1821-1849 – Revolucionária brasileira
Nome: Anita Garibaldi
Nome de nascença: Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva
Nascido em: 30 de agosto de 1821 às 23:55
Lugar: Laguna (Santa Catarina), Brasil.
Anita Garibaldi – Vida
Nascido no Brasil em 1821, Anita Garibaldi veio de uma família de pescadores pobres e pastor.
Ana Maria Ribeiro da Silva nasceu em Laguna, Santa Catarina, em 1821.
Quando ela e um jovem exílio italiano pelo nome de Capitão Garibaldi reuniu-se em 1839, eles se juntaram na causa de fundar uma república brasileira.
Abandonando seu marido, tornou-se amante de Giuseppe Garibaldi, guerrilheiro italiano exilado no Brasil que servia aos farroupilhas, latifundiários escravistas e separatistas que haviam se rebelado contra o Império brasileiro.
Anita Garibaldi
A causa imediata do movimento foi o descontentamento dos fazendeiros gaúchos com o baixo preço do charque (jabá), importante ingrediente da alimentação dos escravos negros.
As forças imperiais enviadas para combater os separatistas tinham Caxias como seu principal comandante.
Anita uniu-se ao movimento, participando dos combates em defesa da República Juliana, em Santa Catarina, outra tentativa de fracionar o país.
Dotada de grandes habilidades para o combate, recebeu dos seus companheiros o título de “Bravo Entre os Bravos”, após o combate das Forquilhas.
Acompanhou Giuseppe Garibaldi quando este foi contratado para combater Rosas, ditador do Uruguai.
Casaram no Uruguai.
Nesta época, a Itália estava dividida em pequenos reinos e repúblicas, além de territórios pertencentes ao Papa.
Frustrado em sua tentativa de dividir o Brasil, Giuseppe Garibaldi voltou à Itália com o objetivo de continuar a sua luta pela unificação desta.
Anita o acompanha.
Na Itália, empreendem diversas fugas, uma delas para Veneza.
Mas em agosto de 1849, próximo a San Alberto e Ravenna, fugindo para a Suíça, Anita Garibaldi falece.
Considerada traidora por muitos brasileiros, recebeu o cognome de “Heroína de Dois MUndos” por seus admiradores.
Anita Garibaldi – 1821-1849
Giuseppe e Anita Garibaldi
Biografia
Anita Garibaldi heroína brasileira, nasceu em Morrinhos, SC, então município de Laguna, em 30 de agosto de 1821, filha de Bento Ribeiro de Silva e Maria Antônia de Jesus Antunes.
Faleceu na Itália no dia 4 de agosto de 1849.
Embora os pais de Anita fossem pobres, deram-lhe excelente educação.
Casou-se em Laguna no ano de 1835 com Manuel Duarte de Aguiar.
Quando surgiu a Revolução Farroupilha, deixou o seu marido e ligou-se a Giuseppe Garibaldi que a unira ao movimento.
Deu o seu primeiro tiro de canhão, na Batalha de Laguna.
Devido a oposição dos pais, Garibaldi raptou-a, indo regularizar o casamento em 26 de março de 1842, no Uruguai.
Tornou-se uma companheira destemida do esposo, participando em seus combates, lutou pela unificação e libertação de Itália.
Mais tarde viu-se sitiada pelas forças legalistas, conseguindo fugir.
Nasceu o seu primeiro filho no dia 16 de setembro de 1840.
Em 1847 Anita seguiu para a Itália levando seus três filhos.
Reuniu-se a Garibaldi pouco depois em Nice.
Tomou parte dos combates de Roma; os amotinadores foram obrigados a se retirarem em barcos de pesca, os quais a maior parte caiu em poder dos Austríacos.
Porém o que conduzia o casal encalhou numa praia.
Anita e Giuseppe com alguns companheiros abrigaram-se numa propriedade rural nas proximidades de Ravena.
Anita teve o seu estado sensivelmente agravado pela febre tifóide, durante os combates em Roma, vindo a falecer antes de completar trinta anos de idade.
Em sua memória ergueram vários monumentos no Brasil e na Itália.
Seu nome de solteira: Ana Maria de Jesus Ribeiro.
Heroína dos dois mundos
Anita Garibaldi
Ana Maria de Jesus Ribeiro – nasceu em 1821 em Morrinhos, Laguna, na então província de Santa Catarina.
Seus pais, Bento Ribeiro da Silva e Maria Antônia de Jesus, eram pobres porém honrados.
Do seu pai parece ter herdado a energia e a coragem pessoal, revelando desde criança um caráter independente e resoluto.
Aos 18 anos conheceu a José Garibaldi que viera com as tropas farroupilhas de Davi Canabarro e Joaquim Teixeira Nunes tomar a Laguna em julho de 1839, fundando a República Juliana dos Cem Dias.
Garibaldi chegara à Laguna com fama de herói pelo feito épico que acabara de realizar ao transportar, por terra, as duas embarcações “Farroupilha” e “Seival” de Capivari a Tramandaí e posterior salvamento do naufrágio da primeira ao sul do Cabo de Santa Marta.
Seu encontro com Anita resultou em amor a primeira vista, dando origem a um dos mais belos romances de amor e dedicação incondicionais.
A 20 de outubro de 1839 Anita decide seguir José Garibaldi, subindo a bordo de seu navio para uma expedição de corso até Cananéia.
Sua lua de mel tem lances de grande dramaticidade: Em Imbituba recebe seu batismo de fogo ao serem os corsários atacados por forças marítimas legais.
Dias depois, a 15 de Novembro, Anita confirma sua coragem ímpar e amor heróico a Garibaldi e à cansa na célebre batalha naval de Laguna, contra Frederico Mariath, em que se expõe a mil mortes ao atravessar uma dúzia de vezes num pequeno escaler a área de combate para transportar munições em meio de verdadeira carnificina humana.
Com o fim da efêmera República Lagunense, o casal segue na retirada para o sul.
Subindo a serra, Anita combate ao lado de Garibaldi em Santa Vitória, passa o Natal de 1839 em Lages, toma parte ativa no combate das Forquilhas (Curitibanos) à meia-noite de 12 de janeiro seguinte.
Feita prisioneira de Melo Albuquerque, consegue deste comandante permissão para procurar no campo de batalha o cadáver de Garibaldi que lhe haviam dito morto.
Foge depois espetacularmente, embrenhando-se pela mata atravessando o Rio Canoas a nado reencontrando as tropas em retirada e seu Giuseppe, oito dias depois.
Em 16 de Setembro de 1840 nasceu seu primogênito Menotti em Mostardas, na região da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul.
Doze dias depois do parto, é obrigada a fugir dramaticamente a cavalo, seminua e com o recém-nascido ao colo, de um ataque noturno de Pedro de Abreu durante a ausência de Garibaldi.
Reencontrados depois, Anita e o filho seguiram, também, na posterior grande retirada pelo mortífero vale do Rio das Antas, da qual nos conta o próprio Garibaldi foi a mais medonha que jamais acompanhou, e que a desesperada coragem de Anita conseguiu meios de salvar o filho à última hora.
Em 1841, dispensado por Bento Gonçalves, Garibaldi segue com a pequena família para Montevidéu, engajando-se nas lutas uruguaias contra o tirano Rosas.
A 26 de Março de 1842, Garibaldi casa com Anita na antiga Igreja de São Francisco de Assis.
Nos anos seguintes Anita tem mais 3 filhos Rosita, Teresita e Riccioti.
Rosita não consegue vencer um ataque de difteria, falecendo aos trinta meses, deixando seus pais desesperados.
Em fins de 1847 segue Anita com seus três filhos para a Itália, para Gênova e Nice sendo seguida pelo marido poucos meses depois.
Na Itália Anita Garibaldi deu múltiplas demonstrações de aprimoramento intelectual, aparecendo como esposa condigna do herói italiano cuja estrela começa a brilhar internacionalmente.
Infelizmente a vida de Anita foi demasiado curta.
Em meados de 1849 vai a Roma sitiada pelos franceses ao encontro do marido, e com ele e sua Legião italiana faz a célebre retirada, dando repetidas mostras de grande dignidade e de coragem em lances de bravura frente aos inimigos austríacos.
Grávida pela quinta vez e muito doente, não aceita os conselhos para permanecer em San Marino para restabelecer-se.
Não quer abandonar o marido quando quase todos o abandonam.
Acompanhado de poucos fiéis, ziguezagueando pelos pântanos ao Norte de Ravenna, fugindo dos Austríacos, prometendo pena de morte a eles garibaldinos e a quem lhes ajudasse José Garibaldi vê definhar rapidamente a mulher que mais amou na vida e de sua coragem disse desejara muitas vezes fosse a dele! Pelas 19 horas do dia 4 de agosto de 1849, Anita Garibaldi falece nos braços do esposo em pranto, longe dos filhos, num quartinho do segundo pavimento da casa dos irmãos Ravaglia em Mandriole, próximo a Santo Alberto.
Anita Garibaldi – História
Giuseppe e Anita Garibaldi
Admirada no Brasil e idolatrada na Itália, onde morreu há exatos 150 anos, a humilde jovem lagunense Ana Maria de Jesus Ribeiro, conhecida como Aninha do Bentão, uniu-se a um revolucionário, foi soldado, enfermeira, esposa e mãe. Em todos os papéis, sua batalha sempre foi travada em nome da liberdade e da justiça. Tornou-se assim Anita Garibaldi, a “Heroína dos Dois Mundos”
Aninha vai bem e manda um abraço a todos, 150 anos após a sua morte. Ela está apreensiva, mas de consciência tranqüila, e não guarda rancores pelo que foi dito sobre ela ao longo de todos esses anos. Acompanhando os acontecimentos lá de cima, aguarda o momento de finalmente descansar em paz. Apesar de não ter aprendido a ler ou escrever, seguramente sabe contar, havendo contabilizado um saldo positivo a seu favor ao operar o balanço. Mas nem sempre o fiel ascendeu. Em alguns momentos ele foi lá embaixo, permanecendo algumas ocasiões sob o tapete.
Por volta de 1918 aconteceu uma. “José Boiteux, que foi um dos grandes historiadores nacionais, um dia se deu a procurar, para os lados do Rincão, a casa em que habitara. Bateu palma e, atendido por uma velha, teve aquela decepção que o povo sabe.
Aquilo era um bordel e quem o atendera, uma exploradora de mulheres, lhe fez ver a Anita bem diferente da outra, que agora residia ali: a ‘Anita das sete virgindades’.” O fato ocorreu em Laguna e foi relembrado pelo jornal “Correio do Sul”, no dia 10 de julho de 1949, pouco antes das comemorações dos cem anos da sua morte.
Quando se discutiu na Constituinte de 1934 a implantação do voto feminino no Brasil, alguém no plenário lembrou os feitos de Anita Garibaldi como heroína, usando o argumento em favor da proposta. Em aparte, o deputado de Santa Catarina, Arão Rebelo, fez umas “referências apressadas e de nenhuma consistência histórica sobre Anita Garibaldi, recusando-lhe certas condições à intangibilidade física da Heroína dos Dois Mundos, catarinense de nascimento”, relata o advogado Renato Barbosa.
O “Diário da Tarde” de 29 de julho de 1939 lembrou que “um arrebatado orador, deputado à Constituinte, teve essa exclamação pesada, forte, insultuosa: ‘Anita Garibaldi foi uma vagabunda'”. Segundo o mesmo jornal, o parlamentar foi “imediatamente aparteado, pedindo a bancada paulista, pela voz de seu líder, que ele repetisse o que dissera. O deputado em questão desculpou-se todo, e deu todas as satisfações que lhe foram exigidas”. Acusações desse tipo foram freqüentes ao longo de décadas. O radialista Evaldo Bento, descendente da heroína, recordou certa vez que “minha avó, ao ouvir o nome dela, ia logo dizendo que ‘essa Anita que eles falam aí é a Aninha, aquela vagabunda'”.
