ROBERTO TEIXEIRA DA COSTAO
Estudo levanta quatro lições que poderiam ser consideradas para a melhoria da educação no Brasil
A CONVITE do movimento Todos pela Educação, do qual participo e que apóio desde sua criação, assisti recentemente a uma interessante apresentação feita pela McKinsey, prestigiosa empresa de consultoria internacional, sobre o desafio da educação no mundo e as características comuns aos sistemas que têm os melhores resultados. As conclusões são extremamente provocativas e apontam como principais fatores para o sucesso escolar de países como Finlândia e Coréia não apenas o financiamento ou a infra-estrutura, mas principalmente a capacitação e a valorização do professor. O estudo começa comparando o investimento em educação feito por diversos países com os resultados obtidos nessa área. Os dados mostram que, apesar do aumento significativo de gastos dos países da OCDE (foram pesquisados: Bélgica, Reino Unido, Japão, Alemanha, Itália, França, Nova Zelândia e Austrália), os resultados estagnaram. Também nos EUA os resultados permanecem estáveis, apesar do aumento do gasto por aluno. Conclui-se, assim, que os bons resultados na educação não estão relacionados exclusivamente ao gasto na área. Investir é imprescindível, mas é preciso saber onde e como investir. Outro ponto interessante se refere ao impacto das diferenças socioeconômicas nas habilidades dos alunos. O estudo mostra que o processo de aprendizagem começa antes mesmo de a criança entrar na escola e fica claramente evidenciado que o número de palavras ouvidas pelas crianças de quatro anos irá fortemente impactar sua formação posterior. Além do investimento e dos estímulos, o relatório da McKinsey analisa a infra-estrutura escolar e afirma que 112 estudos examinaram os efeitos do tamanho de classe sobre o aproveitamento dos alunos e observaram um efeito não muito grande da diminuição do tamanho das classes. Esse aspecto realmente me surpreendeu, pois é muito repetido que o aumento das classes tem um efeito perverso no aproveitamento. O que teve grande impacto no resultado dos países observados, e que é o ponto principal levantado pelo relatório, foi o trabalho do professor. Nas palavras dos pesquisadores, "as variações da qualidade dos professores" superam totalmente qualquer efeito da alteração do tamanho das classes. E, partindo desse ponto, o estudo levanta quatro lições que poderiam ser consideradas para a melhoria da educação no Brasil. 1. A qualidade de um sistema educacional não pode ser maior que a qualidade dos seus professores. Uma das principais características comuns aos países com os melhores resultados na educação é a qualidade dos professores, e a qualidade se dá à medida que a profissão é valorizada. Nesses países, ser professor é grande meta dos universitários, fazendo com que o processo de seleção para a educação básica seja extremamente concorrido e selecione os profissionais mais preparados. Na Coréia, por exemplo, os universitários que conseguem vaga para a educação básica estão entre os 5% com melhor desempenho na universidade. Na Finlândia, são parte dos 10% em melhores notas e, em Cingapura, dos 30%. 2. A única maneira de melhorar os resultados é melhorar a instrução. O estudo mostra que a melhora na qualidade dos professores pode ter um impacto substancial nos resultados dos alunos em um curto período de tempo. Sistemas escolares excelentes atraem pessoas excelentes para os cursos. 3. Alto desempenho significa que todas as crianças devem ser bem- sucedidas. Os sistemas de alto desempenho pagam bons salários e não deixam que nenhum aluno fique sem aprender. A Coréia é um grande caso de sucesso, segundo os pesquisadores, os melhores professores coreanos são direcionados para as escolas com os maiores problemas e esse desafio é visto como forma de reconhecimento da capacidade desse professor. 4. Toda escola precisa de um grande dirigente. Além de bons professores, os sistemas de alto desempenho recrutam e formam excelentes diretores de escola. Cingapura é um bom exemplo. Ouvindo tudo isso, fica a pergunta: será que, no caso brasileiro, teremos condições de alçar um salto qualitativo na educação? Os resultados apresentados na última semana pelo Ministério da Educação, com a divulgação do Ideb 2007 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), mostram que ainda há um longo caminho pela frente, mas que os bons resultados estão começando a aparecer. O país conseguiu não só superar as metas estabelecidas para 2007 mas também alcançar as metas de 2009. Os bons resultados são fruto do alinhamento que vem ocorrendo no país, ao colocarmos o foco do trabalho no aprendizado do aluno, realizando avaliações e traçando planos de ação estruturados. E de um fator que vem ganhando força: a conscientização, por parte dos diferentes segmentos da sociedade, de que temos que juntar esforços para buscar resultados, crença absoluta do movimento Todos pela Educação.
ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA, 73, economista, é sócio-fundador da Prospectiva Consultoria Brasileira de Assuntos Internacionais e membro do Todos pela Educação. Foi presidente do Conselho de Empresários da América Latina (1998-2000).
Matéria capturada no site: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2006200808.htm , acesso em 20 de junho de 2008.
ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA, 73, economista, é sócio-fundador da Prospectiva Consultoria Brasileira de Assuntos Internacionais e membro do Todos pela Educação. Foi presidente do Conselho de Empresários da América Latina (1998-2000).
Matéria capturada no site: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2006200808.htm , acesso em 20 de junho de 2008.