiba mais sobre personalidades políticas que marcaram a década. Roosevelt, Hitler, Stalin, Trotsky, Churchill, Mussolini, Salazar e Gandhi marcaram período e influenciaram gerações


Marsílea Gombata, iG São Paulo

Franklin Roosevelt (1882-1945): Eleito presidente dos Estados Unidos para o mandato de 1932 a 1936, Franklin Delano Roosevelt teve um governo marcado pelos efeitos da quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, e a Grande Depressão americana dos anos 30 que o levaram a implantar uma política econômica inovadora, baseada na produção para reativar a economia, conhecida como New Deal. Considerado um presidente que fez os americanos voltarem a confiar em si mesmos e na nação, Roosevelt é inspiração para economistas de orientação liberal, conservadores, e chefes de Estado estrategistas. No contexto da recente crise econômica americana, pontos do New Deal de Roosevelt foram readaptados, o que levou alguns analistas a compararem suas estratégias às do presidente Barack Obama.


Benito Mussolini (1883-1945): Ícone da extrema-direita da história da Itália, Benito Amilcare Andrea Mussolini começou seu ativismo no Partido Socialista. A explosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) estimulou o sentimento nacionalista entre os italianos e fez com que Mussolini fosse visto como líder de um movimento. O contexto socioeconômico degradado em que a Itália se encontrava levou ao crescimento do nacionalismo fascista, que passou a ter Mussolini como principal expoente até ele chegar ao poder, em 1925. Chamado de “Il Duce” (o líder, em italiano), aproximou-se da Alemanha nazista de Adolf Hitler, o que levou ambos a formar a aliança conhecida como Eixo na Segunda Guerra (1939-1945). Além de ter inspirado Hitler na construção do 3º Reich, Mussolini ainda é referência para líderes e movimentos de extrema-direita dentro da Itália.



Foto: AP


Líder nazista Adolf Hitler é saudado por soldados em Nuremberg (02/09/1933)

Adolf Hitler (1889-1945): Inspirado na Itália de Mussolini, o austríaco levantou o ânimo dos alemães que viviam a pior crise econômica da história do país – com uma taxa de desemprego que superava os 40% e índices recordes de inflação. Depois de lutar na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), integrou um pequeno grupo nacionalista, o Partido dos Trabalhadores Alemães, mais tarde rebatizado de Partido Nacional-Socialista Alemão. Chegou ao poder em 1933, período entre guerras, tornando-se führer (líder absoluto, em alemão). Durante seu governo, conhecido como 3º Reich, priorizou bandeiras de uma Alemanha empenhada na autossuficiência econômica, capaz de suprimir o sindicalismo e o comunismo, além de exterminar a minoria judaica – bode expiatório da Alemanha nazista antes e durante a Segunda Guerra (1939-1945). Começou o conflito fazendo parte do Eixo, mas em 1945 teve suas tropas derrotadas pelos russos e acabou se suicidando. Deixou um legado de movimentos neonazistas e partidos políticos que têm doutrinas baseadas nas suas.



Foto: ReproduçãoAmpliar


Winston Churchill

Winston Churchill (1874-1965): Antes de se tornar o famoso primeiro-ministro britânico que protagonizou as negociações durante e depois da Segunda Guerra Mundial, Sir Winston Leonard Spencer-Churchill, jornalista de formação, dedicou-se fundamentalmente à redação de tratados no período entre guerras e se notabilizou na Câmara dos Comuns por uma violenta crítica ao nazismo de Hitler. Em seu famoso discurso de posse como premiê britânico, pregou a “vitória a todo o custo, vitória a despeito de todo o terror". Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1953 pelos seis volumes da obra A Segunda Guerra Mundial. O estilo diplomático de Churchill ainda é referência para autoridades.

