11.6.12

ANTES DA AURORA DA HISTÓRIA NA MESOPOTÂMIA





Lishtar


A história começa, por definição, com a invenção da escrita (a cerca de 3200 Antes da Nossa Era), mais precisamente ao Sul da Mesopotâmia. Entretanto, os primeiros documentos escritos são raros, de difícil leitura, econômicos ou contábeis por natureza, portanto revelando pouco sobre o contexto político e social que os originaram. A maioria dos primeiros registros ainda são indecifráveis. O período histórico mais antigo é chamado de PROTO-HISTÓRIA. Para efeitos deste ensaio, situaremos os tempos de antes do começo da História na Mesopotâmia no Quarto milênio.

Alguns estudiosos enfatizam o componente literário destas sociedades e falam a respeito de sociedades protoliteratas, classificação esta dividida em quatro estágios, respectivamente A,B,C e D. A pequena quantidade de documentos disponíveis é suplementada por textos escritos muitos séculos depois, mas que se referem a estes tempos mais antigos. Quando combinados com dados arqueológicos, tais textos devem ser levados a sério. Um rei legendário transforma-se num ser real quando, por exemplo, são encontradas inscrições votivas com seu nome.

O aspecto mais importante da sociedade na proto-história é o começo da construção de prédios monumentais (templos, palácios, fortificações), a acumulação de capital, o uso econômico de metais e a escrita, que levam ao aparecimento das primeiras cidades-estado. Como no período Neolítico falamos de uma revolução agrícola, este período traz consigo uma revolução urbana.

A protohistória suméria está dividida no Período de Jemdet Nasr, que é o período da fundação das primeiras cidades-estado, para as quais não temos registros contemporâneos disponíveis, e o Período Sumério Anterior. O Período Sumério Anterior ou Antigo Sumério dura até a tomada do poder pelo rei semita Sargão, o Acádio em cerca de 2350 Antes da Nossa Era. Este período está dividido em dinastias determinadas pela hegemonia de uma determinada cidade.

1. O DESENVOLVIMENTO DA VIDA SEDENTÁRIA - A CULTURA DE UBAID

A "cultura" mais antiga (refletindo um conjunto de artefatos diferenciado) relativa ao Sul da Mesopotâmia é a de Samarra no sexto milênio, identificada em locais situados principalmente a leste do Irque, perto da fronteira com o Irâ, e um pouco ao norte de Bagdad. As chuvas nesta região são raras e não o suficiente para possibilitar a agricultura, e em dois locais, (Choga Mami e Tell es-Sawwan) foram encontradas evidências de irrigação artificial. A irrigação artificial, conjectura-se, deve Ter sido organizada pela comunidade ou em base familiar, pois as localidades são muito pequenas e não se expandiram de forma significativa.

Um desenvolvimento análogo também estava tomando impulso mais ao sul, mostrando por escavadores franceses, chamado de Tell- Oueili ou Halaf (a cerca de 5.500 Antes da Nossa Era), que representa um precursor de comprovada cultura de Ubaid, que possuía uma forte estrutura em termos de agricultura irrigada a cerca de 5.000-4.000 anos Antes da Nossa Era. A cultura de Ubaid tem este nome por estar situada próxima à cidade de Ur, que foi descoberta por sir Leonard Wolleey na década de 1920. A sequência cultural do período de Ubaid segue quatro fases principais. O elemento que distingue, por exemplo, o período de Ubaid 3 foi encontrado bem além dos confins do sul do Iraque, ao Norte, na Síria, no Irã, em mais de 40 lugares na Arábia Saudita, representando portanto presença nos Golfo Pérsico e Arábico. Devemos interpretar esta evidência , segundo estudiosos como Oates, que esta dispersão pode indicar a tentativa destas pessoas do sul da Mesopotâmia de controlar e explorar rotas de comércio a fim de adquirir recursos que não estavam disponíveis em suas redondezas. Suporte para esta hipótese pode ser eonctrado no fato de que alguns locais ubaidianos situados ao norte estão distribuídos ao longo das rotas que levam a minas de cobre de Ergani Maden situadas ao Sul da Turquia. Mas como tal controle era exercido, ainda não sabemos. . Em Eridu, um dos mais importantes e antigos locais para exploração arqueológica, uma seqüência de templos e santuários foi encontrada, e esta descoberta mostra uma continuidade de ocupação abrangendo 2.100-2.000 anos de ocupação, ou seja, desde o período de Ubaid 1 até os tempos históricos. Esta importante evidência cultural manteve-se apesar das mudanças políticas ocorridas ao longo de 3.000 anos.

