9.2.14

O comercio no Império Romano



Mario Curtis Giordani



A pax romana favoreceu, sobremaneira, o desenvolvimento das relações comerciais. «Especialmente desde que o Império deu ao mundo uma época de paz, e as províncias alcançaram o zénite do seu desenvolvimento, caíram as barreiras que antes separavam entre si os países, e a plena liberdade do tráfico pôde trazer seus benefícios. Sob o cetro daqueles magníficos imperadores, o Mediterrâneo converteu-se em um lago latino, no qual se dava um intercâmbio universal de cultura, tanto na ordem espiritual como mercantil».

Convém, entretanto, chamar a atenção desde logo para o fato de que, em Roma, predominava de longe a importação sobre a exportação.

Com exceção de alguns produtos, como o azeite e o vinho, os romanos viram-se na contingência de importar a maioria dos artigos de consumo.

Tal fato tomou a balança mercantil de Roma passiva e fez que «a prosperidade da Itália se perdesse apesar dos tesouros que afluíam para ela».

As mercadorias chegavam a Roma ou circulavam pelo Império por via terrestre ou marítima.

Augusto levantara no Forum um marco recoberto de bronze dourado (milliarium aureum) no qual se liam, em milhas, as distâncias que mediavam entre a Capital e as principais cidades do Império.

Os imperadores haviam dedicado especial atenção à construção de rodovias, especialmente nas províncias. Funcionários (curatores viarum) com a obrigação específica de zelar pelas estradas foram designados pelos imperadores. Um olhar pelo mapa do Império revela-nos os seguintes sistemas rodoviários.

Sistema Gaulês — devido a Agripa, no reinado de Augusto. A via Claudia-Julia-Augusta atravessava os Alpes no Brenner.

Sistema Espanhol — realização de Augusto, de Trajano e de Adriano.

Sistema Britânico — obra de Adriano; o nó desse sistema era

Londres.

Sistema Balcânico — construído por Trajano.

Sistema Africano — obra de Tibério e de Adriano.

Sistema Asiático — de grande importância, mas um tanto abandonado.

Os imperadores empenharam-se também no desenvolvimento da navegação.

Calígula e Nero pensaram em cortar o istmo de Corinto.

Trajano restaurou o antigo canal que ligava o Nilo ao Mar Vermelho. Faróis foram construídos em diferentes locais e é curioso notar que o farol edificado em Boulogne (Pas-de-Calais), na época de Calígula, permaneceu em uso até o século XVII.

O Mediterrâneo é a grande via marítima. O Mar Vermelho (viagens para a índia) e o Canal da Mancha (após a conquista da Grã-Bretanha) foram também muito freqüentados.

Ostia era o grande porto marítimo de Roma e mereceu cuidados especiais dos imperadores, de Cláudio a Trajano. Do porto marítimo as mercadorias eram transportadas em pequenas embarcações através do Tibre para os portos fluviais de Roma, onde as esperavam «as refinadas exigências e o apetite cotidiano de uma população imensa e, ainda mais, o insaciável apetite financeiro de uma nuvem de mercadores e homens de negócios».

Na zona comercial estavam os grandes depósitos de sal (salinae), os grandes mercados do Velabrum (onde se encontravam enormes quantidades de azeite, vinho, queijo e outros alimentos), do Forum Boarium (mercado de carnes), do Forum Holitorium (mercado de ervas), e do Forum Cuppedinis (mercado de gulodices).

Enormes armazéns (horreae) continham as mais variadas mercadorias, desde tochas e velas até rolos de papiro e cadernos de pergaminho.

— Enquanto nas margens do Tibre se efetuavam os grandes negócios, nos prolongamentos das ruas do Forum (Via-Sacra, Vicus Tuscus, Vicus Iugarius), nos bairros de Argiletum e de Suburra desenvolvia-se intenso o pequeno comércio de lojas.