Aninha deve suspirar fundo e dar de ombros ao repassar tudo isso mentalmente.
Consola-se com o brilho dos que saíram em sua defesa, como o citado “Diário da Tarde” de 29 de julho de 1939, ao assinalar: “Queiram ou não os moralistas severos da História – foi uma heroína cuja memória não será esquecida. Se a gente vasculhar a vida particular de muitos heróis emedalhados, possivelmente encontraremos nele muita roupa suja”. Wolfgang Rau, por exemplo, insurgiu-se “contra os que, há mais de cem anos”, lançaram “as sementes de umas tantas restrições, irreverências e contraversões à personalidade de Anita e não dissimulam sequer sua intenção maldosa e inglória de sombrear-lhe o nome e os feitos”.
Citando Dante de Mello em seu “A Verdade sobre ‘Os Sertões'”, Rau ataca os “falastrões banais de esquina”, de “parolagem fácil e inconseqüente, fazendo estendal da própria sandice contraditória – como os brutos que pateiam no próprio estrume -, contra a papagaiação que pretende suprir o exato conhecimento dos fatos e, também, contra os hipócritas que nos contradizem, com ênfase, entre um cigarro e uma informação futebolística”.
Na introdução ao precioso “Anita Garibaldi – Uma Heroína Brasileira”, de Wolfgang Rau, Oswaldo Rodrigues Cabral critica os “historiadores ufanistas”, que procuram encontrar uma “justificativa para o ato de Ana de Jesus abandonar o marido e atirar-se nos braços de Garibaldi”. Acha que não faz sentido pensar “que para ser uma heroína, para se ter ingresso na imortalidade, para se figurar no Panteão da História, é imprescindível atestado de boa conduta, folha corrida, carta e antecedentes ideológicos, atestado de vacina, CPF e outros documentos que nos situam no tempo e no espaço, a nós simples mortais, que figuramos do lado de cá da aurora boreal da glória”.
Estes, segundo Cabral, “imaginam que o esplendor da imortalidade fica embaciado por falta do cumprimento de certas regras que marcam, na planície, o nosso comportamento de cada dia. Nada disto! É preciso que se diga que há muita santa venerada nos altares cujo pecado se não foi o de Anita, talvez tivesse sido muito pior… E que, para ser santa, não se lhe exigiu mais do que a coragem da fé, a bravura do martírio ou a penitência do arrependimento… Anita deixou o marido, abandonou-o porque se apaixonou pelo aventureiro de bela estampa, audaz, que lhe prometia (e lhe deu…) uma vida fora da obscuridade da Carniça ou do Passo da Barra. E está acabado o assunto”.
Uma grande paixão arrastou Aninha de Laguna. Ela seguiu Garibaldi, a quem conheceu em 1839, vivendo um romance que durou até a sua morte, dez anos depois, em 4 de agosto de 1849, em Mandriole, Itália. Aninha começou a virar Anita quando Garibaldi a conduziu triunfalmente por meia Itália para o túmulo em Nice. Foi quando se recordou sobretudo sua bravura militar nas batalhas de Imbituba e da Barra, a fuga espetacular na serra catarinense e na pequena São Simão gaúcha, a dedicação como mãe e sobretudo o profundo amor pelo marido, fatores que a transformaram em mito. Anita foi símbolo da Unificação Italiana. Seu nome foi “glorificado” para servir aos interesses do posivitivismo após a proclamação da República no Brasil.
A lagunense continua atenta. Nas décadas de 30 e 40 o mito serviu aos interesses no fascismo na Itália, no Brasil tinha a imagem usada pelo integralismo direitista, enquanto muitos núcleos do Partido Comunista se denominavam Anita Garibaldi, nome que foi dado à primeira filha do lendário Luís Carlos Prestes. Tudo isso simultaneamente. Tanto ecletismo talvez a incomode. Mas isso não desvia a sua atenção para o alarido sobre onde deverá, afinal, descansar em paz – se na ilha de Caprera, junto a Garibaldi, em Laguna, para onde falam em levá-la, ou onde está, no Gianícolo, em Roma.
Municípios disputam cidadã ilustre
Diferentes estudos indicam que Anita Garibaldi pode ter nascido em Laguna, Tubarão ou Lages. Certeza, entretanto, ninguém tem, mas a primeira versão é a mais difundida.
As polêmicas sobre o local e data de nascimento de Anita Garibaldi começaram há quase um século, alimentando o mito ao longo das décadas e mantendo o nome da heroína no noticiário. Até o final do século passado havia um consenso entre os historiadores – destacando-se Henrique Boiteux e mesmo Virgílio Várzea, em seus primeiros escritos sobre o tema – de que ela havia nascido na localidade de Mirim, hoje pertencente a Imbituba, na época sob jurisdição de Laguna.
Quando escreveu “Garibaldi na América”, em 1902, Várzea pediu a ajuda de “um amigo de Tubarão, que pediu a outro amigo para ajudar, e este localizou um senhor com mais de 90 anos de idade, Anacleto Bittencourt. Este senhor Anacleto disse haver conhecido Anita ainda pequena, em Morrinhos de Tubarão, onde ela também teria nascido”, explica o pesquisador lagunense Antônio Carlos Marega. Essa possibilidade ganhou um reforço importante por volta de 1911, com o depoimento de Maria Fortunata da Conceição, a dona Licota, que teria vivido até os 120 anos.
A versão foi colhida por José Luís Martins Colaço, filho do coronel João Luís Collaço, “prestigioso chefe político tubaronense”, segundo Walter Zumblick, sendo publicada inicialmente no jornal “Folha do Comércio” (agosto de 1911) e transcrito na revista “Poliantéa” (7 de maio de 1936), comemorativa ao centenário de Tubarão. Segundo Licota, Anita teria nascido em Morrinhos de Tubarão, nas margens do rio Seco, um braço do rio Tubarão. Esse foi “o local onde a família de Bento Ribeiro da Silva sempre residiu”, diz Zumblick, após ter vindo de Lages, onde se casara e residira algum tempo.
O aparecimento de Licota estabeleceu um divisor de águas, dando origem às polêmicas que periodicamente ressurgem entre Laguna (Mirim) e Tubarão (Morrinhos). Com base em documentos sabe-se que Bento Ribeiro da Silva, pai de Anita, era tropeiro, natural de São José dos Pinhais, filho de Manoel Colaço e Ângela Maria, tendo se casado em 13 de junho de 1815, em Lages, com Maria Antônia de Jesus, nascida em 12 de junho de 1788, filha de Salvador Antunes (natural de Sorocaba) e Quitéria Maria Soiza (lagunense). Ao todo o casal teve nove filhos.
Quando o escritor Wolfgang Rau publicou os primeiros resultados das suas pesquisas, surgiram revelações que alimentaram mais polêmicas. A localização pelo pesquisador dos registros de batismo de quase todos os irmãos de Anita encorajou o pesquisador lageano Licurgo Costa a publicar uma terceira versão do local de nascimento da heroína.
Além de citar depoimentos ouvidos na infância, apegou-se a um detalhe importante: a irmã mais velha de Anita foi registrada em Laguna em 1º de novembro de 1816, não havendo registros das seguintes, Manoela e Anita. Os dois irmãos posteriores, Manoel e Sissília, foram registrados em Lages (1822 e 1824) e os demais em Laguna. Ana Maria nasceu em 1821.
Socorro
Essas revelações reforçaram o que contava Francisco Correia, na casa de quem Anita pernoitou em janeiro de 1840, quando fugiu da prisão em Curitibanos e estava à procura de Garibaldi. Segundo ele, Anita afirmou na ocasião “ser filha de mãe lageana, que o pai era fazendeiro, no Tributo, e que nascera numa fazenda chamada Socorro, para as bandas da serra Geral. Diante deste testemunho, no tempo em que ainda não se discutia qual era o lugar de nascimento de Anita, parece-nos esclarecido um assunto que tem dado margem a tanta celeuma”, diz Licurgo Costa. Correia narrou esses fatos à avó de Licurgo diversas vezes.
Outro depoimento citado pelo mesmo escritor é o de Ezírio Rodrigues Nunes, nascido em 1822 e falecido aos 94 anos, em 1916. Sua neta, Maria Palma de Haro, esposa de Martinho de Haro, dizia que Ezírio “muitas vezes contou que uma de suas companheiras de brinquedos e travessuras, na fazenda de Nossa Senhora do Socorro, onde ambos nasceram, foi Anita Garibaldi, que então era conhecida como Aninha do Bentão”. Acrescentava que “ele, Ezírio, nascera no ano da independência do Brasil – 1822 – e que Anita era um ano mais velha que ele, tendo, pois, nascido em 1821”.
Licurgo reforça sua tese revelando que Dom Joaquim Domingues de Oliveira, “alguns anos antes de falecer, se comprometera a fazer uma conferência sobre Anita. E, como tinha gosto pelos assuntos históricos, meteu mãos à obra e começou a pesquisar os arquivos de sua diocese e outras fontes.
Um dia, com o trabalho já quase pronto, comentou para seu secretário que não poderia fazer a conferência: uma revelação que obtivera poderia ‘causar atritos muito desagradáveis em Santa Catarina’. E cancelou a conferência”. O escritor lageano, contudo, reconhece que foi em Laguna que Anita “se destacou para o mundo”.
Parentes ainda moram em Imbituba
Saul Ulysséa e Ruben Ulysséa, assim como o pesquisador Salum Nacif, lagunenses, sustentam argumentos em favor da tese do nascimento de Anita em Mirim, onde também existe uma localidade chamada Morrinho. Bento Ribeiro da Silva teria procurado esse local para morar – vindo de Lages – por causa da presença de parentes seus, os Machado de Sousa. “Todos os velhos moradores em Mirim que conheci em 1876 não tinham a menor dúvida de que Anita ali nascera”, destaca Saul em “Coisas Velhas”, lançado em 1946.
João Fraga, morador de Laguna e sobrinho de Anita, “afirmava com energia que tanto sua mãe como sua tia Anita haviam nascido em Morrinho do Mirim”, destaca Saul Ulysséa. Um “velho muito estimado em Laguna”, Joaquim Maria da Silva, morador de Mirim, afirmava ter conhecido a casa onde Anita nasceu. Clemente José da Silva Pacheco, negociante em Mirim e chefe do Partido Liberal – “de muito prestígio e que dispunha ali da maioria do eleitorado” – também é citado por Saul como testemunha da sua tese. Um filho de Clemente, Júlio Pacheco, “conta que conheceu muitos velhos em Mirim que conheceram Anita muito pequena, antes de sua família se mudar para Morrinhos de Tubarão”.
Ruben Ulysséa repete em 1949 os argumentos de Saul, acrescentando que Bentão viera de Lages se estabelecer com “lavoura e criação” em Mirim. Cerca de seis anos depois teria nascido Anita, “na casinha onde moravam seus pais”. Os depoimentos colhidos pelos Ulysséa e Salum Nacif da tradição oral ainda são repetidos em Mirim. “O pai de Anita tinha parentes aqui. Desde pequeno ouço dos mais velhos que ela nasceu aqui”, conta o comerciante mais antigo do lugar, Jairo Cardoso, 75 anos de idade. “Como os negócios dele não iam bem, acabou se mudando para Morrinhos de Tubarão”, destaca.
Ele afirma ter ouvido de Joaquim Ezequiel Pacheco que a mãe deste foi madrinha de batizado de Anita, o que teria ocorrido na igreja de Vila Nova, próximo de Mirim e também no município de Imbituba. “O Álvaro, filho do Clemente Pacheco citado por Saul Ulysséa, costumava nos contar, quando eu ainda era criança, que Anita nasceu no Morrinhos daqui”, acrescenta Jairo Cardoso, fazendo questão de mostrar o local onde, “diziam os mais velhos”, teria existido a casa onde Anita nasceu. O sítio indicado fica junto à antiga estrada estadual que ligava Laguna à Capital, coberto por um denso e descuidado bananal.
