19.1.11

FRANCIS BACON

O iniciador do empirismo é Francis Bacon. Enalteceu ele a experiência e o método dedutivo de tal modo, que o transcendente e a razão acabam por desaparecer na sombra. Falta-lhe, no entanto, a consciência crítica do empirismo, que foram aos poucos conquistando os seus sucessores e discípulos até Hume. Ademais, Bacon continua afirmando - mais ou menos logicamente - o mundo transcendente e cristão; antes, continua a considerar a filosofia como esclarecedora da essência da realidade, das formas, sustentáculo e causa dos fenômenos sensíveis. É uma posição filosófica que apela para a metafísica tradicional, grega e escolástica, aristotélica e tomista. Entretanto, acontece em Bacon o que aconteceu a muitos pensadores da Renascença, e o que acontecerá a muitos outros pensadores do empirismo e do racionalismo: isto é, a metafísica tradicional persiste neles todos histórica e praticamente ao lado da nova filosofia, tanto mais quanto esta é menos elaborada, acabada e consciente de si mesma.

Vida e Obras

Francis Bacon nasceu no dia 22 de janeiro de 1561 na York House, Londres, residência de seu pai sir Nicholas Bacon, que nos primeiros vinte anos do reinado de Elizabeth tinha sido o Guardião do Sinete. "A fama do pai", diz Maucaulay, "foi ofuscada pela do filh". Mas sir Nicholas não era um homem comum." A mãe de Bacon foi lady Anne Cooke, cunhada de sir William Cecil, lorde Burghley, que foi tesoureiro-mor de Elizabeth e um dos homens mais poderosos da Inglaterra. O pai dela tinha sido o tutor-chefe do rei Eduardo VI; ela mesma era lingüista e teóloga, e não tinha dificuldade em se corresponder em grego com bispos. Tornou-se instrutora do filho e não poupou esforços para que ele tivesse instrução. Bacon freqüentou a Universidade de Cambridge, e viveu também em Paris. Começou a sua carreira de homem político e jurista, antes sob a rainha Isabel, e, depois, sob Jaime I, subindo até aos mais altos cargos: advogado geral em 1613, membro do Conselho particular em 1616, chanceler do reino em 1618. Foi agraciado por Jaime I com os títulos de Barão de Verulamo e Visconde de S. Albano. Entretanto foi acusado de concussão e condenado pelo Parlamento a uma multa avultuada. Perdoado pelo rei, retirou-se para as suas terras, dedicando-se inteiramente aos estudos. Faleceu em 1626. Teve uma inteligência muito esclarecida, convencido da sua missão de cientista, segundo o espírito positivo e prático da mentalidade anglo-saxônia.

A obra principal de Bacon é a Instauratio magna scientiarum, vasta síntese que deveria ter compreendido seis grandes partes. Mas terminou apenas duas, deixando sobre o resto esboços e fragmentos. As duas partes acabadas são precisamente: I - De dignitate et argumentis scientiarum; II - Novum organum scientiarum. Como se vê pelos títulos, e mais ainda pelo conteúdo, trata-se de pesquisas gnosiológicas, críticas e metodológicas, para lançar as bases lógicas da nova ciência, da nova filosofia, que deveria dar ao homem o domínio da realidade.

Os Ensaios

Sua ascensão parecia tornar realidade os sonhos de Platão de um rei-filósofo. Porque, passo a passo com a sua subida para o poder político, Bacon estivera escalando os píncaros da filosofia. É quase inacreditável que o imenso saber e as realizações literárias desse homem fossem apenas os incidentes e as digressões de uma turbulenta carreira política. Era seu lema que se vivia melhor na vida oculta - bene vixit qui bene latuit. Não conseguia chegar a uma conclusão sobre se gostava mais da vida contemplativa ou da ativa. Sua esperança era de ser filósofo e estadista, também, como Sêneca; embora desconfiasse de que essa dupla direção de sua vida fosse encurtar o seu alcance e reduzir suas realizações. "É difícil dizer", escreve ele, e "se a mistura de contemplações com uma vida ativa ou o retiro inteiramente dedicado a contemplações é o que mais incapacita ou prejudica a ment." Achava que os estudos não podiam ser um fim ou a sabedoria por si sós, e que o conhecimento não aplicado em ação era uma pálida vaidade acadêmica. "Dedicar-se em demasia aos estudos é indolência; usá-los em demasia como ornamento é afetação; fazer julgamentos seguindo inteiramente suas regras é o capricho de um scholar. (...) Os homens astutos condenam os estudos, os homens simples os admiram, e os homens sábios se utilizam deles, obtida graças à observação." Eis uma nova nota que marca o fim da escolástica - isto é, o divórcio entre o conhecimento e o uso e a observação - e coloca aquela ênfase na experiência e nos resultados que distingue a filosofia inglesa, e culmina no pragmatismo. Não que Bacon tivesse, por um instante, deixado de amar os livros e a meditação; em palavras que lembram Sócrates, ele escreve: "sem filosofia, não quero viver", e descreve a si mesmo como, afinal de contas, "um homem naturalmente mais propenso à literatura do que a qualquer outra coisa, e levado por algum destino, contra a inclinação de seu gênio" (isto é caráter), "a vida ativa". Quase que a sua primeira publicação recebeu o título de O Elogio do Conhecimento (1592); o entusiasmo do trabalho pela filosofia nos obriga a uma citação.

"Meu elogio será dedicado à própria mente. A mente é o homem, e o conhecimento é a mente; um homem é apenas aquilo que ele sabe. (...) Não são os prazeres das afeições maiores do que os prazeres dos sentidos, e não são os prazeres do intelecto maiores do que os prazeres das afeições? Não se trata, apenas, de um verdadeiro e natural prazer do qual não há saciedade? Não é só esse conhecimento que livra a mente de todas as perturbações? Quantas coisas existem que imaginamos não existirem? Quantas coisas estimamos e valorizamos mais do que são? Essas vãs imaginações, essas avaliações desproporcionadas, são as nuvens do erro que se transformam nas tempestades das perturbações. Existirá, então, felicidade igual à possibilidade da mente do homem elevar-se acima da confusão das coisas de onde ele possa ter uma atenção especial para com a ordem da natureza e o erro dos homens? De contentamento e não de benefício? Será que não devemos perceber tanto a riqueza do armazém da natureza quanto a beleza de sua loja? Será estéril a verdade? Não poderemos, através dela, produzir efeitos dignos e dotar a vida do homem com uma infinidade de coisas úteis?"

Sua mais bela produção literária, os Ensaios (1597-1623), mostram-no ainda indeciso entre dois amores, a política e a filosofia. No Ensaio sobre a Honra e a Reputação, ele dá todos os graus de honra a realizações políticas e militares, nenhum a literárias e filosóficas. Mas no ensaio Da Verdade, ele escreve: "A indagação da verdade, que é namorá-la ou cortejá-la; o conhecimento da verdade, que é o elogio a ela; e a crença na verdade, que é gozá-la, são o bem soberano das naturezas humanas." Nos livros, "conversamos com os sábios, como na ação conversamos com tolos". Isto é, se soubermos escolher os nossos livros. "Certos livros são para serem provados", outros para serem engolidos, e alguns poucos para serem mastigados e digeridos"; todos esses grupos formam, sem dúvida, uma porção infinitesimal dos oceanos e cataratas de tinta nos quais o mundo é diariamente banhado, envenenado e afogado.

Não há dúvida de que os Ensaios devem ser incluídos entre os poucos livros que merecem ser mastigados e digeridos. Raramente se encontrará uma refeição tão substanciosa, tão admiravelmente preparada e temperada, em um prato tão pequeno. Bacon abomina os recheios e detesta desperdiçar uma palavra; ele nos oferece uma infinita riqueza numa pequena frase; cada um desses ensaios fornece, em uma ou duas páginas, a destilada sutileza de uma mente de mestre sobre um importante aspecto da vida. É difícil dizer o que é mais excelente, se a matéria ou o estilo; porque ali se acha uma linguagem de tão alta qualidade na prosa quanto é a de Shakespeare em verso. É um estilo como o do vigoroso Tácito, compacto mas refinado; e na verdade uma parte de sua concisão se deve a uma habilidosa adaptação do idioma e do frasear latinos. Mas a sua riqueza no que se refere a metáforas é caracteristicamente elizabetana e reflete a exuberância da Renascença; nenhum homem, na literatura inglesa, é tão fértil em comparações significativas e substanciosas. A excessiva sucessão dessas comparações constitui o único defeito do estilo de Bacon: as intermináveis metáforas, alegorias e alusões caem como chicotes sobre os nossos nervos e acabam por nos exaurir. Os Ensaios são como um alimento rico e pesado, que não pode ser digerido em grandes quantidades de uma só vez; mas tomados quatro ou cinco de cada vez, constituem o melhor alimento intelectual.

No ensaio "Da Juventude e da Idade" ele condensa um livro em um parágrafo. "Os jovens são mais aptos para inventar do que para julgar, mais aptos para a execução do que para o assessoramento, e mais aptos para novos projetos do que para atividades já estabelecidas; porque a experiência da idade em coisas que estejam ao alcance dessa idade os dirige; mas em coisas novas, os maltrata. (...) Os jovens, na conduta e na administração dos atos, abraçam mais do que podem segurar, agitam mais do que podem acalmar; voam para o fim sem consideração para com os meios e os graus; perseguem absurdamente alguns princípios com que toparam por acaso; não se importam em "(isto é, em como)" inovar, o que provoca transtornos desconhecidos. (...) Os homens maduros fazem objeções demais, demoram-se demais em consultas, arriscam-se muito pouco, arrependem-se cedo demais e raramente levam o empreendimento até o fim, mas se contentam com uma mediocridade de sucesso. Não há dúvida de que é bom forçar o emprego de ambos (...), porque as virtudes de qualquer um deles poderão corrigir os defeitos dos dois." Bacon acha, apesar de tudo, que a juventude e a infância podem ter uma liberdade demasiada e, assim, crescer desordenadas e relaxadas. "Que os pais escolhem cedo as vocações e os cursos que pretendem que seus filhos sigam, pois é nessa fase que eles são mais flexíveis; e que não se concentrem demais no pensor dos filhos, pensando que estes irão dedicar-se melhor àquilo para que estejam mais inclinados. É verdade que se os pendores ou a aptidão dos filhos forem extraordinários, é bom não contrariá-los; mas em geral, é bom o preceito" dos pitagóricos: "Optimum lege, suave et facile illud faciet consuetudo" - escolha o melhor; o hábito irá torná-lo agradável e fácil. Porque "o hábito é o principal magistrado da vida do homem."

A política dos Ensaios prega um conservantismo natural em que aspira ao governo. Bacon quer um forte poder central. A monarquia é a melhor forma de governo; e em geral, a eficiência de um Estado varia com a concentração do poder. "Deve haver três pontos essenciais nas atividades" do governo: "a preparação; o debate, ou exame; e a conclusão" (ou execução). "Se quiserdes presteza, que só o do meio fique a cargo de muitos, com o primeiro e o último ficando a cargo de uns poucos." Ele é um militarista confesso; deplora o crescimento da indústria por considerar que isso deixa os homens despreparados para a guerra, e lamenta uma paz prolongada, por aplacar o guerreiro que existe no homem. Apesar disso, reconhece a importância das matérias-primas: "Sólon disse a Creso (quando, por ostentação, Creso lhe mostrou o seu ouro): "Senhor, se chegar qualquer outro que tenha melhor ferro do que vós, ele será dono de todo esse ouro."

Tal como Aristóteles, Bacon dá alguns conselhos para se evitarem revoluções. "O meio mais seguro de evitar sedições (...) é afastar a causa; porque se o combustível estiver preparado, é difícil dizer de onde virá a fagulha que irá atear-lhe fogo. (...) Tampouco se segue que a supressão dos rumores" (isto é, da discussão) "com demasiada severidade deva ser o remédio para os problemas; porque muitas vezes o desprezo é a melhor forma de contê-los, e as providências para reprimi-los só fazem dar vida longa à especulação. (...) A substância da sedição é de dois tipos: muita pobreza e muito descontentamento. (...) As causas e motivos das sedições são as inovações na religião; os impostos; as modificações de leis e costumes; o cancelamento de privilégios; a opressão generalizada; o progresso de pessoas indignas, estranhas, as privações; soldados desmobilizados; facções desesperadas; e tudo aquilo que, ao ofender um povo, faz com que ele se una em uma casa comum." A sugestão de todos os líderes, claro, é dividir seus inimigos e unir os amigos. "De modo geral, é dividir e enfraquecer todas as facções (...) contrárias ao Estado, e colocá-las longe uma das outras, ou pelo menos semear a desconfiança entre elas, não é um dos piores remédios; porque é desesperador o caso em que aqueles que apóiam o governo estão cheios de discórdia e cisões, e os que estão contra ele estão inteiros e unidos." Uma receita melhor para evitar as revoluções é uma distribuição eqüitativa da riqueza: "O dinheiro é como o esterco, só é bom se for espalhado." Mas isso não significa socialismo ou, mesmo, democracia; Bacon não confia no povo, que na sua época praticamente não tinha acesso à educação; "a mais baixa das lisonjas é a lisonja do homem do povo", e "Fócion compreendeu bem quando, ao ser aplaudido pela multidão, perguntou o que tinha feito de errado." O que Bacon quer é, primeiro, uma pequena burguesia de proprietários rurais; depois, uma aristocracia para a administração; e acima de todos, um rei-filósofo. "Quando não há exemplos de que um governo não tenha prosperado com governos cultos." Ele cita Sêneca, Antonio Pio e Aurélio; tinha a esperança de que aos nomes deles a posteridade acrescentasse o seu.

O Pensamento: A "Instauratio Magna"

A Instauratio magna scientiarum deveria ter precisamente representado a reforma do saber, deveria ter constituído a summa philosophica dos tempos novos, e lançado o fundamento do regnum hominis, tão audazmente iniciado pela ciência e pela política da Renascença. Essa obra deveria ter abraçado a enciclopédia das ciências e compreendido também as técnicas, segundo o novo ideal humano e prático e imanentista. Começa-se, portanto, com a classificação geral das disciplinas humanas, baseada no respectivo predomínio das três faculdades que presidem à organização do saber: memória, fantasia, razão. Essa classificação é baseada não no objeto do conhecimento, e sim no sujeito que conhece. 1) História tanto civil quanto natural, que registra (memória) os dados de fato; 2) Poesia, elaboração imaginativa desses dados; 3) Ciência ou filosofia, isto é, conhecimento racional de Deus, do homem e da natureza.

A teologia natural de Bacon não exclui, mas prescinde da revelação cristã e da religião positiva. A ciência do homem divide-se em ciência do homem individual (philosophia humanitatis), e em ciência da sociedade humana (philosophia civilis). A primeira diz respeito ao homem todo, espírito e matéria. A segunda diz respeito à arte de governar e às relações sociais e aos negócios. A filosofia natural ou física, divide-se em especulativa e operativa. A primeira, por sua vez, se divide em física especial ("que procura a causa eficiente e material"), e em metafísica ("que procura a causa final e a forma"). Pertencem pois à física operativa as artes mecânicas. Acima das ciências filosóficas particulares, Bacon põe uma ciência filosófica comum, denominando-a philosophia prima. Esta não é a ontologia tradicional, a ciência do ser em geral, mas a ciência dos princípios comuns às várias ciências.

O "Novum Organum"

Entretanto, o que interessa mais a Bacon não é esta ciência dos princípios comuns, e sim a ciência da natureza, e, portanto, o Novum organum, que deveria conter precisamente as regras para a construção da ciência da natureza. Como é sabido, Bacon reivindica, contra Aristóteles e a Escolática, o método indutivo. Aristóteles e Tomás de Aquino afirmaram claramente este método, e até o reconheceram como único procedimento inicial do conhecimento humano; entretanto a eles interessavam muito mais as causas do que a experiência, o que transcende a experiência do que a experiência; muito mais a metafísica do que a ciência.

Segundo Bacon, o verdadeiro método da indução científica compreende uma parte negativa ou crítica, e uma parte positiva ou construtiva. A parte negativa consiste, antes de tudo, em alertar a mente contra os erros comuns, quando procura a conquista da ciência verdadeira. Na sua linguagem imaginosa Bacon chama as causas destes erros comuns, fantasmas - idola - e os divide em quatro grupos fundamentais.

1) Idola tribus, a saber, os erroa da raça humana "fundamentados em a natureza como tal" (não se sabe, pois, o verdadeiro porquê);

2) Idola specus (por alusão à caverna de Platão) determinados pelas disposições subjetivas de cada um;

3) Idola fori, erros da praça, provenientes do comércio social ou da linguagem imperfeita;

4) Idola theatri, isto é, os erros provenientes das escolas filosóficas, que substituem o mundo real por um mundo fantástico, por um jogo cênico.

Desembaraçado o terreno destes erros, Bacon passa a tratar da natureza positiva, construtiva, da genuína interpretação da natureza para dominá-la. Mas, para tanto, é mister conhecer as que Bacon chama de formas, isto é, os princípios imanentes, causa e lei da ação e da ordem das naturezas. As naturezas são precisamente os fenômenos experimentais, objeto da física especial (luz, calor, pêso, etc.); as formas são leis genéticas e organizadoras das naturezas, as essências ou causas formais, objeto da metafísica de Bacon.

Esta pesquisa, esta passagem das naturezas às formas, dos fenômenos às essências - bem conhecida pela filosofia tradicional - é determinada por Bacon, segundo um método preciso, desconhecido dos predecessores, nas famosas tabulae baconianas. Para determinar de um modo certo as causas e as leis dos fenômenos - isto é, as formas das naturezas - Bacon recolhe, antes de tudo, o maior número possível de exemplos, em que um determinado fenômeno aparece; depois enumera os casos que mais se assemelham às primeiras, em que, porém, o mesmo fenômeno não aparece. Enfim registra o aumentar ou o diminuir do fenômeno em questão, quer no mesmo objeto, quer em objetos diferentes. Têm-se, desta maneira, três espécies de registros ou tabelas: 1) tabelas de presença; 2) tabelas de ausência; 3) tabelas de gradações. É evidente que nos casos onde uma determinada natureza ou fenômeno aparecem, aí se encontrará também a sua causa e lei; nos casos em que o fenômeno não se manifesta, aí faltará também a sua causa e lei; e nos casos onde o fenômeno aumenta ou diminui, aí aumentará ou diminuirá também a sua causa e lei. A causa (forma) dos fenômenos (naturezas) será procurada, portanto, com base nos fenômenos presentes na primeira tabela; não sendo fácil, a princípio, ter-se tabelas completas e isolar as naturezas simples, e desta maneira pôr em evidência a causa, é mister estabelecê-la por hipótese, que será, em seguida, averiguada pelas experimentações.

Essa gnosiologia, metodologia (empírica) é baseada em uma metafísica, uma física materialista e, mais precisamente, atomista, bastante semelhante à de Demócrito. O mundo material é constituído de corpúsculos, qualitativamente idênticos, diversos apenas por grandeza, forma e posição. Estes corpúsculos são animados por uma força, em virtude da qual se agrupam em determinados complexos, que constituem as formas baconianas.

Fonte: www.mundodosfilosofos.com.br

FRANCIS BACON

Francis Bacon, político, filósofo e ensaísta inglês, barão Verulam, visconde de St. Albans, nasceu em Londres, em 22 de Janeiro de 1561 e morreu na mesma cidade em 9 de abril de 1626. Desde cedo, sua educação orientou-o para a vida política, na qual exerceu posições elevadas. Em 1584 foi eleito para a câmara dos comuns.

