12.8.11

Diamantes São Eternos

A história dos diamantes é muito antiga, remontando há mais de 2.800 anos, e desde então eles vêm sendo utilizados em joias e adereços. O termo "diamante" é derivado da palavra grega Adamas (o inconquistável), prova suficiente de que, já na Antiguidade, era conhecido e apreciado por sua indestrutível beleza. Os gregos se referiam aos diamantes como faíscas das estrelas que caíam sobre a Terra. Diziam também que eles seriam lágrimas dos deuses.
Os diamantes são feitos no magma derretido nas profundezas da Terra e somente a natureza pode fabricá-los, mas foi o homem que criou a raridade artificial que tem estimulado a procura por estas pedras preciosas. Desde a sua origem no interior da terra até brilhar no engaste de uma jóia, o diamante se envolve em uma aura de mistério. Além da beleza e raridade, quando uma pedra possui um passado histórico, pertenceu a uma celebridade, a um rei ou rainha, foi conquistada com sangue ou esteve envolvida em crime passional, o mistério e o seu valor aumentam consideravelmente.
A própria formação dessa pedra preciosa já constitui um mistério. Os cientistas não sabem exatamente como se deu e a melhor explicação vem da natureza. Embora seja composta do mesmo elemento que o grafite (o carbono cristalizado), no caso do diamante a forma como os átomos de carbono se unem uns aos outros é completamente diferente. Sabe-se que, há cerca de setenta milhões de anos, os átomos de carbono começaram a cristalizar-se a duzentos quilômetros de profundidade sob elevada temperatura e imensa pressão. Foram trazidos à superfície por erupções vulcânicas.


O Diamante Grão-Mogol, com 280 quilates


O famoso Orloff, com 200 quilates

Existem várias formas de encontrar diamantes: em minas a céu aberto ou subterrâneas, nas praias ou rios, como mostra essa gravura feita em Minas Gerais, no século XVIII

História
Foi na Índia, por volta do ano 800 a.C., que os primeiros diamantes foram descobertos na região de Golconda, próximo a Hyderabad. E até o século XVII, quase todos os diamantes comercializados no mundo tinham como origem a mina de Golconda. Daquele local, foram extraídos alguns dos mais famosos diamantes do mundo, como o Koh-i-Noor, que faz parte das joias da Coroa da Inglaterra, e o Orloff, patrimônio das joias da Coroa da Rússia.
Quando a extração de diamantes começou a declinar na Índia, foram descobertas jazidas de diamantes no Brasil, provavelmente em Diamantina, em Minas Gerais. Não se sabe com certeza a data e local exatos da descoberta de diamantes no Brasil, mas se aceita a tese de que a descoberta oficial ocorreu em 1725, embora alguns historiadores afirmem que o achado se deu ainda no final do século XVII, nas proximidades do antigo Arraial do Tijuco, hoje Diamantina. Contam que garimpeiros que desbravaram as matas em busca de ouro, ao longo do rio Jequitinhonha e de seus afluentes, encontravam pedras brilhantes sem saber que se tratava de diamantes, até que um sacerdote, que estivera na Índia, as teria reconhecido. Uma segunda versão afirma que os primeiros diamantes foram encontrados por Francisco Machado da Silva e sua esposa Violante de Souza em 1714; outra credita a descoberta a Bernardino Fonseca Lobo, enquanto alguns historiadores a atribuem ao português Sebastião Leme do Prado, que residira em Goa, uma possessão lusitana situada na Índia.
Mesmo rareando a produção de diamantes na Índia, na Europa espalhou-se a falsa notícia de que as pedras oriundas do Brasil seriam diamantes indianos de baixa qualidade, exportados de Goa para nosso país e daqui para a Europa. Os portugueses se viram, então, forçados a transportar as pedras brasileiras para Goa, de onde eram enviadas para a Europa como diamantes indianos, cuja boa reputação era inquestionável. Durante o período colonial, a exploração de diamantes foi monopólio da Coroa portuguesa. As extração revelaram-se tão intensas que um século depois os diamantes já rareavam e chegou a vez da África do Sul.
A descoberta do primeiro diamante na África do Sul também é lendária. Contam que um garoto chamado Erasmus Jacobs encontrou, em 1866, uma bela pedra nas margens do rio Orange que depois de passar pelas mãos de várias pessoas, foi finalmente identificada por um viajante como um diamante amarelo de 21 quilates, batizado de Eureka e avaliado em 2.500 dólares. Apesar do seu valor histórico, este diamante não foi engastado em nenhuma joia, sendo doado ao Parlamento daquele país.
Voltando no tempo, foram os indianos que descobriram que somente um diamante pode cortar outro diamante. Como essa pedra preciosa só reluz depois de lapidada, eles começaram a fazer algumas facetas em sua superfície, mas apenas para aplainar falhas e captar luz, evitando cortar muito para conservar o peso original. Mais tarde, chegaram à conclusão de que, para extrair toda a beleza da pedra, seria necessário lapidar mais, o que inevitavelmente reduziria o peso do diamante. No peso de pedras preciosas, é usado o quilate métrico, que equivale a 199 miligramas.
A grande era da lapidação de diamantes teve início na Idade Média, quando passou a ser cortado segundo um padrão geométrico preestabelecido. O principal centro de lapidação foi a Holanda em meados do século XV, embora outros países, como a Bélgica, Índia, Estados Unidos e Israel, também tenham-se destacado. O corte considerado mais bonito foi o criado pelo joalheiro veneziano Peruzz no final do século XVII, denominado brilhante. È semelhante aos cortes chamados marquise, pêra e oval - todos com 58 facetas.