Próximo dali reside a família Machado. “Uma neta da Anita que esteve aqui em 1970 queria colocar uma placa aí na frente, indicando o local de nascimento, mas o meu marido não quis, pois ia haver muito ajuntamento”, afirma Dona Renê Dautd Machado, 83 anos. Sua sobrinha, Isabel Terezinha Machado, 31, afirma que “o nosso parentesco com ela é muito comentado na família”, destaca. Nas proximidades existe uma fonte usada para a lavação de roupa, “onde Anita foi procurar a sua madrinha antes de viajar com Garibaldi”, acrescenta Isabel.
Naturalidade
Neto de João e filho de Pedro, Vilmar Pedro Machado, um pedreiro com 35 anos de idade, recorda as palavras do avô, repetidas pelo pai. “Eles diziam que Anita nasceu aqui por perto e que éramos parentes dela. Falavam isso com muita naturalidade. Era uma coisa normal”, assinala. O comerciante Jairo Cardoso acha que o silêncio dos descendentes de Anita, durante décadas seguidas, deve-se ao fato de serem pessoas simples. “Os Machado, por exemplo, são lavradores, desconfiados, ressabiados e temerosos de que estejam querendo tomar as terras deles”, interpreta.
A descoberta recente de um documento no Museu Anita Garibaldi, em Laguna, reforçou a tese do nascimento da heroína em Mirim. A descoberta foi feita pelo pesquisador Amadio Vetoretti, do Arquivo Histórico de Tubarão, que, ao folhear o livro de “Querelas” de 1815 a 1830 de Laguna, encontrou e registro de um auto que dá João da Costa Coimbra contra Bento Ribeiro da Silva. O querelante acusa o pai de Anita de atacá-lo com uma faca, em 1822, na região de Morrinhos de Tubarão, na época pertencente a Laguna. Como Anita nasceu em 1821, a presença de Bentão no local no ano seguinte serviria como confirmação da versão de que ela também nascera ali.
O pesquisador lagunense Antônio Carlos Marega, que abrira as portas do museu a Vetoretti, ficou intrigado e resolveu investigar melhor a descoberta. Constatou, depois de muito trabalho, que o documento não era de 1821, mas de 1826, o que veio reforçar a tese do nascimento em Mirim, onde Anita teria residido até 4 ou 5 anos de idade, quando a família se mudou para Morrinhos de Tubarão. Ainda menina Anita teria feito amizade com Licota, levando essa última a acreditar, dezenas de anos mais tarde, que a heroína também teria nascido ali. Tudo isso se encaixaria perfeitamente, não fossem a versão e os argumentos levantados por Licurgo Costa de que Anita nasceu em Lages.
Itália adotou primeiro versão sobre Tubarão
A versão do nascimento de Anita Garibaldi em Morrinhos de Tubarão foi a que prevaleceu junto ao governo da Itália, sob o regime de Benito Mussolini, ao ser escolhido em 1932 o local para a colocação de um monumento, constituído de um morro de granito e uma placa, fundida em Turim, com um canhão que teria pertencido ao Seival, na base. Em 23 de junho de 1937 o Batalhão Escola de Tubarão colocou outra placa junto à primeira, reforçando em Tubarão a intenção de vincular o nome de Anita ao da cidade. Em 1985 o artista plástico Willy Zumblick construiu um mural com a imagem de Anita e Giuseppe Garibaldi numa fonte, dando maior destaque ao monumento.
Quem mais se preocupa com ele é dona Elza da Silva, natural de São Martinho, viúva há 22 anos e desde a década de 1960 residindo no local. Conforme a administração municipal o monumento recebe maior ou menor carinho. Quando não existem cuidados, “o mato acaba tomando conta e eu é quem tenho que cortar”, explica dona Elza. Na enchente de 1974 em Tubarão, o marco de Anita foi o único ponto, num raio de muitos quilômetros quadrados, a permanecer fora da água. “Depois que a cheia terminou tive que tirar todo o barro”, complementa a viúva.
Ela guarda com carinho um livro do escritor Wofgang Rau, não mostrando-o a ninguém. A senhora sabe quem foi Anita? “Se eu sei? Foi uma guerrilheira”, responde, acostumada a receber turistas, curiosos e pesquisadores. “Não é todo dia que aparece gente, mas sempre tem alguém visitando, principalmente gente de fora”, observa.
Homenagens
Na região onde a heroína pode haver nascido, ou pelo menos passado a infância, existem várias referências a ela, como a denominação de Anita Garibaldi dada ao bairro em 1906. No futebol é lembrada com um time e na parte social através do clube Garibaldino. A cooperativa de eletrificação que leva seu nome existe desde 1966. Em outros pontos de Tubarão também existem homenagens, como o aeroporto inaugurado em 1951 pelo então governador Aderbal Ramos da Silva. Na ocasião foi instalada no aeroporto uma herma da heroína, em bronze, do artista italiano Amleto Sammarco, doada pela empresa Irmãos Amin. Com a desativação do aeroporto a imagem foi transferida para a praça Osvaldo Pinto da Veiga, onde permaneceu por muito tempo até desaparecer há três anos, sendo reencontrada em 1998.
Vínculo
Dois importantes personagens contribuíram para consolidar o vínculo entre Anita Garibaldi e a cidade de Tubarão: os irmãos Walter e Willy Zumblick.
Enquanto o primeiro pesquisou, escreveu artigos e lançou em 1980 o livro “Aninha do Bentão” (obra que está sendo reeditada), o segundo tratou de visualizar em telas os principais momentos da vida e das lutas de Anita. Hoje existe um projeto de desapropriação de toda a área do sítio onde Anita teria nascido em Morrinhos (Tubarão), num total de 52.240 metros quadrados, com “lagos, trapiche, bosques, churrasqueiras, jardins, palco, estacionamento, área coberta de 400 metros quadrados, museu, lanchonete e sanitários, enfim, um grande parque temático”, explica o atual secretário de Indústria e Turismo, Roberto Tournier. O custo previsto do projeto é de R$ 322 mil.
Nesse espaço, o visitante poderá conferir uma galeria de telas do pintor Willy Zumblick, visualizando os principais momentos da vida de Anita. Também vão existir mapas, livros, quadro genealógico da heroína e seus parentes, fôlderes e outros materiais, além da construção de uma casa de pau-a-pique, coberta de palha e piso de chão batido. Ela será decorada com mobília rudimentar – cama, catre, baú, mesa tosca e bancos, cozinha com fogão e trempe, algumas panelas e colheres. Existirá também um poço, um forno de tijolos e privada externa. Na frente do lote, Zumblick vai erguer um monumento. Está sendo pensada a execução de um réplica do monumento a Anita existente no Gianícolo, em Roma.
Matrimônio com sapateiro não rende frutos
União com o desterrense Manoel Duarte de Aguiar, em agosto de 1835, não trouxe filhos nem alegrias para Aninha. Infeliz, não hesitou em acompanhar sua grande paixão
No dia 30 de agosto de 1835, Aninha vestiu uma saia de filó azul-claro com pregas e muito rodada, cheia de tiras escuras, estreitas e estampadas de espaço em espaço. Entre as tiras havia uns pontinhos bordados e retrós preto mercerisado. O corpete da mesma fazenda era guarnecido de barbatanas formando um bico na frente, mangas compridas com um grande fofo nos ombros. Calçou os sapatos de camurça branca, simples, lisos, cada um com um tufozinho de seda branca na frente e salto não muito alto e redondo.
Depois de estar vestida, Aninha dirigiu-se à Igreja Matriz de Laguna, onde se casou com Manoel Duarte de Aguiar, um sapateiro nascido na Barra da Lagoa ou Ingleses, em Desterro, hoje Florianópolis. O registro encontra-se no Livro de Casamentos de 1832 a 1844 da mesma igreja, assinado pelo padre Manuel Francisco Ferreira Cruz, atualmente sob os cuidados do Arquivo Episcopal de Tubarão.
As razões para o fracasso do casamento, apontadas pelos que escreveram sobre Anita, são diversas e muitas delas destinadas a justificar o fato de haver deixado Manoel Duarte para ficar com Giuseppe Garibaldi. A conclusão mais razoável é a de Wolfgang Rau. Primeiro, ela foi “gravemente negligenciada e mesmo abandonada por seu primeiro marido”. Segundo, porque Manoel, “após o casamento, continuou com seu trabalho, limitado a bater solas, gostar de cachorros e de pescarias noturnas. Dificilmente se lhe via um sorriso; acanhado com as pessoas estranhas, provia, metódico e organizado, o difícil pão de cada dia”.
Com o passar do tempo, ainda segundo Rau, o marido de Aninha passou a “demonstrar em casa o seu caráter conservador e ciumento. Avesso às mudanças de situação, era reacionário a todas as novidades. Viu-se, pois, Aninha trancada entre paredes, levando vida apagada e monótona, sem ao menos ter com quem expandir suas idéias ou a quem relatar seus sonhos, originados de exaltada imaginação, em procura permanente de horizontes mais dilatados. Em breve, compreendeu não estar realizada ao lado do pacato marido, o qual não lhe confirmou, sequer, fecundidade”.
Introvertido, “era de todo e por tudo inadequado para esposo de Anita; passado o primeiro momento de vida em comum, revelou-se aos dois o erro desse matrimônio omisso de maturidade. Sem filhos e sem alegrias partilhadas, veio a ficar-lhes apenas o arrependimento de terem casado”. Em resumo, um casamento “falho de prazer e de fruto”, complementa Rau.
Detalhe
Autores como Henrique Boiteux e Leite de Castro, os primeiros a escrever sobre Anita no início do século, omitiram o detalhe do primeiro casamento. Outros, como Valentim Valente e Wolfgang Rau, foram bem mais adiante. “Garibaldi sempre foi reticente com referência ao estado civil de Aninha ao conhecê-la, e isso induziu Alexandre Dumas e autores brasileiros e italianos a perfilharem a versão errônea de que era solteira (e o pai, ‘ferrenho imperialista’, teria tentado impedir o namoro)”, assinala Valente.
Rau acrescenta que “Garibaldi, e mais tarde os seus próprios filhos, ocultaram obstinadamente o fato de ter sido Anita casada em primeiras núpcias com Manoel Duarte”. Em 1970, quando Rau conheceu pessoalmente uma neta de Anita, Giuseppina Garibaldi Ziluca, filha do general Ricciotti, citou o primeiro casamento, tendo ouvido um “mas não pode ser, meu pai nunca nos falou nisso!”
Versões
O destino de Manoel Duarte, depois que Aninha e Garibaldi se conheceram, não foi esclarecido até hoje, existindo diversas versões. Uns, como Rau, dizem que foi convocado para a Guarda Nacional, tendo se retirado da vila com as tropas legalistas, diante da vitória das forças rebeldes em Laguna. O mesmo autor ouviu de uma parente de Anita pelo lado materno (Leopoldina Antunes Dalsasso) que tanto o marido Manoel Duarte quando seu pai, Bentão, estariam “entrevados e de cama” na ocasião da chegada dos revolucionários farroupilhas. Também existe a versão de que Duarte morreu doente num hospital em Laguna.
De todas elas, a versão mais intrigante é a que foi localizada pelo arcebispo Dom Joaquim Domingues de Oliveira, escrita por Taciano Barreto do Nascimento, bisneto do tio do primeiro marido, antigo inspetor escolar. Num documento datado de 6 de junho de 1935, analisado por Rau e por Licurgo Costa, são feitas algumas revelações supreendentes. “Segundo informações que tive de dona Lucinda Duarte, viúva de José Duarte, tio do meu pai, Manoel Duarte, marido de Anita, era sobrinho e filho de criação de João Duarte, avô de meu pai’.”
