"Somos 1 milhão de alemães no Brasil. Somos um exército sem soldados, uma igreja sem torre, aceitai o desafio agora. Vós fostes chamados para serem líderes deste povo, pois sois o povo mais inteligente desta terra" - Periódico colonial do NSDAP.
Inicio e Contexto da imigração:
O Nacional-Socialismo (termo vulgar, "Nazismo") começou a aparecer no Brasil vindo com o grande fluxo da imigração alemã no século XX. Os imigrantes alemães, vindos da terra natal, desde o fim do século XIX, em sua maioria se espalhavam desde os interiores inabitados do Brasil com enorme destaque para o sul do país, até as grandes cidades do sudeste-sul brasileiro.
Porém, desde antes mesmo da ascensão de Hitler e o NSDAP na Alemanha em 1933, os núcleos de células partidárias e seus adeptos e simpatizantes já faziam sua aparição no Brasil.
A imigração alemã no século XIX, inicialmente era vista como uma vantagem para o desenvolvimento do Brasil na indústria e agricultura. Getúlio Vargas sempre tentou demonstrar neutralidade e adiar o máximo possível seu alinhamento e prover vantagem de ambos os lados no período pré-Segunda Guerra Mundial.
Em 1928, foi fundado em Timbó, Santa Catarina, a seção brasileira do Partido Nazista. Naquela época, viviam no Brasil cerca de 100 mil alemães natos e cerca de um milhão de descendentes. A maior parte deles vivia em comunidades isoladas no sul do Brasil que preservavam a língua e a cultura alemã. O estado de Santa Catarina, porém, teve um número menor de filiados (528) do que São Paulo (785). No Paraná, o partido foi o quinto maior (com metade dos filiados em Curitiba). Segundo o Censo da época, havia 12 mil alemães natos no estado, dos quais menos de 2% eram filiados. Os "nazis" do Paraná, do ponto de vista institucional, não se reportavam diretamente à Alemanha. Acima estava o Landesgruppe (com sede em São Paulo, fundado em 1934) e este, por sua vez, se reportava à Auslandsorganisation (Organização do Partido Nazista para o Exterior), em Berlim.
O líder nazista em Curitiba era funcionário do consulado da Alemanha e foi um ativista na introdução de ideias do partido entre os imigrantes alemães. (Foto: Arquivo público do PR).
A explicação para o partido nazista ter sido bem sucedido por aqui está diretamente relacionada com a extensa comunidade alemã do Brasil. Embora nunca tenha havido um "Partido Nazista" organizado, legal ou clandestinamente no país, vários membros da comunidade teuto-brasileira foram membros da seção brasileira do Partido Nazista da Alemanha. Esta seção chegou a ter 2.822 membros e foi a maior seção do Partido Nazista alemão no exterior. Como era uma organização estrangeira, no começo somente alemães natos podiam ser filiados e os brasileiros descendentes de alemães atuavam somente como simpatizantes. Calcula-se que pelo menos cerca de 5% dos imigrantes alemães então residentes no Brasil estiveram, em alguma época, associados ao Partido Nazista alemão. Estes "nazis" residiam em 17 estados brasileiros, a maior parte deles em São Paulo.
Nos anos de 1930, período em que o Brasil de Getúlio Vargas e Estado Novo se aproximava economicamente e ideologicamente da Alemanha sob liderança dos Nacional-Socialistas, a Seção do Partido Nazista ganhava força e atuava livremente no País. Não era uma organização do tipo “Cavalo de Troia , ou “quinta-coluna” separatista, como acreditava certa literatura e o senso comum da época.
Embora existam registros de atividades partidárias no Brasil desde 1928, somente em 1934 foi oficialmente fundada a Seção, por Hans Henning von Cossel, o chefe da célula nazista brasileira, na tentativa de centralizar a ação de grupos autônomos que surgiam espalhados pelo país até aquela data. As aspirações principais da organização eram levar a doutrina nacional-socialista aos alemães residentes fora da pátria-mãe e, onde fosse possível, encabeçar organizações de caráter germânico no Brasil, como clubes e consulados. A Seção Brasileira do Partido Nazista ligava-se à Alemanha por meio da Organização do Partido Nazista para o Exterior (AO), um órgão do Ministério das Relações Exteriores do III Reich, e chegou a possuir Círculos em 17 estados da federação, por volta de 1937.