A fase cultural que se sucede a de Ubaid, a fase de Uruk (cerca de 4.000 a 2.900 Antes da Nossa Era) é marcada por uma mudança na produção de cerâmica: cerâmicas feitas por torno de desenhos simples substituíram os materiais produzidos na época de Ubaid. A cultura tem o nome de Uruk/Warka segundo o nome da localidade em que foi encontrada, apesar das seqüências mais anteriores ainda serem pouco conhecidas, pois só nas últimas fases da cultura de Uruk é que surge a escrita, representando um grande salto cultural. As mudanças que marcam esta fase e cultura refletem uma mudança na população. Este ponto importante tenta associar a fase de Uruk com a chegada dos Sumérios. No presente, não podemos identificar com certeza como os Sumérios chegaram à Mesopotâmia. Mas tanto quanto nossas parcas evidências o apontam, os sumérios ou devem Ter habitado a região por algum tempo, depois de lá terem chegado por migração pacífica.

2. O PERÍODO DE URUK 4 OU URUK POSTERIOR (JEMDET NASR)

. Ao final da fase de Uruk (ou Uruk 4, a cerca de 3500-3200 Antes da Nossa Era) aparecem os primeiros documentos escritos, usando pictogramas, mas não somente estes. O sistema cuneiforme de escrita, que pode ser lido como Sumério desenvolveu-se destes pictogramas durante o período posterior (3200-2900 Antes da Nossa Era), também conhecido como Jemdet Nasr. Ao mesmo tempo, aparecem imensos complexos cerimoniais, como nos santuários de Eana em Uruk. Tais santuários repousam sobre grandes plataformas, com projeto elaborado, alguns levando pedras em sua construção. As paredes são decoradas com nichos e os prédios contém colunas de até 2m de diâmetro, ligadas ao teto ou não. Estas construções não são fenômeno exclusivo de Uruk, havendo desenvolvimentos semelhantes no Elam e em Susa. Associados com estas estruturas há também uma série de objetos com decoração característica, como vasos de pedra, trabalhados ou não com relevos dentro ou fora, ou cuidadosamente esculpidos.

Destas evidências, podemos apreender que o surgimento da escrita, a construção de prédios elaborados, o uso de materiais importados, a presença de trabalhos de arte elaborados e o acréscimo da população , tudo sinaliza para a emergência de comunidades urbanas que desenvolveram tais estruturas. Nenhuma outra razão pode explicar a contento os materiais, as técnicas e escala das construções. A origem exata e o caráter específico destas mesmas atividades e resultados ainda continua não totalmente explicada, mas a evidência aponta para a existência de um forte sistema político atuando nas cidades. A figura do governador local começa a aparecer na iconografia, em funções tanto seculares quanto religiosas. Da mesma forma, os ítens raros (pedra em quantidades consideráveis, ouro para acabamento de interiores) usados nas construções destes prédios imponentes vinham de longe, importados de regiões distantes. Pode-se depreender daí que deveria haver uma bem sucedida atividade comercial, bem como alto grau de capacidade técnica. Isto, por seu turno, reflete-se nas imagens freqüentes de cereais em grão que se alternam com imagens de rebanhos, encontrados em selos cilíndricos, vasos de pedra, e no famoso Vaso de Uruk. Atribui-se a grupos rivais de famílias que competiam pelo poder a construção de todas estas obras, sendo os templos elaborados e os objetos delicados uma forma de atingir o prestígio, controle e admiração de todos.

