O que é Patrística?
Para compreendermos o significado e particularidades que a Patrística assume na reflexão filosófica da chamada Filosofia Cristã dos primeiros séculos torna-se necessário, antes, retomarmos o contexto histórico-social de seu surgimento e desenvolvimento.
De acordo com o historiador da filosofia Etienne Gilson, o pensamento medieval é herdeiro do conjunto das tradições gregas. Nesse sentido, como aponta o historiador,muitos dos primeiros cristãos foram antes iniciados em uma educação filosófica grega, especialmente de base platônica ou aristotélica. Isso justifica a constante presença de termos filosóficos gregos no pensamento Cristão. Exemplo disso temos o “logos” bíblico que é, segundo Gilson, de origem Estoica, remontando a Fílon de Alexandria.
Tendo isso em mente e num contexto de necessidade de dar bases teóricas consistentes à fé cristã, não restava ao Cristianismo alternativa a não ser tomar posse desses termos filosóficos ressignificando-os para que pudessem corresponder às necessidades teológicas que melhor conviessem. É nesse contexto que surgem os chamados “padres apologistas”, “apologetas” ou “Padres da Igreja”com a função de elaborar a defesa do Cristianismo contra os ataques e heresias dos “pagãos”, dando origem à chamada Patrística. Para isso, foi fundamental a base filosófica encontrada nos autores da tradição.
Como bem relembra o filósofo italiano Nicola Abbagnano, em seu tradicional Dicionário de Filosofia: “Para os padres da igreja, a religião cristã é a expressão íntegra e definitiva da verdade que a filosofia grega atingira imperfeitamente e parcialmente” (p. 746). Nesse sentido, a filosofia grega assume a condição subalternaem relação à teologia, servindo como meio, jamais fim,para o pleno conhecimento da verdade de Deus.
Dentre os filósofos que sistematizaram o pensamento patrístico cumpre destaque o filósofo e teólogo Agostinho de Hipona. Para ele, não há como pensar uma relação de igualdade, mas antes de superioridade da fé em relação à razão. Daí surge a sua famosa frase: “crer para compreender, e compreender para crer”. Desse modo, postula a necessidade de a luz divina iluminar o nosso entendimento para que possamos atingir a plenitude das verdades que a nós estão dispostas.
Fábio Guimarães de Castro
Referências Bibliográficas
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
GILSON, Étienne. A filosofia na Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
REALE, Giovanni. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. Vol 1. São Paulo: Paulus, 1990.