Hans von Cossel, funcionário de embaixada alemã, líder e fundador da primeira célula oficial do NSDAP no Brasil. Homem importantíssimo nas articulações exteriores da Alemanha.
Os números quanto à filiação, elucidado pelas pesquisas de Ana Maria Dietrich e Luís Edmundo Moraes vão de cerca de 2.900 (pelas estatísticas da AO, para o ano de 1937) a aproximadamente 4.500 (se considerarmos o total de membros que foram registrados no Partido durante toda sua atuação). A região Sudeste abarcava a maioria dos militantes seguida pela região Sul; os três círculos que possuíam maior número de filiados eram os de São Paulo (sede do partido), Santa Catarina e Rio de Janeiro. Evidentemente, trata-se de números pequenos, se considerarmos que cerca de 100.000 alemães imigraram para o Brasil no período entre guerras e, potencialmente, poderiam ingressar no partido. Algumas pesquisas, como as de Ana Dietrich, contra-argumentam que esses números não refletem o total de simpatizantes ao Nazismo, uma vez que indivíduos poderiam se filiar a associações paralelas, como a Frente Alemã do Trabalho, ou simplesmente simpatizarem “em silêncio”.
Implantação e propaganda difamatória:
Logo que tomava forma por todo o país, muito se especulava (a mídia inimiga alarmada) a respeito das condições de vida dos alemães em terras "tupiniquins". Tanto a mídia nacional quanto internacional evidenciava propositadamente sobre o calor das terras ingrimes de um país tropical e a impossibilidade do colono europeu em se estabelecer e fincar raízes.
O que já por si só evidenciava uma grande mentira, pois, de fato, os europeus em geral preferiam "descer" o país em busca de climas mais confortáveis. Como prova disso, citemos as fracassadas tentativas de colonização europeia no nordeste que pouco lograram. Porém, o sul do país sempre apresentou condições mais parecidas possíveis a sua terra natal e não é atoa que até hoje é visível nessa parte do país a dimensão da influencia "hiperbórea".
houve expedições do Reich ao Brasil, visto como um laboratório, com o objetivo de verificar as condições de colonização em terras tropicais. Em 1936, o Instituto Tropical de Hamburgo enviou um grupo de cientistas germânicos para estudar as populações alemãs que viviam no Espírito Santo. Receberam auxílio do governo brasileiro e apoio de Henrique da Rocha Lima, saudado pelos nazistas como “nosso velho amigo, o professor” Rocha Lima (que recebeu uma comenda das mãos do Führer) participou ativamente dos estudos sobre a febre amarela com Oswaldo Cruz e esteve à frente de Manguinhos, quase levando um Nobel por seus estudos sobre uma variante de tifo transmitido por piolhos aos combatentes em trincheiras. O resultado da pesquisa capixaba mostrou que “a raça ariana poderia sobreviver bem nos trópicos".
Dentro do espírito do Lebensraum(a busca do “espaço vital” via expansionismo militar), o Brasil tinha potencial, embora, nas palavras do próprio Führer, "não vamos desembarcar tropas e conquistar o Brasil com armas na mão. As armas que temos, para a ação no exterior, são as que não se vêem". A Amazônia igualmente interessava ao Reich por algum motivo, entre 1935 e 1937, outra expedição percorreu o rio Jari até a fronteira com a Guiana Francesa, resultando num documentário sobre o “enigma do inferno da mata”, feito pela UFA, o célebre estúdio cinematográfico alemão.
