20.2.19

36 curiosidades sobre o período de D. João VI



Retirado de http://exposicaomulheresreais.com.br/voce-sabia-modos/





1. Você sabia que os reis de Portugal, desde D. Sebastião, não eram coroados?

Ao assumir o trono, o rei de Portugal não era coroado, mas aclamado. Os monarcas não tinham permissão de usar a coroa. A interdição era um sinal de respeito a D. Sebastião, que reinou de 1577 a 1568, ano provável de sua morte. D. Sebastião desapareceu sem deixar vestígios numa batalha contra os mouros no Marrocos. Tinha 24 anos. Sua morte incerta criou em torno de seu nome o mito de que ele voltaria para governar. O retorno nunca ocorreu, e por isso D. Sebastião é chamado “o adormecido” ou “o encoberto”. Como não havia herdeiros, seu desaparecimento abriu uma batalha pela sucessão ao trono. Felipe II, da Espanha, saiu-se vitorioso e se tornou rei de Portugal. Após a dominação espanhola, em 1640, a coroa portuguesa afinal reconquistada foi oferecida a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do reino, e nunca mais veio a adornar a cabeça de reis e rainhas.





2. Você sabia que na África e no Rio de Janeiro havia reis negros?

Houve, desde os tempos de Afonso I, em Portugal, um processo de europeização do Reino do Congo, com objetivo de catequizar a população do território, que era fornecedor de mão-de-obra escrava. Com o passar do tempo, essa amizade forjada de portugueses com reis congoleses fez que alguns rituais da nobreza européia fossem absorvidos por parte dos africanos. A corte congolesa possuía, além do rei, um amplo aparato de governo, como os embaixadores que, por vezes, eram convidados para as cerimônias da realeza de Portugal. A tradição, transportada para o Brasil pelos escravos, ganhou forma no Rio de Janeiro com as cerimônias das congadas, em que os negros dramatizam o ritual de coroação de seus reis. Naquele tempo, era mais fácil ver uma coroa na cabeça de uma rainha negra e africana do que na cabeça de uma rainha branca e portuguesa.



3. Você sabia que ser chamado de “carioca” não era motivo de orgulho? Saiba mais sobre a origem desse chamamento.

A palavra “carioca” é de origem indígena e significa “casa de branco”, como registram os viajantes bávaros Spix e Martius, vindos com D. Leopoldina para o Rio de Janeiro de D. João. As “casas de branco”, às vezes construídas de pedra, eram usadas pelos portugueses como proteção contra o ataque de índios armados com flechas de fogo. Os cariocas da época se orgulhavam, como os de hoje, dessa denominação. Mas naquele tempo o termo tinha conotação pejorativa, fruto do preconceito de portugueses e brancos de outras províncias, que usavam a palavra “carioca” para designar como negros os habitantes do Rio. Atualmente o termo tem sentidos variados. Ao pedir “um carioca” no Brasil ou “uma carioca” em Portugal, por exemplo, saiba que o cafezinho vai vir um pouco mais fraco.





4. Você sabia que a proliferação de farmácias pela cidade vem desde os tempos da Corte de D. João no Rio de Janeiro?

Não se sabe se por falta de saúde ou por excesso de prudência da população, mas desde o tempo de D. João já havia uma grande quantidade de farmácias espalhadas nas esquinas do Rio de Janeiro. O inglês John Luccok, que fez no início do século XIX esta constatação, alertava para o fato de que muitas dessas boticas não possuíam profissionais da especialidade, uma vez que somente em 1809 foi criado na cidade o curso de Medicina. Nos estabelecimentos da época podiam-se encontrar ópio, rosa, sene, manacá, bálsamo católico e de copaíba, e água vienense, além de pomadas de todo tipo, principalmente a chamada “alvíssima”. Qualquer semelhança com os dias atuais seria mera coincidência?



5. Segura o rojão! Saiba de onde vem essa expressão.

O rojão é uma tira de tecido usada no baixo ventre para compor roupa de trabalho e, assim, sustentar o corpo para agüentar atividades que exigem força. Daí o dito popular “segurar o rojão”.





6. O que significava ser boçal no tempo de D. João?

Ser boçal, naquele tempo, era o oposto de ser ladino. O escravo boçal era o negro que acabava de chegar da África e, por isso, não tinha o domínio da língua portuguesa. Como ele só falava a língua africana, não era colocado para trabalhar nas casas dos seus senhores, onde se exigia um contato maior com a família branca. Na maioria das vezes, era mandado para a zona rural, para trabalhar na lavoura. Já então a palavra assumia o sentido pejorativo que tem hoje, uma vez que era usada para discriminar os escravos na hora da compra. A palavra “boçal” atualmente assume mais de um sentido. Continua a ser uma espécie de xingamento contra uma pessoa dita “estúpida” ou “tapada”, mas também pode significar algo “descomunal” e “imenso”.



