Golpe militar depôs o rei Idris e levou o coronel Kadhafi ao poder, em 1969.
Membro da Opep, país é um dos principais produtores de petróleo na África.
Editoria de Arte / G1
Agora separada entre o leste, nas mãos da oposição, e o oeste, nas de Kadhafi, a Líbia é historicamente um cruzamento do Maghreb e do Machrek, marcada por tradições tribais. Passou à idade moderna no século XX, graças a suas imensas reservas de petróleo.
Por muito tempo oculta pela forte personalidade de seu líder e "guia", o coronel Muamar Kadhafi, a Líbia vive uma insurreição sem precedentes.
Independente desde 1951, com a ascensão ao poder do rei Idriss al-Senoussi, o país é dirigido pelo ex-capitão, promovido a coronel pelo golpe de Estado de setembro de 1969.
Ironia da história, o golpe de Estado de Kadhafi e dos 60 oficiais rebelados começou em Benghazi, epicentro hoje da contestação.
Trípoli, antigo cruzamento de rotas comerciais, abrigo de piratas e mercadores de escravos antes da era moderna, é a capital deste vasto Estado de 1,76 milhões de km2 - 93% dele desértico.
Com uma população de 6,3 milhões de habitantes, entre eles 1,5 milhão de imigrantes, essencialmente africanos, concentrada nas margens do Mediterrâneo, a Líbia tira suas riquezas do subsolo, rico em hidrocarbonetos, principalmente no leste do país.
O rei Idris chega ao Egito, onde se exilou após o
golpe de 1969, enquanto o coronel Kadhafi discursa
para a população, em Trípoli (Foto: AFP)
Até meados do século XX, vivia da agricultura, submetida aos caprichos do clima. País pobre, a Líbia sobrevivia com a ajuda internacional.
A descoberta da jazida de petróleo em Zaltan, em junho de 1959, por geólogos da gigante americana Esso (hoje Exxon), no oeste do país, mudou o tom. O coronel Kadhafi ordenou a nacionalização das jazidas. Mas o país ainda dependia da tecnologia das empresas internacionais para a exploração do ouro negro.
Membro da Opep, a Líbia é um dos principais produtores de petróleo na África, com 1,8 milhão de barris por dia. Suas reservas são avaliadas em 42 bilhões de barris. O petróleo representa mais de 95% das exportações e 75% das receitas do Estado.
O país, que empreendeu desde o levantamento do embargo, em 2003, uma série de reformas para liberalizar a economia, registrou um crescimento de 10,3% em 2010 e a previsão é de que venha a crescer cerca de 6,2% em 2011.
Concedeu, nos últimos anos, contratos a numerosas sociedades multinacionais.
Localização
Situada entre a Tunísia, a oeste, e o Egito, a leste, a Líbia corresponde, historicamente, a soma das regiões Tripolitana (oeste), Cirenaica (leste) e Fezzan (sul).
A Cirenaica, hoje nas mãos dos rebeldes e militares que deixaram o dirigente líbio, está historicamente voltada para o Egito e o Machrek - um termo que se refere a uma área geográfica em torno das partes leste e sul do Mar Mediterrâneo - região que demonstrava, às vezes, hostilidade em relação ao poder central.
No sul, Fezzan, uma zona mais desértica e mais tribal, mantém contatos com a Tripolitana, voltada para o Maghreb - uma região africana que abrange, em sentido estrito, Marrocos e Sahara Ocidental -, e com a Cirenaica.
Sistema de governo
Sob o impulso do coronel Kadhafi, o país aboliu as instituições parlamentares, enaltecendo o anti-imperialismo, o pan-arabismo e o Islã.
O sistema é apresentado como uma alternativa nacional ao socialismo e ao capitalismo, combinada com aspectos do islamismo. Derivado em parte de práticas tribais, supõe a implementação pelo próprio povo líbio de uma forma única de “democracia direta”.
Vindo de uma família pertencente a uma pequena tribo, o coronel Kadhafi passou em 40 anos por várias situações de oposição: viu líderes tribais suplantados por tecnocratas, líderes religiosos em desavença com sua aproximação do Islã, estudantes de Benghazi manifestando-se em 1976, monarquistas nostálgicos da realeza, e até militares que desertaram.
Nos anos 80, seu regime apoiou grupos terroristas como o Setembro Negro, que assassinou atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique e o grupo separatista basco ETA, acusado de centenas de mortes na Espanha.
Kadhafi também negou a extradição do terrorista líbio Abdel Basset al Megrahi, que em 1988 foi acusado de colocar uma bomba num voo da PanAm que explodiu na Escócia, matando 270 pessoas.
Nos anos 90, assumiu responsabilidade pelo ataque ao voo e pagou indenização aos familiares das vítimas, pondo fim a anos de sanções da ONU (Organização das Nações Unidas). Em 2003, foi tirado da relação de países com ligações com terroristas pelo então presidente dos EUA, George W. Bush.
Em 2008, os dois países assinaram um acordo bilateral que normalizou a relações e voltaram a ter embaixadores pela primeira vez desde 1973. No mesmo ano, a ONU aceitou que a Líbia participasse do Conselho de Segurança como membro não permanente e em 2010 o país foi eleito para o Conselho de Direitos Humanos da organização.