Houve a “tentativa de fazer amizade entre alemães e índios”, sem falar nas caixas de peles de animais, esqueletos, fósseis e milhares de artefatos arqueológicos levados para a Vaterland, em sigilo, para análise posterior. Até hoje uma cruz de madeira amazônica, com a suástica, marca o lugar onde está enterrado Josef Greiner, intérprete do grupo nazista.
Partido e Sociedade:
O partido N.S. brasileiro tinha ligação direta com o Reich e designou Hans von Cossel para chefiar a célula nacional, a partir de São Paulo. Ele viajava com freqüência para a Alemanha, onde foi apresentado a Hitler e elogiado por Joachim von Ribbentropp, o ministro das Relações Exteriores do IIIReich, como “um dos mais bem afortunados e confiáveis chefes nacionais do NSDAP que comanda o maior grupo nacional da A.O.”. Em 1938 teve o privilégio de ganhar uma festa de despedida organizada pelo vice de Hitler, Hudolf Hess. Cossel chegou ao Rio em 1931, como adido cultural à embaixada alemã e impressionou seus chefes a ponto de ser indicado à chefia do grupo, em 1934, no lugar de um colega corrupto, graças a sua capacidade de transitar com facilidade entre brasileiros e alemães, como por sua familiaridade com os estadistas Vargas e Hitler.
Um desfile em Blumenau com o Pavilhão Nacional tendo sua extremidade coberta pela suástica nazista
Ele era muito bem visto por Vargas, que lhe deu de presente uma pintura sua com uma bela moldura. Ao deixar o Brasil, em 1942, após o rompimento do Estado Novo com o Eixo, Cossel, convidado a trabalhar no Ministério das Relações Exteriores, declinou e foi servir na Marinha. "Nisso não colaboro!", disse ele, segundo uma das filhas.
O partido nazista no Brasil foi algo diferente. A relação de Cossel com Hitler e Vargas (que, em carta ao Führer, o chamava de ‘grande e bom amigo’) tem um caráter especial que mostra a amplitude do movimento nazista no Brasil. Não era apenas um movimento de colonos "saudosistas", e sim algo que interferiu nos grandes escalões de poder da sociedade.
E quanto à questão judaica? A convivência de alemães com judeus era rara, só há poucos registros. Nos anos 1930, a comunidade judia no país consistia de no mínimo 40 mil integrantes. O anti-semitismo local era um discurso importado, ou seja, na prática ele quase inexistia(embora tenha existido, principalmente nas grandes cidades, como no Paraná) e, na teoria, ele existia na publicação de artigos contra judeus. Mas o tom era de luta entre os ‘judeus de lá’ contra os "alemães de lá". Embora o mais grave seja que o lobby judaico até no Brasil rodeava de mentiras e inverdades o partido, o que o colocava sobre campo minado real no que diz respeito aos "nativos". (Foto: Manifestação do NSDAP no Brasil).
Apesar de não ter representatividade política, o partido nazista promoveu diversas atividades no Brasil . Os documentos reunidos comprovam. São fotos de partidários, convites para reuniões, cartões postais com imagens de Hitler, passeatas e outras manifestações públicas, revistas e jornais. As próprias crianças eram chamadas para participar da propaganda Hitlerista desde cedo.
Membros da SA (“Seções de Assalto”) do partido nazista brasileiro durante desfile de primeiro de Maio no Estádio do Renner, Porto Alegre (RS).
Mesmo o nazismo foi passível de "tropicalização" quando abaixo do Equador. Essa tropicalização ocorreu de acordo com as nuances que a realidade brasileira impôs ao nazismo. Assim foi possível aos alemães e descendentes ao mesmo tempo comemorar o aniversário de Hitler e uma Festa de São João, tomar cerveja alemã e comer canjica. Há quatro variáveis que demonstram a "tropicalização do nazismo" no Brasil: o racismo tropical, ou seja, além dos judeus, houve divergência contra outros grupos, como os negros e mestiços, embates dos quais as populações alemãs estavam mais sujeitas nas cidades, que costumam insistir numa forma cosmopolita de convivência e que estavam mais em contato com o partido; a possibilidade de casamentos interétnicos e certa resistência da população local ao germanismo, já que até o diretor da célula nazista paulista, Roland Braun, era casado com uma brasileira e muitos alemães diziam se “sentir em casa” na Gastland nacional; a presença do integralismo que distorceu a lógica do modelo; e a mistura de hábitos, já que, ao contrário do preconizado, não houve a formação de guetos teutônicos, mas uma interação com a sociedade local, em que os alemães absorviam hábitos e costumes.
