Nenhuma guerra chocou tanto o Mundo quanto a Primeira Guerra Mundial, em alguns aspectos ela mudou muito mais até do que a Segunda Guerra Mundial (que para muitos historiadores foi uma consequência direta da Primeira). Ela viu uma geração inteira ser ordenada a lutar, com táticas rudimentares ainda do século XIX, contra o que havia de mais moderno na Tecnologia militar, levando dezenas de milhares à morrer em um ataque frontal e sem sentido contra ninhos de metralhadoras inimigas. A Primeira Guerra realmente foi um marco na História, o fim de uma Era, que moldaria as ideias do mundo do Século XX.
Com isso em mente cabe nos perguntar: Como esse conflito começou? Quem foram os principais países envolvidos? Quais foram suas consequências para o Século XX? e, o mais importante, Quantos soldados morreram nos fúteis avanços na Terra de Ninguém?
Soldados Australianos da Brigada de artilharia de campo da 4ª Divisão de Infantaria andam pela terra arrasada na região de Chateau Wood, na Bélgica, Outubro de 1917, durante a sangrenta Batalha de Passhendaele (James Francis Hurley/ Biblioteca Estadual de Nova Gales do Sul - Austrália)
Munição de artilharia britânica projetada para destruir casamatas de concreto sendo descarregada no Front Ocidental. Esses projéteis explosivos pesavam mais de 600kg (1400 lbs) e, quando atingiam o chão, formavam uma cratera de 4,5 metros de profundidade e mais de 13 metros de raio (Fotógrafos oficiais das divisões australianas / Biblioteca Estadual de Nova Gales do Sul).
Como tudo começou - Entendendo o Mundo antes da Primeira Guerra
Para entendermos a Primeira Guerra Mundial precisamos analisar 3 pontos principais que levaram as potências europeias a uma guerra de tamanhas proporções:
1- Briga por Colônias: As potências europeias, desde a segunda metade do século XIX, disputam por ter mais colônias pelo Mundo (principalmente na África e na Ásia). Nessas colônias eles buscavam matérias-primas para suas crescentes Indústrias e mercados consumidores para seus produtos industrializados.
Mapa da África partilhada entre as potências imperialistas europeias em fins do século XIX. Essa disputa por novas colônias agravaria as tensões entre a potências mundiais
Charge satirizando a divisão da China em zonas de influência de nações estrangeiras
2- O crescente sentimento de nacionalismo na Europa: em fins do século XIX e início do século XX uma onda de ideologias nacionalista começou a inundar a Europa. As 3 principais ideologias eram o Pan-Germanismo (em que os alemães acreditavam que os povos de língua germânica e as regiões do mundo onde se falava alemão deveriam se unir em uma única grande nação); O Pan-Eslavismo (Onde o Império Russo se via como o grande protetor de todas as nações eslavas do mundo - o que incluía a Sérvia); e o Revanchismo francês (crescente descontentamento francês frente a grande derrota que sofreram para os alemães na Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871, onde os alemães chegaram até a marchar nas ruas de Paris).
3- Crescente Corrida Armamentista: No período de fins do século XIX e início do Século XX, novas tecnologias militares começaram a despontar, modificando o jeito de "fazer guerra" das grandes potências (a metralhadora, por exemplo, que foi melhorada e modificada). Isso fez com que os países europeus começassem uma corrida armamentista para se adequar as novas tecnologias bélicas de seus "possíveis futuros oponentes".
Foto de Sir Hiram Stevens Maxim e a sua famosa criação, a metralhadora automática refrigerada à água Maxim, em 1884. A Maxim revolucionou a História Militar por ser a primeira metralhadora moderna (automática). No início da década de 1900, todos os países europeus e potências regionais como Estados Unidos, Brasil, Japão e China teriam acesso a modelos da Maxim (Autor desconhecido - Reprodução / Wikicommons)
Com esses tópicos, podemos entender que realmente a Primeira Guerra Mundial era um desastres premeditado, e esse barril de pólvora poderia estourar por qualquer coisa, até mesmo um assassinato do herdeiro do trono da Áustria-Hungria por um nacionalista sérvio.
O barril de pólvora explode - O assassinato do Arquiduque Franz Ferdinand, o sistema de alianças e a declaração de guerra.
