13.9.10

Biografia de David Hume

Introdução sobre David Hume


David Hume
Quando David Hume começou a filosofar, ele mostrou que a filosofia era inútil e que a construção de sistemas filosóficos não era mais possível. Isso aconteceu no século 18. Mas, é da natureza da filosofia tentar o impossível. Logo após Hume reduzi-la a ruínas, surgiram os grandes sistemas filosóficos da metafísica alemã, iniciados com o pensamento deImmanuel Kant, a quem justamente Hume fez despertar do sono dogmático.

Em “Tratado sobre a Natureza Humana”, sua mais importante obra segundo
Bertrand Russell, Hume tenta definir os princípios básicos do conhecimento humano. E para responder a questão de como sabemos alguma coisa com certeza, ele seguiu a tradição empírica, que diz que todo o nosso conhecimento é em última instância baseado na experiência.

Impressões e ideias

Todas as percepções da mente humana se reduzem a dois tipos distintos, que denominarei IMPRESSÕES e IDEIAS. As diferenças entre elas consistem nos graus de força e intensidade com que atingem nosso espírito e abrem caminho até nosso pensamento ou consciência. As percepções que penetram com maior força e violência podemos chamar de impressões; e, nessa denominação, englobarei todas as nossas sensações, paixões e emoções, à medida que fazem sua primeira aparição na alma. Por ideias, quero significar as pálidas imagens disso no pensamento e no raciocínio; assim como, por exemplo, são todas as percepções provocadas por este discurso, à exceção apenas daquelas que decorrem da visão e do tato, eliminando o prazer ou o desconforto imediato que ele possa ocasionar.
Tratado sobre a Natureza Humana, Livro 1


Além de passar anos de sua vida filosofando, Hume foi também tutor de um louco nobre, o Marquês de Anandale, e secretariou um general inglês encarregado de lutar contra os franceses. Conheça nas próximas páginas um pouco da vida e da obra desse importante filósofo do empirismo.

David Hume e o tratado sobre a natureza humana

david hume
© iStockphoto.com / Duncan 1890
David Hume nasceu em Edimburgo (Escócia) em 24 de abril de 1711. Seu pai morreu quando o futuro filósofo tinha apenas três anos de idade. Ele acabou sendo criado pela mãe e por seu tio, pastor local que herdou a pequena propriedade rural do pai de Hume, localizada numa região gelada na fronteira escocesa. Sua educação na infância aconteceu no chalé do professor da escola, junto com outras crianças dentro da igualitária tradição educacional da Escócia.

Quando tinha doze anos foi para a Universidade de Edimburgo, uma admissão precoce aos ensinos universitários muito comum naquela época. Lá a expectativa era que Hume cursasse Direito, mas pouco a pouco ele concentrou seus interesses em filosofia. Após uma angustiante indefinição decidiu definitivamente abrir mão de ter uma vida profissional de advogado. A decisão de Hume custou-lhe uma estafa e ciclos de depressão que enfrentou ao retornar para o lar. Nesse período de recuperação intermitente, ele começou a ganhar peso, e o que até então era um sujeito alto e magro tornou-se corpulento, o que pode indicar que ele tenha tido problemas glandulares.

Quando tinha 24 anos, após passar um breve período em Bristol trabalhando como escriturário, ele herdou uma renda anual de 40 libras o que lhe permitiu viver sem precisar trabalhar. Foi quando ele começou a registrar suas observações filosóficas. Hume decidiu então partir para a França. Nos seus três primeiros anos morando em território francês, ele escreveu sua primeira e principal obra filosófica: “Tratado sobre a Natureza Humana”. Ironicamente, ele rejeitaria mais tarde esse livro por considerá-lo uma extravagância da juventude. Na obra, Hume expõe que a experiência humana, que seria a base de todo nosso conhecimento, consiste de percepções. E para ele há dois tipos de percepções: impressões e ideias.