3. AS PRIMEIRAS CIDADES (2900-2340 ANTES DA NOSSA ERA)

Há bem maior disponibilidade de registros disponíveis para o período que sucede o de Uruk Posterior, em geral chamado de Dinástico Anterior (DA), pré-Sargônico ou Antigo Sumério. Há uma grande quantidade de remanecentes de construções, grandes placas esculpidas, figuras de pedra encantadoras em atitude de prece e adoração, inscrições em pedra, selos cilíndricos, cerâmica e documentos em argila. Talvez o legado existente mais fabuloso desta época são as Tumbas Mortuárias de Ur, que datam do período Dinástico Anterior III (cerca de 2600-2340 Antes da Nossa Era), onde os tesouros descobertos compreendiam uma série de objetos cuidadosamente elaborados em ouro, lápis-lazuli, prata e outros materiais preciosos.

O material escrito não está distribuído de forma uniforme através de todo este período, portanto estão disponíveis em tábuas de argila de tamanho e localizações variadas. Os maiores arquivos estão em Ur para o Dinástico Anterior II, (2700-2600); Shurupak (moderna Fara) e Abu Salabikh para o perído Dinástico Anterior III (2600-2500), e Girsu (Tello moderna, e um dos centros de poder do estado de Lagash), cujos ricos arquivos datam do final do período. Fora da região, os grandes artigos de Ebla, que datam de 2450-2350 Antes da Nossa Era, fornecem informações preciosas sobre esta cidade, que pode ser considerada um dos berços da civilização, ao Sul do Iraque.

Dois tipos diferentes de material textual tem tido sua utilidade para cobrir o período: a Lista dos Reis Sumérios e os épicos e mitos que se situam "antes do Dilúvio" em termos de linha do tempo. Vejamos agora estes dois tipos de material:

3.1 AS LISTAS DOS REIS SUMÉRIOS

Alguns dos textos mais antigos são as Listas de Reis Sumérios, conhecidas desde tempos muito antigos. Estas listas foram compostas ao redor de 2200 Antes da Nossa Era, mas se referem a tempos muito mais antigos. Elas foram copiadas por gerações de escribas e padronizadas ao longo deste processo até o período Babilônico Antigo, onde existe uma versão canônica que se extenue no tempo, mostrando reis e monarcas de tempos recente. As listas foram estudadas primeiramente por Jacobsen e publicadas em 1939. Elas são um instrumento básico para entendermos a história mais antiga da Mesopotâmia. O objetivo destas listas eram provavelmente mostrar que Suméria e Acádia sempre estiveram unidas num só reino, e conseqüentemente podem Ter distorcido a verdade para servir a algum propósito. As listas algumas vezes contradizem outras histórias épicas. Por exemplo, alguns reis deviam ser contemporâneos, mas não o parecem ser nas Listas de Reis. Nas listas, a monarquia é vista como uma instituição divina: ela desceu dos céus. A linha de abertura do texto é: "Quando a monarquia/realeza desceu dos céus, ela tomou assento em Eridu". Tendo em vista este fato, a monarquia era vista como uma instituição compartilhada por muitas cidades. Cada cidade tornava-se a sede do trono e do poder por um certo tempo. O sinal sumério para "governo" ou "ano de governo" é o mesmo para "turno". A hegemonia de uma cidade numa Lista de Reis Sumérios nem sempre significa que os reis citados tinham supremacia sobre outros reis de cidades-estado vizinhas.

Nas listas, aparece claramente uma linha divisória, e esta é o Grande Dilúvio. Nomes e eventos são ou antediluvianos ou pós-diluvianos. Nos últimos épicos, o Dilúvio assinala o final da era mitológica, quando foi formado o universo, inaugurando o começo dos tempos históricos. Cerca de oito (em outras versões dez) reis antediluvianos são mencionados, juntamente com seu respectivo período de governo. Idades que atravessam os tempos são atribuídas aos reis de antes do Dilúvio. Juntos, estes 10 ou 8 reis teriam reinado por cerca de 241.200 anos! O período antediluviano também é visto como a era das revelações divinas, tais como a invenção da agricultura, da escrita, etc. Algumas das cidades mencionadas como antediluvianas sãoEridu, Sipar e Shruppak.