O mesmo Taciano informa que Anita, “ao casar-se com seu distante parente Manoel Duarte, fora morar na casa do seu bisavô, o referido João Duarte, no morro da Barra, em frente ao ancoradouro dos navios farroupilhas”. Lá, “Garibaldi logo travou relações com João Duarte, sendo freqüentador da casa onde morava também Anita e seu marido”, que teria sido “preso pelos soldados de Garibaldi e este apossou-se de Anita, com quem já andava de amores na própria casa de João Duarte, o qual ao saber do desaparecimento do sobrinho pediu a Garibaldi que o mandasse soltar”.
Vingança
O italiano teria prometido soltá-lo mas, segundo depoimento de dona Lucinda a Taciano, mas “parecia” que os soldados farroupilhas “o haviam matado”. Mas, também se dizia que Manoel Duarte fora efetivamente solto e, por vingança – “esta será a versão mais aceitável”, segundo Licurgo – se alistara nas tropas imperiais. “Garibaldi então levou Anita para uma moradia no lugar denominado Rincão, bairro de Laguna, onde passaram a viver juntos”, segundo o descendente de Manoel Duarte. O pesquisador Wolfgang Rau também considera essa hipótese a mais aceitável.
Segundo Oswaldo Rodrigues Cabral, o fato de Aninha haver rompido o primeiro casamento “não causou escândalo extraordinário na Laguna. Ana era moça humilde, que não freqüentava a sociedade local mais classificada”, assinala. “Evidentemente”, completa, “provocou comentários, pois era mais uma das provas do comportamento reprovável dos revolucionários, cuja soldadesca não só submetia a população a maus tratos e vexames, como seus próprios chefes seduziam e furtavam dos lares mulheres inexperientes e crédulas.”
Caráter era “independente e resoluto”
Mesmo os historiadores que defendem a tese do nascimento da heroína Anita Garibaldi em Morrinhos de Mirim (hoje Imbituba) concordam que ela viveu quase toda a infância e pré-adolescência em Morrinhos de Tubarão, onde teria chegado com 4 ou 5 anos de idade, por volta de 1825 ou 1826. Pouco tempo depois seu pai, Bentão, morreu em circunstâncias não esclarecidas, não tendo sido ainda localizado o atestado de óbito.
“Desde cedo ela revelou caráter independente e resoluto e uma singular firmeza de atitudes. Além disso muito amor-próprio e a coragem e a energia que certamente herdara do pai. Não tolerava certas liberalidades, naqueles tempos de rígidos costumes. O seu temperamento levava-a, por vezes, a atitudes que causavam sérios desgostos à atribulada mãe”, conta Ruben Ulysséa.
Uma rixa “causada pela menina” fez com que a viúva se mudasse para o lugar denominado Carniça, hoje Campos Verdes, nas proximidades do Farol de Santa Marta. Em 1935 já estava em Laguna, morando na antiga rua do Rincão, hoje Fernando Machado, numa casa ainda existente e há até pouco tempo com o número 25, hoje sem a plaquinha e abrigando uma loja de R$ 1,99. Segundo Saul Ulysséa, existia no local “uma série de pequenas casas baixas”. Na terceira “morou Ana de Jesus Ribeiro (Anita Garibaldi) com sua mãe”.
Esta informação, de acordo com Saul Ulysséa, “é segura e prestada por dona Ana Torres Guimarães, senhora respeitável, esposa do comendador e tenente-coronel João José de Sousa Guimarães”, moradora da antiga rua da Igreja, hoje Jerônimo Coelho. “O quintal de sua residência tinha um portão para a rua do Rincão, fronteiro à casa onde morava Anita com sua mãe. Ouvi dona Ana contar que seguidamente conversava com Anita”, assinala. Eram “muito pobres”, complementa Ulysséa.
“Virgem criatura, tu serás minha!”
Segundo versão do próprio Giuseppe Garibaldi, essa teria sido sua exclamação ao vislumbrar a então casada – e infeliz – Aninha, na Barra de Laguna
O primeiro encontro entre Aninha e Giuseppe pode ter acontecido de várias formas, segundo as diferentes versões. Garibaldi diz nas “Memórias”, que estava a bordo de uma embarcação, na Barra de Laguna, desanimado, solitário, pensando nos amigos que perdera no naufrágio em Campo Bom, carecendo de “uma presença feminina”. Foi quando dirigiu o “olhar à ribeira”, onde no morro da Barra pôde ver “as belas jovens ocupadas nos seus diversos afazeres domésticos.
Uma delas atraía-me mais especialmente que as outras…”
Garibaldi desembarcou e caminhou na direção da casa “sobre a qual havia já algum tempo fixara-se toda a minha atenção”. O coração “disparava”, encerrando “uma dessas resoluções que jamais esmorecem. Um homem (eu já o avistara) convidou-me a entrar”.
Deparou-se então com Aninha e pronunciou a famosa frase: “Virgem criatura, tu serás minha!” O próprio Alexandre Dumas, a quem Giuseppe ditou anos mais tarde as “Memórias”, anotou que “esta passagem é intencionalmente coberta pelo véu de um enigma”.
Virgílio Várzea, em texto de 1919, diz que do tombadilho do navio, na Barra, “chamou-lhe vivamente a atenção uma moça alta que, à porta de uma choupana, parecia aflita e a chorar. Preocupado com o que teria sucedido à pobre criatura, mandou guarnecer um escaler e largou para a praia. Aí chegando dirigiu-se à moça, perguntou-lhe o que tinha. Ela explicou-lhe, por entre lágrimas, que estava com o marido de cama e muito mal das febres”, assinala.
Por causa disso, Garibaldi “propôs-lhe levar o esposo a tratar-se no hospital de sangue que os republicanos tinham estabelecido na Laguna. Aceitou, mas sob condição de acompanhar ela ao doente, o que foi deferido”, sendo Manoel transportado. “No hospital transformou-se a moça na melhor das enfermeiras, não só ocupando-se carinhosamente do marido como dos numerosos feridos dos últimos combates que aí se achavam em tratamento. Enquanto dias depois o esposo falecia. Embora esmagada por esse golpe, ela continuou a desvelar-se pelos demais enfermos com admiração e alegria geral de todos.”
Nas manhãs seguintes, alegando visita a “seus marinheiros feridos”, Garibaldi demorava-se “longo tempo a conversar com a enfermeira, a quem, sem saber como nem porque, se sentia preso de grande simpatia desde o primeiro momento em que a viu. Ela, a seu turno, experimentava o mesmo sentimento por ele. Era o começo de uma grande e mútua paixão”.
A terceira possibilidade é levantada por Saul Ulysséa. “Conta a tradição que Garibaldi com ela se encontrara no lugar Figueirinha”, onde funcionou durante muitos anos o Fórum de Laguna, próximo do Hospital de Caridade. “Existia naquele local muitas fontes de lavagem de roupa, não sendo de duvidar que Anita ali estivesse para a lavagem de sua roupa e de sua mãe.” Todas essas versões, com derivações e mesmo fusões entre elas, alimentam permanentemente o mito, fornecendo matéria-prima a projetos de ficção (artes) e de resgate histórico da personagem.
Lua-de-mel foi em combate
Anita tinha apenas 18 anos quando participou do primeiro combate. Ela e Garibaldi deixaram Laguna no dia 20 de setembro de 1839, numa viagem que seria a de sua lua-de-mel. Com uma frota de três embarcações, seguiram até a altura de Santos (SP), onde investiram contra uma corveta imperial, passando na seqüência a ser perseguidos por uma esquadra. De volta ao Sul, buscaram abrigo nas enseadas que recortam o litoral catarinense, onde encontram duas sumacas carregadas de arroz, que foram capturadas.
Na altura da Ilha de Santa Catarina travam combate com os ocupantes do navio imperial Andorinha. Uma forte ventania causa a perda de uma das embarcações rebeldes, a Caçapava, restando o Seival e o Rio Pardo, com os quais penetram na enseada de Imbituba, onde Giuseppe organiza a defesa. O Seival é deixado na praia e seu canhão colocado sobre uma elevação, sob os cuidados do artilheiro Manuel Rodrigues. Na ocasião, Garibaldi tenta convencer Anita a desembarcar, mas ela resiste e não aceita. Quer ficar ao lado dele, não importa o que aconteça.
A batalha começou no amanhecer do dia 4 de novembro de 1839. “O inimigo, favorecido em sua manobra pelo vento”, avança “em bordejos e torpedeando-nos com ferocidade”, recorda Giuseppe, a bordo do Rio Pardo. “De nossa parte, combatíamos com a mais obstinada determinação, atacando de uma distância suficientemente curta para que pudéssemos nos valer das carabinas. O fogo, de ambas as partes, era dos mais assoladores”, complementa.
Começaram a se acumular “cadáveres e corpos mutilados”, cobrindo a ponte da escuna crivada de balas e com a mastreação avariada. “Estávamos determinados a resistir, sem rendição, até que o último de nós tombasse”, amparados “pela imagem da amazona brasileira que tínhamos a bordo”, armada com uma carabina, engajada no combate. Seguiram-se cinco horas de muita tensão, gritos desesperados, disparos e estrondos de canhões, até que os imperiais bateram em retirada, com um comandante baleado.
Henrique Boiteux não economiza adjetivos ao descrever Anita, “de carabina em punho, impávida ao fogo, desprezando a morte, batendo-se como o mais valente, emprestando valor àqueles que desfaleciam, animada com as faces rubras, olhar em chamas e cabelos soltos ao vento, percorrendo a bateria em uma atividade febril, excitando a todos na defesa do estandarte, símbolo do ideal pelo qual se batiam”. A cena foi cantada em verso e prosa, servindo de inspiração para os artistas do lápis e do pincel, reproduzida nas capas de vários livros e publicações. Foi o batismo de fogo de Anita.
Nas “Memórias” que ditou a Alexandre Dumas, Garibaldi destacou o episódio. Enquanto “da ponte da escuna e com o sabre em punho, Anita encorajava os nossos homens, um petardo de canhão a derrubou, juntamente com dois dos nossos combatentes. Saltei sobre o seu posto, tomado pelo temor de nada mais encontrar além de um cadáver. Ela, porém, reergueu-se sã e salva. Os dois homens estavam mortos. Roguei-lhe então que descesse até o porão. ‘Sim, irei mesmo até lá – disse-me ela -, mas para tirar de lá os poltrões que nele se esconderam.’ Ela desceu e logo voltou, empurrando à sua frente dois ou três marujos, pejados por terem-se mostrado menos valentes que uma mulher”.
Bravura impressiona até o companheiro
Anita viveu três momentos distintos no combate ocorrido na Barra de Laguna, iniciado por volta do meio-dia de 15 de novembro de 1839, quando foi derrotada a experiência da República Catarinense. O comando da defesa ficou sob responsabilidade de Garibaldi, que posicionou seus navios num semi-círculo, dispondo uma linha de 300 atiradores em terra e seis canhões no Fortim do Atalaia, pelo lado Sul e na época bem próximo do canal. Ainda não havia o molhe de pedras, construído nas primeiras décadas deste século, nem o aterro. Cerca de 1,2 mil homens da infantaria rebelde estabeleceram-se nas margens do canal, aguardando o ataque legal.
A bordo do Itaparica, Anita pôde observar a chegada das forças adversárias, sob o comando do capitão-de-mar-de-guerra Frederico Mariath, compostas por 13 navios, com 300 praças de guarnição, 600 de abordagem e 33 bocas de fogo. Enquanto Garibaldi observava de uma colina o movimento da esquadra legal, Anita apontou o canhão e disparou o primeiro tiro, seguindo-se uma terrível batalha.
O segundo momento de Anita começa quando Garibaldi ordena que ela vá pedir reforços ao general Canabarro, estacionado nas imediações do Farol de Santa Marta. Anita cumpre a missão e retorna com ordens do comandante rebelde para retirar-se do combate e salvar armamentos e munições. Contrariado, já que pretendia incendiar a esquadra imperial, Garibaldi inicia a retirada, encarregando Anita de transportar os primeiros pertences, pretendendo com isso que ela ficasse a salvo no outro lado.
