(É recomendável que os leitores tenham algum conhecimento sobre a mitologia egípcia, e a história do Egito, pois podem proporcionar um entendimento maior. Não é, entretanto indispensável ao leitor)
É difícil dizer como e por que um determinado povo criou sua mitologia, Religião e cosmologia. Por exemplo, como os poderosos Romanos criaram um Tão vasto império, mas tão poucos Deuses originais? E como os aborígines australianos tiveram uma mitologia tão rica? É essa pergunta que pretendo analisar brevemente, no âmbito egípcio.
Os Egípcios e seus Deuses Primitivos:
A maioria das sociedades mais antigas via os elementos da natureza como manifestações divinas de um ente superior. Em muitos locais, esses “entes” não eram, de modo algum piedoso com os homens (vide mitologia Suméria), longe disso, eram selvagens e impiedosos. Mas no Egito, seu caráter se modificou. As primeiras três divindades nacionais parecem ter sido os Deuses Rá (o sol), o Deus Hapi (o Rio Nilo) e o Deus Osíris (a Terra). Nessa cosmologia esta implícita relação entre os elementos, à água que rega, o sol que aquece e vivifica, a terra que oferece os alimentos. Essa relação simplista era condizente com a situação de sociedade tribal e semi-sedentaria.
A revolução de Osíris:
Então, veio o momento em que a coisa se modificou. Embora Rá e Hapi fossem deuses nacionais, perdiam espaço para outros Deuses, tais como Amon, Sobek, entre outros. Mais dois realmente se destacaram: Osíris, como Deus do norte, e Seth, como Deus do sul. Houve alguns séculos de convivência pacifica, mas quando a guerra estourou, os deuses lutaram, e o norte foi derrotado. No mito Osiriano, Osíris é morto por Seth, e este se torna Rei do Egito. Mas a resistência é feita por Isis, com seu filho Hórus. E de fato, quando Hórus chega à maturidade, acontece à luta entre ele e Seth, e um empate ocorre.
Nesse momento, no Egito, ocorre uma supremacia do sul, que é interrompida por alguma espécie de revolta ou levante do norte, ocorrendo uma luta. Pode-se dizer que a solução de Namer, ao adotar a dupla coroa se refletiu nos mitos, onde o pais é dividido em duas partes, cabendo o sul a Seth, e o norte a Hórus, (já que Osíris era agora senhor da morte e do reino dos mortos), mas ambos são reunidos pelo Faraó. De fato, um dos nomes desse é “aquele que tem Seth e Hórus no mesmo ser”. Os mitos simbolizam a união dos Egitos, e a duradoura paz, só rompida em fins dom Antigo Império. Essa parte, entretanto, é complexa, e merece uma analise mais profissional e longa, pouco pratica nessa fase.
Os Deuses Egípcios posteriores:
Aqui temos uma abundancia de Deuses. Longe de serem nacionais, a maioria é composta por deuses locais conhecidos, mas quase desconhecidos em outras partes, ou então deuses nacionais com maior ênfase e poderes em certas regiões. Como Thot, que é deus da sabedoria em muitas partes, mas também é o da diplomacia em Mênfis, e o da magia em Heilópolis, mudando de local para local. Esse fato é uma conseqüência da idade feudal que o Egito viveu no médio Império, e no segundo período intermediário. Havia um Faraó, mas cada região tinha sua grande família, enterrada com pompa e celebrações. Assim, não era incomum que um deus fosse eleito predileto.
Mas a coisa mudou muito no novo império. O nacionalismo renasceu com uma força excepcional, e tomou a forma de um Deus poderosíssimo: Amon, o deus Oculto, senhor do vento e do cosmos. Inicialmente, esse era um Deus Tebano, razoavelmente conhecido. Porem, com a reunificação Egípcia por príncipes tebanos, ele adquiriu uma notoriedade nacional, a ponto de se fundir com o deus Rá, (que agora era um patrono do Baixo Egito, ao norte), criando a superdivindade Amon-Rá, um deus com poder sobre todos os outros. Não deixou de haver hierarquias e templos separados para ambos, mas para o povo comum, agora eles eram um, mas com dois aspectos. Esse acontecimento reflete o longo período de estabilidade, onde, sob a tutela dos Faraós tebanos, como os Amenofis, os Amenhotep, os Tutmés, e claro, os Ramessídas, a consciência nacional se consolidou. Amon alias, recebe tratamento especial: O complexo de Karnak-Luxor surge, para glorificar o poderoso Amon. Seu Sumo-Pontifice passa a ser um “vice-rei” com poderes, às vezes comparável ao do Faraó. E Amon se torna o todo-poderoso líder do panteão egípcio. Nessa época, outros Deuses mudam de aspecto. Osíris volta a ter um culto extremamente popular, principalmente sobre Sethi I e Sethi II(faraós da décima nona e vigésima dinastia, respectivamente). No reinado do primeiro, Seth deixa de ser encarado como um emonio, embora sua fama de implacável não deixe de existir, mas agora ele surge mais como uma força cósmica, que o Faraó necessita para manter o Egito a salvo – e convenientemente para realizar a expansão pelo Oriente Próximo.
A experiência Monoteísta:
No novo império surge, contudo uma revolução religiosa: Amenofis IV, longe de ser um louco religioso proclama Aton como único Deus, e o Faraó como seu único alto sacerdote. Esse movimento, na verdade, teve caráter profundo, visando destruir a camada dos sacerdotes, cada vez mais poderosa. De fato, por um tempo, ele alcança seu objetivo: templo são destruídos, deuses desfigurados, mas a face do sol é adorada como o rosto de Aton, que banha a humanidade com seus benfazejos raios. Mas, no momento em que ele lança a mão de uma política pacifista contra seus rivais hititas, os sacerdotes ganham apoio de quase todos os segmentos da sociedade, que se unem e o derrubam, restaurando os Deuses antigos e a política externa expansionista. Amenofis,e toda a família rela morre, e o general Horenheb sobe ao trono, depois de um periodo confuso e conturbado.
As Deusas:
Os egípcios não eram, de modo algum machistas. As mulheres detinham igualdade social, podendo ter fortunas próprias, serem sacerdotisas, pedirem divorcio, etc. Mas suas deusas nunca alcançaram notoriedade duradoura. Hathor sempre foi uma mãe extremosa, Bastet uma glorificadora do Amor, e Neftis a senhora dos templos, e Isis a grande maga. Mas só esta ultima tornou-se uma deusa de adoração geral no país. Seu papel como mãe de Horus e grande maga é admirado em todo o império, de tal maneira que sua adoração é geral. A grande Esposa do real, e rainha do Egito era filha de Isis, e sua encarnação na terra. Apesar disso, nunca teve tanta influencia quanto os deuses masculinos.
24.2.11
A Mitologia Egípcia e as Revoluções de sua Sociedade
Por Daniel Silva