A partir dessa visão da base do nosso conhecimento, Hume concluiu que nós nunca experimentamos de fato um objeto, nós apenas temos impressões dele: sua cor, forma, consistência, gosto etc. Para ele, também não temos impressão real que corresponda à continuidade, isto é, as coisas simplesmente acontecem umas após as outras, sem podermos dizer que uma coisa determina que outra aconteça. Hume afirmou que não temos outra noção de causa e efeito a não ser a de certos objetos que estiveram sempre associados (como, por exemplo, chama, pólvora e explosão). Segundo ele, o ser humano pensa que sabe muito, mas, na verdade, grande parte do que pensa saber é mera suposição. Com isso, Hume praticamente destruiu a base de toda a ciência.

O “Tratado sobre a Natureza Humana” foi publicado na Grã-Bretanha em 1739. Hume tinha a expectativa que a obra se tornaria polêmica e ele uma figura notória. Mas, o principal trabalho filosófico de Hume foi praticamente ignorado. A não ser por alguém que participou do processo de admissão de Hume na Universidade de Edimburgo, que havia se candidatado a professor na cadeira de filosofia moral. Ele não conseguiu ser admitido porque o “Tratado sobre a Natureza Humana” foi considerado uma obra de heresia e ateísmo.

David Hume: o empirismo ateu

Quando não conseguiu o emprego na universidade onde estudara, David Hume deixou Edimburgo. Ele passou a trabalhar como tutor do lunático Marquês de Anandale. Nessa função achou tempo para começar a escrever uma “História da Inglaterra”. Após, ele foi ser secretário do general James St. Clair, cuja missão era atacar os franceses. Numa aventura marcada pelas trapalhadas de ambos os lados, o que incluiu uma desastrada retirada dos ingleses após desembarcarem num pantanoso litoral da Bretanha e a tentativa de rendição dos franceses cujas tropas eram sete vezes mais numerosas que as inglesas, St. Clair e Hume voltaram para casa para receberem suas medalhas pela “gloriosa” campanha.

St. Clair ganhou como prêmio a chefia da importante missão diplomática britânica a Viena e Turim. Hume o acompanhou e teve a oportunidade de fazer diagnósticos sobre diferentes culturas européias. Nos seus trabalhos ao lado do general, Hume pôde presenciar e entender o que era a história. Por conta disso, retomou e finalizou o projeto de escrever a “História da Inglaterra”, que contou da invasão comandada por Júlio César, em 55 a.C., até a Revolução Gloriosa, de 1688.

Após o final da missão, Hume decidiu retornar para suas atividades puramente filosóficas. De volta a Edimburgo, começou a escrever o que ele achava que seria sua grande obra filosófica. À primeira parte, ele deu o título de “Investigação acerca do Entendimento Humano”, e à segunda, ele chamou “Investigação sobre os Princípios da Moral”. Esse projeto, no entanto, revelou-se um grande fiasco filosófico.

Mas, em 1763, um ano após a publicação de seu “História da Inglaterra”, Hume foi nomeado secretário do embaixador inglês na França. Considerado o Voltaire britânico, o filósofo teve uma passagem bem-sucedida por Paris, frequentando festas e circulando pela Corte. Lá conheceu e teve encontros com Jean-Jacques Rousseau. Em 1769, voltou a Edimburgo e continuou a escrever, enquanto realizava longos jantares com amigos, entre eles, Adam Smith, o teórico pioneiro da economia.

Desde que lançou “História da Inglaterra”, todos os livros de Hume foram incluídos no Index de obras proibidas pela Igreja católica. No final de sua vida, quando estava muito doente, provavelmente em função de um tumor no fígado, o primeiro filósofo a assumir que era ateu continuou assim e não se reconciliou com Deus nem no leito de sua morte. David Hume morreu em 25 de agosto de 1776 e uma multidão se reuniu para presenciar o funeral do “ateu”.

Fonte: