14.5.11

5 acontecimentos inspirados pelo álcool

Ana Carolina Prado

Foto: Getty Images

Nos seus primórdios, a bebida alcoólica era tida como algo sagrado. “Diversas narrativas contam as origens míticas do vinho como uma gota de sangue dos deuses que choveu sobre a terra de onde brotou uma videira”, escreve o historiador Henrique Carneiro no livro “Bebida, Abstinência e Temperança -- Na História Antiga e Moderna”. O álcool desenvolveu um papel importante e influenciou vários atos de grandes personalidades ao longo da história – bem mais mundanos, porém, do que sua origem sugere. Com a ajuda de Henrique, selecionamos cinco deles para contar a vocês.

1- Fez Alexandre, o Grande matar o melhor amigo e queimar palácios

Na Antiguidade, os macedônios, assim como os gregos, cultuavam Dionísio, o deus do vinho. Para homenageá-lo, como era de se esperar, bebiam. O conquistador Alexandre Magno (ou Alexandre, o Grande) não escapava à regra e também enchia a cara. Depois de ter entornado muitas taças em um de seus banquetes regados a muito vinho, Alexandre discutiu com Cleitus, um de seus generais mais conhecidos, e, puxando uma adaga de um de seus guarda-costas, acabou assassinando o amigo. Quando percebeu que havia matado alguém que o havia tantas vezes defendido da morte, Alexandre se arrependeu e tentou se matar, mas foi contido pelos seus guardas. Mas a estupidez não parou por aí. O incêndio de Persépolis, antiga e opulenta capital persa, é atribuído a outra bebedeira de Alexandre que, numa noite em que os macedônios estavam ocupando a cidade, teria ordenado que os palácios do lugar fossem incendiados.

- Para saber mais: Alexandre, o Maior, em Aventuras na História

2- Ajudou Anthony Burgess a escrever Laranja Mecânica


O escritor inglês Anthony Burgess se baseava muito em experiências pessoais para escrever seus romances. A cena de estupro em Laranja Mecânica, por exemplo, foi inspirada em um incidente envolvendo sua esposa, que foi assaltada durante a Segunda Guerra Mundial e acabou perdendo o bebe que estava esperando. Para conseguir lidar com assuntos como esse, que o envolviam e perturbavam tanto, ele frequentemente encontrava refúgio no fundo dos copos.

3- Atrapalhou golpes políticos e deu fama a um governante russo

Não eram só os governantes antigos que sofriam com a bebedeira. Os russos, conhecidos pela paixão por uma boa vodca, também tiveram seus momentos. Em 1991, a linha radical do partido comunista russo tentou um golpe final contra a abertura política da então União Soviética, visando tomar o poder. Mas a resistência liderada por Boris Ieltsin, presidente da república russa, foi forte e o golpe deu errado. Mas esse talvez não tenha sido o único fator responsável pela derrota. O elevado consumo de álcool por parte dos conspiradores contribuiu para que não tivessem agido mais decisivamente. “O Livro das Listas” conta que o ex-vice-pesidente soviético Gennady Yanayev, líder do golpe, bebeu horrores durante todo o incidente e foi encontrado num ”esturpor alcoólico” em seu escritório quando o golpe fracassou. E o ex-primeiro-ministro Valentin Pavlov, outro conspirador, admitiu ter bebido desde a primeira noite do golpe.

Mas a influência do álcool no governo russo não parou por aí. Após a fragmentação da União Soviética, Boris Ieltsin subiu ao poder e ficou mais famoso por seus atos bizarros sob o efeito do álcool do que por ter sido o primeiro presidente eleito democraticamente na história da Rússia. Ele tropeçou várias vezes em palanques e escadarias, dançou em público, frequentemente tinha de ser amparado por seguranças porque aparecia cambaleando por aí, fez pronunciamentos falando enrolado, dava cutucões em mulheres em eventos oficiais e até apertou o traseiro de outra durante uma festa beneficente. Dá para ver algumas dessas situações aqui:

4- Fez Walt Disney perder o controle do trenzinho e quase matar as filhas


Se você baseia a imagem que tem de Walt Disney nos fofos desenhos dos seus estúdios, é hora de rever o conceito. Ele, na verdade, bebia feito uma esponja e ainda usava um copo enorme de uísque para lhe ajudar a tomar tranquilizantes. Um dia, bêbado como um gambá, ele inventou de bancar o maquinista da ferrovia em miniatura que havia construído no quintal de sua casa. Você sabe, histórias como essa não podem acabar bem. E foi o que aconteceu: Disney perdeu o controle do trenzinho, arrebentou o muro da casa e acabou indo parar dentro de sua sala, quase matando as pessoas que estavam lá – incluindo suas filhas. Mas vamos combinar que, mesmo correndo risco de vida às vezes, devia ser o máximo ser filho desse homem. O cara construiu uma mini ferrovia no próprio quintal!

5- Criou o maior incidente diplomático do Segundo Reinado

O mais grave acidente diplomático do Segundo Reinado no Brasil foi, quem diria, provocado pelo álcool. Em 1862, três oficiais da marinha inglesa, à paisana e bêbados, provocaram um rebuliço nas ruas do Rio de Janeiro (à época, capital do Brasil) ao se envolver em uma luta corporal com marinheiros brasileiros. Por causa de mulheres, vale lembrar. A polícia portuária levou os ingleses para a prisão, mas os soltou no dia seguinte quando percebeu que eles eram militares. O problema é que o embaixador inglês no Brasil, William Christie, transformou esse simples episódio em um conflito diplomático alegando que a marinha britânica havia sido gravemente ofendida e exigindo punição para os policiais responsáveis pelo incidente. Ele não foi atendido, o que o fez ameaçar tomar medidas extremas. E adicionou à lista de exigências o pagamento das 6.500 libras de indenização por um incidente ocorrido no ano anterior, quando havia desaparecido a carga de um navio inglês naufragado na costa brasileira.

Como D. Pedro II se recusou a atender a tais exigências, Christie apelou para a violência e ordenou ao vice-almirante Warren que bloqueasse o porto do Rio de Janeiro e aprisionasse cinco navios mercantes brasileiros. Então o rei da Bélgica, Leopoldo I, foi chamado para resolver o impasse. Mas, para surpresa geral (ele era tio e conselheiro da rainha Vitória da Inglaterra), a sua decisão foi favorável ao Brasil, determinando que a Inglaterra pedisse desculpas oficialmente e devolvesse os navios aprisionados. Como a Inglaterra não fez nada disso, o Império brasileiro rompeu as relações diplomáticas entre os dois países.

Fonte: Superinteressante