Josef Stalin (1879-1953): Eleito secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética em 1922, Iosif Vissarionovich Dzhugashvili – que mais tarde agregou ao nome a palavra Stalin (“de aço”, em russo) – desempenhou, ao lado de Vladimir Lênin, o papel de organizador da Revolução de Outubro de 1917. Foi chefe do Império Soviético no auge da tensão entre guerras. Na Segunda Guerra Mundial, mantinha relações estreitas e, ao mesmo tempo, conflituosas, com Hitler. Participou de conferências com o americano Roosevelt e o britânico Winston Churchill, estabelecendo bases e rumos para o pós-guerra. Nascido na Geórgia, Stalin governou com mãos de ferro o Estado soviético e ordenou a deportação de opositores, assim como o assassinato de mais de 20 mil militares do Exército polonês, em 1940 – episódio conhecido como o Massacre de Katyn. Apesar do legado negativo, ainda é visto como um exemplar estadista e motivo de orgulho entre alguns países do ex-bloco soviético.

Leon Trotsky (1879-1940): Nascido na Ucrânia, Lev Davidovich Bronshtein foi idealizador da Revolução Bolchevique e era o número 2 do poder soviético, ficando atrás apenas de Vladimir Lenin. Após a morte do amigo, em 1924, teve de deixar a União Soviética. Visto pelo então líder soviético Josef Stalin como ameaça, foi assassinado em 1940 pelo militante comunista espanhol Ramón Mercader, em sua residência mexicana de Coyoacán. Recrutado pelos serviços secretos soviéticos, o espanhol golpeou com uma a cabeça de Trotsky, depois de conseguir se infiltrar entre seus amigos. Trostky, 70 anos depois, ainda é inspiração para diversos movimentos e partidos de esquerda pelo mundo, como os brasileiros Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU).

Francisco Franco (1892-1975): Oficial de Infantaria, Francisco Hermenegildo Paulino Teódulo Franco Bahamonde começou a se destacar em campanhas na África pela sua frieza em combate. Com a vitória da esquerdista Frente Popular nas eleições de 1936, opositores de direita liderados por Franco executaram um golpe de Estado com apoio de diversas regiões do país. A divisão do país deu início à Guerra Civil Espanhola (1936-1939), que deixou 500 mil mortos. No confronto, a direita recebeu ajuda da Itália fascista e da Alemanha nazista, responsável pela destruição da cidade basca de Guernica, símbolo da resistência contra o franquismo. A vitória dos Aliados na Segunda Guerra fez Franco se voltar para os Estados Unidos durante a Guerra Fria. O franquismo não ficou restrito ao passado da Espanha e sua dinâmica totalitária ainda é combatida. Em 2007, o Parlamento espanhol aprovou a Lei da Memória Histórica, que condena o regime militar do general Franco e prevê indenizar famílias das vítimas 70 anos depois.

António Salazar (1889-1970): Assim como no Brasil, António de Oliveira Salazar foi responsável pela instituição de um Estado Novo em Portugal. A diretriz política do regime que durou de 1933 a 1974 seguiu a onda nacionalista de extrema-direita que vivenciavam países da Europa como Espanha, Itália e Alemanha. Durante sua gestão, Salazar instituiu a censura e a polícia política. Além disso, criou dois movimentos paramilitares: a Mocidade Portuguesa e a Legião Portuguesa, braços do governo que garantiam a repressão a opositores. Mas 40 anos depois de sua morte, ainda fica a dúvida se Salazar entrou para a história como um ditador ou grande estadista, capaz de dar estabilidade a Portugal em meio à crise econômica dos anos 30.



Foto: Reprodução


Mahatma Gandhi

Mahatma Gandhi (1869-1948): Mohandas Karamchand Gandhi e outros indianos que se opunham à exploração da colônia Índia pelo domínio inglês começaram em 12 de março de 1930 uma caminhada de quase 400 quilômetros, por 25 dias, em direção ao litoral. O movimento que ficou conhecido como Marcha do Sal quis contestar de forma simbólica a obrigação dos indianos em comprar produtos vindos da Inglaterra, incluindo mercadorias que poderiam ser extraídos na Índia, como o sal. Em 6 de abril, Gandhi apanhou um punhado de sal à beira-mar, e teve seu gesto repetido simbolicamente por milhares no litoral. O protesto rendeu a Gandhi e a 50 mil indianos a prisão, mas não acabou com o movimento de desobediência civil - um tipo de resistência pacífica pregada por Gandhi. Na marcha, Gandhi quis deixar claro que lutava pelo fim da exploração da Índia, sendo sua meta central evitar a violência. O protesto comoveu a opinião pública de todo o mundo. A Índia, porém, tornou-se independente apenas 17 anos mais tarde.