Note-se de passagem que a Via Sacra era a principal e mais antiga rua do Forum; dela saíam as duas ruas centrais Vicus Tuscus e Vicus Iugarius.

Na Via Sacra alinhavam-se casas particulares e inúmeras pequenas casas de negócio.

No Vicus Tuscus se vendiam aromas e pimentas, no Argiletum predominavam os sapateiros e livreiros.

Esta fraternal promiscuidade do livro com os sapatos, comenta Paoli, «chega a causar-nos desgosto; porém, como assim sucedia, não há razão para não dizer as coisas como eram e, além disso, tal fato se explica quando pensamos que livreiros e sapateiros trabalhavam na pele curtida».

A Suburra era um bairro em que predominava a gente humilde e onde os escravos e os pobres iam fazer compras.

Após essas brevíssimas indicações sobre o movimento comercial na Roma dos Césares, passemos ao estudo das principais mercadorias que das províncias e de longínquas regiões, por terra e por mar, chegavam até as margens do Tibre.

Observe-se, desde logo, que o comércio interno, realizado entre as províncias dentro das próprias fronteiras do Império, era de muito maior importância para o desenvolvimento econômico do que o comércio externo com países exóticos e distantes.

O aumento desse comércio interno, anota Rostovtzeff, foi constante.

«Os semitas -— sírios, judeus e arameus — tomaram-se seus membros mais destacados. O transporte entre as províncias era fácil — pelo Mediterrâneo e em seguida pelos rios e estradas, até as regiões mais distantes. No fim do século III da era cristã, o Imperador Diocleciano divulgou uma tarifa ou lista dos preços fixados para as mercadorias destinadas às províncias orientais, mas incluindo grande número de produtos do Ocidente, especialmente os da Gália.

O comércio era estimulado também pelas taxas alfandegárias moderadas,

que variavam de 2 a 2,5% nas fronteiras de cada província. Isso representava um grande progresso sobre a época em que cada cidade grega ou reino helénico extorquia pesados impostos de todo comerciante que penetrasse seu território».

Das ricas minas da Espanha provinham ouro, prata, ferro, cobre, chumbo, estanho e mercúrio.

Além dessa matéria-prima, a península ibérica fornecia também o óleo e apreciadas lãs de cor vermelho-escura.

No século II o chumbo da Grã-Bretanha, de mais fácil exportação que o da Espanha, concorreu com este. A Gália também exportava ferro. O ouro do subsolo da Dácia foi uma das causas da conquista dessa região por Trajano.

Das Cassitéridas Roma importava estanho, da África recebia trigo, ouro, marfim e pedras preciosas. As feras do Atlas constituíam objeto de atração das multidões que freqüentavam o Coliseu.

A Gália exportava madeiras, tecidos de lã e, através da antiga Massilia, toucinho e carnes salgadas.

A Itália abastecia a capital do Império com materiais de construção (telhas e tijolos) e, sobretudo, com alimentos, como legumes, frutas, vinhos, etc...

«Os países orientais abasteciam a capital com o famoso vinho da Grécia, os habitantes de Quios e Lesbos, com mel, galinhas, ostras e outros artigos. Paros e Frigia forneciam seus mármores, que em forma de gigantescos blocos e colunas foram empregados em magníficas construções. As cidades industriais e mercantis de Leste acusaram na época romana um deslocamento quanto à sua influência mercantil.

Corinto, como praça mercantil em grande escala, feita também para a voluptuosa vida do prazer, manteve sua antiga importância, mas a maior parte das cidades gregas foi decaindo paulatinamente, e até mesmo Atenas, afastada então das grandes vias mercantis, não exercia outra atração que a de ser metrópole intelectual do mundo. Na costa da Ásia Menor, continuaram sendo Éfeso e Esmima portos muito freqüentados, mas Rhodes superou-os, tendo sido seus cais e estaleiros muito elogiados pelos escritores clássicos».

Na Germânia, os romanos adquiriam peles, cabeleiras louras, produtos agrícolas e, sobretudo, cavalos domados na Turíngia, «de grande resistência, apesar do seu pequeno tamanho e má figura».