Eridu, a primeira cidade mencionada, é a cidade do deus das águas doces, da mágica e da sabedoria, chamado Enki/Ea, um dos mais importantes deuses do panteon mesopotâmico. A cidade está situada no extremo sul da Mesopotâmia próxima a um rio ou lagoa. Diz-se que o princípio da agricultura foi ali revelado por um deus ao primeiro rei de Eridu, chamado Emmeduranki.

Sipar mais tarde irá se tornar na cidade do deus sol, Utu, chamado também de Shamash em acádio. Diz-se que os segredos da adivinhação foram mostrados ao rei de Sipar, também por revelação divina. Adivinhação era ao mesmo tempo uma arte e ciência para perguntar aos deuses sobre os desígnios da existência. Nenhuma decisão importante era tomada sem consulta prévia aos deuses através de inúmeras técnicas de adivinhação. O deus Sol Utu, que tudo vê durante o dia, tem também o poder de ver o futuro.

Shuruppak é uma cidade às margens do Eufrates, perto da cidade moderna de Fara. O último rei de Shrurrupak foi o herói da história do Dilúvio.

3.3 OS GRANDES ÉPICOS

Outro material que tem sido usado na esperança de poder iluminar eventos, estruturas e instituições do período Dinástico Anterior são os épicos e epopéias que foram escritos em tempos posteriores sobre os primeiros governantes de Uruk, como Gilgamesh. O ciclo de histórias épicas sobre reis como Enmerkar, que travou uma década de disputas com o rei da cidade iraniana de Aratta, pode ter sido um reflexo do padrão de comércio existente durante o período Dinástico Anterior II. O conflito de Gilgamesh com Aka de Kish, onde o teimoso Gilgamesh consulta primeiro o conselho de anciões para procurar o melhor curso para suas ações, e então prossegue para se consultar com o conselho dos jovens guerreiros, fornece alguma evidência para as assembléias cívicas e a obrigação real de entrar em deliberações com estes foros antes de partir para ação. Enquanto que não parece haver dúvidas de que as cidades mesopotâmicas mantinham distantes relações comerciais a fim de adquirir bens exóticos, a forma específica pela qual estas relaçoes eram estabelecidas não fica clara a partir do estudo destes épicos. Não temos também certeza se conselhos de anciões formavam um dos órgãos das cidades mesopotâmicas, bem como os jovens guerreiros e sua função no governo. Entretanto, tais obras mostram eventos históricos (até certo ponto). Estas histórias, eram muitas vezes fruto de uma tradição oral ainda mais antiga. Um milênio depois, ao redor do período Babilônico Antigo muitos destes fragmentos foram arranjados como épicos completos. Eles entraram para a literatura canônica e foram escritos e copiados por gerações de escribas (em geral em escolas). Há uma analogia geral com outras idades heróicas de outros locais (Homero dos Gregos, o Maghabharata Indiano, a Idade Heróica Germânica, etc.). As semelhanças provavelmente mostram uma estrutura político-social comum.

3.4 A HISTÓRIA DO DILÚVIO

O tema do dilúvio, uma catástrofe de monta, é bastante comum em toda antigüidade. Todos os tipos de versões de tal cataclismo eram passados de geração a geração e de país para país. Há versões sumérias, acádias, ugaríticas, hititas, etc. Quando os primeiros textos sobre o dilúvio foram descobertos em 1872 por George Smith, tal fato fez as manchetes de jornais da época, tendo em vista as semelhanças com a narrativa da Bíblia. Basicamente, todas as planícies aluviais e deltas de rios no mundo sofreram grandes enchentes. Uma série delas no século XV da nossa era, chamadas de As Enchentes de Santa Elizabeth, deram forma à parte de Holanda no delta do Reno. Ainda hoje, muitas pessoas estão em constante perigo de terem suas casas destruídas pelas águas, e portanto também na Mesopotâmia o impacto das águas devia ser muito forte nas pessoas. Não há dúvidas que enchentes causaram impacto na Mesopotâmia, e algumas delas ocorreram a cerca de 2900 Antes da Nossa Era.