Sucessivamente, durante o reinado de Jaime I, desempenhou as funções de procurador-geral (1607), fiscal-geral (1613), guarda do selo (1617) e grande chanceler (1618). Neste mesmo ano, foi nomeado barão de Verulam e em 1621, barão de St. Albans. Também em 1621, Bacon foi acusado de corrupção e condenado ao pagamento de pesada multa e proibido de exercer cargos públicos. Como filósofo, destacou-se com uma obra onde a ciência era exaltada como benéfica para o homem. Em suas investigações, se ocupou especialmente com a metodologia científica e com o empirismo. É muitas vezes chamado de fundador da ciência moderna. Sua principal obra filosófica é o Novum Organum.

Francis Bacon foi um dos mais conhecidos e influentes rosacruzes e também um alquimista, tendo ocupado o posto mais elevado da Ordem Rosacruz, o de Imperator.

Primeiros Anos

Francis Bacon foi o oitavo filho de Sir Nicholas Bacon e Anna Cook e seus próprios pais influenciaram-lhe de modo antagônico. Sua mãe, apesar de reconhecidamente culta, era calvinista e puritana. Em vista disso, estimulou o jovem Bacon para a severidade. A leitura da Bíblia era uma obrigação diária que veio a refletir-se até mesmo em seu estilo literário. Sua mão foi, até certo ponto, opressora, preocupando-se não apenas com as companhias do filho e seu tipo de vida, mas até mesmo com suas leituras quando já era adulto. Já seu pai, desempenhava a função de Guarda do Grande Selo e seu tio, lorde Burghley, foi ministro da rainha Elizabeth I durante quatro décadas. Esse lado da família, ensinou-lhe o comportamento mais mundano de um verdadeiro cortesão.

Em 1573, ao doze anos de idade, Bacon é enviado para o Trinity College da Universidade de Cambridge, reduto preferido da nobreza e funcionários do Estado. Aí ficou até 1575, onde recebeu sólidos ensinamentos sobre filosofia antiga e escolástica. Foi nesse período que não apenas descobriu como também adquiriu aversão ao pensamento de Aristóteles.

Ao mesmo tempo, Bacon começava a perceber a grande mudança que se desenvolvia desde os fins da Idade Média e conheceu obras sobre mineralogia, metalurgia, química, geologia, agricultura e outras áreas técnicas. Posteriormente, Bacon dirá no Novum Organum que a técnica mudara o mundo.

Em 1577, após concluir os estudos, o pai de Bacon enviou-o para a França, a fim de trabalhar junto ao embaixador Sir Amyas Paulet. Era o início de uma carreira diplomática na qual Bacon alcançaria os mais altos cargos do reino.

Política

A estada de Bacon na França foi mais curta que o previsto. Pouco depois de chegar, alguns maus negócios conduzidos pelo pai deixaram a família em situação financeira precária. Não tendo como arcar com seus gastos, retornou à Inglaterra e ingressou na Gray's Inn, uma espécie de corporação de advogados e escola de Direito.

Concluiu o curso em em 1582 e passou a advogar. Em 1584, elegeu-se deputado para o Parlamento Inglês. Por esta época, já demonstrava grande maturidade na análise dos assuntos de Estado, como prova sua carta Carta de conselhos à rainha Elizabeth, escrita em 1584-85. Em 1589 retornou para Gray's Inn como professor.

Pouco depois, recebeu o título de conselheiro da Coroa e em 1593 proferiu um discurso na Câmara dos Comuns criticando os impostos. Em vista disso, Elizabeth I travou-lhe a carreira, recusando-se a nomear Bacon para as funções de Assistente Procurados Geral da Coroa e Procurador da Coroa. Por outro lado, o conde de Essex, de quem Bacon tornara-se conselheiro em 1591, protegia-lhe e presenteou-o com um solar e um parque em Twickenham, às margens do Tâmisa. Neste solar, Bacon dedicou-se ao trabalho intelectual e redigiu seus Ensaios, verdadeiro clássico da literatura inglesa.

Sua relação com o conde de Essex foi controvertida. Em grande parte, a ascensão política de Bacon devia-se à proteção do conde. Quando este caiu em desgraça junto a rainha Elizabeth I, Bacon acabou por colaborar com sua execução. Acusado de traição, Bacon foi encarregado de preparar a acusação legal. O conde de Essex era acusado de manter entendimentos com o pretendente escocês ao trono da Inglaterra e Bacon tentou dissuadi-lo de tais ligações. Não tendo êxito, acabou por acusar o velho amigo e protetor que foi condenado a morte e executado em 1601. Em seguida, publicou Esclarecimentos acerca da imputações relacionadas ao recém-falecido conde de Essex. Neste escrito, Bacon se defende das acusações de deslealdade e afirma que apenas cumprira seu dever. Sua justificativa foi que um homem honesto prefere Deus a seu rei, seu rei a seu amigo.

Ápice político e queda

Todavia, o controverso episódio rendeu-lhe benefícios. Com a morte de Elizabeth I, Jaime I ascende ao trono e Bacon torna-se seu conselheiro. Ocupa diversos cargos, recebe o título de sir, exerce as funções de Guarda do Grande Selo (a mesma função que seu pai outrora exercera). Em 1617 foi Lorde Protetor e finalmente, em 1618, Bacon torna-se Lorde Chanceler, o mais alto posto do reino britânico.

Sua lealdade ao rei foi total. Acreditava em um Estado amplo, moderno e centralizado em uma monarquia poderosa. Chegou mesmo a justificar teoricamente o absolutismo real e opôs-se a Sir Edward Coke, que defendia um poder maior para o Parlamento.

A política do reino e suas próprias posições políticas renderam-lhe inimigos. O Parlamento estava cada vez mais descontente com a administração real. O rei, obviamente, era intocável. As críticas deveriam cair sobre os conselheiros e, especialmente, seu chanceler. Em uma manobra bem articulada, Bacon foi acusado de receber suborno de litigantes com processos em andamento. Os auxiliares do rei, como Bacon, opinavam sobre autorizações para comércio e manufaturas, monopólios e patentes comerciais. Apesar da tolerância, não era moral nem legalmente admissível que os juízes recebessem presentes. Bacon reconheceu sua culpa, mas alegou que os presentes recebidos não haviam influenciado seu julgamento. Sua alegação, contudo, não impediu sua desgraça. Foi obrigado a deixar os cargos que ocupava. Em 2 de maio de 1621, foi-lhe tomado o Grande Selo e, no dia seguinte, excluíram-no de todos os postos e o encarceraram na Torre de Londres. Ali ficou poucos dias, graças a intervenção do rei.

Filosofia

O pensamento filosófico de Bacon representa a tentativa de realizar aquilo que ele mesmo chamou de Instauratio magna (Grande restauração). A realização desse plano compreendia uma série de tratados que, partindo do estado em que se encontrava a ciência da época, acabaria por apresentar um novo método que deveria superar e substituir o de Aristóteles. Esses tratados deveriam apresentar um modo específico de investigação dos fatos, passando, a seguir, para a investigação da leis e retornavam para o mundo dos fatos para nele promover as ações que se revelassem possíveis. Bacon desejava uma reforma completa do conhecimento. A tarefa era, obviamente, gigantesca e o filósofo produziu apenas certo número de tratados. Não obstante, a primeira parte da Instauratio foi concluída.

A reforma do conhecimento é justificada em uma crítica à filosofia anterior (especialmente a Escolástica), considerada estéril por não apresentar nenhum resultado prático para a vida do homem. O conhecimento científico, para Bacon, tam por finalidade servir o homem e dar-lhe poder sobre a natureza. A ciência antiga, de origem aristotélica, também é criticada. Demócrito, contudo, era tido em alta conta por Bacon, que o considerava mais importante que Platão e Aristóteles.

A ciência deve restabelecer o imperium hominis (império do homem) sobre as coisas. A filosofia verdadeira não é apenas a ciência das coisas divinas e humanas. É também algo prático. Saber é poder. A mentalidade científica somente será alcançada através do expurgo de uma série de preconceitos por Bacon chamados ídolos. O conhecimento, o saber, é apenas um meio vigoroso e seguro de conquistar poder sobre a natureza.

Classificação das ciências

Preliminarmente, Bacon propõe a classificação das ciências em três grupos:

a poesia ou ciência da imaginação;

história ou ciência da memória;

filosofia ou ciência da razão.

A história é subdividida em natural e civil e a filosofia é subdividida em filosofia da natureza e em antropologia.

Ídolos

No que se refere ao Novum Organum, Bacon preocupou-se inicialmente com a análise de falsas noções (ídolos) que se revelam responsáveis pelos erros cometidos pela ciência ou pelos homens que dizem fazer ciência. É um dos aspectos mais fascinantes e de interesse permanente na filosofia de Bacon. Esses ídolos foram classificados em quatro grupos:

1) Idola tribus (ídolos da tribo). Ocorrem por conta das deficiências do próprio espírito humano e se revelam pela facilidade com que generalizamos com base nos casos favoráveis, omitindo os desfavoráveis. São assim chamados porque são inerentes à natureza humana, à própria tribo ou raça humana. Astrologia, alquimia e cabala são exemplos dessas generalizações;

2) Idola specus (ídolos da caverna). Resultam da própria educação e da pressão dos costumes. Há, obviamente, uma alusão à alegoria da caverna platônica;

3) Idola fori (ídolos da vida pública). Estes estão vinculados à linguagem e decorrem do mau uso que dela fazemos;

4) Idola theatri (ídolos da autoridade). Decorrem da irrestrita subordinação à autoridade (por exemplo, a de Aristóteles). Os sistemas filosóficos careciam de demonstração, eram pura invenção como as peças de teatro.