Al Capone (1899-1947): O mafioso Alphonse Gabriel Capone é parte da história dos Estados Unidos. Nova-iorquino de origem italiana nascido no Brooklyn, Al Capone foi um dos principais alvos do governo americano e do FBI, que tentavam derrubar o chefe dos mais rentáveis negócios na época da lei seca: a venda ilegal de bebidas alcoólicas, o comércio de armas, a prostituição e o gerenciamento de salões de jogos. A condenação que acabou com o reinado do mafioso veio de provas que comprovavam a sonegação de impostos. Em 1931, ele foi condenado a uma multa de US$ 50 mil e a 11 anos de prisão, cuja maior parte foi cumprida no presídio de Alcatraz. O estilo de “fazer negócios” de Al Capone virou símbolo da influência da máfia italiana nos EUA e foi tema do filme Os Intocáveis (1959). O apelido de seu filho “Sonny” inspirou o escritor Mario Puzo, que escreveu sobre o filho de Vito Corleone em O Poderoso Chefão, que virou filme em 1972 sob direção de Francis Ford Coppola.
Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/revolucao1930/saiba-mais-sobre-personalidades-politicas-que-marcaram-a-decada/n1237774086629.html

O CRESCENTE FÉRTIL - ONDE TUDO COMEÇCOU

O CRESCENTE FÉRTIL - ONDE TUDO COMEÇCOU





O CRESCENTE FÉRTIL constituía-se numa região do Antigo Oriente excelente para agricultura, exatamente num local onde a maior parte das terras vizinhas era muito árida para qualquer cultivo. O Crescente Fértil começa na Costa Leste do Mar Mediterrâneo , tomando a forma de uma meia-lua, avançando na direção do Golfo Pérsico. Algumas das terras mais ricas do Crescente Fértil situvam-se na faixa estreita entre os rios Tigre e Eufrates, que os gregos chamavam e "terra entre rios". As primeiras civilizações fundamentalmente urbanas de que temos conhecimento e registros históricos surgiram nesta região.


CIVILIZAÇÃO


Existem muitas definições de civilização, mas muitos estudiosos concordam que quando uma sociedade começa a formar cidades, esta sociedade se transforma numa civilização. A maior parte das civilizações têm os seguintes elementos em comum, sendo que todos estes estão presentes na Mesopotâmia:
Excesso de alimentos - onde há excesso de alimentos, os povos começam a desenvolver outras necessidades. O surgimento da agricultura irrigada na Mesopotâmia possibilitou o excesso na produção e consumo de alimentos. Veja Das Cavernas à Agricultura Irrigada, na seção de História da Mesopotâmia;
Divisão do Trabalho - quando todos têm uma ocupação, todos tendem a fazer muito bem aquele trabalho específico. Também há chances de que estas pessoas escolham algo que realmente gostam de fazer. A agricultura irrigada exigia trabalho em conjunto na construção de canais de irrigação, plantio e colheita, por exemplo. A irrigação, portanto, funcionou como um grande catalisador de mudanças em todos os níveis (a Revolução Agrícola)..
Governo e religião organizados - quando as pessoas compartilham as mesmas leis, é mais fácil praticar o comércio. Pessoas que têm o mesmo governo e a mesma religião provavelmente também compartilham os mesmos valores e querem crescer juntas. Veja a seção de Religião do site.
Escrita - que permitiu às sociedades criarem seus próprios registros (memória/história) e a se comunicarem entre si. A escrita surge na Mesopotâmia pela primeira vez na história da Humanidade ao final do Período Posterior de Uruk, ou a cerca de 3.200 Antes da Nossa Era. O sistema é chamado de escrita cuneiforme (de cunha, em latim), ou impressões de um lápis ou caneta de junco sobre tábuas de argila.