A Rainha Mary, posando com o Koh-i-noor no pescoço, o Culliman e a Estrela Menor da África presos em sua faixa.

Napoleão Bonaparte mandou engastar o diamante chamado O Regente no cabo de sua espada cerimonial. Segundo os franceses, essa pedra, encontrada na Índia, em 1701, é o mais belo diamante do mundo. Na foto, o Imperador exibindo sua espada com a jóia quando foi coroado imperador em 1804.

Diamantes Famosos
Os indianos, que descobriram os diamantes, passaram a usar a pedra na decoração dos seus deuses, como foi o caso de Vixnu, no templo hinduísta de Srirangam, cujos olhos tinham incrustados dois diamantes de duzentos quilates cada um. Tempos depois, uma dessas pedras ficou conhecida como diamante Orloff. Tal costume de enfeitar os deuses com diamantes levou à crença de que estas pedras adquiriam as qualidades mágicas das divindades e passavam a ter propriedades sobrenaturais. Houve certa vez um diamante com uma lenda ligada a ele, chamado o grande Mogul, que pesava 787 quilates. Há cerca de trezentos anos, desapareceu, tendo sido cortado em pedras menores. Uma dessas partes, pesando 280 quilates, foi utilizada para a coroa de um marajá indiano.
Envolto numa série de lendas, o diamante cativou a imaginação popular. Quem fosse rico o bastante para adquirir um diamante, fazia-o para presentear a mulher amada. Ricardo II da Inglaterra, ao desposar Isabel de França, deu-lhe de presente um magnífico colar de diamantes. Napoleão III ofereceu à sua noiva, a futura Imperatriz Eugênia, um belíssimo diamante oval (diamante R Eugênia). Em tempos mais modernos, Richard Burton adquiriu um diamante em forma de pera para Elisabeth Taylor (diamante Burton-Taylor). Mas o costume de ofertar um anel de diamante no dia do noivado começou em 1477, quando a Princesa Maria de Borgonha recusou casar-se com o filho de Luís XI, da França, para unir-se ao Arquiduque Maximiliano da Áustria, que depois seria imperador de seu país. Maximiliano presenteou Maria de Borgonha com um anel de diamantes.
Muitos diamantes adquiriram fama mundial por sua beleza, tamanho ou pela notoriedade de seus proprietários. Outro fator importante é a coloração da gema, na sua maioria aparentemente branca, mas quase sempre apresentando alguma coloração, sendo os mais raros e mais caros os diamantes de coloração branco-cristal. Também são valiosas as pedras de forte colorido, como, por exemplo, o Dresden, um diamante verde-maçã que foi uma das joias da Coroa da Saxônia. O Williamson, presenteado à Princesa Elisabeth no seu casamento com o Duque de Edimburgo, é um diamante cor-de-rosa, enquanto o célebre Hope, uma pedra de 44,5 quilates, possui coloração azul; foi obtido de uma pedra bem maior, o Grande Diamante Azul, de 112,5 quilates, usado por Maria Antonieta até ser roubado durante a Revolução Francesa. Desaparecido por muitos anos, este diamante foi incluído numa pintura de Goya que retratava a Rainha Maria Luísa de Espanha. Em 1830, apareceu na Inglaterra uma pedra idêntica à que constava do retrato de Goya, a qual especialistas afirmaram se tratar de um pedaço do famoso Grande Diamante Azul; foi batizada com o nome do comprador, o banqueiro londrino Henry Philip Hope. Os herdeiros de Hope venderam-na ao sultão Abdul Jamid II, da Turquia. Aparentemente, o diamante também trazia má sorte, pois o sultão perdeu o trono. Ele o vendeu para o casal Edward Mc Lean, sendo finalmente adquirido por Harly Winston, de Nova Iorque, que doou a pedra à Instituição Smithsonian.
Famoso também é o diamante Orloff, de 198,6 quilates, originalmente incrustado no olho do deus hindu Vixnu. Foi roubado por um soldado francês em 1700, que o vendeu a um capitão da marinha inglesa. Em 1775, foi adquirido pelo príncipe russo Gregório Orloff (por cerca de meio milhão de dólares), que o presenteou à Imperatriz Catarina, a Grande, a qual o colocou no cetro imperial, peça que hoje se encontra no Tesouro dos Diamantes da Rússia.
Encontrado na mina Premier, na África do Sul, o Culliman é um dos maiores diamantes já encontrados, e pesava 3.106 quilates em estado bruto. Foi batizado com o nome do descobridor da mina, Sir Thomas Culliman, tendo sido doado ao Rei Eduardo VII, da Inglaterra, em 1907. A tarefa de lapidar o Culliman foi entregue a Joseph Asscher, o mais famoso lapidador de Amsterdã. Da imensa pedra, saíram nove gemas grandes e 96 brilhantes. A maior das pedras transformou-se no maior diamante lapidado no mundo, com 516 quilates, guardado na Torre de Londres, junto com o Estrela Menor da África, de 317,4 quilates; um diamante em forma de pera com 94,4 quilates, engastado na coroa da Rainha Mary; e o Koh-i-noor, de 186 quilates, engastado na coroa da Rainha Elisabeth II.
Em 1304, o Koh-i-noor (que significa "a montanha da luz") pertencia a um nobre indiano e depois passou para as mãos do sultão Baber. Nos séculos seguintes, fez parte do tesouro dos imperadores mongóis. Em 1739, a Índia foi invadida pelos persas, e o comandante Nadir Shah apossou-se do diamante. Depois da sua morte, a pedra foi parar na capital do Punjab, passando para as mãos dos ingleses em 1849. A Companhia das Índias Orientais recebeu o Koh-i-noor como pagamento e, em 1850, deu-o de presente à Rainha Vitória.