O método

O objetivo do método baconiano é constituir uma nova maneira de estudar os fenômenos naturais. Para Bacon, a descoberta de fatos verdadeiros não depende do raciocínio silogístico aristotélico mas sim da observação e da experimentação regulada pelo raciocínio indutivo. O conhecimento verdadeiro é resultado da concordância e da variação dos fenômenos que, se devidamente observados, apresentam a causa real dos fenômenos.

Para isso, no entanto, deve-se descrever de modo pormenorizado os fatos observados para, em seguida, confrontá-los com três tábuas que disciplinarão o método indutivo: a tábua da presença (responsável pelo registro de presenças das formas que se investigam), a tábua de ausência (responsável pelo controle de situações nas quais as formas pesquisadas se revelam ausentes) e a tábua da comparação responsável pelo registro das variações que as referidas formas manifestam). Com isso, seria possível eliminar causas que não se relacionam com com o efeito ou com o fenômeno analisado e, pelo registro da presença e variações seria possível chegar à verdadeira causa de um fenômeno. Estas tábuas não apenas dão suporte ao método indutivo mas fazem uma distinção entre a experiência vaga (noções recolhidas ao acaso) e a experiência escriturada (observação metódica e passível de verificações empíricas). Mesmo que a indução fosse conhecida dos antigos, é com Bacon que ela ganha amplitude e eficácia.

O método, no entanto, possui pelo menos duas falhas importantes. Em primeiro lugar, Bacon não dá muito valor à hipótese. De acordo com seu método, a simples disposição ordenada dos dados nas três tábuas acabaria por levar à hipótese correta. Isso, contudo, raramente ocorre. Em segundo lugar, Bacon não imaginou a importância da dedução matemática para o avanço das ciências. A origem para isso, talvez, foi o fato de ter estudado em Cambridge, reduto platônico que costumava ligar a matemática ao uso que dela fizera Platão.

Obras

A produção intelectual de Bacon foi vasta e variada. De modo geral, pode ser dividida em três partes: jurídica, literária e filosófica.

Obras jurídicas

Figuram entre seus principais trabalhos jurídicos os seguintes títulos: The Elements of the common lawes of England (Elementos das leis comuns da Inglaterra), Cases of treason (Casos de traição), The Learned reading of Sir Francis Bacon upon the statute os uses (Douta leitura do código de costumes por Sir Francis Bacon).

Obras literárias

Sua obra literária fundamental são os Essays (Ensaios), publicados em 1597, 1612 e 1625 e cujo tema é familiar e prático. Alguns de seus ditos tornaram-se proverbiais e os Essays tornaram-se tão famosos quanto os de Montaigne. Outros opúsculos, no âmbito literário: Colours of good and evil (Estandartes do bem e do mal), De sapientia veterum (Da sabedoria dos antigos). No âmbito histórico destaca-se History of Henry VII (História de Henrique VII) .

Obras filosóficas

As obras filosóficas mais importantes de Bacon são Instauratio magna (Grande restauração) e Novum organum. Nesta última, Bacon apresenta e descreve seu método para as ciências. Este novo método deverá substituir o Organon aristotélico.

SEUS ESCRITOS NO ÂMBITO FILOSÓFICO PODEM SER AGRUPADOS DO SEGUINTE MODO:

1) Escritos que faziam parte da Instauratio magna e que foram ou superados ou postos de lado, como: De interpretatione naturae (Da interpretação da natureza), Inquisitio de motu (Pesquisas sobre o movimento), Historia naturalis (História natural), onde tenta aplicar seu método pela primeira vez;

2) Escritos relacionados com a Instauratio magna, mas não incluídos em seu plano original. O escrito mais importante é New Atlantis (Nova Atlântida), onde Bacon apresenta uma concepção do Estado ideal regulado por idéias de caráter científico. Além deste, destacam-se Cogitationes de natura rerum (Reflexões sobre a natureza das coisas) e De fluxu et refluxu (Das marés);

3) Instauratio magna, onde Bacon procura desenvolver o seu pensamento filosófico-científico e que consta de seis partes: (a) Partitiones scientiarum (Classificação das ciências), sistematização do conjunto do saber humano, de acordo com as faculdades que o produzem; (b) Novum organum sive Indicia de interpretatione naturae (Novo método ou Manifestações sobre a interpretação da natureza), exposição do método indutivo, trabalho esse que reformula e repete o Novum organum; (c) Phaenomena universi sive Historia naturalis et experimentalis ad condendam philosophiam (Fenômenos do universo ou História natural e experimental para a fundamentação da filosofia), versa sobre a coleta de dados empíricos; (d) Scala intellectus, sive Filum labyrinthi (Escala do entendimento ou O Fio do labirinto), contém exemplos de investigação conduzida de acordo com o novo método; (e) Prodromi sive Antecipationes philosophiae secundae (Introdução ou Antecipações à filosofia segunda), onde faz considerações à margem do novo método, visando mostrar o avanço por ele permitido; (f) Philosophia secunda, sive Scientia activa (Filosofia segunda ou Ciência ativa), seria o resultado final, oragnizado em um sistema de axiomas.

Morte e legado de Bacon

Francis Bacon esteve envolvido com investigações naturais até o fim de sua vida, tentando realizar na prática seu método. No inverno de 1626 estava envolvido com experiências sobre o frio e a conservação. Desejava saber por quanto tempo o frio poderia preservar a carne. A idade havia debilitado a saúde do filósofo e ele acabou não resistindo ao rigoroso inverno daquele ano. Morreu em 9 de abril, vítima de uma bronquite.

Efetivamente, Bacon não realizou nenhum grande progresso nas ciências naturais. Mas foi ele quem primeiro esboçou uma metodologia racional para a atividade científica. Sua teoria dos idola antecipa, pelo menos potencialmente, a moderna sociologia do conhecimento. Foi um pioneiro no campo científico e um marco entre o homem da Idade Média e o homem Moderno. Ademais, Bacon foi um escritor notável. Seus Essays são os primeiros modelos da prosa inglesa moderna. A hipótese surgida no século XIX, que deseja atribuir a Bacon a autoria das peças de Shakespeare, é hoje considerada totalmente sem fundamento.

Fonte: pt.wikipedia.org

FRANCIS BACON

O CONHECIMENTO EM SI MESMO É PODER

Esse pequeno aforismo aparece em Meditationes Sacrae (1597), um enigmático trabalho de Francis Bacon (1561-1626), advogado, político, ensaísta, e co-inventor do método científico. A frase parece óbvia, especialmente em nossa era de informação. Porém, corremos o risco de entender mal o que Bacon está querendo dizer com "poder", que não é "vantagem pessoal ou política", mas "controle da natureza".

Bacon estava lutando contra a ciência e a filosofia estéreis de sua época. O debate científico, preso à metafísica aristotélica e infestado de minúcias e sofismas, não produzia muita coisa, exceto motivos para mais debate. Enquanto isso, as artes mecânicas, que os teóricos consideravam ignóbeis, tinham feito consistentes e rápidos avanços. A pólvora, a imprensa de Gutenberg e a bússola não foram superadas por nenhum progresso nos domínios mais elevados.

Avaliando a situação, Bacon concluiu que o conhecimento pode ser frutífero somente se a tecnologia e a filosofia estiverem unidas. Em vez de debater pormenores de matéria e forma, os cientistas deviam observar diretamente a natureza, esboçar conclusões e empregar ferramentas práticas para testá-las. Em outras palavras, a ciência devia ser baseada na indução e na experimentação, não na metafísica e na especulação.

Bacon certamente não foi o primeiro a sugerir o método experimental ou "científico". E apesar de toda sua pregação, ele mesmo produziu muito poucos experimentos significativos. Não obstante, seus contemporâneos ficaram impressionados, e as maiores mentes científicas do século dezessete, incluindo Newton, citaram seu trabalho como inspiração direta. Ademais, o caráter colaborativo da pesquisa científica, de 1600 até o presente, deve muito à sua insistência de que comunidades, em vez de gênios isolados, são responsáveis pelo verdadeiro progresso científico e, em conseqüência, "poder" sobre a natureza.

Por outro lado, além de suas próprias falhas práticas, as teorias de Bacon deixam alguma coisa a desejar. Ele descartou a ciência especulativa, desprezando o papel da hipótese, que ele via como infundado e, portanto, estéril. Todo conhecimento verdadeiro, afirmava ele, deriva da observação e do experimento, e qualquer tipo de suposição prévia só vai provavelmente distorcer a percepção e a interpretação. Porém, sem hipóteses não existem experimentos controlados, que são a essência do método científico moderno. Bacon pensava que o mundo era essencialmente caótico, e que por isso era um erro abordar a natureza com a suposição de leis uniformes. Contudo, a ciência avançou principalmente supondo que o mundo é ordenado, que existem regras e padrões simples inscritos na natureza.

Assim, Bacon trouxe muitas coisas certas e muitas coisas erradas, mas no geral ele foi muito melhor ao criticar as velhas idéias do que ao antever as novas. Como conseqüência, sua reputação passou por altos e baixos. A opinião corrente é divergente; uns aplaudem seu trabalho pioneiro na filosofia científica, enquanto outros censuram sua doutrina de que "conhecimento é poder" por inclinar a ciência em direção à exploração da natureza. Poder, segundo esses últimos críticos, se tornou um fim em si mesmo, resultando em materialismo e alienação. O próprio Bacon pensava que os valores sociais e a moralidade sempre dirigiriam e restringiriam os avanços tecnológicos. E é nesse aspecto que ele estava mais enganado.