MAPA GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DA REGIÃO




Em termos geográficos, ao Sul temos a região conhecida como Suméria (Sumer no mapa), bem próxima ao Golfo Persico. Em nosso mapa, estão localizadas as importantes cidades de Uruk e Ur. Os períodos históricos que abordam a importância destas duas cidades está apresentado na seção História da Mesopotamia. Uruk é a cidade do herói do primeiro épico escrito na história da humanidade, o Épico/Epopéia de Gilgamesh. Seu período áureo está apresentado no ensaio Antes da Aurora da História na Mesopotâmia. Ur é a cidade de onde saiu o patriarca judeu Abraão, e seu período de apogeu é conhecido como Terceira Dinastia de Ur. A região central da Mesopotâmia é a região de Ágade e Babilônia, cujo apogeu começa com Sargão,o Acádio, o imperador que pela primeira vez une a Mesopotâmia do Sul, ou Suméria, e a Mesopotâmia Central (Ágade e Babilônia). Um dos grandes expoentes do período de dominação econômica e cultural da Babilônia é o rei Hamurabi, a ele sendo atribuído o código de leis mais famoso da Antigüidade até o surgimento do Direito Romano. O Código de Hamurábi pode ser encontrado na íntegra aqui, traduzido por Lishtar. A região ao Norte, cujo nome é Assíria, também é de grande importância, tendo na dinastia dos descendentes de Sargão II seus maiores expoentes. Visite a seção de História da Mesopotâmia para maiores detalhes, e não deixe de conferir a seção Legado desta grande civilização.




Fonte: BABILÔNIA - BRASIL

Ortodoxos



Por Felipe Araújo

Os ortodoxos são os seguidores da Igreja Ortodoxa, uma Igreja cristã com aproximadamente dois mil anos. Também conhecida como Igreja Católica Apostólica Ortodoxa ou Igreja Cristã Ortodoxa, este grupo enxerga-se como a verdadeira Igreja instituída por Jesus Cristo. Apesar disso, sua doutrina é parecida com a da Igreja Católica, valorizando costumes como o uso de vestes litúrgicas nos seus cultos, o respeito a ícones e preservação dos sete sacramentos.



Foi durante o século XI que ocorreu a separação entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa. Devido a isto, os cristãos ortodoxos não reconhecem o Papa como autoridade e renegam alguns dogmas mais atuais como o da infalibilidade do Papa e o da Imaculada Conceição, além de não considerarem a validade dos sacramentos feitos por confissões cristãs que não sejam ortodoxas.

Esta divisão e conflito de interesses entre as duas Igrejas tem um longo histórico. Sua história é comum apenas até a chegada do século XI. Antes disso, o Primeiro Concílio de Niceia, ocorrido em 325, havia estabelecido a Pentarquia, na qual a Igreja teria sua organização sob os cinco patriarcas: bispos da Constantinopla, Jerusalém, Alexandria, Antioquia e Roma, sendo o bispo romano o primeiro (primus) entres os patriarcas.

Porém, em 1054 houve a Grande Cisma entre as Igrejas Cristãs, que separou a Igreja entre a Igreja Católica no Ocidente e a Igreja Ortodoxa no Leste (Grécia, Rússia e terras eslavas, Anatólia, Síria, Egipto, entre outros). Historiadores latinos alcunharam essa divisão como Cisma do Oriente, já os orientais e anglo-saxões chamam-na de Grande Cisma.

Esta divisão entre grupos que divergiam ocorreu devido a diversos acontecimentos históricos. Entres estes fatores, está a transferência da residência papal para a Constantinopla no ano de 330 d.C. Assim, o Bispo romano acaba por perder influência para o Bispo de Constantinopla nas igrejas do oriente. A divisão foi agravada com o início de um distanciamento entre Roma e os outros patriarcados. Após a separação do Império Romano (395) e o fracasso de Justiniano na reunificação, Ocidente e Oriente tornam-se dois impérios diferentes.

