9.2.14

Inscrições feitas há milhares de anos revelam como achar água no deserto

Como atravessar quase 100 quilômetros de deserto sem morrer de sede? Mais de 20 mil inscrições formam uma das coleções mais ricas do mundo.

Inscrições feitas há milhares de anos revelam como achar água no deserto
Como atravessar quase 100 quilômetros de deserto sem morrer de sede? Mais de 20 mil inscrições formam uma das coleções mais ricas do mundo.



Quanto tempo a natureza leva para construir suas obras de arte? No Oriente Médio a montagem do espetáculo levou mais de 20 milhões de anos. São corredores de montanhas com quase dois mil metros de altura. Pedras monstruosas e delicadas ao mesmo tempo. Paredes monumentais que fazem qualquer um se sentir pequeno.

Paraísos de sal e um mar cada vez mais vazio, lindo e ameaçado. Lugares de beleza incomparável, que muito antes dos tempos bíblicos já atraíam os seres humanos. Mas que assustavam, e ainda assustam a quem se atreve.

Como atravessar quase 100 quilômetros de deserto e chegar à civilização sem morrer de sede?

Um vale gigantesco na Jordânia é o que se pode chamar de uma das avenidas mais antigas do planeta. Acredita-se que os primeiros humanos tenham passado por lá, no caminho entre a Ásia e a África. Depois disso, achados arqueológicos mostram que há pelo menos 13 mil anos, homens e mulheres foram do Egito para as Arábias para fazer comércio. E tudo isso porque existia água no deserto.

Naquela época, a Arábia não tinha fronteira. Tribos de beduínos nômades vagavam pelo deserto, mudando suas tendas em busca de chuvas, atrás de água para beber.

Depois que uma grande guerra redesenhou o mapa das Arábias no século passado. Esse lugar mágico passou a pertencer à Jordânia. Quase na fronteira com a Arábia Saudita. Mas hoje é patrimônio da humanidade inteira.

O nome? Wadi Rum. O vale das montanhas altas. Ou como dizem alguns, por causa de formas que parecem extraterrenas, o ‘vale da lua’.

Que arquiteto sonharia com uma avenida com mais de dois quilômetros de largura. E tráfego intenso.

Camelos viajando sozinhos. Caminhões-tanque levando água pra alguma vila distante. Caravanas de homens e animais se cruzando na imensidão.

A equipe do programa vai na direção de uma das formações mais impressionantes deste deserto. Saleh, um beduíno que vive sorrindo, é o guia.

Uma imagem incrível, o encontro de duas montanhas, duas esculturas da natureza, belíssimas. E a equipe do programa vai à procura de um segredo que ficou guardado lá dentro por milhares de anos.

O gigante chama-se Khazali. Montanha Khazali.

Antes de se aventurar, o muçulmano Saleh se ajoelha diante dele, virado na direção de meca. E reza, como faz cinco vezes ao dia.

O Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, chama este vale onde a gente está de Iram: "a cidade dos pilares gigantes".

Mas a nossa busca é pelos pequenos segredos deixados por seres humanos no coração da montanha.

São mais de vinte mil inscrições formando uma das coleções mais ricas do mundo.

É interessante perceber como os desenhos estavam associados à presença de água. Porque, ninguém ficaria parado muito tempo desenhando na pedra, o que era muito trabalhoso, se não tivesse uma situação tranquila, com água e um certo abrigo. Nesse caso, especificamente, a equipe está bem em cima do que um dia foi uma fonte de água.

A fonte secou. Mas as lembranças de temporadas fartas - algumas delas 13 mil anos atrás - ficaram gravadas nas pedras.

É possível ver bem de perto uma das inscrições mais antigas. Embaixo. pés. À direita o órix das Arábias que é um animal praticamente extinto, uma espécie de antílope. E em cima um casal. É possível ver animais, tem camelo, cachorro.

Saindo do Canyon, parece inevitável. E a gente nem tenta resistir à tentação de subir a montanha. Difícil? Nem tanto. Porque logo vem a recompensa. A alegria de sentir por alguns instantes que a gente também pode fazer parte desta maravilha.