Fonte: pt.wikipedia.org

FRANCIS BACON

Bacon é o primeiro de três famosos filósofos cortesãos que se sucedem na corte inglesa: Bacon, Hobbes e Locke. Ao tempo de Bacon surgem obras científicas e filosóficas importantes. Bruno, em 1584, publica "Do Infinito, do Universo e dos Mundos"; o próprio Bacon publica, em 1597, "Ensaios de Moral e de Política" e em 1620, "Novo Organon das Ciências; Campanella, em 1620, publica "Sobre a Sensação das Coisas e a Magia"; e novamente Bacon, em 1623, "Grande Instauração". Campanella publica, em 1623, "A Cidade do Sol"; Galileu, em 1623, "O Mensageiro Celeste"; e Descartes, em 1637, "Discurso sobre o Método".

Francis Bacon viveu à época de Isabel (ou Elizabete) I. Nasceu em Londres, na propriedade York House, que ficava na esquina da rua Villiers com a rua Strand, em 22 de janeiro de 1561, filho mais novo de Sir Nicholas Bacon e Anna Cook, a segunda esposa de seu pai. Sir Nicholas ocupava o cargo de Lord Guardião do Selo Real ("Lord Keeper of the Seal"), função geralmente de um sacerdote ou jurista muito culto. O guardião era incumbido da redação dos escritos da corte, e tinha sob sua custódia o selo ou instrumento de imprimir o sinal do Rei sobre o lacre de autenticação dos documentos reais. Sua mãe era intelectual puritana e o vigiava quanto a amizades e leituras, sem no entanto conseguir que fosse um puritano exemplar.

Bacon entrou para o Trinity College, em Cambridge, em 1573, aos 12 anos, e ali estudou por 3 anos as ciências então em voga. Com grande interesse pelos estudos, entediava-se com a filosofia de Aristóteles, ocupando-se de ler livros que acabavam de ser impressos com a invenção da imprensa, e que considerava mais úteis para beneficiar a vida do homem, como o de Rodolfo Agrícola (1494-1555) "Sobre as Coisas Metálicas".

Em 1576 entra, com seu irmão mais velho Anthony, na Gray's Inn, para aprender jurisprudência através da prática e assistência a advogados experientes. Bacon ficou no Trinity College de 1573 a 1575, mas sofreu lá de saúde frágil. devido a uma constituição fraca.

De 1576 A 1579 Bacon esteve na França como membro da comitiva do embaixador inglês Sir Amyas Paulet. Foi chamado de volta devido à morte subta de seu pai, que pouco lhe deixou. Forma-se em Direito em 1582. Para viver depende da atividade como advogado. Neste mesmo ano é advogado assistente, ou substituto, na Gray's Inn.

Em 1584, com 23 anos, tornou-se membro do Parlamento por Melcombe Regis em Dorset. Em 1589 escreveu Letter of Advice to the Queen ("Carta de Aconselhamento à Rainha"), e An Advertisement Touching the Controversies of the Church of England ("Proclame a respeito das controvérsias sobre a Igreja da Inglaterra").

Em 1591 foi nomeado conselheiro da Rainha. Tornou-se amigo de Robert Devereux, conde de Essex, favorito da rainha, no qual Bacon via um jovem promissor. Ofereceu-lhe amigavelmente conselhos de sua experiência. Essex em troca fez o possível para resgatar a boa vontade da rainha para com Bacon, e tentou sem sucesso que ele fosse indicado para a vaga de advogado geral do reino.

Em 1593 tem assento no Parlamento por Middlesex e, por sua atuação destacada no Parlamento, foi convidado para Conselheiro da Coroa. Nesse mesmo ano caiu em desfavor por se opor à cada vez maior solicitação de recursos feita pela coroa para sustentar a guerra contra a Espanha. A rainha Elizabete sentiu-se ofendida.

Sua primeira obra foi "Ensaios", publicada em 1597, juntamente com Colours of Good and Evil e o Meditationes Sacrae, no conjunto considerados "repertório de conhecimentos teóricos das paixões e da natureza humana, aproximando-se do maquiavelismo". Os Essayes eram 10 em 1597, aumentados para 38 como The Essaies of Sr Francis Bacon Knight em 1612, e para 58 como The Essayes or Counsels, Civill and Morall publicados em 1625.

Em 1598 a situação de seu protetor o Conde de Essex ficou difícil, por ter falhado em uma expedição para captura de galeões espanhóis carregados de tesouros. Bacon trabalhou para que fosse enviado para a Irlanda com a missão de pacificar uma revolta. As coisas não correram melhores para Essex na Irlanda e ele retornou a Londres sem permissão. Os esforços que Bacon possa ter feito para contornar tantos problemas para o amigo não surtiram efeito.

Em meados de 1600 Bacon se achou, como membro do conselho de sábios da Rainha, tomando parte no julgamento informal de seu patrono. Essex compreendeu sua posição sem ressentimentos e depois de absolvido continuou seu amigo.

Em 1601, porém, o conde foi proibido de entrar no Palácio. Passou então a dialogar com contrários à rainha e, sabendo que ia ser preso, reuniu 200 homens que comanda em um atentado para seqüestrar a soberana, de modo a forçá-la a demitir os inimigos que ele tinha na corte. Com o fracasso da rebelião, Essex e os outros lideres do levante foram presos, e Bacon recebeu da Rainha a incumbência de preparar as provas legais de modo a assegurar a condenação por traição no julgamento do Conde. Bacon, que nada sabia do golpe, encarou Essex como um traidor e preparou o relatório oficial dos acontecimentos.

Redigiu então A Declaration of the Practices & Treasons Attempted and Committed by Robert, Late Earle of Essex (1601). Uma vez que eram notoriamente amigos, a incumbência recebida talvez tivesse o objetivo de também incriminar Bacon, se a recusasse. O Conde foi condenado à morte e executado no mesmo ano.

Para explicar sua atuação contra o amigo, alguns anos depois (1604) Bacon escreveu Sir Francis Bacon His Apologie, in Certaine Imputations Concerning the Late Earle of Essex ("Esclarecimentos acerca das Imputações Relacionadas ao Recém-Falecido Conde de Essex") nos quais se defendia contra a acusação de deslealdade, afirmando que um homem honesto prefere Deus a seu Rei; seu rei a seu amigo". Teria assim apenas cumprido seu dever.

Somente após a morte de Elizabete em 1603, quando o trono passou a Jaime I, a carreira de Bacon progrediu. Por essa ocasião (final do reinado de Isabel I e início do reinado de Jaime I) o primo de Bacon, pelo lado de sua mãe, Robert Cecil, era conde de Salisbury e Ministro Chefe da coroa. Ajudado pela influência de seu parente, Bacon foi feito cavaleiro pelo rei no mesmo ano que este subiu ao trono. No ano seguinte foi confirmado como membro do conselho de sábios e teve assento no primeiro Parlamento do novo reinado, nos debates de sua primeira sessão. Foi designado para a comissão qu estudava a união com a Escócia.

Em 1604, além do já referido Apologie, publicou, Certain Considerations Touching the Better Pacification, and Edification of the Church of England ("Algumas considerações a respeito da melhor pacificação e edificação da Igreja da Inglaterra"). Ao fim de 1605 ele publicou o seu Of the Proficience and Advancement of Learning Divine and Humane (Sobre a proficiência e avanço do conhecimento divino e humano"), dedicado ao Rei.

No verão de 1606, aos 45 anos, Bacon casou com Alice Barnham, de 40 anos, a filha de um conselheiro municipal (alderman) londrino. Não tiveram filhos.

Em 1607, em junho, os esforços de Bacon para convencer os Commons a aceitar a proposta do Rei para união com a Escócia foram recompensados com o posto de solicitador geral (solicitor general).

Em 1609 publicou De Sapientia Veterum Liber ("A Sabedoria dos Antigos"), no qual expunha o que considerava como significado prático oculto incorporado nos mitos antigos. Essa obra tornou-se, junto com os Essayes, seu livro mais popular ainda durante sua vida.

Em 1612, após a morte de seu primo conde de Salisbury, Bacon teve mais oportunidades de influir na administração, através de seus pareceres sobre negócios de estado. Em 1613, o rei nomeou-o Procurador Geral (attorney general), posto em que ficou em conflito com o Juíz do Conselho do Rei, Edward Coke, um jurista contrário ao poder do Rei de interferir na justiça comum. Em 1614 parece Ter escrito o The New Atlantis, sua utopia de longo alcance científico que foi à prensa somente em 1626.

Em 1617 Bacon foi nomeado Guardião do Selo Real, o mesmo cargo que fora uma vez exercido por seu pai. Em janeiro do ano seguinte foi nomeado Lorde Chanceler (Lord High Chancellor) e recebeu o título de Barão de Verulam., e em 1621 visconde de St. Albans. Sua ascensão ao mais alto cargo do reino deveu-se, ao que parece, parte a seu brilhante desempenho na corte, e parte a sua amizade com George Villiers, favorito do rei e que depois foi duque de Buckingham

Entre 1608 e 1620 ele preparou pelo menos 12 rascunhos da sua mais célebre obra, o Instauratio Magna, também conhecido por Novum Organum, publicado em 1620, e escreveu vários outros trabalhos filosóficos menores.

Então, ao mesmo tempo que era objeto de atenção dos intelectuais na Europa, devido a suas obras, Bacon gozava grande proeminência na corte inglesa, por ser homem de confiança do rei, pelo trato agradável e bem humorado, e sua magnanimidade demonstrada em gastos com a promoção de festas para a sociedade além do fausto doméstico. No entanto os ensaios Of Friendship ("Da Amizade") limita-se a falar de relações entre homens e o seu Of Beauty (Da beleza") discute apenas exemplos masculinos, o que pode ser significativo quanto a sua verdadeira personalidade.

Essa projeção lhe trouxe também muitos inimigos. Em 1621, foram levantadas contra ele duas acusações de corrupção diante da Comissão de Justiça que ele próprio presidia.