As várias versões e fragmentos encontrados apontam para várias diferentes tradições sobre o dilúvio. O herói sumério do Dilúvio (o primeiro Noé) chama-se Ubar-Tutu em certos textos, Ziusudra. Em outro texto, ele é chamado Atrahasis. Todos estes são nomes que atestam uma qualidade: Ziusudra quer dizer Vida de Longos Dias, Utnapshtin - aquele que encontrou a vida eterna, e Atrahasis (extremamente sábio). O épico de Atrahasis é muito famoso e em seu formato de Antigo Babilônico é datado de 1635 Antes da Nossa Era.

4. PERÍODO DE JEMDET NASR OU URUK 4

Ao seguirmos na direção do final da fase de Uruk, aparecem os primeiros documentos escritos, usando pictogramas, representando algum sistema de contabilidade. O cuneiforme que pode ser lido como sumério se desenvolveu destes primeiros pictogramas durante o período subseqüente, tambem chamado de Jemdet Nasr. Ao mesmo tempo, aparecem grandes complexos cerimoniais, como os santuários de Eanna in Uruk. Estes complexos eram construídos sobre largas plataformas, com design elaborado e muitos construídos sobre pedra. As paredes destes prédios tem niches, e os prédios são monumentais, com colunas de 2m diâmetro, ligadas ou não ao teto.

A evidência para construções de tal porte aponta para um sistema político avançado: a figura dominante em figuras provavelmente é a do lider desta sociedade, provavelmente o legislador/administrador. Esta pessoa também aparece praticando rituais religiosos, o que sugere que atividades tanto de caráter religioso como secular estavam sob sua responsabilidade. O fato de que material ausente na Mesopotâmia, como pedras, estavam presentes na construção destes prédios indica habilidade de mobilizar força de trabalho de forma bem sucedida e a existência de uma base agrícola saudável.

A revolução urbana, a construção das primeiras cidades, começou a Ter lugar a cerca de 3100-2900 ANTES DA NOSSA ERA na transição da pré-história para história. A mudança no padrão de assentamentos humanos, de isolados para comunidades, continuou. O clima quente ao final do quarto milênio permitia que as grandes planícies fossem habitadas no extremo sul da Mesopotâmia, a área que mais tarde será chamada de Suméria. A escassez de chuvas estimulou o desenvolvimento de trabalhos de irrigação. A produção do bronze, uma liga de cobre e outros metais, principalmente o latão, permitiu a manufatura ade armas novas, e fortificações foram também construídas ao redor dos vilarejos.

Ou seja, em cerca de 2.900 Antes da Nossa Era, as técnicas de irrigação, agricultura e a exploração alimentos suplementares (tâmaras, peixe, caça) tinha sido bem sucedida, sendo gerida por grupos de poder emergente numa série de cidades. Isto resultou num desenvolvimento articulado, onde o administrador de cada cidade poderia assegurar uma grande produção de alimentos para a população. Este notável desenvolvimento resultou numa estrutura social bem articulada, com o administrador de cada cidade também controlando a maior parte dos recursos, como a terra, a produção de bens especializados, exóticos e materiais preciosos obtidos através do comércio. O administrador das cidades também tinha importante presença religiosa e ideológica,tomando parte em atividades seculares e religiosas da comunidade.

Muitos fatores importantes destas sociedades continuam ainda obscuros, mas eles nos levam ao período seguinte, o Período Sumério Anterior.

5. PERÍODO SUMÉRIO ANTERIOR

O desabrochar e o desenvolvimento das cidades-estado é chamado de Período Dinástico Anterior (2900-2400 ANTES DA NOSSA ERA), Período Sumério Anterior ou Sumério Antigo. Este se divide em três estágios, nos quais houve o domínio de diferentes cidades. O Período Sumério Anterior é caracterizado por forte rivalidade entre as cidades-estado e uma divisão crescente entre estado e religião. Construções monumentais que seriam chamadas de palácios ao invés de templos aparecem pela primeira vez. Apesar da rivalidade, há muitas semelhanças na arquitetura, materiais de construção, temas e ornamentos de cidades diferentes. As pessoas também tinham a mesma religião e falavam a mesma língua. Portanto, em geral pode-se falar de uma arte e cultura suméria.