Diferenças

Ao contrário da Igreja Católica Apostólica Romana, que tem o Papa Romano como patriarca, o chefe espiritual das Igrejas Ortodoxas é o Patriarca de Constantinopla. A maioria das Igrejas ortodoxas usa o rito bizantino, que possui aproximadamente 1600 anos. Outra diferença é que, para os ortodoxos, há um único chefe da Igreja, sem representantes, que é Jesus Cristo. O Santo Sínodo Ecumênico é a autoridade suprema da Igreja Ortodoxa. Ele é formado pelos arcebispos-primazes das igrejas autônomas e pelos patriarcas chefes das igrejas autocéfalas, que são reunidos pelo Patriarca Ecumênico de Constantinopla.

Fontes:
DELUMEAU, Jean. De religiões e de homens. São Paulo: Loyola, 2000.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ortodoxia

O roubo do chá da China pelos ingleses

No século XIX, um distinto botânico escocês chamado Roberto Fortune partiu em uma arriscada missão para desvendar os segredos da bebida. Essa aventura foi o início de um negócio extremamente lucrativo para a Inglaterra, com o plantio intensivo na Índia

(C) Rue des ARchives

Robert Fortune, o botânico que importou plantas e sementes da China


por Eric Pincas

No número 9 da Gilston Road, em Londres, uma placa azul avisa que ali morreu o botânico Robert Fortune, em 1880. Um ilustre desconhecido até mesmo no país do five o’clock tea, o chá das 5, em que perto de 70% da população bebe diariamente uma xícara do líquido aromático. Poucos conhecem a extraordinária aventura desse homem que, na metade do século XIX, roubou, na cara dos chineses, os segredos de seu chá. Foi o início de um negócio extremamente lucrativo para os britânicos: cerca de 900 bilhões de xícaras são consumidas anualmente no mundo todo.

Até hoje nenhum historiador se debruçou sobre a arriscada missão empreendida por Robert Fortune. Coube a Willy Perelsztejn, amante de chás, jurista de formação e produtor de documentários, o mérito de ter desvendado esse episódio importante da história econômica e cultural do ex-Império Britânico. Em 1996, depois de ter lido A rota do chá e das flores, o diário de viagem de Robert Fortune, ele suspeitou que a narrativa romanceada escondia um roteiro bem diferente. Ele então se associou à irmã, Diane, cineasta, e a Joëlle Kilimnik, sua colaboradora, e pesquisou durante quatro anos até conseguir as provas de que a aventura de Fortune se tratava, de fato, de uma espionagem industrial.

Nos anos 1840, a China era o principal produtor e fornecedor de chá no mundo, apesar das tentativas de concorrência das plantações de Assam no nordeste da Índia, cultivadas pelos irmãos Bruce nos anos 1830. Infelizmente para os ingleses, a qualidade desse chá se revelou bem fraca para quem esperava rivalizar com os produtores chineses. Em 1834, a Companhia das Índias Orientais, a serviço da Coroa britânica desde 1599, perdeu seu monopólio sobre a importação do chá em benefício de comerciantes independentes. A autoprodução se tornou, assim, o principal objetivo desse gigante mercantil que controlava, em seu apogeu, no final do século XVIII, um quarto do comércio mundial.

(C) Selva / Leemage / Other Images

Plantações de chá verde na China, representadas em litografia do livro Uma jornada para a China, país do chá,, de Robert Fortune (edição de 1952). Escola francesa, séc. XIX



Dependente da China, a Companhia das Índias Orientais fez de tudo para se apropriar de amostras de chá chinês e transplantá-las nas montanhas do Himalaia. Mas ainda faltava encontrar um especialista que conseguisse decifrar os segredos cuidadosamente guardados do know-how chinês. E, ainda, se aventurar em uma área além dos 45 km dos portos abertos aos estrangeiros nas terras da China proibida. Tudo isso parecia muito audacioso.