Alemães de Ijuí e Nova Württemberg (RS) comemoram ascensão do NSDAP na Alemanha em 1933.
Porém, as estratégias de propaganda desenvolvidas surtiram efeito sobre os colonos do Sul. No campo. Onde a influencia cosmopolita das grandes cidades não chega e nem é tão aceita. Por esse motivo, o Nacional-Socialismo se incorporou muito mais puramente nas populações alemãs do interior do sul e sudeste, por exemplo. É o chamado "nazismo rural".
Grupo do Partido Nazista de Hambürger Berg (RS) em marcha em 1933
Como pequeno exemplo disso, citemos o Nacional-Socialismo em Blumenau (SC), onde 70% da população blumenauense no final dos anos 30 era composta por alemães ou descendentes, e destes, apenas 10% falavam português; 30% compreendiam a língua nacional, mas não se consideravam brasileiros. O restante só compreendia o alemão e em Santa Cruz do Sul (RS), da década de 1930 tem pouco mais de 50 mil habitantes e nenhuma rua calçada. Apenas cinco mil viviam na parte mais desenvolvida da cidade. Dois jornais eram responsáveis por trazer notícias diretamente da Alemanha: o Volksstimme e o Kolonie. Pelo rádio também era possível acompanhar os discursos dos líderes alemães. Em 1933, mesmo ano que Hitler assume o poder, nasce uma célula do Partido Nazista na cidade. Em um prédio na Rua Tenente Coronel Brito, entre a Júlio de Castilhos e 28 de Setembro, ficava a Deutsh Haus - em português,Casa Alemã - um ponto de encontro dos filiados do Partido Nazista e simpatizantes. Os encontros eram públicos e abertos a quem compartilhasse da ideologia. Na Deutsh Haus, os visitantes reuniam-se para conferenciar, escutar as lideranças pelo rádio, assistir a filmes e entoar cânticos. (Foto ao lado: Partidários da Deutsh Haus, S. Cruz do Sul).
O Partido nazista estava instalado em Blumenau (SC) desde 1929, com sedes nas cidades adjacentes.
Membros do partido nazista de Blumenau em pose para foto em frente a sua cede.
O “embate tropical” era mais forte contra os da cultura "tupiniquim" locais, classificados como “brasileiros” de forma pejorativa. Igualmente, não houve, ao contrário do que se costuma afirmar, um isolamento dessas comunidades, rurais ou urbanas, que interagiam com a sociedade local e absorviam hábitos e costumes desta. O Reich fazia "vista grossa" para esses "pecadilhos tropicais", já que a comunidade brasileira, além dos serviços diplomáticos informais que fazia para a Vaterland, igualmente era fonte de recursos. A verdadeira "face tropical" do nazismo, porém, não foi só política mas acabou sendo um "presente" para o Estado Novo. (Foto ao lado: Cena de um casamento entre membros do NSDAP nos arredores de Curitiba).
Estrutura interna e comunicação:
O nome do periódico é: “Der Deutschen Rio Zeitung” (Jornal Alemão do Rio)
Outras publicações alemãs no Brasil, mas de cunho político: Blumenauer Zeitung (Jornal de Blumenau), Urwaldsbote (Correio da Mata), Volk und Heimat (Povo e Pátria) e Deutscher Morgen (Aurora Alemã).
Primeira edição do Jornal "Deutscher Morgen" (Aurora Alemã). São Paulo. Sociedade Nacional Socialista Alemã. Ao lado, segunda edição.