Dois homens que o haviam presenteado, não ficaram satisfeitos com o resultado da causa que pleiteavam e o denunciaram por aceitação de suborno com respeito a processos em andamento (autorizações para comércio, indústria e monopólios). O fato foi confirmado por testemunhas. Bacon não pode defender-se de pronto porque coincidiu de estar doente na ocasião da denúncia. Quando pode fazê-lo, admitiu os presentes recebidos mas alegou que não haviam feito diferença sobre o curso do processo. Pretendeu desculpar-se com o Rei mas este recusou-se a recebê-lo. Renunciou ao cargo esperando que isto fosse suficiente.

A sentença foi de prisão na Torre de Londres e multa de quarenta mil libras, além da proibição de exercer cargos do Estado e de ter assento no Parlamento. Chegou a ser encarcerado., mas a sentença foi reduzida e nenhuma multa foi paga e somente por quatro dias esteve detido na Torre. Porém, nunca mais exerceu cargos ou teve assento no Parlamento. Foi banido da corte, o que significava proibição de estar a menos de 12 milhas de raio da residência do soberano. Recolheu-se a uma propriedade sua, Gorhambury, próxima a St. Albans. O banimento o impedia de ir a certos locais que freqüentava, como visitar a biblioteca de seu amigo o intelectual inglês Charles Cotton, e até de consultar seu médico. O tesoureiro real passou a atrasar o pagamento de sua pensão e os nobres punham dificuldades para recebê-lo.

Entregou-se ao trabalho intelectual, para o que agora lhe sobrava tempo. Preparou para o Rei um resumo de leis, a história da Grã Bretanha e a biografias dos monarcas Tudor. Em 1622 dedicou ao jovem príncipe Carlos o The Historie of the Raigne of King Henry the Seventh ("História de Henrique VII"). De um plano de seis trabalhos de história natural, dois foram escritos: o Historia Naturalis et Experimentalis ad Condendam Philosophiam: Sive Phaenomena Universi, também conhecido por Historia Ventorum ("Historia dos Ventos") que apareceu em 1622, e o Historia Vitae et Mortis ("Historia da vida e da morte") publicado no ano seguinte. De Dignitate et Augmentis Scientiarum, uma tradução para o latim, com acréscimos, do Advancement of Learning ainda em 1623 e em 1624 Apothegms. Mantinha correspondência com intelectuais estrangeiros enviando-lhes suas obras. Preparou nova edição aumentada dos seus Ensaios, publicada em 1625. Gradualmente foi readquirindo amizades, inclusive a do Rei, e já em 1623 lhe foi permitido comparecer ao beija-mão real, porém nunca recebeu um perdão total.

Em março de 1626 quando sua carruagem atravessava a neve próximo a Highgate (um distrito ao norte de Londres) decidiu fazer um experimento com o efeito do frio sobre a deterioração da carne. Mandou parar o carro, comprou uma galinha e a encheu de gelo. Na operação pegou um resfriado que se agravou em bronquite e possivelmente pneumonia, morrendo em 9 de abril, aos 65 anos em casa do Conde de Arundel, onde hoje fica a St. Michael's Church, em Highgate.

Postumamente foi publicado o seu Sylva Sylvarum; ou, A Natural Historie ("História Natural") (1627, com o não concluído The New Atlantis).

Thomas Hobbes trabalhou como o último secretário de Bacon.

FILOSOFIA

Bacon considerava a filosofia como uma nova técnica de raciocínio que deveria restabelecer a ciência natural sobre bases firmes. Seu plano de ampla reorganização do conhecimento a que chamou Instauratio Magna ("Grande Instauração"), era destinado a restaurar o domínio do homem sobre a natureza que se acreditava ele havia perdido com a queda de Adão. O núcleo da filosofia da ciência de Bacon é o pensamento indutivo apresentado no Livro II do Novum Organum, sua obra mais famosa, assim intitulada em alusão ao Organon de Aristóteles. Publicada em 1620, como parte do projeto da Instauratio Magna.. Continha, segundo Bacon, em oposição a Aristóteles, "indicações verdadeiras acerca da interpretação da Natureza".

Para Bacon, o verdadeiro filósofo natural (cientista da natureza) deveria fazer a acumulação sistemática de conhecimentos mas também descobrir um método que permitisse o progresso do conhecimento, não apenas a catalogação de fatos de uma realidade supostamente fixa, ou obediente a uma ordem divina, eterna e perfeita." O saber deveria ser ativo e fecundo em resultados práticos.

O plano compreendia 6 partes ou Seções. A Primeira Seção promoveria uma classificação completa das ciências existentes; a segunda, a apresentação dos princípios de um novo método para conduzir a busca da verdade; a terceira, a coleta de dados empíricos; a quarta, uma série de exemplos de aplicação do método; a quinta uma lista de generalizações de suficiente interesse para mostrar o avanço permitido pelo novo método; a sexta, a nova filosofia que iria apresentar o resultado final organizado num sistema completo de axiomas.

Divisão do conhecimento. A primeira parte da "Grande Instauração" é o De Augmentis Scientiarum, que apareceu em 1623 e é a versão latina, aumentada, do trabalho anterior Advancement of Learning, publicado em 1605. É considerado o primeiro livro filosófico realmente importante publicado na Inglaterra. O Livro II do Advancement of Learning e os livros II a IX do De Augmentis Scientiarum contêm a divisão das ciências, uma sistematização minuciosa de todo o conhecimento humano, a primeira depois de Aristóteles. Bacon começa com uma distinção das três faculdades --memória, imaginação e razão --às quais consigna respectivamente Historia, "Poesia", e filosofia. História tem um sentido particular significando todo o conhecimento, todas as disciplinas da ciência. "Poesia" são as crendices ou "falsa História" e é considerada irrelevante.

A História supre a matéria prima para a Filosofia, em outras palavras, para o conhecimento que pode ser indutivamente derivado dela, das descrições em que ela consiste. Aqui Bacon faz duas distinções gerais. A primeira entre o conhecimento divino e o secular. O divino vem da revelação e corresponde a teologia natural ou racional, e seu objeto são as provas da existência de Deus. A outra é entre disciplinas teóricas e práticas, ou seja, entre ciência pura e ciência aplicada ou tecnologias, ou ainda "arte".

A classificação de Bacon é extremamente detalhada para que possa ser exposta em poucas linhas.

O método experimental. A segunda parte do esquema de Bacon, o Novum Organum, fornece as normas para a observação da natureza.

O Novum Organon ocupa-se do método de sistematização e padronização da observação e da experimentação. Para sistematizar a observação e a experiência Bacon propõe a construção de "tabelas de descoberta". Ele distingue três tipos: tábuas de presença, de ausência e de grau (por exemplo: no caso de quaisquer duas propriedades, como calor e fricção, as condições em que aparecem juntos, condições em que uma aparece sem a outra, condições em que suas quantidades variam proporcionalmente). A finalidade última dessas tábuas era ordenar os fatos de tal modo que as verdadeiras causas dos fenômenos (objeto da física) e as verdadeiras "formas" das coisas (objeto da metafísica -- o estudo da natureza do Ser) poderiam ser estabelecidas indutivamente

História Natural. Em terceiro lugar, havia a História Natural, o registro dos fatos naturais observados., a matéria prima indispensável para o método indutivo. Neste sentido Bacon escreveu "histórias" do vento, da vida e morte, do denso e do diáfano e ao fim de sua vida estava trabalhando no seu Sylva Sylvarum ("Floresta das florestas ") ou A Natural Historie, uma miscelânea de assuntos.

Nesta parte do plano Bacon adotava um estrutura em três partes: "Natureza externa" (cobrindo a astronomia, meteorologia, geografia, espécies minerais, vegetais, e animais), "O Homem" (cobrindo anatomia, fisiologia, estrutura, poder, e ação), e "Ação do homem sobre a natureza " (incluindo medicina, química, as artes visuais, os sentidos, as emoções, as faculdades intelectuais, arquitetura, transporte, imprensa, agricultura, navegação, aritmética, e numerosos outros assuntos).

Em quarto lugar tem a "escada do intelecto" consistindo de exemplos cuidadosamente trabalhados da aplicação do método, sendo o mais impressivo o relato, no Novum Organum, do como suas tabelas indutivas mostram o calor ser um tipo de movimento de partículas.

Em quinto lugar há os "pioneiros" ou peças de conhecimento científico a que se havia chegado no passado, por via do bom senso.

Finalmente em sexto há a nova filosofia, ou ciência propriamente dita, que caberia às futuras gerações desenvolver utilizando o seu método, avançando em todas as regiões de possíveis descobertas apontadas na primeira parte, a sua classificação do conhecimento apresentada no Advancement of Learning.

Essa divisão passou a orientar o arranjo do conteúdo das enciclopédias nascentes em seu tempo facilitando aos enciclopedistas de então buscar cobrir, de modo sistemático e organizado, todos os ramos do conhecimento e das atividades do homem da época. Essa contribuição de Bacon foi tão importante que mesmo 130 anos depois, Diderot reconhecia com gratidão seu débito (1750) quanto ao planejamento da edição de sua Encyclopédie.

A experiência escriturada. No método indutivo, Bacon distingue a experiência vaga e a experiência escriturada. A primeira é a observação feita ao acaso. A segunda corresponde à observação metódica e aos experimentos. Ambas servem para o preparo das acima mencionadas "tábuas de investigação" que são três:

Presença. A tábua de presença registra o fenômeno em todas as circunstâncias em que ele se manifesta. O calor, por exemplo: deveriam ser anotados todos os casos em que ele se apresenta: luz do sol, labaredas do fogo, no sangue humano, etc.

Ausência. A tábua de ausência ou da negação, anota os fenômenos paralelos contrários: raios frios do luar, sangue frio de certos animais, etc.

Graduações. A tábua das graduações ou comparações anota possíveis correlações entre as modificações nos fenômenos em questão. Os procedimentos experimentais de Bacon compreendiam: de variação, de prolongação, de transferência, de inversão, de compulsão, mudança de condições.