Os quatro princípios
Os diamantes são julgados em diferentes fatores que determinam sua beleza. A maioria nem chega até o consumidor por possuir muitos defeitos. Normalmente, são usados por indústrias como um abrasivo para brocas ou corte de diamantes e outras pedras preciosas. Caso você já tenha comprado um, já ouviu falar sobre os "quatro princípios". Em inglês, o termo é conhecido como "quatro Cs" (the four C's).
1. Corte (cut): refere-se a como o diamante foi cortado e às suas proporções geométricas. Quando um diamante é cortado, facetas são criadas, e seu formato final determinado.
2. Claridade (clarity): é a medida dos defeitos ou inclusões observados no diamante. Os níveis de claridade começam por Sem Defeitos e vão decrescendo, passando por Muito Muito Leve, Muito Leve e Levemente Presente.
3. Quilate (carat): é o peso do diamante. Um quilate equivale a aproximadamente duzentos miligramas.
4. Cor (color): com relação aos diamantes transparentes, a escala de cor vai de D a Z, começando com Branco Gelo, a cor da maioria dos diamantes caros, e terminando com amarelo-claro.
Outras qualidades únicas de um diamante são a transparência, brilho e dispersão de luz. Um diamante originado de 100% de carbono será totalmente transparente, mas normalmente contém outros elementos que podem afetar a cor. Embora comumente pensemos nos diamantes como claros, também existem os azuis, vermelhos, negros, verde-claro, rosa e violeta. Contudo, estes diamantes coloridos são extremamente raros.
Os diamantes que se originam naturalmente não são mais raros que muitas outras pedras preciosas. Os verdadeiramente raros são os enquadrados como Sem Defeitos, cuja classificação já diz tudo.
Os diamantes nem sempre foram tão populares entre os americanos nem tão caros. Um diamante em um anel tem seu preço elevado de 100 a 200%. A única razão pela qual se paga tanto mais por eles do que por outras pedras preciosas hoje é porque seu mercado é quase todo controlado por um único cartel, chamado De Beers Consolidated Mines Ltd., estabelecido na África do Sul.


O diamante do Shah


Diamante Blue Hope

Fonte: de Beers; The British Monarchy; texto de Antonio Callado de Paiva; Precious Stones; HowStuffWorks´ Brasil.Fotos: de Beers; reproduções e arquivo A Relíquia