Com o cenário mundial montado, percebemos que a situação entre as grandes potências da época era realmente um grande barril de pólvora, pronto para explodir a qualquer momento. Como destaca Parron:
Na Europa daquele tempo reinava um clima de tensão e ressentimento. A rivalidade entre as grandes potências beirava o intolerável. No meio do caldeirão estava a Alemanha, país que ameaçava o poderio britânico (nos mares) e francês (na Europa Continental). De 1871 até 1914, a economia alemã cresceu 600%; e em 1914, a produção de aço do país deixou na poeira as indústrias da Inglaterra, França e Rússia juntas. (2004, pág. 13)
As tenções eram tamanhas que jornais ingleses, como o Saturday Review exibiam notícias e manchetes e notícias com frases como "Se a Alemanha fosse extinta amanhã, não haveria depois de amanhã um inglês que não fosse mais rico do que hoje. Por que não lutar por um comércio de 250 milhões de Libras? A Inglaterra despertou para o que é a sua mais grata esperança de prosperidade: a destruição da Alemanha!".
Lógico que com esses sentimentos antagônicos, não demoraria para que se formassem blocos aliados em que seus membros prometessem assistência mútua em tempos de guerra. Isso seria chamado de "Paz Armada". O sistema de alianças seria crucial para entender como que tantos países se envolveriam em uma pequena briga de fronteiras e soberania nacional que acontecia nos Bálcãs, principalmente entre o Império Austro-Húngaro e seus vizinhos eslavos (especialmente a Sérvia).
Nove líderes europeus no Palácio de Windsor, que compareceram para prestar homenagens ao rei falecido Eduardo VII da Grã-Bretanha, em Maio de 1910. De pé, da esquerda para a direita: Rei Haakon VII da Noruega, Tzar Ferdinando da Bulgária, Rei Manuel II de Portugal, Kaiser Wilhelm II Do Império Alemão, Rei George I da Grécia e Rei Alberto I da Bélgica. Sentados, da esquerda para a direita: Rei Alfonso XIII da Espanha, Rei George V do Reino Unido e Rei Frederick VIII da Dinamarca. (Foto por W. & D. Downey, 1910)
Para tentar manter a ordem na Europa, vários países começaram a se aliar uns com os outros, formando vários blocos aliados por interesse, por proteção ou por comércio. Um exemplo claro dessa busca por alianças é o da Alemanha.
A Alemanha já se via rodeada de inimigos. Quando criou o Império Germânico em 1871, Bismarck sabia muito bem que a reação natural de seus vizinhos seria unir-se contra os germânicos, e ele cuidou para que isso não acontecesse. Por boas razões, ele considerava a França inconciliável, quando mais não fosse porque ela fira compelida a entregar as províncias da Alsácia e Lorena. Assim, ele tentou neutralizá-la encorajando as ambições colonias que a levariam a entrar em conflito com a Grã-Bretanha, e assegurou que ela não pudesse encontrar aliados entre as outras potências da Europa (...). A Monarquia Dual (Áustria-Hungria) não apresentava dificuldades. (...) ameaçada por problemas internos , ela ficaria feliz com uma aliança com a Alemanha. O próximo inimigo natural era a recém-unificada Itália, que cobiçava as terras italófonas nas encostas ao sul dos Alpes (...) que ainda permaneciam nas mãos dos austríacos. (HOWARD, 2010 pág. 30)
Mesmo com essa rixa territorial entre austríacos e italianos, Bismarck conseguiu envolver Alemanha, Áustria-Hungria e Itália em um bloco aliado chamado de Tríplice Aliança, além de fazer acordos econômicos e pactos de não agressão com o Império Russo e a Grã-Bretanha, tudo para que esses dois não se aliassem a França.
Porém, os sucessores de Bismarck não conseguiram manter por muito tempo essas tratados e acordos comerciais, levando o Império Russo a se afastar da Alemanha e buscar a amizade da França. Os franceses, aproveitando essa aproximação do Império Russo, também conseguiram resolver seus problemas territoriais e econômicos com os britânicos, formando a chamada Entente Cordiale (um tratado, acordo político, que visava a não agressão e a cooperação comercial entre Grã-Bretanha e França). Juntando a Rússia à esse novo bloco aliado, estava formada a Tríplice Entente.
Não esquecendo das ideologias do pangermanismo, revanchismo francês e paneslavismo, e da gigantesca corrida armamentista, o cenário europeu estava pronto para uma guerra de proporções gigantescas. Um grande Barril de pólvora desceu sobre a Europa, se só bastava uma faísca para que ele explodisse. Essa faísca foi acendida por um terrorista sérvio que lutava pela liberdade de seu povo.