Variação. Consistia em fazer variar alguma das variáveis possíveis na experiência. Ex.: aumentar o peso do objeto que cai para verificar se influi na velocidade da queda.

Prolongação. O ímã atrai o ferro: pequenas partículas de ferro em mistura aquosa também seriam atraídas?

Transferência. A chuva faz as plantas crescerem: que influência teria o ato de regar que imitasse a chuva?

Inversão. Comprovando-se que o calor propaga-se por movimento ascendente, o frio propaga-se por movimento descendente?

Compulsão. Aumentando-se ou diminuindo-se as causas, os efeitos cessarão?

União. O gelo e o salitre, separadamente, resfriam os líquidos: que acontecerá se forem unidos? Mudança de condições. Uma combustão que ocorre em ambiente fechado, repetir-se-á da mesma forma se ocorrer ao ar livre?

Além dessas técnicas principais, Bacon mostra técnicas auxiliares na distinção de fenômenos ou prerrogativas:

Solitárias: prerrogativas em corpos iguais em tudo, diferindo com relação a somente uma característica. Migrantes: casos em que uma qualidade manifesta-se repentinamente e desaparece: brancura da água espumosa, por exemplo.

Ostensivas: quando uma certa característica é particularmente evidente, como o peso do mercúrio. Analógicas. Um fenômeno pode esclarecer outro.

Cruciais. Casos decisivos que obrigam o investigador a optar entre duas explicações diametralmente opostas, referentes ao mesmo fenômeno.

As fontes de erro. Ainda quanto ao "Método", Bacon discute, no Livro I do Novo Organum, as causas do erro na busca do conhecimento. Ele aborda as falácias lógicas no raciocínio humano, de que fala Aristóteles, porém pelo aspecto psicológico de suas causas. Para se conseguir o conhecimento correto da natureza e descobrir os meios de torna-lo eficaz seria necessário ao investigador libertar-se daquilo que Bacon chama "Ídolos" ou engodos que levam a noções falsas:

1. Ídolos da Tribo. São vícios inerentes à própria natureza humana, tal como o hábito de acreditar cegamente nos sentidos. As percepções obtidas mediante os sentidos são parciais. Elas levariam à percepção do universo de modo mais simples do que ele é na verdade. Também o vício de reduzir o complexo ao mais simples segundo uma visão que se restringe àquilo que é favorável, que é conveniente. Na Astrologia, por exemplo, ignora-se o que falha para ficar com as predições que resultaram conforme o esperado. Outro vício é a transposição. Na alquimia os alquimistas "humanizam" a atividade da natureza atribuindo-lhe antipatias e simpatias.

2. Ídolos da Caverna. São erros devidos à pessoa, não à natureza humana; trata-se de diferenças individuais de habilidade, capacidade. Alguns espíritos tem condições para assinalar as diferenças, outros, as semelhanças: outros indivíduos se detêm em detalhes, outros olham mais o conjunto, a totalidade; ambos tendem ao erro, embora de maneiras opostos .

3. Ídolos do Foro (ou do mercado). São erros implicados na ambigüidade das palavras; a linguagem é responsável. Uma mesma palavra tem sentidos diferentes para os interlocutores e isso pode levar a uma aparente concordância entre as pessoas . Esse pensamento de Bacon evoluiu até a filosofia da linguagem ou positivismo lógico do século XX.

4. Ídolos do Teatro. Tem suas causas nos sistemas filosóficos e em regras falseadas de demonstração. Esses sistemas são puras invenções, como peças de teatro. Ele fala, por exemplo, da vã afetação de certos filósofos.

O preceito da observância contra os ídolos é o início ou introdução ao método. É seu instrumento demolidor. Seu instrumento construtivo é a Indução: partindo-se dos fatos concretos, tais como se dão na experiência, ascende-se até as formas gerais, que constituem suas leis e causas.

Para evitar proposições fantásticas, principalmente de parte dos ocultistas, Bacon adverte que os relatórios individuais são insuficientes. As observações e experiências merecedoras de crédito são apenas aquelas que podem ser repetidas. Ele fala a favor de procedimentos cooperativas e procedimentos metódicos e contra o individualismo e a intuição. A concepção de um laboratório de pesquisa científica, que Bacon desenvolve na utopia The New Atlantis, é a idéia de ciência como um empreendimento cooperativo, conduzido impessoal e metodicamente e animado pela intenção de trazer benefício material para a humanidade.

Crítica ao método. Depois que a astronomia de Copérnico e Galileu foi aceita, a firme associação entre a religião, os princípios morais e o esquema descritivo da natureza até então prevalecente foi abalada. A nova filosofia põe tudo em dúvida, o mundo, Deus, o homem.

Decartes e Bacon, contemporâneos, propõem dois caminhos diversos para a busca do conhecimento, o dedutivo e o indutivo e representam os dois pólos do esforço pelo conhecimento na idade moderna, o racional e o empírico.

A partir da dúvida mais radical Descartes propunha a construção do conhecimento por via da matemática, a qual permitira uma ciência geral que tudo explicaria em termos de quantidade, independentemente de qualquer aplicação a objetos particulares. Seu método, que expôs no seu "Discurso sobre o método" (1637) era de dúvida: tudo era incerto até que fosse confirmado pelo raciocínio lógico a partir de proposições auto-evidentes, ao modo da geometria.

Bacon, cuja influência muitos julgam tão grande e importante quanto a de Descartes, propunha a construção do conhecimento por outro caminho. Reivindicava uma nova ciência, que seria baseada em experimentos organizados e cooperativos, com o registro sistemático dos resultados. Leis gerais poderiam ser estabelecidas somente quando os experimentos tivessem produzido dados suficientes e então, por raciocínio indutivo, - o qual, como descrito no seu Novum Organum, parte dos particulares, subindo gradualmente e sem lacuna, - se chegaria aos axiomas mais gerais de todos. Estes terão também que ser postos à prova por novas experiências.

A indução não era desconhecida dos antigos, porém se restringia a aspectos puramente formais. Para Aristóteles, a indução consistia em, dada uma coleção de fenômenos, ou coisas particulares, extrair o que existe de geral em cada um deles. É tautologia . Para Bacon, a indução torna-se amplificadora, isto é, parte-se de uma coleção limitada de fatos e o que se descobre como valido para esses fatos é estendido a todos os análogos, ainda que não tenham sido pesquisados um por um. Isto faz avançar o saber. Bacon chama "Formas" ao ponto final ou resultado da indução no sentido platônico de universais"", de validade ampla, o que corresponde à descoberta de leis, que ele diz serem "leis de realidade absoluta que governam e constituem qualquer natureza simples".

Bacon cria um novo naturalismo, ou seja, a idéia de que as qualidades naturais são estabelecidas pela via empírica e experimental e não por via especulativa, com os pressupostos da metafísica tradicional . Nisto difere de Hobbes, para quem, - impressionado com a nova mecânica celeste demonstrada por Galileu -, todos os fenômenos, inclusive os sentidos, podiam ser explicados racionalmente, matematicamente, em termos de movimento de corpos. Esta fé que Descartes e Hobbes têm na aproximação matemática a priori da filosofia natural, espécie de metafísica mecanicista, era contrária ao pensamento de Bacon, que advogava o método experimental-indutivo.

É uma fraqueza de Bacon, sua preocupação com o estático. A ciência que despontava no seu século preocupava-se com o movimento, o que implicava a revogação de velhos sistemas, como acontece com Galileu, Kepler e outros pioneiros. É por esse aspecto do mundo natural, que Bacon não aprecia, que a matemática ganha evidência e desenvolvimento como o instrumento importante da física, da astronomia e da química. Bacon vê a matemática como auxiliar das ciências naturais, mas não é muito claro quanto ao seu papel. Apesar de que uma de suas tabelas diz respeito a proporções (enquanto as outras duas dizem respeito a semelhanças e diferenças) ele no entanto não tem uma concepção do papel, que àquela época já fora estabelecida pela ciência, das medições numéricas.

A razão é que Bacon esqueceu-se de enfatizar o papel da hipótese científica, que depende da matemática porque é fruto de deduções cartesianas sobre o resultado dos experimentos. Assim, enquanto Descartes não iria muito longe além de suas idéias claras e distintas, caso não se valesse absolutamente dos conhecimentos empíricos que ele colocava na categoria do complexo e inseguro, também Bacon não avançaria sem a matemática. O desenvolvimento posterior da ciência provou que os dois caminhos se complementam quando o cientista experimental formula suas hipóteses com o auxílio da matemática, mas ainda não se havia chegado a esse estágio, no início da época Moderna.

Outra crítica é que Bacon não coloca os estudos sociais como campo senão para o exercício do bom senso, sem considerar que observação sistemática poderia adicionar conhecimentos científicos a esse campo do conhecimento.

Humanismo. A corrente estóica influenciou, através dos trabalhos de Lipsius, o pensamento de Bacon. Na contínua luta contra o aristotelismo prevalecente, as doutrinas estóicas influenciaram muitas figuras proeminentes na época do Renascimento e da Reforma. Em 1603 a Moralia foi pela primeira vez traduzida para o inglês diretamente do Grego. Sua influencia pode ser vista na edição de 1612 dos "Ensaios" de Bacon, os quais contem conselhos de moralidade pública e virtude individual reconhecidamente derivados de Plutarco.

Educação. Bacon escreveu pouco sobre educação, mas seu formidável assalto contra a escolástica frutificou na teoria de Comenius, o qual reconhece a influência de Bacon em seu argumento de que as crianças deviam estudar coisas concretas tanto quanto os livros.