Em 1848, os olhares se voltaram para Robert Fortune. Ele conhecia a China – tinha vivido lá entre 1842 e 1845, trabalhando para a Sociedade de Horticultura de Londres –, falava chinês, que aprendeu durante essa viagem, já havia se iniciado nos hábitos do Extremo Oriente e levado para a Europa uma centena de plantas desconhecidas dos ocidentais – entre elas o famoso bonsai.

Fortune já era um nome controverso na comunidade científica, por sustentar a opinião de que o chá verde e o preto faziam parte de uma mesma espécie. A afirmação era considerada uma heresia para os ocidentais. Nomeado conservador do Chelsea Physic Garden em 1845, ele parecia ser o homem ideal para realizar o projeto da Companhia das Índias Orientais. Assim, no dia 20 de junho de 1848, ele deixou Southampton em direção a Hong Kong. Ainda não sabia qual era o objetivo de sua missão.

Diane Perelsztejn e Joëlle Kilimnik encontraram nos arquivos da ilustre companhia comercial, conservados na Biblioteca Britânica, a ordem de missão endereçada a Fortune em 3 de julho de 1848 pelo governador das Índias Orientais, o marquês de Dalhousie, seguindo os conselhos do doutor Jameson, botânico encarregado das plantações experimentais no Himalaia: “Você deve selecionar plantas e grãos das melhores espécies de chá verde vindos das principais regiões produtoras e, depois, transportá-los, sob sua responsabilidade, da China a Calcutá e, de lá, até o Himalaia. Você deve também voltar todos os seus esforços para contratar produtores de chá experientes e bons fabricantes, sem os quais não poderemos desenvolver nossas plantações no Himalaia”.


(C) Simon Harriyott / Creative Commons

Placa comemorativa afixada na antiga residência de Robert Fortune em Londres



Fortune endossou o papel de espião designado em sua missão sem hesitar. Tanto pelo gosto por aventura como pelo atrativo econômico: a Coroa britânica ofereceu-lhe 550 libras por ano por essa missão que deveria durar 24 meses, enquanto ele recebia 100 libras por ano no Chelsea Physic Garden.

Em setembro de 1848, Fortune já estava em Xangai, então um pequeno porto de comércio considerado o “paraíso dos aventureiros”, aberto a estrangeiros desde o Tratado de Nanquim, assinado em 1842. Um tratado que pôs fim à primeira Guerra do Ópio e representou importantes concessões aos britânicos. Desde 1838, quando o imperador chinês promulgou um édito proibindo seus súditos de fumar ópio, o produto, vindo da Índia, entrava clandestinamente no país. Na época da proibição, cerca de 2 milhões de chineses já tinham se tornado viciados em ópio. Uma desgraça para os homens, mas uma glória para os mercadores britânicos que encontravam nesse sumo de papoula uma moeda de troca que lhes permitia preservar os lingotes de prata da Coroa.

Nesse contexto tenso e hostil aos europeus, Robert Fortune teve de ser astucioso para se misturar à população local sem ser notado. E isso não era uma tarefa fácil, já que ele media cerca de 1,80 metro e tinha um tom de pele cor-de-rosa que entregava sua origem escocesa. Mas Fortune passou a se vestir como os chineses e raspou a cabeça, deixando uma trança como a que tinha usado em sua primeira viagem ao país. Restava torcer para que os camponeses do interior, que nunca haviam visto um europeu, não o identificassem. Acompanhado por dois homens originários da região do chá verde – Wang, empregado doméstico, e um coolie (trabalhador braçal), que aceitaram ajudar o botânico mediante pagamento – Fortune, rebatizado Sing Wah, iniciou seu périplo em direção aos montes Huangshan, região repu-tada por seus chás verdes, passando por Hangzhou e o rio Verde.


