INTRODUÇÃO Locke deixa bem claro que as capacidades são inatas, mas o conhecimento é adquirido. Pelo uso da razão somos capazes de alcançar certos conhecimentos e com eles concordar, e não de descobrir. Locke diz que “...se os homens têm verdades inatas impressas originalmente, e antes do uso da razão, permanecendo delas ignorantes até atingirem o uso da razão, consiste em afirmar que os homens, ao mesmo tempo, as conhecem e não as conhecem”. Para Locke, o conhecimento segue os seguintes passos: Os sentidos tratam com idéias particulares → a mente se familiariza → deposita na memória e dá nomes → a mente vai abstraindo, apreendendo gradualmente o uso dos nomes gerais. Ele aprofunda esta explicação mais adiante. As fases do processo cognitivo seguem por quatro estágios: • Intuição: é o momento em que as idéias simples são recebidas. Existem dois tipos de idéias simples, as que são frutos da experiência externa e as que são fruto da experiência interna. • Síntese: as idéias simples formam por combinação as idéias complexas. • Análise: por análise, as várias idéias complexas formam as idéias abstratas. Idéia abstrata, aqui, não representa a essência das coisas porque a essência é incognoscível. • Comparação: diferentemente de síntese ou associação, é colocando-se uma idéia ao lado da outra e comparando-as que se formam as relações, ou seja, as idéias que exprimem relações. Nos livros posteriores, da mesma obra, Locke afirma que o homem não pode conhecer a essência das coisas, mas só a sua existência. Através de um raciocínio baseado no nexo causal pode-se conhecer a existência do mundo e de Deus. Do mundo porque, sendo passivos em nossas sensações, temos de admitir uma realidade distinta de nós que seja causa de nossas sensações; de Deus porque partindo do estudo dos seres finitos, devemos necessariamente concluir que existe uma causa universal, infinita. ANÁLISE CRÍTICA DO PENSAMENTO DE LOCKE Muito brilhante a concepção que Locke nos apresenta sobre o conhecimento. Não é muito difícil de concordarmos com sua teoria. De fato, se o conhecimento fosse inato, todos teríamos uma espécie de conhecimento padrão, e não precisaríamos freqüentar escolas a fim de despertá-los em nós. É muito difícil (ou impossível?) a possibilidade de conhecer algo sem a interferência dos sentidos, pois todas as “janelas” do nosso intelecto estão abertas neles. Apesar de centralizar o conhecimento na experiência, Locke deixa bem claro que a capacidade de conhecer é inata. Reconhecemos a experiência como uma grande fonte de conhecimentos. É difícil admitir algum conhecimento independente dos sentidos. No entanto, deve haver algum fator a priori que não provenha da experiência, mas que provenha de forma intuitiva, por exemplo, espaço e tempo. Da mesma forma, se a experiência fosse a única possibilidade de conhecimento, todos tenderíamos a uniformidade intelectual; no entanto há, por exemplo, pessoas que por mais que se dediquem a certo ramo de atividade, não conseguem muito progresso, tendo assim que mudar de ramo. Se fosse a experiência a única fonte de conhecimentos, todos que se propusessem: à biologia desenvolveriam a biologia, à física desenvolveriam a física, mas sabemos que não é assim. CONCLUSÃO O pensamento de Locke sobre o conhecimento foi uma grande contribuição para filósofos posteriores que se dedicaram à mesma temática. Por mais que as conclusões que se tenham chegado até hoje tenham uma grande validade, há ainda a necessidade de continuar-se investigando com empenho e dedicação. Se o conhecimento é algo que se constrói, esta construção é infinita afinal, a razão humana é um terreno que ainda tem muito a ser explorado. BIBLIOGRAFIA LOCKE, John. Ensaio Acerca do Entendimento Humano. Trad. Anoar Aiex. São Paulo: Editora Abril., 1978. Autoria: Antonio Clerton Cordeiro Fonte:
No segundo livro do seu Ensaio Acerca do Entendimento, Locke descreve as fases do processo cognitivo; no momento do nascimento a alma é uma tábula rasa, como uma folha de papel em branco e o conhecimento começa com a experiência sensível.