8.2.11

História das cidades: da Antiguidade ao final da Idade Média


As primeiras cidades, como Ur e Babilônia, foram construídas cerca de 3 000 anos antes da era cristã, na Mesopotâmia, região dos vales dos rios Tigre e Eufrates, no atual Iraque (veja o mapa abaixo).
Outras cidades surgiram nessa época, quase sempre associadas a grandes rios, que proporcionavam terras férteis e irrigação, garantindo a produção necessária de alimentos para abastecê-las: Mênfis e Tebas, no vale do Nilo; Mohenjo-Daro, no vale do Indo; Pequim no vale do Rio Amarelo, entre outras. Para nosso referencial atual, eram cidades pequenas, mas, para a época, tratava-se de grandes aglomerações. Calcula-se que, por volta de 2500 a.C., Ur chegou a ter 50 mil habitantes e Babilônia, 80 mil.
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Cidades da Antiguidade na Mesopotâmia e Egito
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Babilônia, capital do império de Hamurábi, foi uma das maiores cidades da Antiguidade. Localizava-se na região denominada posteriormente Mesopotâmia (atual Iraque). Na foto, de 1996, ruínas da Babilônia.
Por volta de 500 a.C, cidades foram erguidas também na parte do mundo que mais tarde viria a ser designada como continente americano. O melhor exemplo é Teotihuacán (posteriormente Tenochtitlán, capital do Império Asteca, hoje Cidade do México), que chegou a ter 100 mil habitantes.
Com o passar do tempo, as cidades foram ficando maiores. Atenas, a mais importante cidade-estado grega, em sua fase áurea chegou a ter cerca de 250 mil habitantes. Mas, sem dúvida, a grande cidade da Antiguidade foi Roma. A capital do Império Romano chegou a contar, em seu apogeu, no início da era cristã, com um milhão de habitantes. Foi também o grande centro econômico e cultural do período.
O que levou a humanidade, ao longo de sua história, a concentrar-se em cidades, a ponto de algumas terem se tornado, em determinados períodos, muito grandes?
As cidades se desenvolveram no momento em que algumas sociedades passaram a ter condições de produzir alimentos suficientes, graças às inovações técnicas e às mudanças culturais e políticas mencionadas, para garantir não só a subsistência dos agricultores, mas também abastecer os moradores urbanos, que, assim, puderam dedicar-se a outras atividades. Ocorreu, com isso, uma nítida divisão de trabalho entre o campo e a cidade. Foi na cidade que se desenvolveram o comércio e o artesanato. Particularmente, essa região passou a ser o lugar do poder.
A história mostra que a elite dirigente de uma sociedade mais complexa vive na cidade, pois é nela que se localiza todo o aparato de manutenção do poder sobre os territórios conquistados e os povos submetidos.

Quando e como surgiram as primeiras cidades?

Cumpre sublinhar que o aparecimento e a proliferação de cidades pelo mundo antigo, na Mesopotâmia, no vale do Nilo e no vale do Rio Indo, e mais tarde na China, na bacia do Mediterrâneo e na América das civilizações pré-colombianas, teve relação não apenas com as inovações técnicas que permitiram a agricultura e a formação de excedentes alimentares capazes de alimentar uma ampla camada de não-produtores diretos — com destaque, aqui, para a irrigação em larga escala —, mas com mudanças culturais e políticas profundas, mudanças da ordem social em geral.
A regra foi a de que o surgimento de formas centralizadas e hierárquicas de exercício do poder; e, com efeito, foi justamente a formação de sistemas de dominação, com monarcas e seus exércitos, que permitiu, ao lado das inovações técnicas, uma crescente extração de excedente alimentar, sobre o fundamento da opressão dos produtores diretos.
Os impérios da Antiguidade foram, além disso, disseminadores de cidades, como observou Gideon Sjoberg [professor do Departamento de Sociologia da Universidade do Texas em Austin], pois elas eram pontos de apoio para manter a supremacia militar nas regiões conquistadas.[...]