Bacon se opunha ao sistema de então, baseado na contratação particular de tutores, e achava que a educação deveria ser data aos jovens na escola. No entanto criticava os mestres das escolas de seu tempo, acusando-os de não oferecer nada senão palavras e correntes estreitas de pensamento. Obviamente, achava que o método indutivo e empírico que defendia haveria de trazer conhecimentos que dariam poder ao homem e a possibilidade de reorganizar a sociedade. Por isso exigia que as escolas fossem locais de trabalho científico e que devia colocar em primeiro lugar, antes da lógica e da retórica, as disciplinas científicas.

Psicologia. Ao falar da retórica como disciplina, Bacon sugeriu um estudo científico da gesticulação. Devido a esse despertar que deu à questão, começaram a surgir estudos (John Bulwer foi o primeiro a responder com sua Chirologia, em 1644) das expressões físicas não verbais vinculadas a idéias e sentimentos, culminando com os trabalhos de Charles Darwin, que considerava as emoções e suas expressões incorporadas à genética do homem no decorrer da evolução das espécies.

História. Apesar de ser o criador do método científico, Bacon não aplicou rigor científico ao seu trabalho como historiador. Como de hábito então, escreveu sem desenvolver pesquisa detalhada. Em sua biografia de Henrique VII da Inglaterra, ele não deu muita importância à precisão de datas, antedatando a morte do rei em um ano.

Shakespeare. Devido a muitas semelhanças de estilo, durante algum tempo suspeitava-se que as obras de Shakespeare seriam na verdade de Francis Bacon. As referências bíblicas e clássicas, e às Leis, eram em ambos escolhidas e apresentadas de modo muito semelhante. Segundo alguns, Bacon seria um Rosacruz. Um retrato seu, cujo original se diz que está na Sede Soberana da Ordem Rosacruz, quando se lhe sobrepõe o retrato de William Shakespeare, parece tratar-se do mesmo retratado. Comparações grafológicas feitas por técnicos no século 20 desencorajaram essa idéia.

Filosofia Política. Bacon era a favor dos poderes totais do monarca, contra o poder feudal que subsistia da idade média. Em sua obra política justifica o absolutismo. O autoritarismo é exercido também na sua utopia, uma república cuja felicidade vem de ser administrada por uma instituição científica, a Casa de Salomão, onde vivem e trabalham os sábios da "Nova Atlântida". Segundo Bacon, "conhecimento é poder".

Direito. Ao tempo de Bacon era razão de forte controvérsia o direito dos Reis de promover julgamento próprio em assuntos de interesse da coroa, podendo contrariar decisões da justiça comum. Bacon, no seu ensaio Of Judicature (escrito em 1612), coloca-se a favor do direito do rei considerando conveniente que, tanto o rei consultasse os juizes como também que os juizes consultassem o monarca conforme os interesses envolvidos nas questões. Esta posição era fortemente contestada pelo jurista e Chefe da Justiça Sir Edward Coke, o grande rival de Bacon, e que recusou concordar com os desejos de James I em vários julgamentos em que essa prerrogativa real. O Rei várias vezes arengou aos juizes sobre seu dever de respeitar as prerrogativas e o poder real.

Tecnologia. Bacon enfatizava que a ciência deveria ser em favor do alívio da condição humana. Foi Bacon o primeiro a proclamar que o destino da ciência não era somente aumentar o conhecimento mas também melhorar a vida do homem na terra. Ele próprio exaltava as tres grandes inovações tecnológicas de seu tempo: a bússola, a imprensa e a pólvora.

Um diário íntimo que foi encontrado entre seus papeis e que contem notas, agendamentos, débitos, as fraquezas dos rivais, e até advertências a si mesmo, revela que Bacon incumbia nobres inteligentes que estavam presos na Torre de trabalhar em experiências científicas úteis.

O grupo de homens que, inspirados nos princípios de Bacon fundaram a Royal Society em Londres, em 1660, estavam determinados a dirigir a pesquisa científica para fins úteis primeiro melhorando a navegação e a cartografia e a estimular a inovação industrial e a busca de recursos minerais.

Influência sobre o desenvolvimento do empirismo. Além da escolástica aristotélica, três outros sistemas de pensamento prevaleciam na Inglaterra quando Bacon começa a escrever: o ocultismo, que vinham da Idade Média, e o humanismo estético, por influência da Itália.

O ocultismo ou esoterismo, busca de poderes mágicos sobre os processos da natureza e de relações de poderes cósmicos com a vida humana, como as esperanças dos alquimistas da descoberta de elixires e segredos da obtenção do ouro. Parece que nenhum filósofo do início da idade moderna escapou de Ter alguma crença ou preocupação com a possibilidade de existirem tais forças ocultas e Bacon inclusive, pretendendo porém que tais forças fossem "naturais".

O humanismo cristão de Petrarca, Lorenzo Valla, e Erasmo influíam, conduzindo a uma valorização do mundo, da beleza da arte e da natureza, e dos prazeres como uma nova era em contraste com o ascetismo ortodoxo com menos importância para as especulações teológicas.

O pensamento de Bacon com respeito à natureza tem afinidade particular com o de Bernardino Telesio, Francesco Patrizzi, Tommaso Campanella, e Giordano Bruno embora não haja menção a esses autores nos escritos de Bacon e tinha em comum com eles a convicção de que ao conhecimento da natureza deve vir da observação e não do raciocínio abstrato.

Bacon via a si mesmo como o inventor de um método que lançaria uma luz sobre a natureza - "uma luz que eventualmente haveria de revelar e tornar visível tudo que fosse o mais escondido e secreto no universo" Tal método compreendia a coleta de dados, sua cuidadosa interpretação, a realização de experiências, para assim conhecer os segredos da natureza por meio de observações sistemáticas de suas Leis. As propostas de Bacon tiveram uma poderosa influência sobre o desenvolvimento da ciência no século XVII na Europa.

O empirismo não começa com Bacon, mas dele recebeu seu instrumento vital: o método experimental ou método científico. As bases do empirismo estão no pensamento de Bernardino Telésio segundo o qual a Natureza devia ser estudada de modo natural, segundo seus próprios princípios, ou seja, pela investigação e observação. Seguiu-se a Telésio uma fase especulativa não sistemática. Por isso o fato mais decisivo foi a colocação de Francis Bacon, que, apesar de reconhecer a existência do conhecimento a priori, argumentou que, na verdade, o único conhecimento que valia a pena ter (para o fim de melhorar a existência humana) é o conhecimento de base empírica do mundo natural, o qual devia ser buscado através de procedimentos sistemáticos, mecânicos, do arranjo das informações colhidas na experiência e observação, que podiam ser melhor conduzidas em pesquisa cooperativa e impessoal. Foi na verdade o primeiro a formular o princípio da indução científica.

Propondo a observação isenta dos preconceitos, afastando os ídolos, coletando dados e interpretando-os judiciosamente, conduzindo experimentos para, com todo esse método, aprender os segredos da natureza e sistematizar o que nela parece desordenado e irregular, Bacon estava convicto de que havia inventado um método que levaria os homens além das colunas de Hércules. Na dedicatória do seu livro The Advancement of Learning para o Rei Jaime I, Bacon recorre a essa metáfora, a de que seu método permitirá a passagem do conhecimento para além das Colunas de Hércules, - o estreito de Gibraltar, - que simbolizavam para os antigos os limites da possibilidade da exploração humana. Significava romper com o aristotelismo, e passar a um oceano sem limites para o avanço do conhecimento.

Bacon foi um ídolo para Robert Hooke e Robert Boyle, cientistas fundadores da Royal Society em Londres. O filósofo Immanuel Kant dedicou a Bacon sua famosa obra "Crítica da Razão Pura"

Fonte: www.cobra.pages.nom.br

FRANCIS BACON

Filósofo e político inglês (Londres, 1561-idem, 1626). Faz os seus estudos iniciais em Inglaterra e, de seguida, viaja para França. Em 1580, já de regresso a Inglaterra, empreende estudos de Direito. Em 1593 começa a intervir em política na Câmara dos Comuns. Junta-se ao partido do duque de Essex, favorito da rainha, mas quando este cai em desgraça não hesita em condená-lo publicamente. Em 1604, já sob o reinado de Jaime I, obtém o título de advogado. Desde este momento até 1618, em que é nomeado grande chanceler e recebe o título de visconde, a sua carreira é meteórica, se bem que ao preço de admitir a prática de todo o tipo de arbitrariedades. Em 1621, o Parlamento acusa-o de venalidade, condena-o a pagar 40 000 libras esterlinas, encarcera-o na Torre de Londres e incapacita-o para a perpetuidade. Recupera a liberdade quase de imediato e retiram-lhe as penas, mas a sua vida pública termina. A seguir dedica-se ao estudo da ciência e da filosofia.

Sir Francis Bacon ocupa um notabilíssimo lugar na história do pensamento e da ciência como criador da investigação experimental (Novum Organum Scientiarum, Ensaios). Conta-se entre os primeiros que teve consciência do significado histórico das ciências e de como estas transformam não só a filosofia, mas também a vida dos homens. Para Bacon, o saber há-de permitir ao homem dominar a natureza. Por isso, tenta unir as tradições sábia e popular, até então separadas. A sua filosofia baseia-se, essencialmente, na substituição da lógica dedutiva medieval, que considera estéril, por um novo método experimental e indutivo. O Novum Organum é o início de um ambicioso projecto de síntese total do conhecimento humano. Após criticar os prejuízos (idola ou preconceito de que nos devemos libertar para construir a ciência) que obstaculizam o caminho da verdadeira ciência, Bacon fixa de modo sistemático as regras da indução: as tabelas de presença, de ausência e de graus. Ignora a importância do método analítico e das matemáticas e mostra-se adversário do método criado por Galileu, dado que nele os fenómenos estão isolados do seu meio natural e apenas são estudados nos seus aspectos mensuráveis. Do ponto de vista literário, destaca-se o seu romance político A Nova Atlântida, no qual descreve com estilo original e vigoroso um país ideal.

Fonte: www.vidaslusofonas.pt