O distanciamento das comunidades alemãs com os centros urbanos, fez com que o Estado Brasileiro omitisse durante gerações o dever de ofertar serviços básicos como: escolas, hospitais, instituições culturais e de lazer. Em conseqüência disso, os colonos alemães financiaram com seu próprio capital, instituições criadas por alemães para atender exclusivamente alemães:
Escola fundada por imigrantes simpatizantes do NSDAP
Entre 1850 e 1930, o número de escolas mantidas pelas comunidades de origem alemã cresceu continuamente. No Rio Grande do Sul, por exemplo, elas passaram de 24 para 937 estabelecimentos de ensino. Em Santa Catarina não foi diferente. O caso de Blumenau é típico dessa tendência. Em 1928, das 200 escolas daquele município, nada menos de 132 eram alemãs.
Com tamanha população sendo alfabetizada exclusivamente em alemão, é natural que a imprensa publicada naquela língua tenha conhecido um crescimento igualmente expressivo. Dentre os vários jornais que eram impressos em alemão no Brasil desde o século XIX, destacava-se aDeutsche Zeitung (Jornal Alemão). Sua tiragem passou de cerca de 4 mil exemplares em 1882 para 55 mil em 1928.
Estima-se que, por volta de 1940, a ampla maioria dos membros da colônia alemã (70%) dispensava o uso do português em suas vidas públicas e privada. Isso significa que existiam 640 mil indivíduos que, mesmo tendo nascido no Brasil, falavam apenas o alemão. (Foto ao lado: Homens pousam para foto ao lerem a Aurora Alemã).
A Juventude Hitlerista:
Crianças fazem a saudação nazista, em Presidente Bernardes (SP), 1935.
Como organização ligada diretamente a esse partido, aHitler Jugend no Brasil teve a adesão de 550 meninos e meninas alemãs e descendentes. Aqui os preceitos nazistas eram passados às crianças e jovens por meio da família e, principalmente, pela educação nas escolas. Estima-se que na década de 30 existiam cerca de 1.260 escolas alemãs no país, com mais de 50 mil alunos. Todas elas contavam com subsídio do governo alemão e algumas haviam sido fundadas ainda no século XIX. Desde a ascensão de Hitler ao poder, as escolas passaram a ser vistas como importantes centros de difusão dos ideais nacional-socialistas. (Foto ao lado, manifestação de celebração da Hitler Jugend).
Congresso da Juventude Hitlerista, no Rio de Janeiro.
Até o começo do Estado Novo (1937-1945), tais escolas funcionaram normalmente, sem preocupar o governo, já que ajudavam na educação dos jovens, desonerando as escolas públicas. Porém, a partir de 1938, com a campanha desencadeada por Vargas, que obrigou todas as instituições estrangeiras a se nacionalizar, as escolas alemãs passaram a ser vigiadas.
Adepto do NSDAP com seus netos em P. Bernardes (SP)
Alemães x Integralistas
Muito comum hoje em dia os profissionais da história colocarem o Integralismo e Nacional-Socialismo como "a mesma coisa". Porém, engana-se. Apesar de haver mais pontos em comum do que divergências, essas poucas diferenças eram suficientemente gritantes para manter dois movimentos concordantes, porém separados.
A relação entre nazistas e a Ação Integralista Brasileira (AIB), de Plínio Salgado, com suas camisas verdes e seu "anauê!" foi tal que: o integralismo pode ser visto como importante característica do "fascismo tropical" por ser algo extraordinário que não estava nos planos originais da organização do partido nazista no Brasil. O canto de sereia integralista era doce: "Se tu fosses alemão serias Nacional-Socialista. És brasileiro, inscreve-te, portanto, nas Legiões Integralistas e vem vestir a camisa verde dos que se batem pelo bem do Brasil". (Foto ao lado: Festa de Natal na Deutsch Society, em português: "Sociedade Germânica", 1938. Nos tempos "mais altos", a década de 1930, as associações e grêmios que promoviam variados tipos de aglomeração dentro das comunidades germânicas no Brasil era comum e livre. Isso durou até a passagem de lado do Brasil de Vargas para o lado estadunidense. As pessoas que não eram de etnia germânica que quisessem se filiar, ao partido ou aos grêmios, precisavam comprovar sua ascendência caucasiana atestada e arvore genealógica. Além, de aceitar a cultura germânica como um todo, como cultura "mãe").
