Júlia Matravolgyi
Você já sabe: após o sinal, diga o seu nome e a cidade de onde está falando. Quem nunca ouviu essa frase, que atire o primeiro celular sem crédito.
Se você é desses que tem um telefone permanentemente sem saldo, saiba que deve agradecer a possibilidade de ligar a cobrar ao senhor Adenor Martins de Araújo, que acaba de ganhar na justiça o reconhecimento de sua invenção.
Pense em mim, chore por mim, liga pra mim
Para aceitá-la, continue na linha após a identificação
Seu Adenor criou o projeto durante suas horas vagas. Primeiro, desenhou um circuito, depois transformou o que estava no papel em um protótipo. Foi ai que ele resolveu incluir uma mensagem gravada – inclusive, ele contratou um locutor para a ocasião – que dizia exatamente o que você escuta hoje quando faz uma chamada desse tipo.
Tudo isso foi feito em duas fitas, cassete, que tinham dois canais, que permitiam a sincronia entre a voz do locutor e o famoso “bip”.
Ele incluiu alguns outros detalhes, como o número nove que precisaria ser digitado antes do número a ser chamado, para identificar uma ligação a cobrar. Para concluir o projeto, foram necessários dois meses de comprometimento das horas vagas, incluindo madrugadas.
De onde vem
A ideia surgiu a partir de uma necessidade: um dia, a filha de Adenor, na época com 11 anos, esqueceu o dinheiro do ônibus para voltar para casa depois do fim das aulas. Como naquele tempo não existia celular e ela não tinha fichas para usar o telefone público, a criança precisou aguardar sozinha até a metade da tarde, quando conseguiu contato com a mãe.
O pai, então, começou em pensar em maneiras de solucionar aquele tipo de problema – afinal, emergências podem acontecer com todo mundo.
Na época, a única maneira de efetuar chamadas a cobrar era via telefonista, e era preciso aguardar um bom tempo pelo atendimento.
Reconhecimento
Quando concluiu o projeto, ele solicitou testes à Telesc, onde trabalhava. O equipamento foi instalado em Blumenau e a primeira ligação de testes foi feita diretamente para o Ministro das Telecomunicações. Com o sucesso dos testes, o equipamento foi instalado no estado de Santa Catarina – ele dispensava a presença das telefonistas, mesas interurbanas e diminuía o custo das ligações. Ou seja, teve sucesso imediato.
Seu Adenor recebe os cumprimentos por sua invenção, antes do início da disputa.
Mais tarde, a Telebras decidiu anular a patente que Seu Adenor possuía, o que resultou em 25 anos de batalhas judiciais, até que, no último dia 1º, quando ele finalmente obteve o reconhecimento por sua criação.
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Fonte: Folha de SP