22.8.11

22 de agosto de 1981 - Morre Glauber Rocha

Glauber Rocha na Redação do Jornal do Brasil. Carlos Wrede/CPDoc JB

Exilado em Portugal desde o início da década de 70, Glauber Rocha, o maior cineasta que o Brasil já teve, voltou a seu país para morrer. Transferido já doente de Lisboa para uma clínica no Rio de Janeiro, com septicemia e choque bacteriano, Glauber resistiu três dias até que a morte o levasse de vez. “Um dos mais extraordinários, lúcidos e honestos intelectuais desse país”, escreveu o médico no atestado de óbito do Homem.

Controvertido, polêmico, considerado dos mais geniais cineastas brasileiros, Glauber foi, em seu funeral, protagonista também de um filme. Ele que procurou fazer da morte de Di Cavalcanti uma obra de arte, que revolucionou o cinema brasileiro, seria desta vez o tema de uma homenagem, registro indispensável decidido por cineastas e representantes da Embrafilme.


Gênio, louco, radical, apocalíptico, caótico, santo guerreiro ou dragão da maldade, Glauber parece ter sido um produto de suas contradições. Foi o mais importante nome da história do nosso cinema e reconhecia isso. Desde que Fritz Lang (Metrópolis, 1927) e Luis Buñuel (O cão Andaluz, 1928) reconheceram em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963) uma obra-prima ao nível das melhores já produzidas no mundo, nunca mais teve dúvidas de sua genialidade. Com Deus e o Diabo ganhou prêmio de melhor diretor em Cannes, no ano seguinte, por unanimidade.




Em Terra em Transe (1967), no entanto, Glauber recebeu críticas negativas ferrenhas dos intelectuais brasileiros, que acusaram-no de louco, mistificador ou irresponsável. Ali Glauber critica a conjuntura brasileira pré-golpe de 64, incluindo todos os que participaram, de alguma forma deste processo, incluindo camadas da esquerda brasileira.


“Os senhores que antes me chamaram de gênio, agora me chamam de burro. Devolvo a genialidade e a burrice. Sou um intelectual subdesenvolvido como os senhores, mas, diante do cinema e da vida, tenho pelo menos coragem de proclamar minha perplexidade”, escreveu ele.

As críticas não contiveram o gênio. Logo depois, lançou Câncer, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, Cabeças Cortadas, todas obras-primas, premiadas, discutidas e reverenciadas por críticos e espectadores do mundo inteiro.

Fonte:JBlog