Outra importante questão decorrente da globalização capitalista, é a da ordem monetária. Para o comércio e as finanças nos blocos econômicos mundiais, tornou-se imprescindível um regime estável de taxa cambial e de uma moeda capaz de circular livremente pelos países, sem obstáculos criados por políticas particulares de cada Estado, segundo interesses nacionais. Entre as dificuldades enfrentadas pelos defensores da reformulação monetária estaria a questão de regular a emissão dessa moeda única internacional e quais seriam as taxas cambiais na conversão das atuais moedas para a nova.
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Foi nesse quadro que as associações comerciais internacionais passaram a discutir a questão monetária e, no caso da UE, até se definiu a criação de uma moeda regional (Euro), assinando o Acordo de Maastricht (1992) e o Acorde de Madri (1995).
Outro sério problema para os Estados na economia globalizada é quanto ao volume gigantesco dos valores financeiros em circulação pelo mundo: tanto podem ativar a economia dos países x ou y, com imensos investimentos de capitais, quanto sufocá-la, com a saída dos capitais aplicados.
Nesse quadro, entre 1984 e 1992, o fluxo do comércio internacional de bens e serviços saltou de 3,5 para 7,5 trilhões de dólares anuais, enquanto que na aplicação de investidores em ações da bolsas em outros países cresceu 28% ao ano entre 1980 e 1990, passando de 120 bilhões para 1,4 trilhão de dólares ao ano.
A abertura e a subordinação das economias nacionais, a vulnerabilidade das moedas controladas por estados cada vez mais minimizados e o maior fluxo comercial e monetário internacional, com propostas de mudanças, como foi o caso, do G24, grupo de 24 países das nações em desenvolvimento.Não sem adeptos em outras partes do mundo, o G24 defendeu um projeto de reformas e até de criação de um novo padrão monetário internacional, tendo como avaliador o FMI e baseado num valor médio de uma cesta composta das cinco principais moedas do mundo.
A gravidade apontada nas discussões pode ser melhor compreendida traçando-se um breve histórico da ordem monetária internacional ao longo do século XX, considerando que até meados dos anos 90 a economia mundial, em expansão, contou com várias ordens monetárias, cuja variação espelhou as transformações históricas do capitalismo.
Do século XIX a 1914, o mundo capitalista ocidental contou com um sistema monetário fundado no padrão-ouro, significando que todas as moedas nacionais eram convertidas em qualidades padronizadas de ouro, o que determinava as taxas cambiais nas relações comerciais e de fluxos de capitais entre as nações. Esta foi a época da predominância internacional da libra esterlina inglesa.
Com a Primeira Guerra Mundial, a conversibilidade foi abandonada em meio às emissões monetárias crescentes dos vários países, originando as taxas flexíveis da década de 20. Tal sistema definia a relação entre as moedas, obtida a partir de seus valores em 1914, multiplicados pelo diferencial de inflação entre elas. A ordem flexível permitiu amplos fluxos de capitais especulativos, provocando especulações que afetaram o intercâmbio internacional de mercadorias e de serviços e os próprios valores monetários. Ao mesmo tempo, deu-se a emergência da supremacia do dólar norte-americano, expressando a liderança dos EUA.
No final da Segunda Guerra Mundial, a ordem monetária internacional foi novamente reorganizada, pelo Acordo de Bretton Woods. Em New Hampshire (EUA), reuniram-se representantes de 44 países, e foi definido um regime de câmbio em que o ouro e o dólar eram transformados no eixo do sistema monetário internacional. Em suma, o dólar substituiu a libra esterlina.
Este sistema, começou a apresentar dificuldades pouco tempo depois, devido à emissão progressiva de dólar pelos EUA, para garantir recursos para financiar seus gastos públicos e a política externa. A emissão descontroladade dólares resultou em inflação para a economia mundial, atraindo, por um lado, os protestos de personalidades internacionais, e por outro, a troca das reservas em dólares da vários países por respectivas quantidades em ouro, colocando em risco as próprias reservas norte-americanas.
Em 1971, o presidente norte-americano Richard Nixon quebrou o acordo de Bretton Woods, suspendendo a conversibilidade do dólar ou do ouro, e depois desvalorizando o dólar e liberando o preço do dólar em relação ao ouro e outras moedas.
Em 1976, na reforma monetária da Jamaica, oficializou-se outra ordem monetária internacional que deixava livre a taxa cambial dos países. Era uma nova ordem inspirada nos monetaristas norte-americanos liderados por Milton Friedman, em que prevaleciam as taxas flutuantes das moedas, livremente determinadas pelos mercados.
Foi dentro dessa ordem que, na década de 70, ocorreu uma acentuada desvalorização do dólar em relação a outras moedas como o iene e o marco, sendo revertida somente na década de 80, com o governo Reagan. Graças ao pagamento de altas taxas de juros aos investimentos feitos nos EUA dispensava a emissão de moeda e até servia para cobrir despesas. A partir de 1985, o governo norte-americano retornou passo a passo a normalização da taxa cambial do dólar, desvalorizando-o em relação ao iene e marco alemão, conservando a taxa cambial flutuante.
É em tal sistema de taxas flutuantes, bem parecido com o quadro monetário das décadas de 20 e 30, que se facilitam as idas e vindas do capital especulativo, resultando nas recentes oscilações das taxas cambiais nas nações.
Acrescenta-se que o capital internacional em circulação é gigantesco e em crescimento, contando com uma parte expressiva destinadas aos investimentos não produtivos, isto é, especulativo, um capital perseguidor de oportunidades locais, que, uma vez obtido o ganho, procura logo outras chances de rápida lucratividade.
Tal investimento especulativo, conhecido como hot-money, é estimado por alguns especialistas em cerca de 13 trilhões de dólares por dia (1995), circulando pela economia mundial em busca de rendimentos e fugindo de crises e perdas. É responsável, às vezes, pela criação de ambientes propícios ao reerguimento econômico de certas regiões e, em outras, por colapsos.
O exemplo recentemente de imensos investimentos e depois dos capitais especulativos aconteceu no México, em 1994-95, obrigando o governo daquele país a buscar ajuda financeira internacionais. O empenho norte-americano visou evitar uma completa quebradeira do México, cujas dificuldades, temia-se, poderiam irradiar-se para todo o Nafta. Para o México, a crise derrubou o PIB em mais de 7%, dobrou o desemprego e fez a inflação saltar de 7,1% (1994) para 48% (1995).
O efeito da crise mexicana respingou por vários outros países latino-americanos, provocando saídas momentâneas de parte dos capitais investidos neste país, afetando a solidez econômica local.
Tal foi a importância da questão especulativa para a ordem monetária internacional que, em resposta, surgiram diversas propostas para algun controle sobre o hot-money, a exemplo de taxações sobre os capitais especulativos e uma reforma mais ampla que envolveria todo o sistema monetário internacional, como o plano sugerido pelo G24.
Longe de um equacionamento à altura da globalização capitalista, o sistema monetário internacional, em 1996, continuava possuído da força de seu gigantismo e de crescentes dificuldades, mantendo sempre presentes a possibilidade de sérias crises localizadas.