Só que, enquanto a AIB, como movimento nacionalista, não concordava com o nacionalismo alemão (embora, com fins de propaganda, se apresentasse como a solução viável para a materialização do "Deutschtum tropical"), o nazismo não queria a assimilação da comunidade alemã no Brasil. Caracterizando-o pejorativamente como nativista, o NSDAP era totalmente contrário a que os alemães e seus descendentes se filiassem à AIB, pois se achava que isso iria afetar a germanização do Brasil.
Sob a visão do III Reich, o integralismo destacava principalmente a questão racial e cultural. O governo nazista chamava isso de "lusitanização", encarada como ameaça ao Deutschtum.
Visto com desprezo pelos alemães de Berlim, o integralismo tornou-se um anátema após a patética tentativa de golpe contra Vargas, em 1938, com a suspeita de participação de nazistas brasileiros. Além de desobediência aos ditames da Alemanha, o putsch tupiniquim também deixava o Estado alemão numa saia-justa indesejável com o governo brasileiro, ao qual procurava, sem sucesso, agradar, mesmo ciente de que Oswaldo Aranha era o chanceler de Getúlio.
Este preferia virar o jogo em favor dos Estados Unidos, que considerava parceiros mais valiosos do que a Alemanha, embora, nos anos 1930, o comércio entre alemães e brasileiros fosse o dobro do feito com os ianques. Plínio Salgado, de pedra no sapato do ditador brasileiro, virou pedregulho nas botas de Hitler por um erro de cálculo de Berlim. Por conta da obrigatoriedade da aceitação da cultura germânica como "mãe" para aqueles descendentes de europeus que quisessem aderir ao partido (o que não podia ser mais coerente, vendo de uma forma externa) ,este perdeu uma de suas maiores forças no Sul, onde a comunidade alemã mais expressiva era de teuto-brasileiros porém, junto a várias outras nacionalidades além dos brasileiros. (Foto: Associação NSDAP no sul ou sudeste brasileiro. Repare no fundo, um elemento sempre presente que fora a bandeira brasileira).
Assim, houve uma reação ao nazismo segregacionista, líderes não foram aceitos e o integralismo se tornou a "opção viável". O movimento conservador, direitista e nacionalista de Salgado atendia ao que os alemães nascidos no Brasil até em parte se "dividiam", mas eram aliados pela Vaterland.
A Luta e Fim do Nacional-Socialismo no Brasil:
Diante do imbróglio que envolvia nazistas e integralistas, Vargas pôde, sem problemas, colocar várias organizações na clandestinidade, inclusive a célula do NSDAP no país. Afinal, entre 1938 e 1942, dentro do projeto de nacionalização do Brasil almejado por Vargas, o alemão passa de perigo ideológico, pela divulgação do ideário nazista, para perigo étnico, como alienígena ao "Homem Novo" que se desejava construir. Com a entrada do Brasil, na Segunda Guerra Mundial, em 1942, ao lado dos Aliados, o perigo vira "militar e ideológico". (Foto ao lado: Suástica nas dependências do Clube Consórcio (Curitiba, 1942).
Vargas estava com o melhor dos mundos políticos graças à inabilidade de nazistas e integralistas frente a essa situação. Dessa forma, não precisava mais se preocupar com indivíduos que apoiassem Hitler, e não a ele. Ao mesmo tempo, pôde canalizar a seu favor toda a demanda autoritária, xenófoba e nacionalista desses grupos. Bastava fazer com que se sentissem vinculados ao Estado Novo, e não ao III Reich. Lá estava, para todos, um chefe “pai da nação”, anticomunista, adepto da ordem, do progresso e das massas.