Recapitulando: as primeiras cidades surgem como resultado de transformações sociais gerais — econômicas, tecnológicas, políticas e culturais —, quando, para além de povoados de agricultores (ou aldeias), que eram pouco mais que acampamentos permanentes de produtores diretos que se tornaram sedentários, surgem assentamentos permanentes maiores e muitos mais complexos, que vão abrigar uma ampla população de não-produtores: governantes (monarcas, aristocratas), funcionários (como escribas), sacerdotes e guerreiros.
A cidade irá, também, abrigar artesãos especializados, como carpinteiros, ferreiros, ceramistas, joalheiros, tecelões e construtores navais, os quais contribuirão, com suas manufaturas, para o florescimento do comércio entre os povos. Em vários sentidos, por conseguinte, a cidade difere do tipo de assentamento neolítico que a precedeu, menos complexo. SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do desenvolvimento urbano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 45-6.
Compreende-se, assim, por que justamente a cidade servia de centro para impérios que abrangiam territórios muitas vezes enormes, polarizados por esse centro, que concentrava todo o aparato administrativo e o poder político e militar. Não é por acaso que as cidades que mais cresceram foram as capitais, primeiro as dos impérios e, mais recentemente, as dos Estados nacionais.
Vê-se, portanto, que as principais cidades são exatamente aquelas que têm um papel político importante, que são centros de poder. Na Antiguidade, o melhor exemplo é Roma. Aliás, o próprio termo capital é derivado do latim caput, que significa “cabeça”. De fato, Roma foi a “cabeça” do Império Romano e comandava um vasto território circunstância que originou o ditado “Todos os caminhos levam a Roma”. Pelo fato de concentrar um enorme poderio econômico, político e militar, essa cidade controlava muitos lugares na Europa, na África Setentrional e na Ásia Ocidental, ligados a ela por estradas e pelo mar.
Veja os mapas a seguir:
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Estradas romanas
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Roma foi a grande cidade do final da Antiguidade e início da era cristã. Foi para o Império Romano o que Londres foi para o Reino Unido ou Nova York é para os Estados Unidos. Polarizava vastos territórios interligados ao centro do Império por várias estradas. Na foto, de 1998, ruínas do Fórum Romano.
Com a decadência do império romano, que culminou com a queda de Roma em 476 d.C. fato que marca o início da Idade Média , a urbanização entrou em crise e as cidades foram gradativamente perdendo importância, conforme o feudalismo se implantava.
“Todos” os caminhos levam a...


Para a maioria dos atuais Estados, “todos” os caminhos levam à sua capital, à “cabeça” do país, à cidade que polariza política e economicamente o território nacional. Pode-se dizer, por exemplo, que “todos” os caminhos franceses levam a Paris, “todos” os caminhos britânicos levam a Londres, “todos” os caminhos japoneses levam a Tóquio e “todos” os caminhos russos levam a Moscou.
Entretanto, isso nem sempre é verdadeiro. Nos países que construíram cidades especialmente para serem capitais, como Brasil (Brasília), Estados Unidos (Washington DC) e Austrália (Canberra), os principais fluxos não convergem para as capitais, que são apenas “cabeças” políticas e não as principais cidades (portanto não polarizam a maioria dos fluxos como nos exemplos citados).
No Brasil, a cidade mais importante, que atrai a maior parte dos fluxos do território brasileiro, é São Paulo, nos Estados Unidos é Nova York e na Austrália, Sydney. A importância da capital é muito grande em um Estado nacional e seu poder polarizador torna-se desmesurado quando coincide de ser a “cabeça” política e econômica do território, como no caso da capital francesa. Observe no mapa que há uma grande convergência das rodovias francesas para Paris, cidade que, além de capital, é o centro econômico e cultural da França.
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França: rodovias