A Sérvia, país eslavo apoiado pela Rússia, sempre lutou por terras e por sua independência contra os Áustro-Húngaros. O herdeiro do trono austríaco, o Arquiduque Francisco Ferdinando, decidiu visitar seus súditos eslavos da recém conquistada Bósnia (que era um antigo território do Reino da Sérvia). Gavrilo Princip, um terrorista da Organização Nacionalista Sérvia "Mão Negra", planeja o assassinato do herdeiro do trono Austríaco. Seu atentado foi bem sucedido, porém ao tentar se suicidar, sua pílula de cianeto estava estragada, e ele é capturado pela polícia bósnia.
Foto tirada de Francisco Ferdinando e sua esposa embarcando em seu carro para andar pelas ruas de Sarajevo. (Foto da Associated Press)
Gavrilo Princip (à esquerda) e o Arquiduque Ferdinando (fotos da Biblioteca Nacional da Áustria)
Foto tirada no momento da prisão do terrorista Gavrilo Princip. ele pode ser visto na foto sendo arrastado para dentro da delegacia de Sarajevo, Capital da Bósnia (Arquivo Nacional dos Estados Unidos)
Mesmo com o assassino de seu filho preso, o Imperador Francisco José determina a declaração de guerra à Sérvia, começando assim toda a "queda de dominós" da diplomacia Europeia.
Os sérvios são aliados dos Russos que, logicamente após a declaração de guerra da Áustria, começam uma grande mobilização de tropas para auxiliar seu pequeno aliado sérvio. A Alemanha, aliada da Áustria, dá um ultimato à Rússia para que ela pare a mobilização, se não os alemães também se mobilizariam para a guerra para ajudar seus aliados austro-húngaros. Os franceses, vendo a oportunidade de ter uma revanche sobre os alemães, também ameaçam entrar na guerra caso a Alemanha interfira nas discussões de Áustria-Hungria, Sérvia e Rússia.
Assim começa a Primeira Guerra Mundial, com as alianças se movimentando todas quase ao mesmo tempo, e o primeiro tiro da guerra seria dado pelos alemães e não contra tropas francesas ou russas, mas contra tropas da Bélgica, que havia se declarado neutra, mas que fora atacada pois o plano militar alemão visava que o território belga precisaria ser atravessado (por bem ou por mal) para que os alemães chegassem mais rápido à Paris.
Começa a Mobilização Militar
Soldados alemães membros da Guarda Prussiana marcham pelas ruas de Berlim, em 1914, recebendo a saudação dos civis. A mobilização das nações europeias começou já 3 ou 4 dias depois do assassinado do arquiduque austríaco (Foto da Associated Press)
Seguindo a ideia de que todas as nações estavam unidas por alianças secretas, assim que a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia, o Império Russo, defensor das nações eslavas (entre essas nações encontrava-se a Sérvia) começou a mobilizar suas tropas e ameaçar os austríacos, dizendo que se eles atacassem a Séria, a guerra ocorreria também entre os Russos e os Austríacos. A Alemanha era a aliada da Áustria e, vendo a mobilização austríaca e russa, também ameaçou a Rússia dizendo que, se ela se metesse nos assuntos de Áustria e Sérvia, ela entraria na guerra ao lado da aliada.
Reservistas russos (acompanhados de familiares) caminham até o centro de recrutamento da cidade de São Petersburgo, uma semana depois do assassinado do arquiduque austríaco. A Rússia entrou na guerra com um grande exército, porém mal armado e treinado. (Foto da Associated Press).
Foi uma verdadeira "queda de dominós", onde os aliados de cada potência declaravam que se algo acontecessem à um de seus aliados, eles entrariam em estado de beligerância, fazendo com que toda a guerra se tornasse uma verdadeira "bola de neve descendo uma colina à toda velocidade".
Ciclistas militares belgas na cidade de Boulogne, Franca, 1914. A Bélgica declarou sua neutralidade em caso um conflito em massa ocorresse na Europa. Porém, as estradas e ferrovias belgas forneciam um caminho direto para o interior da França, caminhos estes vitais para as tropas alemãs. Assim os alemães violaram o território belga, trazendo a Grã-Bretanha para o conflito. (Biblioteca Nacional Francesa)
Planos Militares: Já se preparando para uma eventual guerra na Europa, vários países do continente começaram a planejar suas ofensivas e linhas de defesa, esperando se preparar o melhor possível para essa guerra. Os principais planos da Guerra, que ganhariam mais evidência, vieram dos alemães e franceses, surgindo os:
1- Plano Schlieffen: Plano militar alemão que visava uma guerra rápida contra os franceses, através de um avanço rápido através da fronteira francesa (na região da Alsácia e Lorena) e através do território belga (utilizando das boas estradas e ferrovias belgas para transportar os soldados até as "portas" de Paris). A ideia principal era derrotar os franceses de 3 à 4 meses de guerra.
2- Plano 17: Uma sequência de planos ofensivos franceses, precedida por outra de seis planos defensivos, elaborados entre 1875 e 1881, o que dá uma ideia da evolução do pensamento estratégico francês. Foi votado Abril de 1914, pelo Estado-Maior Francês, como principal plano de operações militares contra os alemães numa eventual guerra entre esses dois países. O princípio básico do Plano 17 era o de "avançar e enfrentar os exércitos alemães em campo", principalmente na região da Alsácia e Lorena (regiões perdidas pelos franceses na Guerra Franco-Prussiana). (ARARIPE, 2006, p. 330)
Mapa mostrando os Planos Schlieffen (em vermelho) e o Plano 17 (em Azul). As setas tracejadas são os eixos de avanço dos exércitos alemães (em vermelho) e franceses (em azul) - (Atlas da Primeira Guerra Mundial/Wikicommons)
Assim, com os países europeus já com seus planos de atuação montados antes da guerra propriamente começar, percebemos o início da primeira fase da Primeira Guerra Mundial, a chamada Guerra de Movimento.
Começa a "Guerra de Movimento" (Agosto à Dezembro de 1914):
A guerra de movimento foi justamente a aplicação dos planos de combate franceses e alemães, que apostavam na mobilidade das tropas em campo de batalha e nas antigas "linhas de tiro" datadas desde antes de Napoleão Bonaparte. As linhas de tiro consistiam em soldados movendo-se em blocos de "batalhões" (entre 100 e 200 soldados) em campo aberto, fazendo linhas de tiro (para que cada saraivada de tiros desses 200 soldados fizesse o maior dando possível aos soldados inimigos) e avançando rapidamente para suplantar o inimigo.
O problema com essa tática, já arcaica para este tempo, foi o avanço tecnológico dos anos 1880 - 1900, trazendo armas mortíferas para essa tática de guerra em campo aberto (a metralhadora no modelo "Maxim" e os canhões de artilharia mais potentes e precisos por exemplo). As baixas (para ambos os lados) foram gigantescas.
Equipe britânica de Metralhadora Pesada Maxis, com seus cachorros puxando a peça para linha de frente, em 1914. A busca pela mobilidade fácil e rápida das pesadas metralhadoras (com seus tripés, suas munições e tambores de resfriamento) sempre originaram adaptações curiosas. (Biblioteca Nacional Francesa)
Soldados alemães improvisam um jeito mais fácil de movimentar as pesadas metralhadoras na linha de frente. Essa metralhadora Maxin 1910 russa (capturada) foi acoplada à uma sela especial em um cavalo (Coleção de fotos de Brett Butterworth)
A Guerra de Movimento começou em Agosto de 1914, quando os alemães, seguindo o Plano Schlieffen, invadem Luxemburgo e Bélgica, para ganhar tempo utilizando das ferrovias belgas para invadir o interior da França. O avanço sobre os belgas foi rápido, mas não tão rápido quanto os comandantes alemães queriam, dando tempo precioso para que a Grã-Bretanha entrasse na guerra e desembarcasse tropas na região belgo-francesa de Flandres.
A Catedral da cidade de Rheims é bombardeada pelos canhões alemães, em Setembro de 1914. Com a aproximação rápida das forças alemãs, várias grandes cidades do norte da França, incluindo Paris, sofreram bombardeios da artilharia pesada alemã, entre Agosto e Setembro de 1914. esse episódio ficou conhecido como "Os Canhões de Agosto" (Foto da Associated Press)
"Montanhas" de cartuchos usados pela Artilharia Alemã, encontrados pelos aliados depois que os alemães recuaram um pouco suas linhas. Com certeza toda essa munição usada pelos alemães foi para bombardear as linhas de frente aliadas e as cidades francesas mais próximas, como Rheims e Paris. (Biblioteca Nacional da Escócia).
Foi durante essa primeira fase em que ocorreu uma das principais batalhas da Primeira Guerra, a Primeira Batalha do Marne, onde o destino de Paris e de toda a França estava em jogo.
Soldados Alemães na região do rio Marne, em 1914, prontos para receber a ordem de atacar os franceses (Reprodução/Wikicommons)
Soldados franceses defendem os bancos do Rio Marne, contra o pesdo e revolto avanço alemão, em Setembro de 1914. A Batalha do Marne foi um sucesso para os franceses, freando o avanço alemão no setor, a quase 40km de Paris. (Reprodução/Wikicommons)
Como destaca Neto sobre a batalha:
Em 4 de Setembro de 1914, os alemães chegaram ás portas de Paris e a vitória parecia bem próxima, mas o general Alexander von Kluck, (...), cometeu o erro de avançar demais e atravessou o rio Marne, a nordeste de paris. Isso criou uma brecha entre suas unidades do 2º exército alemão com os 1º e 3º Exércitos (totalizando 1,5 milhão de soldados alemães atacando na região do Marne), além de deixar o flanco direito exposto a um contra-ataque das forças francesas (...). Valendo-se do erro do adversário, os comandantes das forças francesas e da Força Expedicionária Britânica (British Expeditionary Force - BEF) atacaram os alemães no dia seguinte. explorando o máximo essa brecha nas linhas germânicas, a BEF, o 5º e o 9º Exércitos Franceses (totalizando 1,2 milhão de soldados) obrigaram os alemães a recuarem depois de oito dias de combate. (NETO, 2008, pág. 32)
Infantaria francesa à cavalo atravessando uma cidade francesa em direção à linha de frente. cavalos e carroças ainda eram muito utilizados como transporte militar, mesmo com uma produção considerável de automóveis. (Biblioteca do Congresso Norte-Americano)
Houve um caso curioso durante a Batalha do Marne. Carros civis e táxis parisienses foram requisitados pelo exército francês para mover reforços para a região do Marne, a fim de impedir o grande ataque alemão. Sobre esse caso Araripe comenta:
Em 3 de Setembro, um solitário avião de reconhecimento aliado confirmou informações sobre a mudança de direção de Von Kluck. Gallieni persuadiu Joffre a montar uma operação de maior vulto sobre o flanco exposto do inimigo, (...). A ação partiria da 7ª Divisão de Infantaria Francesa, que, transportada por uma estrada de ferro, chegaraia a um ponto a 50km da área necessária, mas que não podia ir adiante por falta de capacidade da ferrovia. (ARARIPE, 2006, pág. 334)
Assim, 600 táxis parisienses foram requisitados pelos Generais franceses Gallieni e Joffre para transportar toda uma divisão de infantaria para a linha de frente onde era necessária, do ponto de onde partiria o contra ataque contra o flanco alemão.
Gravura mostrando soldados franceses prontos para embarcarem nos táxis parisienses e serem levados até a linha de frente (Reprodução do site "Historia Rei Militaris")
Com a Guerra de Movimentação alemã frustada pelas linhas de defesa anglo-francesas, o avanço tornasse cada vez mais difícil até que, no início de Dezembro de 1914, todo Front Ocidental torna-se estático e as primeiras trincheiras começam a aparecer.