Da Escandinávia procedia o âmbar, o cobiçado «ouro do Norte», muito usado nos ornamentos femininos e nas incrustações feitas em armas e em utensílios de caça.

O comércio de Roma com o Egito merece menção especial, não só por causa dos produtos da antiga terra dos faraós como também porque Alexandria constituía um entreposto importantíssimo de mercadorias provenientes do Oriente.

O Egito produzia o suficiente para a sua manutenção e para a exportação.

As embarcações desciam o Nilo carregadas de trigo que seria transportado por navios a Putéoli e Ostia. E ’ curioso notar que o regime de ventos dominante obrigava esses navios a passarem por Chipre, pelo norte da Síria, pelo sul da Ásia Menor, antes de encontrarem do lado de Creta uma rota mais direta para a Itália.

Além do trigo, o Egito produzia e exportava folhas de papiro, que substituíam o então desconhecido papel, tecidos de fino linho, objetos de cristal («ao ponto de os artísticos cristais de Alexandria, com sua grande riqueza cromática, serem mais estimados nas mesas dos patrícios romanos que os vasos de prata ou de ouro»), bálsamos, incensos e, finalmente, trabalhos em granito, mármore e pórfiro.

As atividades comerciais fizeram de Alexandria uma potência econômica e o maior porto do Império.

Neste gigantesco porto «reuniam-se barcos de todos os tamanhos e espécies, desde o pequeno e levíssimo veleiro até o bojudo barco de carga. No cais, os exóticos trajos das tribos africanas e asiáticas ofereciam um quadro interessante. Como na época imperial os partos, furiosamente combatidos, fecharam a antiquíssima via que conduzia, por terra, para o Leste, apresentara-se a necessidade de fomentar o comércio marítimo com a Índia. Na época de Estrabão, cada ano cerca de 150 naves viajavam para a costa de Malabar. De Alexandria partia a rota que subia o Nilo até os Coptas, águas abaixo de Tebas; daí as mercadorias eram conduzidas a lombo de camelo até Berenice (na região da atual Suakin), de onde se prosseguia a viagem para a Índia pelo Mar Arábico. Na ilha de Ceilão, encontravam-se com os empreendedores, mercadores hindus, árabes e chineses, para o intercâmbio de produtos».

Um dos aspectos curiosos da vida econômica de Roma são suas relações com o longínquo Oriente. Estrabão e Plínio, o Antigo, nos fornecem interessantes dados, mas, ao lado das importantes contribuições da Arqueologia, Papirologia e Epigrafia, o texto essencial para

o estudo das supracitadas relações é o Periplus Maris Erythiaei. Esta obra, comparada por uns aos portulanos, por outros à narrativa - de Marco Polo, é «menos seca que os primeiros e menos saborosa que a segunda». Seu autor, um anônimo mercador grego do Egito, tê-lo-ia escrito na época de Nero ou, em todo o caso, na segunda metade do primeiro século.

«Os dezoito primeiros parágrafos nos levam ao longo do litoral africano desde Myos Hormos até um ponto situado um pouco ao sul de Zanzibar; os parágrafos dezenove a sessenta levam um pouco ao norte de Pondichéry e o autor enumera cuidadosamente as mercadorias que podiam ser carregadas ou descarregadas em cada porto. Os seis últimos parágrafos se contentam em dar indicações sobre as regiões mais distantes: o delta do Ganges, a península de Malaca, a China... e Ceilão que os navios não parecem tocar normalmente.

A ponta sul da península indiana era difícil de contornar e o estudo das moedas encontradas prova que se cortava por terra a partir de Muziris (Cranganore, do lado de Cochin)».

No parágrafo quarenta e nove do «Périplo» encontramos curiosas informações sobre o comércio em Barygaza, atual Broach, situada a cerca de trezentos quilômertos ao norte de Bombaim.

