Em 1922, durante as comemorações do primeiro centenário da Independência do Brasil, o governo português programou a travessia do Oceano Atlântico, com os pilotosSacadura Cabral e Gago Coutinho, dois de seus mais hábeis pilotos, mas usando 3 aviões Fairey e apoio por mar (abastecimento e suprimentos) de uma frota de navios da marinha de guerra portuguesa, sem o que era impossível realizar a proeza. Falta fazer o mesmo, mas sem nenhum tipo de apoio e num único vôo. Assim, já diziaRibeiro de Barros, não era um vôo prático. Mas as aeronaves da época não tinham autonomia para tamanha empreitada. Os paises europeus, notadamente Portugal, França, Espanha, Inglaterra e até a Alemanha, promoviam, através de seus governos e com apoio das respectivas fábricas, os mais variados reides e competições, sempre com verbas oficiais. Foi a maior competição de homens e máquina já registrada na história. Em 1926 João Ribeiro de Barros planeja transpor o Oceano Atlântico usando uma aeronave num único sem resbastecimento e sem escalas. Barros pede o apoio do governo brasileiro, sem sucesso, por considerar uma idéia absurda: se a Europa não fez, por que fazer no Brasil? Barros volta ao Brasil, para a sua cidade natal Jahu, vende a parte da herança numa aos irmãos e entra em contato com um representante da fábrica italiana Savóia Marchetti, propondo a compra de um hidroavião. Nesse tempo, o conde italiano Casagrande, com o apoio do governo italiano, tenta atravessar o Atlântico usando um avião da Marchetti com o nome de Alcyone, mas cumprido um quinto do percurso, desiste, considerando um avião imprestável para o reide. A fábrica se recusa em vender um aparelho novo ao brasileiro e propõe a venda doAlcyone, que aceita, sem outra opção. Barros contrata o mecânico brasileiro Vasco Cinquini e seguem para a Europa, iniciando o penoso trabalho de recuperação do avião e fazendo adaptações para tornar o aparelho mais leve, veloz e seguro. O governo italiano toma conhecimento da empreitada do brasileiro, que prepara um avião idêntico que seria entregue ao famoso piloto Di Pinedo, para executar o reide. Estava em jogo o prestígio aeronáutico da Europa, especialmente da Itália, e, por isso, seria importante retardar o projeto de Barros. Por precaução, Barros e o mecânico passaram a dormir junto do avião, tanto para evitar sabotagens como para abreviar a data de saída. Mais dois tripulantes são agregados, vindo do Brasil: o navegador Newton Braga e o co-piloto Cunha. No dia 18 de outubro de 1926, o hidroavião, agora batizado de Jahu, em homenagem à sua cidade natal, decola de Gênova, na Itália, sob grande aclamação popular. Entretanto, o avião foi sabotado: um sabão caseiro, terra e água foram colocados nos reservatórios de combustível, além de um pedaço de bronze no fundo cárter do motor traseiro, e, por causa disso, fazem um pouso forçado em Alicante, na Espanha, onde as autoridades espanholas, alegando desconhecer os propósitos do pouso, prendem todos os ocupantes. Libertados graça à interferência da embaixada brasileira, fazem alguns reparos no navio (sem descobrirem a sabotagem) e prosseguem o vôo rumo ao Brasil. Duas horas depois novo pouso forçado em Gibraltar, na Espanha, para substituirem a gasolina impregnada de sabão; novo vôo, novos defeitos nos motores. Em precaríssimas condições consegue atingir o porto Praia, no arquipélago de Cabo Verde, onde são obrigados a desmontar os motores, sem os mínimos recursos, temendo a viagem sem escalas de 2.400 km. Passam vários meses tentando consertar o motor, os atritos com o co-piloto Cunha (que queria se apossar da idéia e foi expulso do grupo), com problemas de saúde e mais uma campanha de difamação por um jornal carioca. Finalmente, na manhã de 28 de abril de 1927, parte do Porto Praia rumo ao Brasil, voando a 190km/h (recorde absoluto durante 10 anos seguintes), enfrentando tempestades, durante 12 horas consecutivas, amerissam em Fernando de Noronha, depois em Recife. Hoje, o avião Jahu se encontra no Museu de Aeronáutica, no Brasil, em péssimas condições de conservação, em completo desrespeito à memória do herói brasileiro. <> Fonte:http://www.memorialpernambuco.com.br/memorial/travessias/menu4.htmlTravessia do Atlântico Sul (sem escalas) João Ribeiro de Barros O AVIÃO O hidroavião era fabricado pela Savoia Marchetti, que não quiz vender um avião novinho para João Ribeiro Barros por questões políticas. Ele teve que comprar um avião usado. Era um S-55 de segunda mão, que já caído na África, modelo 1925, com dois motores de 700 HP cada, 16,51 m de comprimento, 5 metros de altura, envergadura de 24 metros, com velocidade de cruzeiro de 187 km/h, 4 toneladas de peso e autonomia de 4.200 km. O REIDE Enfrentando sabotagens, traições e despachando desaforos até para o presidente do Brasil na época, Washington Luiz, e sem uma uma mísera ajuda governamental, João Ribeiro de Barros fez a travessia solitária do Oceano Atlântico Norte, SEM ESCALAS, semanas antes de Charles Lindberg fazer o mesmo atravessando o Oceano Atlântico Norte. Adivinha quem é mais famoso...
Ribeiro é que está segurando a cordaO HERÓI João Ribeiro de Barros, nasceu em Jahu, estado de São Paulo, em 4 de abril de 1900, filho de família abastada. Em 1919, abandonando o curso de Direito, segue para os Estados Unidos aprofundando-se em engenharia mecânica, regressando ao Brasil 2 anos depois. Em 1923 conquista o brevet de piloto pela Ligue Internationele des Avieteurs, da França. Durante os 3 anos seguintes faz vários reides pelo interior, quando volta aos Estados Unidos para um curso de pilotagem, depois para a Alemanha onde frequenta uma escola de acrobacias. Em 1926 planeja a façanha de atravessar o Atlântico com os recursos de uma única aeronave, sem escalas, o que concretiza no ano seguinte, 1927 (no mesmo ano que Charles Lindberg). Depois, voltou aos afazeres da família e prestou serviços à Aeronáutica, pesquisando e comprando equipamentos no exterior, morrendo em 1947, sem ter se casado ou deixado filhos.