O presidente dos EUA, Barack Obama,anunciou nesta segunda-feira (2) que o terrorista Osama bin Laden foi morto em uma operação militar no Paquistão. Bin Laden era o fundador da rede terrorista da al-Qaeda, responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA. O Talibã, movimento fundamentalista islâmico afegão aliado à al-Qaeda,desmentiu a morte, mas não deu informações que justificassem. Até 11 de Setembro, quase ninguém tinha ouvido falar nos talibãs, em Bin Laden e no papel que eles ocupavam no Afeganistão. A tragédiavoltou os olhos do mundo para a árida região montanhosa da Ásia central e seus protagonistas, que lutam há séculos pelo controle do país islâmico. O Talibã surgiu em um momento de lutas internas dentro do Afeganistão. O país asiático foi unificado em 1747 e gerou brigas entre os impérios britânico e russo até sua completa independência, em 1919. Após experimentar a democracia, um golpe em 1973 inaugurou um período de conflitos que dura até hoje no país. Em 1978, um contragolpe comunista estabeleceu a República Democrática do Afeganistão. De olho no país, a ex-União Soviética invadiu o território no ano seguinte, com 30 mil homens e ajudou os comunistas numa luta ferrenha contra os rebeldes tribais muçulmanos. O número de soviéticos no país chegou a 115 mil, e, nessa época, muitos refugiados foram para o Paquistão e para o Irã. As guerrilhas rebeldes, conhecidas como Mujahideen (‘santos guerreiros’), não estavam unidas, e de nada adiantava a ajuda em armas e dinheiro enviada pelos EUA aos guerreiros, que estavam concentrados em sua maioria no Paquistão. A saída dos soviéticos ocorreu em 1989, mas as diferenças entre os grupos fizeram com que a guerra civil continuasse. Em 1992, os Mujahideen tomaram o poder, e um acordo permitiu a governança até 1994, quando a crise entre as diferentes facções guerreiras explodiu novamente. Ao mesmo tempo, no sul do Afeganistão, surgiu um outro grupo militante, liderado por Mullah Mohammed Omar e que envolvia aprendizes do Islã sunita que pegavam em armas: o Talibã. Ele logo conquistou as cidades de Kandahar e Charasiab. “Após ter conquistado Kandahar, eles entenderam as misturas sociais e étnicas da região e tentaram manipular essas diferenças étnicas para seus ganhos políticos e militares. Eles davam recompensas a quem cooperava e puniam quem ia contra eles. [...] Usavam armas roubadas e ajuda externa militar na formação de seu exército”, escreveu Neamatollah Nojumi no livro "The rise of the Taliban in Afghanistan" (A ascensão do Talibã no Afeganistão). Com financiamento paquistanês, eles foram derrotados na primeira tentativa de conquistar Cabul, mas continuaram os bombardeios à cidade, tomando-a por completo em setembro de 1996 e impondo um governo islâmico radical no país. Apogeu e convivência com a al-Qaeda O grupo aplicou no país uma interpretação rígida da Sharia, a lei islâmica. Logo as escolas de meninas foram fechadas, e as mulheres foram proibidas de deixar suas casas até para fazer compras. Fontes de entretenimento como música, TV e esportes também foram banidas. A aproximação com o líder da rede terrorista da al-Qaeda, Osama bin Laden, não tardou. A princípio um opositor do Talibã, Bin Laden mudou de lado após um encontro com Mullah Mohammed Omar em 1996. Com o apoio de Omar, sua al-Qaeda estava segura para agir no Afeganistão. “O Talibã teve inigualável sucesso, pois implementou uma teocracia austera e puritana às quais desejavam a al-Qaeda e outro grupos jihadistas. Apesar de só ser reconhecido por três países (Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita), o minicalifado sob ordens de Mullah Omar reinou a vontade para realizar seus experimentos entre 1996 e 2001”, escreveu Abdel Bari Atwan no livro "Historia secreta da al-Qaeda". Queda e dispersão O fim da administração do Talibã no Afeganistão está vinculado ao 11 de Setembro. O presidente americano à época, George W. Bush, revidou com uma invasão ao país que dava abrigo à rede al-Qaeda, responsável pelos ataques. Paquistão e Arábia Saudita se tornaram aliados na luta ao terror, e os talibãs continuaram a sua luta armada, agora na clandestinidade. A guerra destituiu os radicais e impôs um novo governo ao país. Até hoje, as tropas americanas lutam contra a insurgência que se divide em diferentes grupos opositores - entre eles, o Talibã. Em outubro de 2007, uma reportagem do jornal "The New York Times" estimou que o grupo tinha 10 mil combatentes, embora apenas 3 mil fossem soldados exclusivos. O Talibã que hoje luta no Paquistão foi organizado de maneira distinta que o grupo que atuou no Afeganistão, emergindo em 2002 após ataques do Exército a regiões tribais. Hoje, o Paquistão empenha sua máxima força na luta contra os talibãs no vale do Swat.Movimento islâmico negou morte do terrorista, anunciada por Obama.
Bin Laden já foi oponente do grupo radical afegão.
Num país assolado por anos seguidos de guerras, a rigidez do Talibã trouxe uma certa calmaria à região. A maioria dos líderes tribais havia sido derrotada, e seus líderes foram enforcados. A população foi desarmada, e as ruas foram desbloqueadas, facilitando o comércio.
E o controle do território foi aumentando até que, pouco antes da invasão americana, em 2001, o Talibã controlava 90% do Afeganistão - embora nunca tenha sido reconhecido pela ONU. Aliás, os únicos países que reconheciam o governo eram a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Paquistão.