Estudos científicos mostram que há milhares, talvez milhões de anos, chovia muito nesse deserto. As chuvas provocavam enchentes, as enchentes viravam rios e esses rios subiam muito. E essa água fazia o que se chama de erosão fluvial provocando a destruição das rochas. E ao longo do tempo muito lentamente foram surgindo esculturas maravilhosas. Na vídeo, por exemplo, alguém tem dúvida de que a gente está vendo a cabeça e o corpo de uma águia? Impressionante. E olha que tudo isso foi feito pela natureza.

De cima, as pedras parecem vivas. Tem uma com cara de macaco. Tem outra que é um rei. Com coroa e tudo. Ou é rei com nariz de porco?

O beduíno Saleh diz que a montanha Khazali "é um lugar de Deus". E tudo fica mesmo parecendo divino.

Ainda mais quando a gente se dá conta de que é a água rara das chuvas que abastece as fontes quase eternas do deserto.

A viagem segue e Saleh mostra na pedra a informação que todos os viajantes querem saber.

Quem soubesse interpretar os desenhos jamais passaria sede.

O que significam os desenhos? "Que a água tá aqui. Aqui", Saleh me diz.

A fonte mais famosa deste deserto leva o nome de um homem que é quase uma lenda por lá. A fonte de Lawrence. Mas quem é Lawrence?.

Saleh explica que foi um homem que há muito tempo esteve em Wadi Rum. Um bom homem, ele diz. Mas é claro que eu não o conheci.

De alguma forma, o mundo inteiro conheceu Lawrence. Thomas Edward Lawrence foi um oficial britânico que lutou ao lado dos beduínos árabes contra os turcos há quase cem anos, durante a Primeira Guerra Mundial.

Guerreiro, vestido como beduíno, ele ganhou o respeito e a admiração do povo desta terra. E o filme ‘Lawrence da Arábia’, de 1962, ganhou 7 Oscares.

É considerado um dos filmes mais importantes do cinema mundial. As históricas batalhas em cima de camelos. Em grande parte foram filmados e vividos em Wadi Rum.

Lawrence só não conseguiu realizar o grande sonho de unir os povos árabes em uma grande nação.

E se o viajante não encontrasse as inscrições indicando a fonte de água? Ou não conseguisse entender, morria de sede?

Foi o avô de Salem Zalabia quem ensinou pra ele o velho segredo dos beduínos.

“É só montar no camelo e deixar ele ir pro conta própria. O camelo sabe onde tem água. Ele sente o cheiro. Há muito tempo, meu avô contou essa história", Salem explica.

Hoje os beduínos já não são mais nômades. Mas sabem exatamente cada ponto do deserto onde tem água. Mas e a gente? Que não tá de camelo. Como a gente faz pra chegar na fonte? Perguntar ajuda?

O menino beduíno aponta. Nem tudo está pedido. Algumas muitas poucas comunidades ainda são abastecidas com água que vem das fontes nas montanhas. Para encontrá-las é só seguir os canos.

A equipe do programa encontrou a tubulação, na realidade uma mangueira. É por onde passa a única água que abastece toda a vila.

No caminho dá para recarregar o cantil. E perceber que depois de tanto tempo de caminhada em um ambiente tão seco, algo tão simples como uma fonte de água adquire uma beleza grandiosa.

Mais adiante tem uma fonte maior ainda. O que nesse deserto, parece um sonho. É água limpa, que se acumula no interior da montanha em épocas de chuva.

Riquezas tão valiosas, no alto das montanhas, tem que ter guardiões, fieis guardiões.

O menino dos canos subiu pra consertar o tubo que leva água da fonte até a casa dele e também até o bebedouro dos camelos.

Mubarak é irmão do nosso guia Saleh, tem 15 anos e a responsabilidade de manter tudo funcionando. Quando ele termina o conserto a água jorra no deserto.

O dia já vai terminando quando Mubarak leva a equipe do programa à tenda onde vive com a família. Ele nos apresenta o pai, que convida os forasteiros a passar a noite com eles.

Em volta da fogueira, o velho beduíno conta que foi o avô dele resolveu parar nesse ponto do deserto por causa da água da fonte. É com ela que eles fazem o chá. E o mansaf, o prato típico dos beduínos.

À noite no deserto é bonita e gelada. Cobertores a postos e a equipe vai dormir.


Fonte: http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2014/02/inscricoes-feitas-na-pedra-ha-milhares-de-anos-revelam-como-encontrar-agua-no-deserto.html
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