Mas ela voltou para o centro dos combates, dando continuidade a seu terceiro momento. Ela carregou o bote com armas e munições e o conduziu para o campo da Barra, gesto que repetiu cerca de 20 vezes seguidas, dando origem a diversas narrativas. Enquanto executava a missão, cruzava “sob o fogo inimigo dentro de uma pequena barca com dois remadores, dois pobres-diabos que se curvavam o quanto podiam para evitar balas e bombas. Ela, porém, de pé sobre a popa, no encruzamento dos tiros, surgia, ereta, calma e altaneira como uma estátua de Palas, recoberta pela sombra da mão que Deus naquelas horas pousava sobre mim”, escreveu Garibaldi. Palas, ou Minerva, foi a deusa mitológica das artes e da sabedoria.
Turbilhão
As forças estavam “separadas na distância máxima de quatro braças”, ou quase oito metros, segundo Boiteux, ocasionando “uma tempestade de balas, de fuzilaria e de metralha, enchendo os navios de ambos os partidos de ruína e de sangue”. Boiteux refere-se a um “turbilhão de fumo e fogo”. A “medonha e homérica luta só se atendia à precisão dos tiros, pois o crepitar da fuzilaria e ribombar dos canhões na sua afanosa missão destruidora abafava os gritos de dor dos mutilados, as imprecações raivosas dos atingidos, as vozes de manobras dos comandantes e oficiais pelejando estes mesmos com carabinas e pistolas”, assinala o historiador catarinense.
O depoimento do capitão-de-fragata J. E. Garcez Palha resume bem o cenário vivido por Anita. “Foi mais do que um combate, foi um turbilhão. Os navios avançaram com velocidade regular através de uma tempestade de balas, de fuzilaria e de metralha. Ao estampido incessante das armas misturavam-se os gritos dilaceradores dos feridos e moribundos, o sibilar do vento através do aparelho dos navios, o quebrar violento das vagas de encontro ao costado, e a voz dos comandantes e oficiais que animavam os marinheiros, pelejando eles mesmos com carabinas e pistolas.”
Na ordem do dia onde narrou a batalha, Mariath informou a existência de 17 mortos e 38 feridos legalistas. Em 1860, em artigo assinado no jornal “Correio Mercantil”, o militar corrigiu os números anteriores, falando em 51 mortos e 12 feridos. Não existe nenhuma estimativa do número de farroupilhas mortos no Combate da Barra.
Prisão e separaçãoem Curitibanos
Ponto a menos para Garibaldi: após batalha perdida para os legalistas, Anita é levada prisioneira e o companheiro segue para Lages, sem ao menos tentar resgatá-la
Quem conta uma história do ponto de vista de Anita Garibaldi e dos fatos com os quais ela se envolveu diretamente acaba recriminando o comportamento de Garibaldi nos acontecimentos que se seguiram ao Combate de Marombas, no município de Curitibanos, na serra catarinense. Logo após a derrota republicana em 15 de novembro de 1839 em Laguna, Garibaldi, Anita e os demais farroupilhas – Canabarro, Teixeira Nunes – permaneceram acampados na Barra do Camacho durante cerca de uma semana.
Depois eles seguiram pela extensa praia sem nenhum costão até Torres, na fronteira com o Rio Grande do Sul, para onde seguiu Canabarro. Os demais homens, sob o comando de Teixeira Nunes, seguiram pelo atual município de Praia Grande em direção a Lages, refazendo o traçado do antigo Caminho dos Conventos. No dia 14 de dezembro de 1839 os revolucionários chegaram a Santa Vitória, junto ao rio Pelotas, onde se travou um combate com as forças do brigadeiro Francisco Xavier da Cunha, que acaba morrendo afogado.
Nessa vitória dos rebeldes Anita não pegou em armas, limitando-se a atuar como enfermeira, atendendo e consolando os feridos. Quatro dias depois eles chegam a Lages (ver texto à esquerda), onde mais tarde ficam sabendo da presença de forças legalistas em Campos Novos e Curitibanos. Tendo organizado uma tropa para enfrentar os homens do coronel Melo Albuquerque, Teixeira Nunes cavalga durante três dias, chegando a 1º de janeiro de 1840 nas proximidades do rio Marombas, lugar denominado campos da Forquilha, ou Capão da Mortandade.
Emboscada
Na verdade Teixeira Nunes estava sendo atraído para uma emboscada. “Submetendo-se a contragosto ao papel de simples espectadora”, conta Garibaldi, “e temendo que viessem a faltar cartuchos aos soldados”, Anita “provia o abastecimento das nossas munições. O fogo que éramos obrigados a fazer permitia de fato supor que, se estas não fossem repostas, em pouco tempo achariam-se esgotadas”. Diversas vezes ela se aproximou do local principal da fuzilaria. A certa altura foi surpreendida por quase 20 cavaleiros inimigos.
“Excelente amazona e montada num admirável ginete, Anita poderia ter disparado e escapado àqueles cavalarianos; porém, o seu peito de mulher encerrava um coração de heroína. Em lugar de fugir, ela tratou de exortar os nossos soldados a defenderem-se, achando-se de súbito rodeada pelos imperiais. Um homem rendeu-se. Ela cravou as esporas no ventre do seu cavalo e, arrojando-se vigorosamente, avançou por entre os inimigos, não recebendo senão uma única bala, que traspassou o seu chapéu, alteando-lhe os cabelos, mas sem roçar-lhe o crânio. Anita teria podido evadir-se se o seu animal não houvesse sido atingido por um segundo tiro”, descreve Garibaldi. Ela teve então que se render.
Nesse momento cada um foi para seu lado. Anita acabou conduzida perante o coronel Melo Albuquerque, enquanto Garibaldi se embrenhou na floresta e foi parar em Lages.
“Há no episódio”, assinala Licurgo Costa, “um aspecto desfavorável a Garibaldi: acompanhar as tropas retirantes sem fazer pelo menos uma tentativa de descobrir se Anita estava viva, onde estava e se era possível ir resgatá-la”. O ex-embaixador acrescenta haver tirado “de todos os documentos estudados uma impressão desfavorável do ‘condottieri'”.
Antes de haver seguido para Laguna, enquanto estava envolvido com os serviços no estaleiro rebelde, Garibaldi iniciara um romance com Manuela, sobrinha de Bento Gonçalves. Alguns autores levantam a possibilidade do italiano haver aproveitado o sumiço de Anita para poder rever a antiga namorada. Manuela esperou por ele. Tanto é que morreu, solteira, na cidade gaúcha de Pelotas, com idade bem avançada, sendo conhecida como “a noiva de Garibaldi”.
Sozinha, fugiu pela vegetação fechada
Quando foi levada à presença do coronel Melo Albuquerque, prisioneira, Anita estava “mal vestida e desgrenhada, com a voz embargada pelo ardor da peleja e por se ter afastado do marido. Sofria horrivelmente sem o demonstrar, porém, com gestos e palavras”, contou 20 anos depois a jovens alunos cadetes o próprio Albuquerque. “Nossa atitude diante dela era de admiração, pois jamais havíamos imaginado encontrar uma mulher tão valorosa, catarinense, compatriota nossa, dando ao mundo tão sublime prova de valor e intrepidez”, complementou o coronel.
Anita só pensava em Garibaldi. “Ela acreditava-me morto”, assinala o italiano. “Movida por essa idéia, rogou e obteve a permissão para ir procurar o meu corpo entre os cadáveres no campo de batalha.” Durante muito tempo ela vagou pela região onde havia sido travada a batalha, “volvendo entre os mortos aqueles que haviam tombado com o rosto contra o solo, como aqueles que, em suas vestes ou em suas estaturas, ela encontrava semelhança comigo”. Quando teve certeza que Garibaldi não estava morto, tratou de fugir. Aproveitando-se de um temporal, segundo alguns autores, ou de uma embriaguez coletiva, segundo outros, ou das duas circunstâncias, Anita esgueirou-se pelo acampamento inimigo e fugiu, auxiliada por uma mulher.
Uma vez livre, embrenhou-se na mata, sozinha, evitando os caminhos mais movimentados. “Só quem viu aquelas vastas florestas que envolvem os cimos do Espinilho – com os seus pinhos seculares que parecem destinados a escorar o céu e que são as colunas de um suntuoso templo da natureza, cujas lacunas povoam-se de gigantescos canaviais e onde fervilham animais e répteis cuja picada é fatal – poderá aquilatar os perigos que ela teve de correr e as dificuldades que teve de superar”, contou Garibaldi.
Entre os autores que descrevem esse momento da vida de Anita, o mais objetivo é Wolfgang Rau. Em algum ponto ela furtou o cavalo de um miliciano, com o qual prosseguiu a fuga, enfrentando diversos obstáculos, como o da travessia do rio Canoas, chegando a Lages. “Quatro cavaleiros, postados na passagem do rio Canoas, esquivaram-se à visão daquele vulto, despenhando-se atrás das moitas da riba. Enquanto isso, Anita alcançava a beira da torrente. A torrente, transbordada pelas chuvas, duplicada pelos ribeiros descendentes das montanhas, transformara-se num rio”, narra Garibaldi.
“Conta-se que quando chegou ao passo dos cabaçais no rio Canoas, ao escurecer, deparou com quatro guardas que, surpreendidos por aquele vulto de mulher, de cabelos soltos, com um pala branco esvoaçante, àquela hora, montada em pelo, tomaram-na por uma assombração e fugiram, espavoridos para o mato”, descreve o escritor Licurgo Costa.
“À noitinha do dia seguinte, exausta, desgrenhada, faminta”, conta o mesmo autor, “chegou a um rancho situado no lugar onde muitos anos mais tarde foi criada a sede do primitivo distrito de Correia Pinto, distante uns 20 quilômetros da vila de Lages. Ali vivia com esposa, filhos e uma cunhada solteira um farroupilha vindo do Rio Grande do Sul, foragido, de nome Correia”. Francisco Correia, filho desse farroupilha, contava essa passagem “com cores novelescas, comentários à margem e vários ‘suspenses'”.
Correia costumava começar dizendo que “já estava bem escuro quando ela bateu à porta. O pai estava ausente e a mãe e a tia se sobressaltaram, ninguém as procurava de noite e era tempo de revolução, ademais. Com grande cautela entreabriram a janela. Um vulto vestido de homem, desgrenhado, pediu pousada. Respondeu a tia que era a mais velha, que só tinham duas camas”, ao que, dizia o Chico Correia, Anita afirmou “que não fazia mal, que dormiria com ela. Indignada, porém, com receio daquela figura bizarra, que não conseguia divisar bem, retrucou-lhe que era uma senhora de bem e que não devia ser ofendida por uma pessoa a quem estava atendendo com tanta consideração”.
Seios
Acontece então a famosa cena em que Anita, “abrindo a camisa, mostra seus exuberantes seios para provar que era mulher”. Anita tinha uma voz bonita, “nem fina nem grossa, um tom meio rouco. Mas esclarecia que não era voz de homem, porém parecida. Daí também ser confundida, pelas senhoras, com um homem”, explica Licurgo.
Anita seguiu em frente. Os que pesquisaram a vida da heroína lagunense divergem em relação ao local do reencontro com Garibaldi. Um falam em Vacaria, no Rio Grande do Sul, outros que isso ocorreu em Lages, Santa Catarina.
O fato é que, quando Anita localizou os farroupilhas, Teixeira Nunes teria perguntado como ela conseguira chegar até ali, ao que ela respondeu: “Vim vindo, coronel!”
Em Lages, casal vive mês de tranqüilidade
Garibaldi e Anita passaram quase um mês em Lages, onde chegaram no dia 18 de dezembro de 1839. Viveram dias felizes e tranqüilos, tendo assistido à missa do galo na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, na noite do dia 24 para 25. Pela primeira vez os dois puderam conviver no interior de uma casa de verdade. Para alguns eles ocuparam uma casinha coberta com tabuinhas de pinho, como informa o pesquisador Wolfgang Rau.
