O navegador português comandou e planejou a expedição marítima que realizou a primeira circum-navegação do globo, no século XVI. Mas ele não chegou a completar o périplo
Antoine Roullet
Coleção Particular
A caravela Victoria cruzando o Pacífico. O explorador não chegou a conpletar a viagem ao redor do globo
Fernão de Magalhães (1480-1521) foi protagonista de uma das maiores aventuras do século XVI. Em busca de uma rota para o Oriente, o navegador português planejou e comandou a expedição que deu a primeira volta ao mundo. No entanto, Magalhães não conseguiu concluir o percurso: morreu no caminho.
Isso não diminui em nada o fato de que sua viagem, nas condições da época, tenha sido uma grande conquista. Segundo relato do italiano Antonio de Pigafetta (1480 ou 1491-1534), um dos únicos sobreviventes e historiógrafo da expedição, a aventura teve mais momentos de adversidades e milagres que de marcha vitoriosa.
As cinco caravelas de Magalhães – San Antonio, Victoria, Concepción, Santiago e Trinidad (capitânia) –, com seus 240 homens, zarparam de Sevilha em 10 de agosto de 1519 e conseguiram passar por Cabo Verde, sem obstáculos, no começo de outubro.
Depois de percorrer esse trajeto, clássico e conhecido, os perigos inerentes a todas as travessias oceânicas pareciam multiplicados por dez naquele começo do século XVI. Confrontados com uma terrível tempestade no Atlântico, os marinheiros não esperavam nada além da hora de perecer.
A salvação da expedição foi creditada às aparições de "são Telmo, santa Clara e são Nicolau", diante das quais os membros da tripulação "clamaram misericórdia", conforme relatou Pigafetta. O que ocorreu, efetivamente, foi que eles avistaram os chamados "fogos de Santelmo", um fenômeno atmosférico ligado à tempestade que produz halos de luz elétrica no alto dos mastros. No mês de março de 1520, Magalhães e seus homens aportavam para uma escala na baía de San Julián, então no Brasil (hoje Argentina).
Ao longo de cinco meses de invernada, surgiram insurreições. "Os comandantes dos outros navios tramaram uma traição contra o capitão-geral para tentar matá-lo", relata Pigafetta. Magalhães mandou decapitar Gaspar de Quesada, o capitão da #Concepción#, depois abandonou Juan de Cartagena, o antigo capitão da #San Antonio#.
Além dessas rebeliões, conforme a expedição avançava perdia navios. A embarcação #Santiago# naufragou enquanto explorava a costa da Patagônia. Os navios restantes seguiram pelo Pacífico e chegaram ao arquipélago de Saint-Lazare – atual Filipinas – em 27 de março de 1521. Foi nessa época que perderam Magalhães. Em 27 de abril, durante um contra-ataque de insulares, foi atingido no rosto por uma "lança feita de cana envenenada, que o matou subitamente", como relatou Pigafetta.
A #Concepción# seria incendiada em 3 de maio e, em 18 de dezembro, seria a vez da #Trinidad# afundar. Mas a pior calamidade ainda era a fome: "Nós só comíamos velhos biscoitos transformados em poeira e cheios de vermes, fedendo a urina de rato", escreveu Pigafetta. Com a fome, vinha a doença, principalmente o escorbuto.
Ao final da expedição, havia apenas um navio, o #Victoria#, com água entrando por todos os lados. Uma parte da carga de especiarias teve de ser jogada ao mar para que a embarcação seguisse mais leve. Em maio de 1522, a nau ultrapassaria o cabo da Boa Esperança. Dezoito de seus homens conseguiriam retornar a Sevilha. Sem Magalhães.
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