Fotografia apreendida pela polícia da inauguração da sede nazista de Presidente Wenceslau, anos 1930. Marcas à caneta feita pela polícia política
O mesmo ocorreu entre a Itália de Mussolini e a AIB. “A ação fascista, que de início apoiou Salgado, foi muito útil à direita nacional ao popularizar as idéias autoritárias e estimular muitas pessoas a uma maior simpatia em relação ao Estado Novo.
Os fascistas, melhores políticos do que os germânicos, por um longo tempo fizeram um jogo duplo com Vargas e seus inimigos, os integralistas, apostando em ganhar em quem vencesse no futuro. Como o que houve com os nazistas brasileiros, foram os filhos de imigrantes italianos que optaram pelo apoio total à AIB, ao contrário de seus pais ou avós, italianos natos, que eram fascistas à Mussolini. Também, como no caso alemão, havia uma preocupação étnica implicada no apoio ao movimento de Salgado e, após 1938, um total descrédito na capacidade revolucionária dos integralistas. A italianidade falava mais alto, como a germanidade. Aqui Salgado deu-se melhor, pois antes de ser esquecido recebeu grandes somas de dinheiro vindas de Roma. Curiosamente, a poderosa burguesia paulistana, fervorosa apoiadora do fascismo italiano, fechou seus cofres ao integralismo. (Foto ao lado: Ultima solenidade oficial nazista realizada em Porto Alegre. Esta cerimônia fúnebre foi realizada em princípios de 1938 e com ela o partido uma alta série de solenidades).
O Fim do Nacional-Socialismo no Brasil:
O governo do Estado Novo promoveu a integração forçada dos alemães e de seus descendentes que viviam em colônias isoladas no sul do Brasil e também em todo o país, expulsando todos os "suspeitos" (quando na verdade entenda-se por qualquer um de sangue alemão) e aprisionando outros, após a saída neutralidade do Brasil e alinhamento com os Norte-americanos. Em muitas ocasiões agiu com brutalidade contra imigrantes humildes que não mantinham quaisquer relações com a Alemanha nazista, o fascismo italiano ou o imperialismo japonês. Muitos outros, indignados com a mudança de lado do Brasil, regressaram a Alemanha. principalmente jovens. Esse foi caso de Egon Albrecht.
Em 1940, durante uma visita a Blumenau, cidade de colonização alemã no estado de Santa Catarina, Vargas declarou: "O Brasil não é inglês nem alemão. É um país soberano, que faz respeitar as suas leis e defende os seus interesses. O Brasil é brasileiro. (...) Porém, ser brasileiro, não é somente respeitar as leis do Brasil e acatar as autoridades. Ser brasileiro é amar o Brasil. É possuir o sentimento que permite dizer: o Brasil nos deu pão; nós lhe daremos o sangue".
Os imigrantes japoneses e italianos também foram perseguidos e forçados a se "abrasileirar". Campos de concentração foram criados em quase todo país para "abrigar" e deter essas populações sobre regime de inimigos de guerra. Escolas, hospitais, salões, grêmios, templos (igrejas), foram destruídos e perseguidos no Estado Novo e quem mais sofreu essa intente foi a população comum dos colonos não só de alemães, mas de japoneses e italianos. A perseguição da mídia exaltou uma verdadeira guerra civil contra essas populações tanto no interior quanto nas cidades. Foram tempos difíceis. (Foto: ao lado, mapa indicando os campos de concentração criados para imigrantes e suspeitos do Estado Novo espalhados pelo país no ano de 1942 a 1945).
Porém, Após a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, muitos nazistas condenados como criminosos de guerra fugiram para o Brasil e se esconderam entre as comunidades teuto-brasileiras. O caso mais famoso foi do médico condecorado, Josef Mengele.
por Alfredo Schlieffen
9.2.14
O Nacional-Socialismo no Brasil
Fonte: http://historiadofront.blogspot.com.br/2013/04/o-nacional-socialismo-no-brasil.html
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