7. Por que um ladino era valorizado no tempo de D. João?

Ser ladino, naquele tempo, era o oposto de ser boçal. Ladino era o escravo que vivia há mais tempo no Brasil ou que vinha de regiões da África onde se falava o português. Era dito, na época, como “mais civilizado”. As escravas e escravos ladinos eram os mais procurados nos mercados de escravos, porque podiam fazer trabalhos domésticos. Atualmente a palavra qualifica um indivíduo esperto e inteligente.





8. Maria d’Angola, Ana do Congo: por que tantas escravas tinham nomes como estes?

As escravas no tempo de D. João, com raras exceções, não tinham nomes nem sobrenomes africanos. Quem as vendia ou quem as comprava não estava interessado em saber quem realmente eram estas mulheres. Seus nomes eram trocados assim que chegavam no Brasil, para facilitar a comercialização. Então era mais fácil dar a ela um nome português e um sobrenome que indicasse o lugar de onde vinha. Por isso proliferavam-se pela cidade nomes como Maria d’Angola e Ana do Congo.



9. O que era “Maneiro”?

“Maneiro” já virou gíria de carioca. Quando se pretende qualificar algo como bom, bonito ou competente, esta palavra pode ser a primeira opção dos jovens que com freqüência utilizam o vocabulário mais informal. Mas em Portugal, desde o início das navegações transoceânicas, o adjetivo era utilizado pelos navegadores para qualificar uma embarcação como sendo maleável ou manobrável.





10. “Dar uma passadinha rápida”: conheça as semelhanças entre o hábito carioca das visitas apressadas e a preocupação das mulheres do tempo da Corte de economizar no aluguel das cadeirinhas de passeio.

As mulheres das camadas médias do Rio de Janeiro saíam muito pouco às ruas, e eram vistas, volta e meia, envoltas em mantilhas negras, principalmente antes da chegada da família real. No entanto, os passeios não eram limitados somente por uma questão moral, muitas vezes era a falta de dinheiro que os impedia. As senhoras tinham de sair acompanhadas de suas escravas e ainda por cima alugar as famosas “cadeirinhas”. Este aluguel era bastante caro e, no tempo da Corte, estava em franca expansão. Resultado: uma senhora deveria aproveitar o dia desse aluguel para fazer visita a todas as suas amigas e parentes. Os viajantes que por aqui passaram dizem ter visto mulheres distintas fazerem mais de 15 visitas num só dia.



11. Conheça a origem da palavra “carimbo”.

A palavra “carimbo” tem origem no termo africano “rimbu”, que significa “marca”. No Brasil a palavra designava o processo pelo qual os senhores marcavam a ferro em brasa os seus escravos. Pelas imagens da época, é possível perceber alguns destes sinais, que poderiam servir como identificação de propriedade, como é feito com animais, ou como forma de castigo ordenado pelo seu senhor.





12. Conheça a origem da palavra “banguela”.

Hoje nós chamamos “banguela” o indivíduo que não possui dentes na parte frontal da boca. Mas este termo, na verdade, nomeia as pessoas oriundas de Benguela, porto em Angola de onde saíram vários navios negreiros destinados ao Brasil. A etnia negra oriunda dessa região era conhecida pelo hábito de arrancar os dentes da frente.



13. Quitanda em quimbundo: conheça a origem africana desta e de outras palavras.

Você já passou pela rua da Quitanda no Rio de Janeiro? A rua adotou este nome porque vários tipos de comércio se desenvolveram ali, muitos deles liderados por negros ou negras, libertos ou não. O termo “quitanda” deriva de “kitanda”, utilizado pelos povos de origem banto, principalmente de Luanda, atual capital da Angola, para designar a prática comercial de vender produtos em tabuleiros e bancas, como hoje se faz nas feiras livres espalhadas pelo Brasil.

14. Saiba de que costa vem o pano-da-costa.

O pano-da-costa é uma peça fundamental da indumentária da mulher negra desde antes da chegada da família real. Com este tecido, que pendia sobre os ombros até a altura do umbigo, a escrava resgatava sua origem, demonstrava sua força perante seu senhor e, por outro lado, enfeitava e dava cor às roupas simples que usava. Contudo este tecido não é pano-da-costa porque fica nas costas das negras, e sim por ser procedente de um lugar específico da costa africana, chamado costa da Mina, no Golfo da Guiné. Assim como este tecido, havia vários outros produtos oriundos desta costa, como a pimenta, a palha e o sabão.