Antigo Sumério é o idioma desta época. Uma grande parte de textos em Antigo Sumério e a maior parte do conhecimento que temos desta língua originou-se de textos encontrados no século XIX em Nippur, uma cidade sacra, a capital religiosa da Suméria, cujo patrono é o poderoso Enlil, o deus do ar, e um dos mais importantes no panteon mesopotâmico. Mais de 30.000 tábuas de argila inscritas lá encontradas estão em vários museus, como o de Istambul, Jena e Filadélfia. Estas tábuas incluem versões de obras literárias como o Épico de Gilgamesh, o mito da criação, bem como textos administrativos, legais, médicos e registros de transações de negócios, bem como textos escolares.

5.1. KISH E O PERÍODO DINÁSTICO ANTERIOR - A IDADE DO OURO (2900 A 2700 ANTES DA NOSSA ERA)

Kish, cidade ao norte da Babilônia, próxima à moderna Tel el-ehêmir, é a primeira cidade pós-diluviana mencionada nas Listas de Reis Sumérios. Depois do Grande Dilúvio, "o reino desceu novamente dos céus". Os primeiros reis tinham nomes semitas. Nesta época, os quatro quadrantes do mundo vivem em harmonia.

Escavações arqueológicas provam que Kish foi uma cidade importante, tendo sido o centro da primeira dinastia suméria, chamada de Período Dinástico Anterior I. Havia especialização no trabalho e alta qualidade artesanal, ambas resultado de uma tradição mais antiga. Adagas douradas trabalhadas foram encontradas em túmulos. Foi em Kish que foi encontrado o primeiro palácio monumental que não era também um templo. O rei parece estar no poder, ao invés do alto sacerdote en.

O título de Rei de Kish: A importância de Kish também é atestada pelo título Rei de Kish. Este título era usado por reis mesmo muitos séculos depois para mostrar prestígio, pois o significado de tal epíteto poderia ser "Rei de Todo Mundo". O título era usado mesmo quando outro rei era na realidade o rei da cidade, e também muito depois de Kish Ter cessado de ser a pedra fundamental da monarquia. É possível que o título significava mais do que prestígio. Kish está situada ao Norte das planícies da Mesopotâmia Sul, num ponto estratégico do Eufrates. É possível que a localização de Kish fosse fundamental para o controle de todo sistema de canais de irrigação, pois um problema na área, bloquearia o fluxo das águas na direção sudoeste. O controle do rio Eufrates nas proximidades de Kish portanto era de grande importância para os governantes do sul da Mesopotâmia. O título de Rei de Kish pode ser um indicativo de que o rei possuía este poder.

5.2. URUK - PERÍODO DINÁSTICO ANTERIOR II - IDADE HERÓICA (2700-2500 ANTES DA NOSSA ERA)

Uruk bíblica Erech, situada perto da moderna Warka. O período sob a liderança de Uruk é chamado de Idade Heróica. As dinastias ficaram conhecidas a partir de épicos escritos tempos depois. Uruk é a cidade da deusa Inana e de Anu, o deus supremo do firmamento. Os reis de Uruk são chamados de Senhor. Uma reconstrução da história a partir da mitologia mostra que este período foi uma democracia primitiva. As decisões mais eram tomadas após consulta a um conselho de anciões.

Enmerkar, rei de Uruk e Kullab, tendo o epíteto de "aquele que constuiu Uruk" e personagem de dois épicos. Não existem inscrições ou placas para atestar sua existência. Os textos referem-se aos contatos comerciais e militares com a cidade de Arata, ainda não localizada, mas provavelmente no Irã, onde Inana/Ishtar e Dumuzi também eram adorados. Estes épicos mostram que havia contatos comerciais, ex; pedras preciosas, como lápis lazuli. Enmerkar foi o primeiro, de acordo com o mito, a escrever em tábuas de argila.