As cidades na Idade Média

Chamamos de Idade Média a fase da história européia que se estendeu do século V ao XV e coincidiu, em linhas gerais, com o período de ascensão e queda do feudalismo, um sistema de produção que tendia à auto-suficiência.
Os feudos produziam praticamente todos os alimentos de que necessitavam, por intermédio da agricultura e da pecuária, e em seu interior passou a se desenvolver um artesanato rudimentar. Com isso, o comércio reduziu-se significativamente e a cidade perdeu importância econômica, pois deixou de ser o centro de trocas e de produção artesanal.
Politicamente, o feudalismo caracterizou-se por uma forte descentralização territorial de poder. Os senhores feudais, por possuírem grandes extensões de terras, praticavam um regime de servidão que obrigava os servos a pagarem pelo uso da terra. Esse pagamento era feito em mercadorias, principalmente alimentos, que abasteciam o feudo.
A Europa Ocidental estava, nesse período, fragmentada em uma infinidade de feudos. O território sob o poder dos senhores feudais, portanto, era muito pequeno se comparado ao dos antigos impérios. No interior do feudo, porém, o poder era centralizado, exercido unicamente pelo senhor feudal, dono das terras e dos meios de produção.
As cidades, que perderam as funções políticas e comerciais, perderam igualmente sua função cultural, que foi praticamente monopolizada pela Igreja. Todo o conhecimento técnico e científico, assim como toda a produção literária e artística acumulada e registrada nos séculos anteriores, acabou arquivado nas bibliotecas dos conventos e mosteiros das muitas ordens religiosas.
Ocorreu um refluxo no processo de urbanização, que já vinha acontecendo havia muito tempo, sobretudo no Império Romano. Não se desenvolveram novas cidades e as antigas se esvaziaram.
As cidades medievais da Europa Ocidental eram fortificações construídas para proteger castelos, igrejas e uma pequena população, mas sem uma função urbana definida. Somente no final da Idade Média é que houve um renascimento urbano, identificado na construção de novas cidades e no crescimento das remanescentes.
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Uma herdade feudal típica
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Na Idade Média, as cidades perderam importância, pois o poder político estava descentralizado, estava nas mãos dos senhores feudais. No desenho de Guillaume Revel, feito no século XV, Castelo de Cautrenon.

O renascimento das cidades

A partir do século XIII, iniciou-se na Europa uma lenta retomada do comércio, em parte como conseqüência do movimento das Cruzadas, que abriram o Mar Mediterrâneo, fechado pelos muçulmanos desde o século VIII, e permitiram a circulação de produtos orientais.
A rede urbana foi se ampliando à medida que o comércio se libertava das amarras do imobilismo feudal. Em fins do século XV algumas cidades tinham proporções consideráveis para a época, destacando-se Veneza, Milão, Paris, Nápoles e Constantinopla (veja o mapa a seguir). As principais rotas comerciais eram marítimas e se conectavam com as rotas asiáticas, em Constantinopla, no Cairo e em outros pontos comerciais do Oriente Médio.
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O comércio no final da Idade Média

A retomada do comércio no final da Idade Média gradativamente formou uma rede de rotas comerciais interligando cidades na Europa, norte da África e Oriente Médio. Mas em comparação aos dias de hoje as distâncias eram muito longas e os transportes, deficientes.
A atual Revolução Técnico-científica aproximou os lugares e sustentou a enorme expansão do comércio. Distâncias que hoje em dia são transpostas em horas, no século XV eram percorridas em dias ou meses.
O renascimento comercial e, paralelamente, o urbano, foi o prenúncio de um novo sistema de produção que estava se estruturando em substituição ao feudalismo: o capitalismo. Esse novo sistema econômico provocaria profundas transformações políticas, sociais e culturais que, evidentemente, teriam repercussões fundamentais no espaço geográfico, sobretudo urbano.
Como viria a ser a cidade capitalista? Que função ela exerceria nesse novo sistema? O que mudaria na organização do espaço geográfico?
Fonte: www.scipione.com.br
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