Reprodução

Desde o século XIX, a Índia, sob controle britânico, tentava rivalizar com a China na produção da bebida



A missão se mostrava extrema-mente perigosa. Fortune foi o primeiro, depois dos portugueses, a ousar penetrar na China proibida. Se fosse pego pelos guardas do imperador, certamente seria punido com a pena de morte. Também tinha de escapar dos vários piratas que infestavam a região, lutar contra as correntes de vários rios e encontrar seu caminho a partir de mapas portugueses cheios de erros. Sem falar nos riscos de doenças. Mas Fortune, longe de se desestabilizar, estava, pelo contrário, excitado por se arriscar dessa forma. Como afirmou Willy Perelsztejn: “Foi um brilhante britânico, por ser aventureiro”.

Ao longo de sua expedição, Fortune se entusiasmou diante da diversidade de culturas: pêssegos, ameixas e laranjas à profusão. Uma paisagem montanhosa e cheia de vales que abrigava verdejantes plantações de chá. A cada etapa da viagem, o botânico fazia anotações, que enviava ao jornalBotanical Chronical. Os Perelsztejn encontraram 14 desses artigos.

Acordando bem cedo de manhã para observar a flora, Fortune sabia como os grãos de chá eram venerados nessas terras longínquas. Cada pequena folha verde remetia a uma história de muitos milênios. Ao longo de suas peregrinações na região do chá verde, Fortune constatou que o clima brumoso e a terra rica em prata favoreciam as plantações de chás medicinais. Assim, conseguiu determinar quais eram o clima e o solo ideais para um bom chá. Na região de Ningbo, ele recolheu vários grãos. Frequentemente, seus anfitriões, impressionados pelo porte de seu convidado e suas boas maneiras, ofereciam-lhe seu melhor chá para agradecer a visita. No dia 15 de dezembro de 1848, Fortune escreveu ao governador das Índias: “Tenho o prazer de informar-lhe que consegui uma grande quantidade de grãos e de mudas que, espero, chegarão intactas até a Índia. Estimo que todas pertençam à espécie Thea viridis. (...) Mandei plantar uma boa parte dos grãos coletados durante os dois últimos meses aqui nos jardins com a intenção de enviá-los posteriormente para a Índia”. Os jardins em questão eram os dos consulados e dos negociantes ingleses utilizados por Fortune como laboratório. Tudo o que enviava a Calcutá era dividido em três navios para minimizar os riscos de perda de carga.


(C) Rue des Archives

Jovens monges budistas enrolam folhas de chá, guache em seda, autor desconhecido, início do séc. XVIII: o preparo do chá chinês está ligado a tradições religiosas, e o consumo da bebida tinha dimensão espiritual



Em 12 de fevereiro de 1849, de passagem por Hong Kong, ele comunicou ao governador das Índias seu desejo de prospectar na região dos montes Wuyi Shan, hoje Jiangxi, a dos famosos chás pretos. No caminho, fez uma escala nos templos budistas. Cada um deles ficava ao lado de uma plantação. Vem daí a dimensão espiritual dessa bebida venerada pelos monges – que confiaram a Fortune alguns dos segredos do chá, principal-mente a importância da qualidade da água, condição sine qua nonpara que as folhas exalem todo seu sabor.

Na região do chá preto, vestido de mandarim da Tartária, ele compreendeu o que faz as folhas de chá verde ficarem marrons ou pretas: a fermentação. Ela é que dá ao chá sua cor escura. O chá Oolong é semifermentado, e o verde não passa por esse processo. Os europeus da época bebiam na maioria das vezes o chá preto, pois ele fermentava durante o transporte no navio. No final de alguns meses, Fortune soube que os primeiros grãos enviados apodreceram durante a viagem.