Licurgo Costa dá outra versão. Eles teriam morado numa “pequena casa de adobe”. Segundo Fernando Athayde, citado por Costa, a casa era a mesma que, “por volta dos anos 1918 e 1919, pertencia ao doutor Antônio Antunes Ribas Filho, na então rua 15 de Novembro, atual Nereu Ramos, parede e meia com o sobrado do coronel Belisário Ramos, ainda hoje existente e correspondente ao número 199 da referida via pública. A casa do doutor Ribas Filho, de número 201, foi demolida na década de 1920. Quando Garibaldi e Anita nela moraram, o nome da via era rua de Cima”.
Escultura de Luzi di Rimini, em frente à Igreja de São Clemente, em Mandriole (onde o corpo de Anita esteve sepultado algum tempo), mostra imagem de Giuseppe Garibaldi carregando nos braços a mulher doente
Itália ergueu grandes monumentos
Quantidade de homenagens ao casal Garibaldi no país onde Anita morreu revela a profunda admiração dos italianos pela heroína brasileira
Aqui estão os restos mortais de Anita Garibaldi”, anuncia uma placa fixada no magnífico monumento com que o ditador Benito Mussolini decidiu homenagear a famosa lagunense, valendo-se de seu passado heróico para levantar os brios do povo italiano.
A localização privilegiada já indica o carinho que os italianos dedicam há anos a Anita Garibaldi. Está no Gianícolo, numa das sete colinas de Roma, na Piazza Anita Garibaldi, a 100 metros de um gigantesco pedestal construído em cimento que abriga a legendária figura de Giuseppe Garibaldi.
Naquele local, onde descortina-se uma bela paisagem do centro da capital italiana, travou-se uma das mais heróicas batalhas pela instauração da República em Roma. Garibaldi manteve o ponto estratégico com apenas 15 mil soldados, contra 65 mil dos inimigos franceses. Registrou-se ali um dos mais sangrentos combates do longo período pela implantação da República. É conhecido oficialmente como “Passegiata del Gianicolo”.
A área é inteiramente arborizada. Veículos circulam em grande quantidade durante todo o dia. Lanchonetes móveis representam um bom indicativo da presença constante de turistas nacionais e estrangeiros. As obras que se realizavam nas proximidades durante os meses de junho e de julho sinalizam para alguma restauração comemorativa aos 150 anos de morte da ilustre catarinense.
A inauguração do monumento foi um acontecimento político de grande repercussão em Roma. Mussolini providenciou, em primeiro lugar, a transferência dos restos mortais de Anita Garibaldi de Nice para a capital italiana. O pedido foi feito em 1930. Como o monumento não ficou concluído, autorizou a transferência de Nice para Gênova, o que ocorreu em 1931. A imprensa da época registra uma extraordinária afluência de público.
Os garibaldinos comemoram até hoje, enfatizando: “Foi o maior cortejo fúnebre da história da Itália”. As associações garibaldinas na Itália reproduzem em revistas, jornais e panfletos as fotos da célebre passeata.
A imensa escultura de bronze está colocada sobre um pedestal de alvenaria, medindo cerca de dez metros de largura e oito de altura. Sobre ele, uma mulher jovem montada no selim do cavalo a galope, patas dianteiras no ar. Com um revólver na mão direita e uma criança recém-nascida agarrada com a mão esquerda, junto ao peito, transmite uma imagem forte, até emocionante, mesclada de bravura e amor maternal. A obra, que levou dois anos para ser concluída, é de autoria do escultor Rutelli, avô do atual prefeito de Roma.
A base do monumento traz quatro outras esculturas em bronze escuro, fixadas nas laterais do pedestal. Uma delas retrata a célebre batalha do Capão da Mortandade, ocorrida no município de Curitibanos. Tem seis metros de largura e cinco de altura, numa reprodução da cena em que Anita Garibaldi fugiu da prisão, atravessando rios e florestas para reencontrar Giuseppe.
Uma placa de bronze na base marca a homenagem prestada há 64 anos pelos brasileiros: “A Anita Garibaldi o governo brasileiro, em comemoração ao centenário de Farrapos. 20-9-1935”.
Dois outros marcos históricos são lembrados pelos italianos para homenagear Anita Garibaldi. Um deles, também com uma concepção dramática, é representado pela cena de Anita às vésperas de sua morte. Idealizada pelo escultor Luzi di Rimini, o monumento foi inaugurado em 24 de abril de 1976. Fica numa pequena praça toda gramada, espaço igual à da metade de um campo de futebol, rodeada de árvores, na frente da Igreja de São Clemente, em Mandriole, na Província de Ravena.
Giuseppe Garibaldi segura Anita, já enfraquecida, olhando para o céu, como se buscasse alguma proteção milagrosa para a cura da esposa e a proteção contra o inimigo. É a imagem que se obtém em outros registros artísticos da fuga do casal, com Anita já acometida por tifo, segundo as versões mais acreditadas, com o marido sofrendo pesada perseguição dos exércitos austríacos.
O tributo prestado na Igreja de São Clemente tem motivação histórica. A capela é pequena e simples, mas marca a arquitetura do século 16. Em sua sacristia, o corpo de Anita Garibaldi foi sepultado em 11 de agosto de 1859, graças à intervenção de Dom Francesco Burzatti. Cientes da busca que os austríacos faziam do corpo encontrado na fazenda, famílias garibaldinas recolheram os ossos e esconderam em suas casas. Mediante a garantia do sacerdote de que na Igreja não haveria riscos, procedeu-se a transferência. Construiu-se então uma sacristia na capela para dar uma sepultura segura à legendária brasileira.
Na mesma região de Ravena há outra marca do amor dos italianos a Anita Garibaldi – um monumento, de porte médio, com um busto da heroína lagunense, foi construído defronte à casa da Fazenda Guicioli, onde se deu sua morte.
O texto gravado numa placa de bronze destaca em enormes letras: “Do outro oceano, com cabelos ao vento e o estampido do fuzil, Anita foi para Garibaldi e para a Itália a verdadeira imagem da liberdade”.
Um casarão antigo, conservado, próximo de uma estrada secundária asfaltada e bem sinalizada, conserva até hoje, intactos, o quarto e até a cama onde Anita Garibaldi morreu há 150 anos. Tem um espaço pequeno, com cerca de seis metros quadrados. As paredes estão decoradas com pinturas de Anita e Giuseppe Garibaldi, algumas individuais e outras contendo cenas do general carregando a amada já gravemente enferma. Ou de Anita sendo transportada deitada num carro-de-boi, e Giuseppe protegendo-a com um improvisado guarda-sol. E também com passagens pela região pantanosa de Ravena.
À saída, num escritório improvisado, o visitante pode adquirir diversos cartões postais de Anita e Giuseppe Garibaldi, folhetos fotocopiados e pequenas publicações. Alguns trabalhos são distribuídos gratuitamente e outros vendidos como “souvenirs”.
Entre todos os interlocutores italianos, do modesto empregado que atenda o casarão aos visitantes que chegam, um fato comum: profunda admiração pela jovem catarinense que ajudou a construir a unificação italiana.
No monumento do Gianicolo estão os restos mortais de Anita Garibaldi
Giuseppe descansa na Ilha de Caprera
Entre os troféus, documentos, cartazes, esculturas, livros e peças históricas sobre Giuseppe e Anita Garibaldi existentes na sede da Federação das Associações Garibaldinas, na praça da República, em Roma, podem ser localizadas preciosas informações sobre a principal atração turística da Ilha de Caprera, localizada no extremo Norte da Sardenha e proclamada como reserva ecológica da Itália.
Ali está enterrado Giuseppe Garibaldi. Ali ele encontrou o local ideal para o exílio e é idolatrado pela população como o principal herói italiano. As fotos e os textos relatam que há preciosidades no museu, com destaque para o poncho e o chapéu levados de suas andanças pelo Brasil.
Garibaldi adquiriu metade da ilha em 1854, cinco anos após a morte de sua amada e logo depois do retorno do segundo exílio, nos Estados Unidos. O primeiro foi no Brasil e no Uruguai. Foi condenado à morte em 1834, depois de participar de uma revolta fracassada, já desfraldando a bandeira de uma Itália unificada, independente e republicana.
Vivendo em Caprera e já famoso na Europa, Garibaldi foi promovido ao posto de general pelo Conde de Cavour, mais com o objetivo de neutralizar seu poder do que para vê-lo em ação bélica.
Cartas
Há testemunhos seus sobre ações desenvolvidas no Sul de Santa Catarina, cartas amorosas dirigidas a Anita e relatos de sua passagem pelo Uruguai. Em relação a Laguna, merece destaque sua atuação na instalação da República Catarinense, em 29 de julho de 1839.
Anita nunca viveu na ilha, mas sua memória é reverenciada por Giuseppe e pela direção do museu.
Pelos depoimentos de dirigentes garibaldinos em Roma, os guias turísticos da Ilha de Caprera cometem uma injustiça: falam muito da epopéia de Giuseppe na Itália e no Uruguai e praticamente nada de sua permanência no Brasil ou em Santa Catarina.
Toda a família Garibaldi está enterrada na Ilha de Caprera.
Primeiro filho do casal nasce no Rio Grande
Doze dias depois, mãe foge de ataque legalista com o bebê nos braços. Surge a célebre cena que inspirou tantos artistas
O dia 16 de setembro de 1840 é muito importante para o casal Garibaldi. Nessa data, na paróquia de São Luiz de Mostardas, no Rio Grande do Sul, nascia o primeiro filho do casal – Domenico Menotti Garibaldi. Domenico, ou Domingos, era o nome do pai de Giuseppe e Menotti, uma homenagem a Ciro Menotti, patriota italiano executado em 1831. Foi um momento singular na vida dos Garibaldi, tanto pela maternidade, como pelas dificuldades que enfrentariam em terras gaúchas.
Eles chegaram a Viamão, próximo de Porto Alegre, em meados de 1840, vindos da serra catarinense. Depois de instalados, Garibaldi retomou as atividades guerreiras, havendo participado do frustrado ataque a São José do Norte, enquanto Anita cuidava da gravidez. Poucas semanas antes do parto ela foi levada para a casa da família Costa, na localidade de São Simão, junto à Lagoa dos Patos. Giuseppe voltou ao estaleiro farrapo, encarregado de construir escaleres, projeto que não deu certo.
Poucos dias após Anita haver dado à luz, o marido dirigiu-se a Viamão, em busca de suprimentos e víveres, principalmente para o novo membro da família. “Já distanciado em algumas milhas”, recorda nas Memórias, “ouvi uma estrepitosa fuzilaria dos lados que eu acabara de deixar. Sobrevieram-se algumas suspeitas, mas eu não podia tornar ao ponto de onde partira. Assim cheguei a Setembrina (Viamão), onde adquiri agasalhos de que necessitava. Depois disso, ainda preocupado com aquela fuzilada, tomei o rumo de São Simão.” Foi quando ele ficou sabendo do que havia ocorrido – um ataque legalista às forças rebeldes, comandado por Francisco Pedro de Abreu (Moringue), futuro barão de Jacuí.
Anita estava sozinha com Menotti, com apenas 12 dias de vida, sendo avisada na última hora do ataque. Foi quando, sem hesitar um só minuto, tomou o filho nos braços e fugiu. Isso aconteceu “sob uma inclemente tempestade”, assinala Garibaldi. “Montada em seu cavalo, andrajosa, com seu pobre filho de través sobre a sela, vira-se forçada a buscar refúgio na mata.”
A primeira coisa que Giuseppe fez, ao saber do ataque, foi procurar a mulher no rancho dos Costa. “Não encontrei Anita nem a boa gente que lhe dera albergue.
Localizei-os, porém, na ourela de um capão, de onde não se haviam arredado, sem saber exatamente por onde andava o inimigo e se tinham ainda alguma coisa a temer”, destaca. Essa fuga espetacular de Anita inspira até hoje os poetas, músicos, escultores e artistas plásticos.