É importante destacar também os combates no Front Oriental, em que alemães e austríacos combateram os exércitos do Tzar Nicolau II em uma série de ataques e contra-ataques de ambos os lados. É importante destacar também a Batalha de Tannenberg, uma das primeiras grandes batalhas de toda a Guerra, que ocorreu no front Oriental, quando o 1º e o 2º exércitos Russos invadiram a Prússia Oriental (território alemão) logo após o início das hostilidades. Sobre Tannenberg Neto destaca:
Com a rápida mobilização (...), os russos invadiram o território da Prússia Oriental em Agosto de 1914. Tomado de surpresa, o 8º Exército Alemão (com aproximadamente 150 mi, corria o risco de ser envolvido pelo avanço dos 1º e 2º Exércitos Russos (que contabilizavam 190 mil soldados). Alarmado com a Situação, Helmuth von Moltke, chefe do Estado-Maior alemão, ordenou a retirada das tropas da frente oriental e nomeou o marechal Paul Hindenburg como novo comandante do 8º Exército. Hindenburg, com o auxílio do General Erich Ludendorff, colocou em ação o ousado plano. Deixou algumas tropas para fazer frente ao 1º Exército Russo, que estava parado, esperando novas ordens, e deslocou quase todo o 8º Exército alemão para o sul, por trem. Com esse movimento de pinça, os alemães destruíram o 2º Exército Russo na Batalha de Tannenberg. Após cinco dias de combates, os alemães saíram vitoriosos, capturando aproximadamente 125 mil soldados russos e um grande número de canhões. Esse feito fez de Hindeinburg e Ludendorff heróis nacionais(...). (NETO, 2008, pág. 32)
com essa grande derrota, os russos demorariam muito para montar outra grande ofensiva contra os austríacos e alemães no Front Oriental. Enquanto a Rússia tentava se reconstruir após grandes derrotas contra os alemães, os aliados no Front Ocidental tentavam de tudo para que uma contra-ofensiva fizesse com que os alemães recuassem, mas nada funcionavam.
Soldados russos em debandada em Tannenberg, depois que as forças de infantaria e cavalaria alemães os flanquearam. Na legenda original da foto "Tropas Russas em Fuga. A foto ilustra os soldados eslavos em uma corrida louca, gritando: 'A Cavalaria Alemã Atravessou a linha'. Com esse grito apenas aumentando entre os infantes, a debandada maluca somente aumentou" (foto do Museu Nacional da Primeira Guerra Mundial - Kansas City - EUA)
Prisioneiros de guerra russos feitos depois da Batalha de Tannenberg, em 1914 (Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos)
A última ofensiva anglo-francesa, contra os alemães na região de Artois e Champagne, em setembro de 1915, não havia surtido efeito nenhum. Essa ofensiva marca o fim da Guerra de Movimento e o início da Guerra de Trincheiras, pois nenhum dos lados queria perder o que haviam conquistado em meses anteriores.
Mapa da Ofensiva de Artois, a última ofensiva da fase da Guerra de Movimento. As defesas alemães fustigaram o ataque anglo-francês, que não conseguiu tomar as posições alemãs. (Reprodução/Wikicommons)
Soldados franceses avançam no setor de Artois durante a desastrosa ofensiva anglo-francesa, em 1915. 450 mil franceses atacaram as linhas alemãs, defendidas por 220 mil soldados germânicos. 215 mil franceses morreram, desapareceram ou ficaram feridos depois desse desastre militar. (Agência de Imprensa Meurisse, fundada em 1909)
Assim, os soldados de ambos os lados começariam a lutar (e morrer) nas longas fileiras, canais e trincheiras da Primeira Guerra Mundial, atolados na lama e no sangue de seus companheiros caídos, por longos 3 anos.
Mapa do Front Ocidental Estabilizado, em fins de 1914. A linha de frente ocidental ia da fronteira franco-suíça até o litoral belga do Canal da Mancha, atingindo um total de (Atlas da Primeira Guerra Mundial/Wikicommons)
LINK INTERESSANTE:
Mapa animado, feito pela BBC, mostrando a evolução das linhas de frente do Front Ocidental, de 1914 até 1918. Interessante analisar a linha de frente entre os períodos de 1914 e 1915, período tratado neste texto:
http://www.bbc.co.uk/history/interactive/animations/western_front/index_embed.shtml
Fontes:
Jornal "The Atlantic: World War I Photos":
http://www.theatlantic.com/static/infocus/wwi/
Site "It was the War to end All Wars", site que disponibiliza fotos coloridas da Primeira Guerra Mundia: http://worldwaronecolorphotos.com/
Jornal "The Telegraph": "In pictures: Never before seen photographs from World War One frontline": http://www.telegraph.co.uk/history/world-war-one/10849528/In-pictures-Never-before-seen-photographs-from-World-War-One-frontline.html
ARARIQUE, Luiz de Alencar e MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras: Artigo Primeira Guerra Mundial (p. 319 - 353). Editora Contexto, São Paulo, 2006
HOWARD, Michael. Primeira Guerra Mundial. Editora L&PM, Porto Alegre, 2010
NETO, Octaviano David: 1914 - 1918 - A Grande Guerra. Coleção Grandes Guerras, Edição 25 - Out. de 2008. Editora Abril.
Fonte: http://www.historiailustrada.com.br/2014/12/o-barril-de-polvora-explode-os.html