15. Saiba o que os escravos negros entendiam por “quilombo”.

A palavra “quilombo” tem origem africana não apenas porque designa o lugar de refúgio dos escravos fugitivos. Em regiões do atual Congo e Angola, desde o século XV e XVI, “kilombo” se referia aos arraiais militares existentes nestes territórios para abrigar grupos étnicos identificados como guerreiros, como os jagas, por exemplo, que foram quase totalmente subjugados pelos portugueses.





16. As cores das bandeiras brasileiras.

Há vários mitos em torno da bandeira do Brasil. A bandeira do império já trazia as cores verde e amarela, mas o verde não representava as matas nem o amarelo o ouro; muito diferente disso, as cores guardavam mais referências do mundo europeu do que do tropical. A bandeira foi desenhada pelo francês Jean-Baptiste Debret, que também trouxe para o desenho os estandartes das legiões de Napoleão Bonaparte – o imperador francês que invadiu Portugal e obrigou a família real a vir para o Brasil. O verde foi utilizado por alguns reis da dinastia Bragança, desde Nuno Álvares Pereira, e teria sido escolhido por D. Pedro I para representar sua Casa imperial. O amarelo ouro, por sua vez, era cor da família imperial da Áustria, da Casa Habsburgo, de origem da esposa de D. Pedro I, D. Leopoldina.



17. Você sabia que negros libertos possuíam escravos?

Vários viajantes em visita ao Rio de Janeiro no início do século XIX relatam que muitos escravos, após comprarem ou receberem a alforria, compravam outros escravos. Os prussianos Theodor Von Leithold e F. Ludwig Von Rango, por exemplo, afirmam que, devido ao aumento na demanda pelo serviço de lavagem de roupas, as lavadeiras compravam mais escravas para poder dar conta do serviço. Com a chegada da corte ao Brasil, houve um assustador crescimento do número de escravos, que, segundo o inglês Luccok, pode ter aumentado perto de 200%.





18. Você sabia que escravos não podiam usar sapatos?

Calçar sapatos era um distintivo de classe na sociedade brasileira colonial: as brancas e as negras libertas podiam usá-los; as escravas, não. Leis suntuárias proibiam o uso de sapato pelos escravos. No entanto, ao se analisar as imagens desenhadas por Carlos Julião, publicadas no livro Riscos iluminados de figurinhas de brancos e negros nos usos do Rio de Janeiro e do Serro do Frio, é fácil identificar escravas de sapatos, ou melhor, de chinelinhas. As mucamas, que trabalhavam nas casas de pessoas mais ricas, andavam tão bem arrumadas quanto as suas senhoras, e ostentavam roupas, jóias em ouro e sapatos com ou sem fivelas.



19. Por que os escravos comiam terra?

Os escravos utilizavam a geofagia – ato de comer terra – para se enfraquecer e, em seguida, morrer. Era uma forma de suicídio. A depressão causada pelo degredo dos africanos para as terras americanas chegava a tal ponto que o escravo tentava, por meio desse ato extremo, libertar-se dessa condição. Vários tipos de castigos físicos eram infligidos aos escravos que tentavam o suicídio com a prática de comer terra: um deles era a utilização de máscaras de ferro, para impedir a ingestão.





20. Você sabia que, desde os tempos de D. João IV, todos os primogênitos da família Bragança morriam antes de chegarem a ser reis? Saiba como essa história começou.

A tradição conta que certo dia D. João IV (1604-1656) teria rechaçado a pontapés um franciscano maltrapilho que vinha pedir esmola. Em resposta, o frade rogou-lhe uma praga, dizendo que nunca mais um primogênito Bragança viveria o bastante para chegar a rei. Lenda ou não, a predição confirmou-se ao longo da história. O primogênito do próprio D. João IV, Teodósio, morreu aos 19 anos, e foi o segundo filho do rei que chegou ao trono. Atingindo todas as gerações seguintes, a maldição dos Bragança não poupou o primeiro filho de D. Maria I, D. José, morto antes de herdar o reino. Seu irmão mais novo seria aclamado, no Brasil, como rei D. João VI, mas seu primeiro filho com D. Carlota também viveu pouco: Antonio morreu aos 6 anos, fazendo de D. Pedro o sucessor. Consta que, para reverter a maldição, D. João e D. Pedro visitavam os franciscanos uma vez ao ano, mas mesmo assim o primogênito de D. Leopoldina, D. Miguel de Bragança, morreria ainda na infância, deixando a coroa imperial para o caçula, futuro D. Pedro II.