Lugalbanda foi o terceiro rei da primeira dinastia de Uruk, também sendo personagem de poemas e mitos sumérios, como o épico de Lugalbanda (em duas partes, com 900 linhas)

Gilgamesh é o neto de Enmerkar. Sua fama espalhou-se por uma grande área devido ao Épico de Gilgamesh. Uma versão assíria foi encontrada na Biblioteca de Assurbanipal (cerca de 650 Antes da Nossa Era), e provavelmente data de 1700 Antes da Nossa Era. Fragmentos sumérios menores com apenas umas centenas de linhas são datados de cerca de 2000 Antes da Nossa Era. A medida do tempo e localização geográfica indicam a grande predileção por esta obra-prima mesopotâmica. VerGilgamesh para uma versão resumida aqui neste site.

Gilgamesh foi responsável pela construção das muralhas de Uruk. Parece realmente que a arqueologia prova que estas muralhas foram expandidas a cerca de 2700 Antes da Nossa Era.

5.3 UR e LAGASH - PERÍODO DINÁSTICO ANTERIOR III (2500-2350 ANE

O Período Dinástico Anterior-III está fora da protohistória, sendo geralmente considerado parte da história. Muitas fontes e arquivos desta época são conhecidos. A maioria destes textos têm caráter econômico/administrativo.

Ur: Oficialmente, de acordo com a Lista de Reis Sumérios, Ur tem a hegemonia desta era, conhecida como Terceira Dinastia de Ur. Na prática, hegemonia era um termo muito amplo, pois Ur era um porto no Golfo Pérsico.

Lagash e Girsu são cidades no extremo Sul da Mesopotâmia. Muitos textos em Sumério Antigo foram encontrados lá, a maior parte deles impressos em materiais duros como cobre e ouro, ex. as Inscrições Reais de Lagash e textos sobre o incessante conflito de fronteiras entre Lagash e a cidade vizinha de Uma. Os conflitos em geral envolviam direitos de irrigação e água, e eram algumas vezes resolvidos com a mediação do rei de Kish. O padroeiro da cidade de Lagash é Ningursu, mais tarde associado com Ninurta, um deus guerreiro e fundamental para a eliminação de demônios. Alguns dos reis de Lagash são:

Eannatum: (E-ana-tum) o primeiro a se entitular Rei de Kish, aquele que governa os países. Ele se gabava que seu território se estendia de Kish no Norte a Mari, no Oeste, Uruk no Sul e Elam no Leste, mas não está claro o que significa o governo destas cidades. Ele teve um longo reinado, mas após sua morte, seu território foi reduzido ao tamanho original.

Famosa é sua vitória mostrada na Estela de Eannatum, mostrando um dos primeiros registros do poder militar e político possuído pelo rei. O texto, do qual 1/3 está preservado, anuncia as novas fronteiras e a vitória de Eannatum de Lagash sobre o governante de Uma. Fala de pontos altos da campanha, do aprisionamento de inimigos, o enterro dos mortos e os corvos que escaparam com os ossos dos mortos. Esta figura pode ser a impressão de um artista a respeito de uma batalha histórica, e também uma expressão da intenção de tal batalha.

Urukagina, o último dos reis piedosos da dinastia de Lagash, introduziu muitas reformas sociais e editou pareceres sobre o problema da escravatura sofrida por aqueles que incorriam em dívidas. Altas taxas de juro sobre o capital (em geral 33.3%) tinham de ser pagas pela escravização de uma criança até que os débitos fossem pagos. Ele acaba com este tipo de ação por decreto.

REFERÊNCIAS:

1. KUHRT, Amelie (1998). The Ancient Near East, Volume 1. Routledge History of the Ancient World, London, New York.

2. POSTGATE, J. N. (1992) Early Mesopotamia: society and economy at the dawn of History. Routledge, London, New York.


Fonte: http://www.angelfire.com/me/babiloniabrasil/proto1.html