| por Laire José Giraud * | 
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|                            No passado, os navios de passageiros de cabotagem eram os verdadeiros veículos de transporte de Norte a Sul na costa brasileira. Isso aconteceu até o final dos anos de 1950, quando as embarcações começaram a perder espaço para ônibus e caminhões. Surgiram novas estradas, isso sem dizer no crescimento das viagens aéreas. Por isso, havia diversas empresas marítimas que conduziam não apenas pessoas, mas cargas também. Vale lembrar que se levava de tudo do estado de São Paulo e do Rio de Janeiro para os outros estados, como alimentos, refrigerantes, manteiga, laticínios e vestimentas, entre outras mercadorias. 
 
 As três principais armadoras eram a   Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, a Companhia  Nacional de Navegação Costeira (CCNN) e a Lloyd  Nacional, além de  outras menores, mas eficientes, como a Empresa  Nacional de Navegação  Hoepcke, a Companhia Pereira Carneiro, cujas  lembranças serão contadas  em outros artigos. Os navios das três companhias –  Lloyd Brasileiro, Costeira e  Lloyd   Nacional (não confundir com Lloyd Brasileiro) deixaram seus nomes   imortalizados na história da navegação mercante do País. Da memorável frota do Lloyd podem ser destacados os navios Dom Pedro I, Dom Pedro II, Barão de Mauá, Barão de Jaceguai, Almirante Alexandrino, Campos Sales, Raul Soares, Buarque, Mauá, Cantuária. Não esquecendo dos memoráveis cisnes brancos - Anna Nery, Rosa da Fonseca, Princesa Isabel e Princesa Leopoldina, entregues à Cia Costeira na década de 1960. Esses navios eram mais modernos dos que os outros de décadas anteriores. Depois esses navios foram incorporados à frota do Lloyd Brasileiro. 
 
 Da Costeira, cujos navios foram   mencionados na canção de Dorival Caymi e imortalizados no livro Capitão-de-longo-curso,   de autoria de Jorge Amado, podem ser citados os da série Ita, como   Itambé,  Itaquicé,  Itambé,  Itassucé,  Itahité,  Itaquatiá,  Itaberá e Itatinga.   Com relação às dimensões desses navios, eram classificados em Itas   pequenos, Itas médios e Itas grandes, com eram os navios mistos,   Itahité, Itaimbé, Itapagé, Itapé, Itaquicé e Itanagé. Da Sociedade Anônima Lloyd Nacional , os navios mais conhecidos eram os seguintes: Araçatuba, Araraquara, Aratimbó e Araranguá, os eram famosos Aras, construídos entre 1927 e 1928. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Araraquara foi torpedeado pelo submarino alemão U-507, no litoral de Sergipe. A perda foi de 131 vidas. Esses navios eram de construção italiana. 
 
                     Havia  diversas linhas atendidas por  essas armadoras, a partir do Rio Grande  do Sul -  Porto  Alegre,  Pelotas,  Rio  Grande, passando pela maioria dos portos da  nossa costa, até alcançar os  estados do Pará e Amazonas – Belém,  Santarém,  Óbidos,   Parintins e Manaus. Para que o leitor tenha uma idéia, a   viagem entre Santos e Manaus de navio costumava demorar 25 dias (com   exceção dos cisnes brancos), devido à morosidade dos navios   (muitos já ultrapassados) e o número de portos que passavam. As   operações de carga e descarga de mercadorias eram demoradas, por uma   série de razões, dentre elas, as cargas iam soltas nos porões, devido   não existirem contêineres, naquele tempo.  Os paquetes, como eram chamados os navios de passageiros (e ainda o são, em Portugal) atracavam entre o cais dos armazéns 1 e 5 da Companhia Docas, em Santos. 
 
 Lembro  que a minha primeira viagem de  navio foi em 1950, aos 5 anos, na  companhia de meus pais e outros  familiares, a bordo do Cantuária, do  Lloyd Brasileiro, que tinha como  destino a então Capital Federal, o Rio  de Janeiro. Aliás, era mais fácil ir à bordo de  uma  embarcação de Santos ao Rio do que à Cidade de São Paulo para  embarcar  em trem da Central do Brasil rumo ao Rio. Lembro que o Cantuária saiu do cais do Armazém 4 no meio de uma tarde de verão (acho que foi num domingo) e chegou ao Rio de Janeiro nas primeiras horas da manhã, onde atracou no cais do Lloyd, perto da Praça XV. Uma curiosidade: os navios do Lloyd Brasileiro, quando atracavam ou desatracavam no porto do Rio de Janeiro não usavam práticos, mas sim pessoas capacitadas do Lloyd para essas funções. Eram conhecidos pelos demais práticos como “Arraes do Lloyd”. 
 
 Visita ao Pão de Açúcar, durante escala do Itanagé da Cia. Costeira, no Rio de Janeiro, em 1940. Ao centro, meu pai Laire Giraud, cercado pelos pais, tios e primo. Acervo L. J . Giraud. 
 No final dos anos de 1960 eles ainda   operavam. Isso era em função do grande número de navios da estatal   brasileira. O objetivo era o de economizar com os serviços de   praticagem. O Lloyd chegou a ter em Santos um rebocador próprio, o   Mestre Sebastião. O objetivo era o de não utilizar rebocadores da firma   que operava em Santos, mais precisamente a Wilson,Sons. Quem conta isso  é  o prático aposentado Gerson da Costa Fonseca, de 90 anos. O  Cantuária foi um dos quatro navios  de passageiros de características  idênticas adquiridos pelo Lloyd da  armadora Moore-McCormack Lines, dos  Estados Unidos, na década de 1930. Um dos navios-irmão era o Buarque, que foi torpedeado e pasto a pique durante a Segunda Guerra Mundial. 
 
 Da  compra fizeram parte mais seis  cargueiros, que contribuíram para que a  frota da Lloyd não parasse  durante a Segunda Guerra, diante de 21  torpedeamentos realizados por  submarinos nazistas. O  Cantuária, ex-Scan States, foi  construído em 1919 no estaleiro da  American Internacional Shipbuilding  Corporation,  de Hog Island, na Pensilvânia, Estados  Unidos. Ele deslocava 5.613 toneladas, media 129,20 metros de comprimento, desenvolvia velocidade de 13 nós (24 quilômetros horários), dispunha de 90 camarotes para passageiros e espaço para carga. No início dos anos de 1960 foi vendido como sucata. Acrescento que a viagem e o Cantuária tornaram-se inesquecíveis. 
 
 Já o amigo Silvio Roberto Smera, lembra que na adolescência, trabalhava com sua mãe, que era advogada, com escritório no prédio onde o Lloyd Brasileiro tinha agência em Santos nos anos de 1950/60. Ficava no prédio do antigo Santos Hotel, na Praça Barão do Rio Branco. 
 De uma das janelas, Smera contemplava os navios de passageiros nacionais usados na cabotagem, que ali atracavam. Assim, ele viu a maioria desses navios que contribuíram de forma significativa para a grandeza do Brasil, numa época em que quase não haviam estradas de rodagem. 
 
 
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| Fonte: http://www.portogente.com.br/ | 