«Neste entreposto vendem-se vinhos, sobretudo da Itália, mas também de Laodicéia e da Arábia, cobre, estanho e chumbo, coral e crisólita, vestes finas e diversas outras de qualidade inferior, cintos de tecido bordado da largura de um côvado, resina, meliloto, vidro não trabalhado, arsênico, antimônio, moedas de ouro e de prata, que têm preferência sobre a moeda local, perfume barato em pequenas quantidades.

Ao rei levam-se nessas regiões prataria de valor, escravos musicistas, belas moças para o harém, vinho escolhido, vestes caras e finas, perfumes da primeira qualidade. Importavam-se desses lugares nardo, goma, marfim, ônix, porcelana, abrunheiro, todas as qualidades de tecidos de algodão, seda, fazendas cor de malva, linha, pimenta de sabor picante, e tudo o que é importado dos outros entrepostos.

A boa época para partir do Egito com destino a este entreposto se situa por volta do mês de julho, que equivale ao mês de Epeiph».

Anteriores ao «Périplo» são as informações de Estrabão (que esteve no Egito por volta de 25 a.e.c.) sobre o comércio com o Oriente. «Recentemente os romanos fizeram uma expedição armada à Arábia Feliz, sob a chefia de meu amigo Aelius Gallus».

A seguir, o famoso geógrafo menciona o envio por negociantes de Alexandria de frotas pelo Nilo e o Golfo Arábico até a Índia.

E mais adiante: «Quando Gallus era prefeito do Egito, subimos com ele até Siene e as fronteiras da Etiópia e ficamos cientes, por indagações, de que 120 navios partiam anualmente de Myos Hormos para a índia, quando, antes, sob os Ptolomeus, só poucas pessoas ousavam navegar para importar a mercadoria indiana».

As viagens marítimas para a Índia tornaram-se mais seguras e fáceis no reinado de Tibério com a descoberta das monções por um negociante grego chamado Hippalus. «Este homem notável havia observado que a Índia formava uma península que avançava ao sul no vasto mar Eritreu. Em suas navegações de cabotagem, tinha feito um levantamento correto da forma do que chamamos, hoje, Mar de Oman e se fizera uma idéia dos portos indianos. Sabia, ainda, que, de maio a outubro, um vento marinho soprava com regularidade do sudoeste, enquanto que de novembro a março, também regularmente, soprava do nordeste. Com esses dados na mente, Hippalus, num dia de verão, fez-se audaciosamente ao mar, seguindo o litoral árabe com a brisa de sudoeste por trás; não arribou a nenhum porto árabe, salvo Aden, então sem importância, e, afastando-se da costa além de Ras Fartak, aproou para o mar alto. Suas teorias estavam certas, pois atingiu a Índia nas proximidades da foz do Indo. Muitas viagens executadas nessas condições por Hippalus ou por seus imitadores, conduziram-nos diretamente à Índia, em pontos situados entre o Indo e o Golfo de Cambay. Os negociantes faziam a viagem de volta no inverno, utilizando para isso a brisa do nordeste. Hippalus tornou-se célebre. Seu nome foi dado à monção do sudoeste, a um

cabo no litoral da África e a uma parte do Mar de Oman»."

Um texto de Plínio, o Antigo (H. N. VI, 24), revela-nos que, no reinado de Cláudio, o liberto de um certo Annius Plocamus, arrendatário dos direitos alfandegários no Mar Vermelho, ao fazer uma viagem, foi surpreendido por uma monção e arrastado durante quinze dias, até Taprobana (Ceilão), de onde regressou após seis meses.

A estada do liberto em Ceilão parece ter despertado interesse dos nativos, pois um rei da ilha enviou uma embaixada ao Imperador Cláudio chefiada por um «Rachias», isto é, por um Rajá.

A História, aliás, anota outras embaixadas orientais. Augusto recebeu duas missões hindus: uma em Tarragona (25 a.e.c.) e outra na ilha de Samos (20 a.e.c.).