Ele resolveu, então, adotar as caixas de Ward, que levam o nome do botânico que as inventou no começo do século XIX. São pequenas estufas portáteis, com um fundo de argila, completamente herméticas e que, mesmo expostas à luz, conservam a umidade necessária para a germinação. Mas, antes de voltar para a Índia, Fortune devia convencer alguns fabricantes chineses a acompanhá-los, já que eram os únicos capazes de transmitir seu conhecimento aos produtores indianos. Por intermédio dos compradores – os conselheiros chineses dos negociadores ocidentais –, ele recrutou oito trabalhadores, seis fabricantes e dois produtores de caixas de chá por três anos. Ele conseguiu a garantia do governador da Índia de que eles seriam bem recebidos. O sucesso da operação dependia dessa integração. A partida dos chineses para as Índias não levantava suspeitas. Em 1851, muitos deles deixavam seu império, então em ruínas, indo principalmente para são Francisco e o Eldorado californiano.


Reprodução

O chá está no centro de banquete oferecido pelo imperador chinês a oficiais da dinastia Song (960-1279)


[continuação]

Em 16 de março de 1851, Fortune e seus trabalhadores chegavam a Calcutá a bordo de verdadeiros “jardins flutuantes” repletos de caixas de Ward. Mais de 20 mil pés foram plantados nas montanhas do Himalaia. Depois de três anos, Fortune acabou conseguindo fechar o ciclo, adquirindo o conhecimento agronômico indispensável aos produtores indianos para que pudessem fazer concorrência aos chineses.

Fortune deu sugestões para melhorar a cultura do chá: “cultivar no flanco de colinas”, tipo de terreno que havia de sobra no Himalaia; conseguir “um bom terreno com grau de umidade natural”. Também alertou: “Na China o chá nunca é colhido antes do terceiro ou quarto ano; é preciso adaptar as colheitas ao clima (...)”. Willy Perelsztejn insiste no fato de que “as inovações de Fortune em termos de transporte das mudas de chá e os preparadores chineses que selecionou permitiram desenvolver a cultura intensiva do chá na Índia”.

Robert Fortune tinha consciência do valor do segredo de mais de 5 mil anos que tinha acabado de roubar dos Filhos do Céu. Mas não mediu a catástrofe econômica que geraria, no fim do século XIX, para os produtores chineses. Fortune agiu essencialmente pela curiosidade científica, mesmo se a atraente remuneração em troca de seus serviços não o tenha deixado indiferente. Obedecendo, sem pestanejar, às ordens da Companhia das Índias Orientais, ele exprimiu sua mais profunda devoção à Coroa britânica.


Coleção Particular

Chá das 5 no jardim, gravura a partir de pintura de George Morland, 1800, Pall Mall, Londres: a tradição de tomar chá é forte na Inglaterra, onde cerca de 70% da população consome diariamente uma xícara da bebida



De retorno à Inglaterra, o botânico publicou o relato de sua viagem e tomou o cuidado de eliminar todos os detalhes relativos à sua missão de espionagem, tirando certo proveito disso. Ele partiria novamente para a China de 1853 a 1856 para aprimorar seus conhecimentos sobre os chás perfumados e envolver outros fabricantes para o cultivo em grande escala na Índia. Fortune passaria o resto de sua vida na discrição. Não recebeu nenhuma distinção honorífica da Coroa britânica nem porcentagem sobre a mina de ouro que conseguiu descobrir para seu país. Contudo, ele não passaria necessidade em seus últimos dias, o que já era uma oportunidade e tanto para um botânico.

Ao mesmo tempo, nas colinas enevoadas no Himalaia, e principalmente nos hoje célebres jardins de Darjeeling, conhecidos por produzir o “champanhe dos chás”, a produção estava em aumento constante. Em 1866, 4% do chá consumido pelos ingleses vinha das Índias. Em 1903, esse número passou a 59%. Os chineses, que não compreendiam como os segredos do chá pudessem ter escapado, representavam apenas 10% das vendas aos ocidentais. Com o tempo, a China recuperou parte das vendas e hoje é o segundo produtor mundial, com 19%, depois da Índia (34%).

Hoje, o Centro de pesquisa do Chá de Hangzhou, o jardim do Éden onde se cultiva o chá verde, é o único local, na China, onde se podem encontrar os livros de Robert Fortune. Entretanto, ninguém sabe – ainda – que ele atuou como espião a serviço de sua Majestade

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