29.11.08

Piratas já foram 'funcionários' de reis em ações nos mares


Carta de corso dada ao capitão Antoine Bollo, em 27 de fevereiro de 1809 (Foto: reprodução/Wikimedia Commons)
Carta de corso permitia que piratas agissem para capturar inimigos.
Pirataria é tão antiga quanto a navegação.

"Você precisa somente de três homens e um barquinho, e no próximo dia você está milionário”. Foi assim que o ex-capitão da extinta marinha somali Abdullahi Omar Qawden definiu a ação dos piratas na costa do país. Desde o início do ano,mais de 80 embarcações foram atacadas na África, e 12 permanecem sob poder dos bandidos.

Apesar de sempre terem sido temidos e combatidos por nações, os piratas já lutaram lado a lado ao lado de governos, durante os tempos de guerra, nos séculos XVI, XVII e XVIII. Eles eram 'contratados' para capturar navios inimigos e geralmente tinham que entregar uma parte da riqueza conseguida ao rei. A acrobacia para tornar as ações 'legais' era legitimada pela Carta do Corso.

Segundo o especialista e autor de "Piracy: The Complete History" ('Pirataria: a história completa' - inédito em português), Angus Konstam, em entrevista ao G1, por e-mail, "isso não era nada menos que a pirataria legítima - e era conhecida como uma espécie de 'privatização'. Os piratas não custavam nada ao governo e eram usados para danificar a economia do inimigo."

Até Júlio César
A atividade dos criminosos dos mares existe desde que começaram as navegações. De acordo com Konstam, o primeiro registro de ação de piratas vem do Egito Antigo, no século 14 A.C - quase 3,5 mil anos atrás.

Na Roma e Grécia antiga aparecem as primeiras tentativas de se combater os ladrões dos mares. Nessa época eles agiam indiscriminadamente. Até o imperador romano Júlio Cesar foi vítima de piratas, quando navegava perto da ilha de Pharmacusa.
Conforme contou o capitão Charles Johnson, no histórico livro "Piratas - Uma História geral dos roubos e crimes de piratas famosos" (Ed. Artes e Ofícios), os piratas que capturaram César tinham o costume de amarrar seus prisioneiros dois a dois, de costas, para joga-los ao mar. Mas, imaginando que César fosse alguém importante, pelas roupas e quantidade de escravos que o rodeavam, decidiram cobrar o equivalente a 3.600 libras pelo seu resgate.

César sorriu e ofereceu o dobro. Os piratas então mandaram seus escravos buscarem o dinheiro, o que levou mais que um mês. Nesse tempo, ele conviveu ‘em paz’ com os criminosos. Quando o dinheiro chegou, César foi libertado. De volta ao trono, sua prioridade foi preparar uma poderosa esquadra. Ele capturou seus antigos seqüestradores, saqueou suas posses e os trancou num calabouço.


Violência
O principal atrativo para um pirata é o dinheiro. Na 'época de ouro da pirataria', entre os anos de1695 e 1730, a vida num navio da Marinha Real ou da marinha mercante não era fácil. O pagamento não era dos melhores e o tratamento era cruel. O autor Shelley Klein conta no livro "Os Piratas mais perversos da história" (Ed. Planeta) que “muitos capitães eram sádicos e adoravam mais do que tudo infligir torturas corporais naqueles que empregavam.”

Há relatos de espancamentos com vassouras, barras de ferro, punhais e martelos. “Pouco espanta então que os marinheiros preferissem a pirataria a um trabalho na Marinha Real ou na marinha mercante – afinal, a bordo de um navio pirata, para alguém ser açoitado ou abandonado em uma ilha deserta era necessário o consentimento de toda a tripulação, não apenas do capitão.”
Num navio pirata a violência era geralmente dirigida aos prisioneiros. E havia muita. Há histórias de prisioneiros sendo queimados vivos, de outros que tinham os órgãos internos retirados, de enforcamentos e esquartejamentos. O tratamento dado às vítimas muitas vezes tinha objetivo de convencê-las a se juntar à tripulação. Os navios sempre estavam buscando novos recrutas. Outro objetivo era a propaganda: a fama de cruel espantava quem quisesse enfrentá-los e garantia que eles fossem notícia.

Mitos
Alguns piratas pioravam sua reputação com a aparência, deixando a barba crescer e cultivando cicatrizes. Edward Taech, o barba negra, era “a própria imagem de um ‘monstro em forma de gente’, uma criatura quase sobre-humana”, escreveu Klein . Ao contrário do que muitos imaginam, poucos piratas enterravam seus tesouros. A maioria dividia a soma entre a tripulação, que gastava com ‘vinhos e mulheres’.

Outro mito é o fato de que eles obrigavam seus prisioneiros a caminhar na prancha de madeira para fora do navio, antes de cair no mar. Não há referências históricas sobre essa prática.


Fonte: G1