Receberam, igualmente, enviados da Índia os seguintes imperadores: Cláudio, Trajano, Adriano, Antonino Pio, Setímio, Heliogábalo, Aureliano e Constantino.

Segundo os documentos chineses,19 em outubro de 166, uma «embaixada» (missão comercial) enviada por Antum (Marco Aurélio) foi saudar o imperador Huan-Ti.

Os presentes levados pelos comerciantes foram considerados pelos chineses como «tributo». Outras visitas de súditos do Império Romano são registradas em documentos chineses: uma em 226 a.e.c., e outra em 284. O Império Romano era designado com o nome de Ta-Ts’in e a cidade de Alexandria com o de Chi’ih-San.

As descobertas arqueológicas confirmaram as relações comerciais entre o Império Romano e o Oriente distante.

No vale do Ganges, na região de Benares, foram encontradas moedas romanas do século III d.e.c.

Mais importantes, como indícios de relações comerciais, são as moedas encontradas no Pendjab, as quais remontam a épocas diferentes.

A região onde se encontrou maior número de moedas foi a de Madras.

Confrontados esses achados com os de Misora e os de Cochin, verifica-se uma preferência, primeiramente, pelos denarii de Augusto e de Tibério; depois, pelos aurei que se prolongam até o século III.

«Tudo se passa como se, sob Cláudio ou pouco depois, à procura de denários houvesse sucedido a de aurei».

Convém aqui fazer uma observação curiosa: «Na realidade, exceção feita do Pendjab, a moeda romana possuía duas finalidades: ornar ou ser empregada como metal». A moeda romana era, pois, uma mercadoria como qualquer outra e, portanto, um artigo de importação.

Os romanos não possuíam artigos de exportação que pudessem contrabalançar as importações do Oriente e, assim, estavam obrigados a remeter grande quantidade de moedas que eram recebidas mais como metal precioso para ser aproveitado na fabricação de objetos de luxo que propriamente como dinheiro.

Compreende-se, assim, que as pedras, como rubis, safiras e diamantes, provenientes do país alto do Dekan, as pérolas do Golfo Pérsico e de Ceilão que ornavam as damas de Roma, contribuíssem poderosamente para o esvaziamento das arcas romanas: Tibério já se mostrava preocupado com a soma fabulosa que era dispendida para pagar o luxo e a elegância da alta sociedade. «Foi em vão que ele pretendeu sustar este êxodo, pois nada sobre a terra pode impedir uma mulher de usar o que ela quer, seja qual for o artigo ou seu preço, nem limitar o número de pérolas que ela ata ao pescoço».

Plínio, o Antigo (VI, 101), nos dá duas indicações sobre o montante dessas despesas. Segundo o autor da História Natural, a índia recebia anualmente 50 milhões de sestércios em troca de mercadorias vendidas em Roma pelo cêntuplo do valor.

Em outro local, o mesmo autor afirma que, «de acordo com a avaliação mais baixa, é de 100 milhões de sestércios o que a Índia, os Seres e a Arábia subtraem a nosso Império», acrescentando: «Tão caro nos custa o luxo das mulheres» (XII, 84).

«Se as cifras dadas foram conservadas corretamente nos manuscritos, o tráfico da Índia representaria, então, a metade total do comércio oriental; mas a propósito dessas cifras, Charlesworth escreveu:

«Essas cifras são correntemente aceitas como verdade do Evangelho, mas eu me interrogo, às vezes, com espanto, como Plínio teve conhecimento das mesmas».



Medidas, Moedas e Bancos. — Com relação à metrologia, observemos que nem sempre podemos conhecer com exatidão as medidas romanas pois as mesmas variavam bastante de acordo com a época.

Nas transações comerciais eram utilizadas, preferencialmente, as medidas de capacidade.

«A maior parte dos gêneros se vendia por medidas de capacidade e até a carga dos navios se calculava em ânforas». “

A ânfora romana (um pé cúbico) ( quadrantal ou vas pedis quadrati undique) era a unidade de medidas para líquidos e equivalia a pouco mais de 26 litros.