Henrique Boiteux, por exemplo, um dos que primeiro narrou a cena, salienta o fato de Anita ter sido “constrangida a saltar a cavalo, em noite tempestuosa, com a simples roupa do corpo, trazendo aos braços o precioso fardo, e correr por entre os silvados e barrancos à procura de um lugar seguro onde se pudesse esconder e agasalhar aquele pedaço de sua alma”.
No Uruguai, cuidava da família e da casa
Os recém-chegados foram recebidos em Montevidéu pelo carbonário Napoleão Castellini, que hospedou o casal e o pequeno Menotti durante algum tempo. Era junho de 1841. Garibaldi vendeu os couros para garantir o sustento imediato da família, obtendo emprego como professor de matemática e história, auxiliado pelo padre Paul Semidei, diretor do colégio.
A ajuda da maçonaria foi fundamental para Garibaldi naquele momento. Nas horas de folga atuava como mascate, aproximando-se dos marinheiros italianos no porto, inteirando-se de tudo o que acontecia na Itália. Assim que consegue alugar a casa número 114 da rua do Portão de São Pedro, Garibaldi ingressa no movimento de resistência contra as investidas do ditador argentino Rosas. Sua primeira missão foi a chefia da corveta Constituição.
Anita, por seu lado, começa um longo período como mãe e dona-de-casa, enquanto o marido cumpre tarefas militares. Ao chegar em Montevidéu, cidade com 31 mil habitantes, Menotti tinha nove meses de idade, sendo batizado no dia 23 de março de 1843. Pouco antes, os dois haviam se casado na Igreja de São Bernardino. Rosa (Rosita), a segunda experiência materna de Anita, faleceu no dia 23 de dezembro de 1845. Em 22 de março de 1846 nasceu Teresa e em 24 de fevereiro de 1847, Riccioti. Quando morreu, em 4 de agosto de 1849, já na Itália, Anita estava grávida há seis meses.
A família Garibaldi levou uma vida quase miserável em Montevidéu, tendo faltado comida, agasalho e até mesmo vela para iluminar a casa. Mas houve o lado bom. Nesse período Anita pôde conviver com outros exilados da Itália, adquirindo conhecimentos, ouvindo experiências e dominando outros idiomas, como o italiano e o espanhol, enfim, ampliando os horizontes. Acompanhou de perto a formação da Legião Italiana, que chegou a contar com 600 componentes – muitos acompanharam Giuseppe, posteriormente, nas lutas pela Unificação. Anita também cultiva a amizade fraterna de dona Bernardina, esposa do presidente Uruguaio, Fructuoso Rivera.
Quando Rosita morreu, Garibaldi estava fora lutando. Anita arrumou as malas e seguiu em sua direção, navegando pelo rio Uruguai até Santo Antônio do Salto, onde passou a residir por algum tempo. Surgem cenas de ciúme, verdadeiras explosões, ao saber dos namoros do marido naquela região. É clássica a cena em que Anita exige de Garibaldi o corte dos cabelos, que, segundo ela, atraíam as mulheres. Mais tarde retornam a Montevidéu, no mesmo momento em que as agitações revolucionárias começam a dominar a Europa e também a Itália.
Acompanhada por Menotti, Teresita e Ricciotti, Anita embarca em dezembro de 1847 com destino a Gênova. Ela vai na frente para sentir o “clima político” na Itália e verificar a possibilidade do retorno do marido, contra quem pesa uma antiga sentença de morte. Garibaldi parte em abril do ano seguinte. Antes de embarcar, porém, furta do Cemitério Central de Montevidéu os ossos da filha Rosita, levando-os consigo.
Subida da serra foi penosa
O frustrado ataque dos farroupilhas a São José do Norte, visando a conquista de um porto de mar, e a concentração de tropas imperiais na região, levou o estado-maior rebelde a executar uma retirada organizada. Uma coluna – da qual faz parte o casal – toma o caminho da serra, sob o comando de Canabarro, enquanto a outra acompanha Bento Gonçalves pelo Litoral. “Aquela retirada, empreendida na estação hibernal, no meio de uma região montanhosa e sob uma chuva incessante, foi a mais terrível e a mais fatal que jamais vi”, recorda Garibaldi nas “Memórias”.
A retirada durou três meses. Durante esse tempo Anita “sofreu tudo o que se pode humanamente sofrer sem a entrega da alma ao diabo”, suportando a adversidade com “estoicismo e com uma coragem inexprimível”. Os retirantes passaram por privações devido à falta de meios de transportes, “tendo no laço o único recurso de aprovisionamento”. Para o “cúmulo das desgraças, os rios, bem próximos entre si naquelas matas virgens, enchiam sobremaneira, e a tenebrosa chuva que nos acossava não cessando de cair, uma parte das nossas tropas via-se freqüentemente aprisionada entre dois cursos d’água, e lá ficava privada de todo alimento”, complementa Garibaldi.
Nas “alturas mais perigosas” e nas travessias dos rios, Menotti era levado pelo pai, “suspenso por um lenço” junto ao corpo, “de modo que eu podia aquecê-lo com a minha respiração”. Restavam a Garibaldi quatro das 12 mulas e cavalos que havia levado. Para complicar a jornada, os guias se perderam no interior da “assombrosa floresta”. A certa altura Anita seguiu na frente a cavalo, com a criança e um serviçal, tendo encontrado mais à frente um piquete farroupilha. Por sorte, eles estavam com o fogo acesso, apesar das fortes chuvas, e tinham agasalhos de lã, com os quais Menotti foi aquecido, assim como a mãe.
Na região de Vacaria a coluna de Canabarro aguardou a de Bento Gonçalves. Retomando a marcha, os farrapos seguiram para Cruz Alta, tomando o rumo de São Gabriel. É quando Garibaldi decide seguir para Montevidéu, acompanhado de Anita e Menotti. “Pedi minha dispensa ao presidente”, diz, referindo-se a Bento Gonçalves, e “a permissão para arrebanhar uma pequena quantidade de reses”, que pretendia ir vendendo pelo caminho. Cerca de 900 cabeças foram retiradas da fazenda Curral das Pedras, com autorização do ministro rebelde das Finanças, Domingos José de Almeida. Inexperiente como tropeiro, Garibaldi foi perdendo a manada pelo caminho, nos charcos e travessias dos rios. As reses que restaram foram abatidas e os couros levados a Montevidéu.
Personagens são cultuados pelos gaúchos
A presença dos Garibaldi no Rio Grande do Sul é cultivada pelos pesquisadores Elma Sant’Ana e Cary Ramos Valli. Enquanto a primeira lidera o Piquete de Anita, com base em Porto Alegre, o segundo vasculha os sinais das atividades de Giuseppe na marinha rebelde, sendo presidente do Farroupilha – Grupo de Pesquisas Históricas. “Atuamos sozinhos, sem apoio oficial, e por isso não conseguimos dar conta”, explica Sant’Ana, autora de várias obras resgatando a presença de Anita e sua família naquele estado.
A memória de Anita e Giuseppe começou a ser registrada em 1911 com um monumento ao casal em Porto Alegre. A iniciativa foi da colônia italiana gaúcha, que encomendou o trabalho em Carrara (Itália), instalado-o na praça Garibaldi no dia 20 de setembro, data da conquista de Roma em 1870.
Na placa está escrito: “Giuseppe e Anita Garibaldi. Ai Riograndensi la Colonia Italiana XX Settembre 1870”. Infelizmente, o monumento não está bem cuidado.
“Faltam três dedos de Anita, que tem o nariz quebrado. A inscrição está quase apagada”, lamenta Sant’Ana.
Em várias cidades gaúchas foram plantadas mudas da Árvore de Anita (figueira) existente em Laguna, mas não recebem a devida atenção. A de Mostardas, por exemplo, onde nasceu o primeiro filho da heroína, morreu. Não são conhecidas as condições e a localização de outras que estão em Viamão, Caçapava, Vila de Itapuã e praça Garibaldi, na Capital. “Quando iniciamos as cavalgadas do Piquete de Anita, escolhemos essa praça como ponto de partida”, assinala Sant’Ana. As Anitas do piquete vão estar hoje em Laguna, acompanhando a passagem dos 150 anos da morte da inspiradora.
Apesar de todos esses problemas, muita coisa está sendo feita em torno de Anita no Rio Grande do Sul. Elma tem realizado palestras em escolas, “plantando as sementes”, além de idealizar um Roteiro Garibaldino, abrangendo alguns municípios por onde o italiano passou – Capivari do Sul, Tramandaí, Cruz Alta, São Gabriel e Passo Fundo. Também estão sendo estabelecidos convênios de intercâmbio entre Mostardas e Aprília (Itália), onde está enterrado o filho ilustre Menotti Garibaldi. Outras cidades do Rio Grande estão sendo envolvidas.
A população gaúcha conhece e reverencia a memória de Anita. No ano passado, o radialista Lauro Quadros, da rádio Gaúcha, organizou uma pesquisa de opinião para saber a posição dos ouvintes sobre a campanha para o translado dos restos mortais de Anita da Itália. “Cerca de 70% dos que se manifestaram afirmaram que ela deve permanecer onde está. O programa teve muita repercussão e audiência”, relata Sant’Ana, para quem isso demonstra o interesse público. “Como cidadã brasileira acho que os restos mortais deveriam vir para cá, mas como mulher e gaúcha, não”, complementa.
Anita Garibaldi foi a personalidade feminina escolhida para marcar o 15º aniversário da Federação das Mulheres Gaúchas (FMG), comemorado em julho de 1997. Na ocasião, a pesquisadora Yvonne Capuano falou no Museu Júlio de Castilhos sobre “Anita Garibaldi, Uma Heroína de Dois Mundos”. A escolha, segundo a presidente da FMG, Maria Amália Martini, se deu, especialmente, por ter sido “uma gaúcha com longa trajetória de lutas e conquistas”. Anita é considerada gaúcha há muito tempo. “O Albor” de 24 de junho de 1934 dizia que “Anita já não é mais nossa”, lembrando que “um experimentado historiador e escritor emérito, reportando-se ao ‘ímpeto e bravura da mulher riograndense’, apresentou-nos Anita na roupagem duma sublime gauchada, como autêntica heroína dos pampas”. Celso Martins
Anita Garibaldi – Uma heroína brasileira
Anita Garibaldi é uma das raras brasileiras que, antes do século XX, participou de forma ativa de episódios políticos e militares da história do Brasil. Ao lado do companheiro, o italiano Giuseppe Garibaldi, atuou em algumas das batalhas decisivas da Revolução Farroupilha em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Foi a primeira mulher brasileira a ganhar um monumento público, o monumento a Garibaldi e Anita na Praça Garibaldi em Porto Alegre em 1913.
Sua biografia, todavia, até hoje é alvo de polêmicas. Até o final do século XIX, pouco se falava de Anita. O próprio Garibaldi era tratado como figura secundária pelos primeiros historiadores da Revolução Farroupilha. Era conhecido como herói da Unificação Italiana, e não como comandante da Esquadra da República Rio-Grandense.
Entre o final do século XIX e o início do século XX, as grandes levas de italianos que vieram para o Brasil produziram uma classe média e uma elite ítalo-brasileira em São Paulo e no sul do país. Era necessária a cooptação desse novo grupo e nada melhor do que a valorização da família mista, simbolizada pelo casal Giuseppe e Anita.
Nessa época, a catarinense passou a despertar interesse e começaram os subterfúgios dos historiadores para ocultar o fato de Anita ter abandonado o marido para acompanhar Garibaldi, sabido desde 1907. Conforme o período, esse aspecto da biografia de Anita foi retratado de diferentes formas, mas sempre com a preocupação de criar e preservar uma imagem de heroína virtuosa.
O que se sabe sobre Anita Garibaldi? Muito se escreveu sobre ela. São inúmeras as biografias escritas a partir do início do século XX. A grande maioria desses escritos, todavia, acresce aos poucos fatos incontestes episódios imaginados ou romanceados.
