15.2.12

As diversas faces do carnaval


Durante o século XIX, o carnaval assumia feições bastante diferentes.


Festa, diversão, riso e liberdades. Para muitos, estas são palavras que facilmente expressam o sentido que o carnaval assume no interior de nossa cultura. O uso das fantasias, as piadinhas jocosas das marchas e a entrega aos prazeres nos trazem a sincera impressão de que o carnaval tem um sentido universal de renovação da vida por meio de uma fuga temporária das obrigações que permeiam a vida dos indivíduos em seu cotidiano.

De fato, grandes teóricos destas manifestações salientaram com primazia estes valores encontráveis nos eventos carnavalescos ocorridos na Europa, principalmente, entre as passagens da Idade Média e do Renascimento. Contudo, tal fato não nos impede de perceber as nuances que tal data comemorativa ganha na medida em que toma espaço na cultura brasileira. Para que possamos vislumbrar tal diferenciação, podemos observar as primeiras festas de carnaval acontecidas no século XIX.

Sendo um assunto com uma quantidade de material pouco disponível, sugerimos que o professor trabalhe com os alunos o trecho de uma crônica do escritor José de Alencar que justamente descreve um desfile carnavalesco deste período. Segundo o autor:

“Muitas coisas se preparam este ano para os três dias de carnaval. Uma sociedade criada o ano passado, e que conta já perto de oitenta sócios, todos pessoas de boa companhia, deve fazer no domingo a sua grande “promenade” pelas ruas da cidade. A riqueza e o luxo dos trajes, uma banda de música, as flores, o aspecto original desses grupos alegres, hão de tornar interessante esse passeio dos máscaras, o primeiro que se realizará nesta corte com toda a ordem e regularidade. Quando se concluir a obra da Rua do Cano, poderemos então imitar, ainda mesmo de longe, as belas tardes do “Corso” em Roma.”

Para que as distinções que popularmente explicam o sentido do carnaval fiquem mais evidentes, peça para que os alunos produzam um breve texto sobre o significado do carnaval em nossa cultura. Só depois disso, entregue o pequeno texto com a descrição feita por José de Alencar. Após a leitura do documento, discuta com a turma os trechos que mais se contrastam com a explicação por eles produzida. Entre outros pontos, é interessante notar o destaque que Alencar deu à “ordem e regularidade” da festa.

Contudo, essa face comportada do carnaval se mostrava diferente de outras manifestações populares em que grupos de trabalhadores e escravos comemoravam a festa de outra maneira. Para demonstrar esse outro lado da festa carnavalesca, podemos contar com um relato do viajante francês Benajamin Gastineau, que diz:

“O Carnaval do Rio de Janeiro (Brasil) não possui nada de muito curioso; sua brincadeira mais espirituosa consiste em regar os passantes por meio de pequenas seringas; é verdade que a pessoa que for molhada tem o direito de entrar na casa de onde partiu a ducha e de devolver, mesmo às mulheres, cada gota d'água que recebeu. As elegantes brasileiras se utilizam, para esta recreação, de bolas ocas ou pequenas seringas cheias de água perfumada.”

Nesse outro relato, o aluno percebe a realização de brincadeiras que em nada tinham a ver com aspecto ordeiro do desfile anunciado por José de Alencar. Mais conhecida como “entrudo”, essa manifestação permitia a invasão do espaço privado com o uso de brincadeiras que iam contra os limites impostos por um mundo cingido pela seriedade. De forma mais geral, tais manifestações carnavalescas aconteciam entre as populações menos abastadas e tomavam o tempo de mulatos e escravos da capital carioca.

Para encerrar tal exercício de comparação, o professor pode incumbir a turma de uma tarefa onde possa notar, nos dias de hoje, manifestações carnavalescas de diferentes tipos. Para que seja possível a produção desse material, indique aos alunos algumas festas e eventos que se desenvolvem no carnaval contemporâneo. Dessa forma, o aluno pode ver no presente as nuances captadas no passado e perceber o caráter múltiplo que a cultura ganha no campo de seu exercício.


Por Rainer Sousa
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