Um dos mais fascinante mistérios da Pré-história é o surgimento do ser humano. Até 1859, apenas livros religiosos, como a Bíbliam, davam resposta a esse enigma, naturalmente em sua linguagem simbólica. Nesse ano, o naturalista inglês Charles Darwin publicou seu livro A origem das espécies, apresentando evidências de que as espécies animais são capazes de modificações gradativas, ou de evolução, através do tempo, de modo que novas espécies possam surgir. Ele também demonstrou que as modificações são determinadas pela Lei da Seleção Natural, segundo a qual, na acirrada competição que os seres vivos travam pela sobrevivência, prevalecem aqueles que melhor se adaptam ao meio específico em que vivem. Dessa maneira, as características que contribuíram para a sobrevivência de cada espécie são preservadas e transmitidas para as gerações futuras.
Por uma questão de justiça histórica, não se pode deixar de mencionar que o também inglês Alfred Russel Wallace havia chegado às mesmas conclusões de Darwin - e exatamente na mesma época. No entanto, por uma gentileza característica dos cavalheiros britânicos, permitiu que Darwin publicasse antes o seu livro e recebesse todos os méritos da descoberta, ficando Wallace em segundo plano.
A origem das espécies
A partir dessas idéias, de observações e de estudos de material fóssil, além de experiências, os cientistas puderam traçar a linha de evolução dos seres vertebrados, afirmando que teriam surgido no mar, de organismos menores. Entre os primeiros vertebrados estariam os peixes, em seguida os anfíbios, e na sequência, os répteis, as aves e os mamíferos.
Entre os mamíferos, teria aparecido, há cerca de 13 milhões de anos, a ordem dos primatas, que inclui atualmente os macacos e os homens. Para percorrer a distância entre os primatas mais simples, através da seleção natural, e o homem, foram necessários milhões de anos.
Os primatas
A espécie de primata com características mais próximas das da espécie humana de que se tem notícia é a do Ramapithecus, que existiu há 13 milhões de anos. Foi sucedida peloAustralopithecus (cerca de 4 milhões de anos atrás), contemporâneo doHomo habilis, surgido há aproximadamente 2,3 milhões de anos.
Os cérebros da maioria das espécies de Australopithecus tinham
cerca de 35% do tamanho de um cérebro humano atual
Há cerca de 1,5 milhão de anos, tendo predominado o gênero Homo sobre o Pithecus, a espécie do Homo erectus floresceu, com postura e dimensões do cérebro próximas das do homem atual. Dessa espécie, os dois exemplares mais célebres foram aquele descoberto em 1891 por Eugéne Dubois, em Java, batizado Pitecantropo de Java, e o que foi achado em Pequim, China, conhecido como Sinantropo pequinense.
Acredita-se que o local de origem do Homo erectus tenha sido a África centro-oriental, de onde ele teria saído (por razões desconhecidas) para povoar o mundo, chegando primeiramente à Ásia e à Europa. Mas sobre essa expansão, como também a respeito de sua chegada ao continente americano, os estudiosos possuem muitas dúvidas e poucas certezas.
O Homo sapiens
O Homo sapiens, surgido entre 400 mil e 100 mil anos atrás é um dos últimos elos da corrente da espécie a qual todos nós pertencemos. Suas origens ainda não estão totalmente explicadas. Uma das teorias afirma que os seres humanos modernos (Homo sapiens sapiens) evoluíram ao mesmo tempo a partir de populações primitivas da África, Ásia e Europa, misturando-se uns aos outros geneticamente.
Fóssil criança Homo sapiens encontrado em Israel. O esqueleto
foi encontrado originalmente aos pés de um esqueleto de fêmea
adulta. Fóssil de cortesia do Departamento de Anatomia e
Antropologia (Universidade de Tel Aviv) e do Museu Rockefeller
(Tel Aviv) - Crédito da foto: Paul Tafforeau
Segundo os defensores dessa corrente, isso se justifica pelo fato de que, em determinadas regiões, populações humanas modernas possuem algumas estruturas anatômicas semelhantes a populações de Homo erectus que ali viveram no passado.
Uma outra hipótese sustenta que uma pequena população relativamente isolada de seres humanos primitivos da África evoluiu até o Homo sapiens moderno e de lá se espalhou pela Europa, Ásia e restante do continente africano, desalojando as populações humanas primitivas que encontrava em seu caminho. Os cientistas defendem suas idéias baseando-se na análise do DNA de células de seres humanos de diferentes localidades do planeta.
Independentemente de qual teoria esteja correta - se é que alguma delas está -, o fato é que os mais antigos fósseis já encontrados de seres humanos modernos datam de 130 mil anos e foram localizados na África. E de todas as espécies, o Homo sapiens sapiens foi a única que se espalhou e conquistou os cinco continentes do nosso planeta.