Um primeiro aspecto a ser destacado diz respeito à sua condição de heroína farroupilha. Uma análise das fontes revela uma primorosa construção histórica. O nome de Anita não aparece na documentação farroupilha conhecida.
Tudo indica que o primeiro texto a mencioná-la são as próprias memórias de Garibaldi, cuja primeira versão foi publicada nos Estados Unidos em 1859 (traduzida e publicada por Theodore Dwight). A versão mais conhecida dessas memórias é de Alexandre Dumas de 1960. Em 1872, foi publicada na Itália uma versão assinada pelo próprio Garibaldi.
Mas mesmo sendo as memórias conhecidas da elite brasileira letrada desde 1860, perdurou a indiferença em relação a Anita. Na verdade, o próprio Garibaldi não tinha o status de herói farroupilha que viria a adquirir depois. O movimento republicano gaúcho, ao utilizar os idéias farroupilhas na propaganda, raramente mencionava Garibaldi. Quando o fazia, valorizava mais sua condição de herói da Unificação Italiana do que seus feitos como corsário da República Rio-Grandense.
Veja-se um texto publicado pelo jornal republicano A Federação em 20 de setembro de 1885:
Glorioso para a província do Rio Grande do Sul, por recordar o grande feito revolucionário de 35, o 20 de Setembro relembra à Itália o fato soleníssimo da unificação da Pátria sublime de Dante, do excelso Mazzini, do severo Cavour e do imortal Garibaldi. A completa unificação da Itália há 15 anos representa a mais bela conquista da democracia, assegurando à Itália as liberdades que hoje a tornam notável entre os países monárquicos do velho mundo. Trabalhadores, enérgicos pensadores e altivos, os italianos transigiam com o governo da casa de Sabóia, mas cimentam maior grandeza futura. Aos patriotas de 70 — um bravo.
A Proclamação da República não mudou muito esse panorama. A colonização italiana o fez. Nos primeiros anos do século XX, as levas de italianos que chegaram ao Brasil nas décadas anteriores já constituíam um grupo sólido, importante dos pontos de vista econômico, social e político. Era necessário um elo entre a comunidade italiana e brasileira. Foi então descoberto Garibaldi como herói farroupilha.
Em 1907, o centenário do nascimento de Garibaldi foi amplamente comemorado. Em Porto Alegre, o nome da Praça Concórdia foi alterado para Praça Garibaldi, através do ato 50 de 04 de julho de 1907, assinado pelo intendente José Montauri. Por todo o Estado do Rio Grande do Sul, em São Paulo e em alguns outros estados a data foi comemorada.
Nessa época, Anita surgiu como a esposa de Garibaldi. Giuseppe e Anita passaram a simbolizar a família ítalo-brasileira. Nasceu, então, o interesse pela biografia de Anita.
Presume-se que Ana Maria de Jesus Ribeiro nasceu entre 1820 e 1824, mais provavelmente em 1821.
Filha de Maria Antônia de Jesus Antunes e Bento Ribeiro da Silva, o Bentão, teve nove irmãos: Felicidade, Manoela, Manoel, Sicília, Francisco, Bernardina, Antônia, João e Salvador. Seus pais casaram-se em Lages em 1815 e se mudaram para Morrinhos, vila que pertencia a Laguna, onde Bentão, de profissão tropeiro, tentaria a sorte como carneador ou pescador.
Em 30 de agosto de 1835, na matriz de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, Ana casou com Manuel Duarte de Aguiar. Nessa ocasião, seu pai já era falecido, como consta na certidão de casamento. Manuel era sapateiro, mas não há certeza quanto a isso.
O encontro de Garibaldi com Anita ocorreu em Laguna em julho ou agosto de 1839. Garibaldi chegou a Laguna no comando do lanchão Seival. Os farroupilhas, apoiados por terra pelas tropas de David Canabarro e Teixeira Nunes, derrotaram a marinha e as tropas imperiais e entraram vitoriosos em Laguna.
Num dos dias após a batalha, começou o namoro. Em 21 de setembro de 1839, Garibaldi e Anita foram padrinhos do menino Eduardo Ferreira, constando o nome de ambos na certidão de batismo. Aproximadamente um mês depois, Anita mudou-se para bordo com Garibaldi.
No início de novembro de 1839, Anita entrou em combate em Imbituba. Em 15 de novembro, ocorreu o combate com a esquadra imperial sob o comando do Almirante Mariath, quando a marinha farroupilha foi destruída. No final do mês, Garibaldi e Anita acompanharam as tropas de Canabarro em direção ao Rio Grande do Sul.
No final de dezembro, lutaram na batalha de Curitibanos, quando Anita caiu prisioneira, tendo empreendido a lendária fuga do acampamento imperial e reencontrando Garibaldi oito dias depois. Em 16 de setembro de 1840, nasceu Menotti em São José das Mostardas. Depois de uma dura marcha pelo Planalto Médio, quando quase perderam o bebê, Garibaldi e Anita passaram a acalentar a idéia de partir para Montevidéu.
Em 21 de maio de 1841, tendo se afastado do movimento farroupilha, Garibaldi, Anita e Menotti chegaram a Montevidéu. Após breve período empregado, Garibaldi envolveu-se nas disputas entre Rivera e Oribe, este apoiado pelo argentino Rosas.
Em 26 de março de 1842, Garibaldi e Anita casaram-se na igreja de São Francisco. Anita declarou-se solteira. Em junho, Garibaldi saiu para a sua primeira expedição fluvial. O italiano defendeu a causa uruguaia até 1848, quando decidiu lutar pela independência da pátria italiana.
No Uruguai, nasceram mais três filhos: Rosita, em 11 de novembro de 1843, Teresita, em 22 de março de 1845 e Ricciotti em 24 de fevereiro de 1847. A pequena Teresita faleceu em 23 de dezembro de 1845, de difteria.
Anita foi para a Itália antes de Garibaldi. Chegou a Nice em 8 de março de 1848. Garibaldi chegou em 21 de junho. Foi recebido como herói. Em seguida, Garibaldi iniciou a luta contra os austríacos pela libertação da Itália. Num dos episódios dessa luta, Anita, que o acompanhava, grávida do quinto filho, faleceu, em 4 de agosto de 1849, aos vinte e nove anos.
A biografia de Anita é muito melhor documentada a partir do momento em que ela se une a Garibaldi. Até então, temos registros de batismo, fatos registrados por Garibaldi em suas memórias e relatos de memória oral. Esses últimos são pouco confiáveis.
Surgiram quando Anita ficou famosa no início do século XX. Era pouco provável que alguém que a conhecera pessoalmente estivesse vivo nessa época. Há relatos de sua infância e do seu casamento com Manuel Duarte de Aguiar que escritores como Lindolfo Collor romancearam em suas obras.
Mas como se relatou o abandono do marido?
O relato de Garibaldi é famoso. Ele avistou Anita na praia de seu barco e foi a terra para procurá-la. Ao chegar à praia não mais a encontrou. Cruzou então com um conhecido do lugar que lhe convidou para um café. Ao chegar à casa do homem, deparou-se com Anita.
Ficamos os dois estáticos e silenciosos, olhando-nos reciprocamente como duas pessoas que não estão se vendo pela primeira vez, que identificaram na fisionomia do outro qualquer coisa que desperta uma reminiscência.Saudei-a finalmente e lhe disse: “Tu devi esser mia” (…) Tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de grande valor!!! Se houve culpa, foi inteiramente minha. E…houve culpa sim! Sim! Se uniam dois corações com amor intenso e se destruía a existência de um inocente! Ela está morta, eu infeliz, e ele, vingado. Sim, vingado! (Garibaldi, Giuseppe. Memorie di Garibaldi. Roma: Real Comissão Editora, 1872, p. 54-55).
Apesar do estilo confuso, parece claro pelo relato que Anita abandonou o marido para seguir Garibaldi, fato pelo qual ele assumia a culpa (e se sentia culpado). Julgava, inclusive, que a morte precoce da esposa fora um castigo por tal conduta.
Mas a maior parte dos historiadores ignoraram ou não acreditaram em Garibaldi. Alguns exemplos das versões construídas.
João Vicente Leite de Castro (1911) constrói uma das mais fantasiosas. O pai de Anita seria legalista, adepto do Império do Brasil. Por isso, seria contrário ao romance de Anita com Garibaldi. Esse teria feito um pedido de casamento que foi negado pelo pai por razões políticas. Garibaldi, apaixonado e inconformado, então, raptou Anita com a sua concordância. Ora, o pai de Anita já era falecido quando ela encontrou Garibaldi.
Giacomo Lumbroso (1938) afirma que a prova definitiva de que Anita não era casada é o fato de ela ter se declarado solteira quando casou com Garibaldi em Montevidéu. E que o “inocente” a que se refere Garibaldi seria um noivo a quem Anita estava prometida por seu pai.
Muitos autores falam do encontro sem mencionar que Anita era casada. É o caso de Giuseppe Fumagalli (1907), Carlos Cavaco (1955), Walter Spalding (1963) e Max Gallo (1996) .
Dentre os que confirmam ser Anita casada, vários advogam que o marido teria desaparecido, como Annita Garibaldi (1931) e Valentim Valente (1949).
Outros que havia falecido, como Gerson Brasil (1971) e outros que abandonara a mulher seguindo o exército imperial como Lindolfo Collor (1938) e Walter Zumblick (1980) . Essa última é a posição de Wolfgang Ludwig Rau (1975), o pesquisador catarinense que reúne o maior acervo nacional a respeito de Anita Garibaldi. Rau, tão cioso de documentar tudo a respeito de heroína, afirma sem prova documental ter sido Manuel Duarte Aguiar marido desidioso que abandonou Anita à própria sorte, seguindo o exército imperial.
Apesar de criticar os autores puritanos, Rau dedica diversas páginas a discorrer (sem provas) sobre a personalidade doentia, introvertida e egocêntrica de Aguiar que justificaria o desamor de Anita. “Quem abandonou quem?” pergunta Rau , jogando uma eventual culpa nas costas do desconhecido marido de Anita. Enfim, chega ao cerne de sua argumentação “Personalidades excepcionais têm direito a viver sua vida diferentemente” . Isso significa que o heroísmo de Anita a absolve.
Henrique Boiteux encontrou em 1907 a certidão de casamento de Anita . Logo, não há motivo para tanta desinformação. A óbvia intenção de todos esses autores, com menor ou maior intensidade, é a de construir para Anita uma imagem de heroína imaculada.
Uma mulher pode atuar como guerreira e se envolver em disputas políticas. Deve, porém, ser virtuosa, ter conduta moralmente ilibada. O fato de abandonar um casamento infeliz, de escolher seu companheiro macularia todos os seus feitos. E não estamos tratando apenas de autores que escreveram na primeira metade do século XX, quando a revolução sexual ainda não tinha ocorrido.
Há textos das décadas de 1970 e 1980. Em pleno século XXI, perdura a mistificação. Em 2005, em um seminário internacional, em Porto Alegre, a respeito da Revolução Farroupilha, uma historiadora afirmou que “havia fortes indícios” de que o casamento de Anita com Manuel Aguiar não havia se consumado, sendo Anita virgem quando conheceu Garibaldi!
A idéia de heroína está ultrapassada. Muitas mulheres foram bravas na Revolução Farroupilha sem empunhar armas. Muitas outras pegaram em armas e não tiveram seus nomes conhecidos pela história.
Anita era, como todos os relatos a seu respeito asseguram, de uma coragem excepcional. Não temia disparos de canhão, cargas de cavalaria ou espadas empunhadas.Não abandonava a luta, quando muitos soldados experientes corriam campo a fora. Todavia, seu ato de maior coragem não é reconhecido por seus biógrafos. Teve a coragem de tomar as rédeas de sua própria vida. Cíntia Vieira Souto
Fonte: www.geocities.com/www.sohistoria.com/www1.an.com.br/www.mp.rs.gov.br