Os submúltiplos da ânfora eram a urna (% ), o congius (Vs), o sextarius (1/48), a hemina (1/96), o quaternarius (1/192), o acetabulum (1/384) e o cyatus (1/576).

O culeus equivalia a vinte ânforas. Os cereais e outros sólidos eram medidos pelo modius, que equivalia a Vs de ânfora ou quase 9 litros. As medidas de peso, os romanos usavam o sistema duodecimal, mais prático que o decimal, pois que, enquanto este apenas permite três divisões (2,5 e 10), aquele admite cinco (2,3,4,6 e 12).

A libra era a unidade das medidas de peso e equivalia a pouco mais de 327 gramas. A uncia (onça) era um submúltiplo da libra e equivalia a 1/12 da mesma, ou seja, cerca de 27 gramas.

Já vimos que, primitivamente, o gado era considerado uma unidade de valor (pecus: gado, daí pecunia: dinheiro). O cobre bruto (aes rude) substituiu o gado, mas devia, naturalmente, ser pesado (pagar e pesar eram expressos pelos latinos por uma só palavra: pendere).

Em data desconhecida, os lingotes de cobre recebem um sinal representando um animal (aes signatum).

A moeda primitiva se fixou o peso de uma libra, de onde o nome de As libralis, cujo péso real era de 10 onças ou cerca de 272 gramas.

Note-se que na época republicana o As sofreu várias reduções do peso.

Poucos anos antes da primeira guerra púnica (em 269 a.e.c. segundo Plínio, em 268, segundo Tito Lívio e outros historiadores) os romanos começaram a cunhar as primeiras moedas de prata.

«A unidade monetária da cunhagem da prata é o escrópulo, do peso de 1,1378: gramas.

Teoricamente o denário era o peso de 1/72 da libra romana (de 327 gr), que, por sua vez, era o peso da dracma ática.

Os gregos davam ao denário romano o nome de dracma romana e os romanos, por sua vez, chamavam a dracma grega denário grego.

«Os denários da República que circulavam como equivalentes da dracma ática, tiveram uma voga imensa, favorecidos não só pelo seu bom toque, como pela extensão das conquistas romanas. Foram imitados em diversos países, particularmente na Gália, entre os povos que habitavam o vale do Ródano; na Espanha, onde essas imitações receberam o nome genérico de argentum oscence e na própria Itália, onde os samnitas cunharam denários com legendas oscas e cujos tipos foram copiados dos denários de Roma».

O ouro como dinheiro circulou em Roma, primeiramente, sob a forma de lingotes. As primeiras moedas de ouro circularam pelo ano de 217 a.e.c. «Estas peças, que fazem parte da série chamada romano campânica, foram emitidas em virtude da Lei Flamínia, pelos generais encarregados de combater Aníbal na Campânia, o que leva a crer não possam essas peças ser consideradas moedas romanas propriamente ditas, porque sua emissão cessou rapidamente e os romanos não pensaram em substituí-las por outras espécies de ouro».

Só no último século da República é que se encontram emissões de moedas romanas feitas pelos generais com poderes ditatoriais. Sulla, Pompeu e César fazem sucessivas cunhagens. «Pode-se mesmo dizer que as peças de ouro de Sulla, de Pompeu e uma parte das de César, não são senão moedas de circunstância, cunhadas excepcionalmente, fora de Roma, para o serviço dos exércitos ou por ocasião de algum triunfo ou solenidades extraordinárias; o tipo do reverso e as legendas parecem confirmar isso».