Períodos da Pré-história humana
Do mesmo modo como a história foi dividida em períodos ou idades (Antiga, Média, Moderna e Contemporânea), os estudiosos realizaram uma periodização da Pré-história, embora esta seja constantemente questionada. A primeira periodização foi formulada pelo dinamarquês Christian Thomsen, num livro publicado em 1836. Segundo ele, a Pré-história se dividida em:
Essa classificação foi depois substituída pela do inglês John Lubbock, que chamou de Paleolítico e de Neolítico o que, respectivamente, Thomsen denominara Idade da Pedra Lascada e Idade da Pedra Polida. Lubbock subdividiu, ainda, cada um dos períodos em fases inferior, média e superior.
Atualmente, as duas classificações em geral são combinadas. Entretanto, os estudos pré-históricos propriamente ditos tendem a considerar mais os dois primeiros períodos, Paleolítico e Neolítico, do que os períodos subsequentes.
Técnicas e utensílios
As duas classificações se baseiam nas técnicas ou nos utensílios inventados pelo homem nas épocas focalizadas. Assim, quando se fala em Paleolítico (ou Idade da Pedra Lascada), têm-se em vista instrumentos rudimentares de pedra, de madeira ou de osso. E, ao falarmos em Neolítico (ou Idade da Pedra Polida), referimo-nos a instrumentos feitos com os mesmos materiais, porém mais sofisticados e mais elaborados.
Em 1936, os estudos do cientista Vere Gordon Childe abriram novos caminhos para uma melhor com preensão da Pré-História. Ele propôs que esses períodos fossem considerados etapas da evolução do homem, que não se excluíam entre si, superando-se através de novas formas de produção.
Paleolítico: caçadores nômades
Aceitando a designação de Lubbock e as propostas de Childe, o período Paleolítico compreenderia os anos entre 4 milhões a.C. e 12.000 a.C. Suas características são o nomadismo e a subsistência baseada na caça, mas também voltada para a pesca e a coleta de vegetais.
Durante a caçada, os animais eram forçados em direção a desfiladeiros sem saída ou rumo a abismos, quando então caíam em armadilhas feitas em covas, onde havia paus pontiagudos. Como camuflagem, o homem dispunha principalmente de disfarces com peles e chifres de animais.
Os instrumentos ou ferramentas usados cotidianamente eram de pedra, de madeira ou de osso, moldados a partir de golpes de um material mais resistente contra outro menos resistente. Essa técnica podia chegar a alguma sofisticação, com objetos tendo apenas uma de suas faces lascada ou afiada para tornarem-se mais adequados. São dessa época os "machados de mão", pedras trabalhadas para se tornarem cortantes, sem cabo.
Arte rupestre
Pouco se sabe sobre a quantidade populacional no Paleolítico, principalmente em virtude do nomadismo. Calcula-se, por exemplo, que em toda a área da atual Bélgica viviam apenas 400 pessoas. De acordo com sepulturas e esqueletos fossilizados nelas encontrados, imagina-se que a média de idade dos seres humanos no fim do período era de 26 anos.
A arte rupestre de Lascaux: animais já extintos entre as imagens feitas
pelo homem de Cro-Magnon
No plano artístico, é comum associar-se a arte à religião durante o Paleolítico, embora haja teorias atribuindo ao aumento demográfico o surgimento de tempo ocioso, empregado em pintura e em escultura. De qualquer modo, a arte pré-histórica ou rupestre refletia as preocupações de subsistência, através de representações da caça e da fertilidade (da terra e da mulher).
Neolítico: a revolução da agricultura
Supõe-se-se que a humanidade tenha entrado num segundo estágio de sua evolução cultural entre 12.000 a.C. e 6.000 a.C., com a descoberta da agricultura, que passou a ser a principal fonte de subsistência. A agricultura levou ao sedentarismo e, simultaneamente, às primeiras tentativas de domesticação de animais (supõe-se que com cabras, porcos e carneiros, em regiões da Ásia).
Os utensílios multiplicaram-se. Já não se tratava de simples "machados de mão" ou clavas, mas sim de vasos, estatuetas, fusos, contas, pilões. Surgiu também uma das peculiaridades do Neolítico: a cerâmica, possivelmente criada a partir do revestimento de betume que se colocava no interior de cestas de fibra para torná-las impermeáveis e próprias para o transporte de líquido. A resistência do betume, permanecendo após o desgaste das fibras, explicaria a tese.
Advento da escrita
O sedentarismo teria permitido também o aumento populacional e o surgimento de organizações sociais mais complexas, inclusive ocorrendo uma divisão social do trabalho e uma especialização de funções. Estudiosos admitem a existência de um poder organizado, com autoridades temporais e/ou religiosas.
A etapa posterior é conhecida como Idade dos Metais, com o domínio de técnicas de manipulação do cobre e do bronze por parte do homem. É quando ocorre o surgimento de cidades, processo que Gordon Childe chama de Revolução Urbana. Por fim, veio o advento da escrita, que encerrou a Pré-história.