Armada brasileira
Há cem anos, militares se rebelaram contra castigos físicos adotados pela Marinha num movimento conhecido como Revolta da Chibata, liderados pelo Almirante Negro, o marinheiro João Cândido.
Na noite da revolta, em 22 de novembro de 1910, João Cândido e 2.300 marinheiros tomaram grandes embarcações da armada.
Filho de ex-escravos, ele nasceu em 1880, no Rio Grande do Sul, e morreu em 1969, no Rio de Janeiro. Em 1895 fez sua primeira viagem como aprendiz de marinheiro.
Em 1909 foi à Grã-Bretanha para acompanhar a construção de navios de guerra encomendados pelo governo brasileiro e tomou conhecimento da revolta havida em 1905 dos marinheiros russos do encouraçado Potemkin, por melhores condições de trabalho.
250 chibatadas!
Apesar de abolido pelo regime republicano, o uso da chibata como castigo na Armada brasileira continuava a critério dos oficiais.
Centenas de marujos, 90% negros, tinham o corpo retalhado pela chibata. Baixos soldos e má alimentação foram os outros ingredientes para o crescimento do clima de tensão.
"Não por coincidência, esse costume brutal repetia as atrocidades da escravidão, pois cerca de 90% dos marinheiros eram negros",
No movimento para pôr fim à chibata na Marinha, os marinheiros tentaram até uma audiência de João Cândido com o presidente da República Nilo Peçanha. Mas acabaram por decidir pela realização de um motim, que foi antecipado pela punição com 250 chibatadas em um marinheiro. O castigo continuou com os homens desmaiados.
No dia 22 de novembro de 1910 eclodiu a revolta. João Cândido deu início ao levante, assumindo o comando do encouraçado Minas Gerais, e sendo designado à época pela imprensa, Almirante Negro.
Por quatro dias, os navios de guerra Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro voltaram seus canhões para a Capital Federal.
A rebelião terminou com o compromisso do governo de abolir de vez a chibata e anistiar os integrantes da revolta. Mas o governo traiu o acordo: João Cândido e os outros foram presos, expulsos e alguns até mortos. Saiu da Marinha sem qualquer direito.
Pobre e esquecido, descriminado até o fim da sua vida, mais de 60 anos depois da revolta, aquele que um dia foi mencionado como Almirante Negro morreu pobre, de câncer, no Hospital Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, em 1969, aos 89 anos.
Herói de histórias
Mas memória de João Cândido foi resgatada pelos compositores João Bosco e Aldir Blanc no samba "O mestre-sala dos mares", de 1975. O álbum em quadrinhos Chibata!, dos cearenses Olinto Gadelha (texto) e Hemeterio (desenhos), também resgata a saga do herói: "A gente conhecia superficialmente a história do João Cândido, e, quando acabamos a pesquisa, descobrimos um herói do mesmo porte do Tiradentes", diz Hemeterio.
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