Ângelo Segré, em seu estudo Metrologia e circolazione monetária degli antichi, dá-nos a seguinte informação sobre a moedagem de ouro romana: «A verdadeira origem do áureo romano somente data de 49 a.e.c., quando César tomou a si o direito de cunhar moedas, direito que exerceu por ocasião de seus triunfos em 46 e 45, por meio de seus dois prefeitos Aulo Hírcio e L. Munásio Planco, cunhando o primeiro o denarius aureus e o segundo, o quinarius. César supriu assim a distinção entre a moedagem de ouro em Roma e nas províncias e se arrogou o direito de emitir moedas que em Roma era exercido pelo Senado por meio dos tresviri monetales, fora da cidade pelos magistrados com pleno poder militar, os ditadores, os cônsules, os pretores, os procônsules e os propretores e, durante seu impedimento, pelos questores no âmbito de sua província.

Após o assassinato de César, o Senado retomou para si a cunhagem do ouro, delegando os prefeitos L. Céstio e Caio Norbano, que cunharam os áureos senatus consultus. De 43 a 37 a cunhagem do ouro foi associada pelo Senado à da prata, que foi confiada aos quatuorviri monetarii. Ao mesmo tempo, o ouro foi emitido nas províncias de Antônio, Bruto, Cássio, Domício Aenobarbo e L. Labieno; após a batalha de Náuloco, inicia-se finalmente a cunhagem regular do áureo imperial».

O ouro entrou definitivamente no sistema monetário romano quando Augusto reservou para si e seus sucessores o direito da cunhagem de metais preciosos.

As moedas de ouro eram de duas espécies: o denário de ouro e o meio denário de ouro ou quinário de ouro.



Sistema Bancário. — Catão, no prefácio do seu tratado sobre a agricultura, manifestou-se veementemente contra os que viviam do empréstimo de dinheiro. «Emprestar dinheiro a juros tem muitas vantagens mas não é honroso. Nossos pais ordenaram, por isso, e inscreveram em suas leis que o ladrão seria condenado a restituir o dobro, mas o homem que empresta a juros, o quádruplo. Vemos por aí até que ponto eles julgavam o usurário pior cidadão que o ladrão».

Apesar das palavras de Catão e do solene desprezo que certos aristocratas votavam aos que emprestavam dinheiro (feneratores) ou possuíam bancos (aigentaiii), a indústria do empréstimo de dinheiro foi cultivada pelos romanos com entusiasmo.

Os primeiros argentarii instalaram-se no forum em lojas (tabernae) alugadas pelo Estado e ocupavam-se com o câmbio.

Com o correr do tempo, foram ampliando suas atividades: recebiam depósitos, operavam com cheques, emprestavam a juros, transferiam quantias para diversos pontos do Império e, para evitar os

perigos e inconvenientes do transporte do numerário, notificavam a seus agentes para que os mesmos tivessem uma determinada quantia à disposição dos clientes que apresentassem uma letra de crédito.

Normas especiais protegiam os depósitos bancários e regulavam o funcionamento dos estabelecimentos de crédito.

Os argentarii utilizavam três espécies de livros: o livro de caixa, o diário e o livro de prazos. O livro de caixa (Codex accepti et depensi) possuía duas partes distintas: uma de registro das entradas (accepta), outra das saídas (expensa). No diário (adversarium) registravam-se as operações tão logo fossem realizadas.

No livro de prazos (Kalendarium) estavam assinaladas as datas em que os banqueiros deviam remeter ou receber capitais ou ágios.

As contas com os clientes eram anotadas nos Códices rationum.



Chamavam-se mensae (mesas em torno das quais se reuniam as pessoas) os bancos públicos de Roma encarregados de receber os impostos das províncias e de encaminhar as respectivas quantias ao Tesouro, e de lançar em circulação as moedas de ouro cunhadas nas oficinas imperiais. A mensa era dirigida por um diretor (adiudicator tabularii) escolhido entre os libertos do imperador (liberti Pii).




Fonte: http://www.historia.templodeapolo.net/civilizacao_ver.asp?Cod_conteudo=410&value=O%20comercio%20no%20Imp%C3%A9rio%20Romano&civ=Civiliza%C3%A7%C3%A3o%20Romana&topico=Economia#topo

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