Marcel Verrumo
Inglaterra, 20 de dezembro de 1943.
Do campo de aviação RAF Kimbolton, o bombardeiro B-17, da Força Aérea dos Estados Unidos, decolou com a missão de bombardear uma fábrica de aviões em Bremen, na Alemanha. A aeronave carregava 10 tripulantes, comandados pelo tenente Charlie L. Brown. Em poucos minutos, a missão obteve êxito, mas nem tudo saiu como o previsto: tropas alemãs atiraram contra o avião estadunidense, matando o artilheiro, ferindo outros seis tripulantes e destruindo dois motores do avião. Charlie, à frente do grupo e no comando, perdeu a consciência momentaneamente e o veículo começou a perder altitude. Quando recuperou os sentidos, o tenente estabilizou a aeronave, mas percebeu que estava sendo seguido por uma caça alemão. Com a tripulação ferida e partes do avião destruídas, não havia o que fazer além de seguir. Sair vivo seria uma questão de sorte.
Mas ele conseguiu. E 4 décadas depois, revelou o que aconteceu.
Em vez de disparar e derrubar a aeronave americana, o piloto inimigo posicionou o caça paralelo a ela, gesticulando. Percebendo que seu inimigo não iria atirar, Charlie ordenou à tripulação que aumentasse a altitude. O grupo se salvou, o avião aterrisou na Inglaterra, e o tenente nunca deixou de se questionar porque o alemão não havia atirado.
Em 1987, Brown foi atrás do homem que poupou sua vida. Pagou a publicação de um anúncio em uma revista de pilotos de combate, dizendo: “Estou buscando o homem que salvou minha vida em 20 de dezembro de 1943″. Recebeu um telefonema. Era Franz Stigler, o piloto alemão. Três anos depois, os dois se conheceram e Charlie, finalmente, teve uma resposta para sua pergunta: “por qual razão você não atirou?”
Franz contou que, ao emparelhar o caça com a aeronave americana, estava pronto para disparar. No entanto, percebeu que o avião inimigo voava com dificuldade e que a tripulação agonizava. Que honra haveria em derrubar um avião nessas condições?
Stigler não era um novato em guerras. Havia servido na África, sob o comando do tenente Gustav Roedel, que, segundo ele, lhe ensinou que, para sobreviver moralmente a uma guerra, era preciso combater com honra e humanidade; se isso não fosse feito, não conseguiriam conviver consigo mesmo ao voltar para casa. Era uma lição que não estava escrita em nenhum lugar, mas o código que guiou Franz e salvou os pilotos estadunidenses naquele 20 de dezembro de 1943.
Os dois pilotos, antes inimigos, tornaram-se colegas e trocaram correspondências por anos. Em 2008, com seis meses de diferença, ambos morrerem. Franz Stigler tinha 92 anos; Charlie Brown, 87.
Fonte: Historias de la Historia