21. D. João, um rei negro? Saiba como o monarca foi descrito pela embaixatriz francesa em Portugal.

As Memórias de Laure Junot, esposa do general Junot, embaixador francês em Portugal em 1805, registram suas impressões acerca da família Bragança após a primeira visita à Corte. Seu famoso retrato de D. Carlota parece referir-se não a uma mulher apenas feia, mas a uma rara monstruosidade. Menos conhecido é o relato da figura de D. João, assim descrito: “Mal pude conter o riso ao vê-lo, gordo, com pernas grossas, a enorme cabeça coberta com uma cabeleira de negro, que, aliás, combinava com seus lábios grossos, seu nariz africano e sua cor de pele.” É estranho pensar em D. João, rei branco no Brasil dos escravos, como rei negro na Europa de Napoleão. O preconceito, como sempre, tinha razão política: a difamação da realeza lusa preparava a campanha de legitimação da invasão francesa a Portugal, comandada pelo mesmo general Junot dois anos após a embaixada.





22. Você sabia que a única coisa a que as princesas tinham direito no casamento era uma mesada para os alfinetes? Saiba como eram feitos os contratos nupciais.

“Alfinetes” era o nome dado à quantia, reservada por contrato antenupcial, de que a mulher casada podia dispor. A designação era aplicada também aos contratos de casamento entre Casas Reais, como o que celebrou o noivado de D. Leopoldina com D. Pedro. Na época, todo o dinheiro de um casal era administrado pelo marido. O nome “alfinetes”, que lembra “miudeza”, sugeria que a mulher não tinha despesas sérias, mas isso não significa que todas gastassem dinheiro com enxoval: os “alfinetes” de D. Leopoldina, por exemplo, serviam para encomendar livros de mineralogia na Europa.





23. Você sabia que ser maria-vai-com-as-outras podia significar andar na companhia da realeza? Saiba como surgiu essa expressão.

Conta-se que a doença mental de D. Maria I obrigava-a a viver quase sempre reclusa, só saindo acompanhada das damas de seu serviço. Por isso, sempre que a via cercada de acompanhantes, a gente da cidade falava “Lá vai a Maria com as outras”.



24. Casulos de bichos-da-seda para decorar um grande salão de uma princesa? Conheça um pouco mais sobre esse gosto peculiar de D. Carlota Joaquina.

Os biógrafos contam que, durante seu exílio na Quinta do Ramalhão, D. Carlota Joaquina decorou uma das salas do palácio com centenas de casulos de bichos-da-seda. A princesa adorava vestir-se com esse tecido, mas não era da sua coleção de lagartas que tirava a matéria-prima de seus trajes. Na época, esse gosto não chegava a ser uma extravagância, como hoje se poderia supor: a criação doméstica de bichos-da-seda estava na moda, e D. Carlota, sensível às novas tendências, não podia deixar de ter a sua.





25. Uma anã negra paparicada por uma rainha: saiba quem foi D. Rosa.

Era tido por costume original da realeza ibérica empregar anões no serviço particular da família real. Na Corte portuguesa do final do séc. XVIII, uma dessas pequenas personagens gozava de um prestígio digno de nobreza: D. Rosa, a anã negra favorita de D. Maria I. Um viajante inglês, certa vez convidado para um sarau em companhia da rainha e seus filhos, conta ter visto D. Rosa encostada a uma porta, vestindo uma saia de amazona escarlate e namoriscando à distância um belo mouro, criado do Marquês de Marialva. Influente nos mexericos da Corte, D. Rosa conseguiu ganhar a simpatia até mesmo da mais temperamental das princesas: D. Carlota Joaquina costumava cobri-la de mimos.





26. Chá cultivado por mãos pagãs: conheça mais sobre a colônia de chineses que se instalou no Rio de Janeiro no tempo de D. João.

Antes da vinda de D. João, já havia chineses no Rio, e mesmo algumas lojas de chá, mas foi em 1810, dois anos após sua chegada, que se pensou em introduzir o cultivo dessa planta para aproveitamento econômico. Para assegurar o florescimento da nova cultura, o conde de Linhares, ministro real, patrocinou a imigração de centenas de agricultores do interior da China, onde Portugal tinha possessões coloniais. Foi provavelmente a primeira colônia asiática a se fixar no Novo Mundo. Como não eram batizados e não professavam fé cristã, os chineses eram chamados “pagãos”, como os índios. As plantações ocuparam áreas do Jardim Botânico e da fazenda real em Santa Cruz, mas, segundo consta, as mudas não se adaptaram ao clima. E, de fato, o hábito de tomar chá não emplacou entre os cariocas, que elegeram como bebida de sua preferência o infalível cafezinho.





27. Você sabia que os piores inimigos dos piolhos, na Lisboa do tempo de D. Maria I, eram os macacos? Saiba como primatas amestrados se tornaram exímios catadores desses parasitas.

Alguns viajantes descreviam Lisboa como uma cidade sem beleza, suja, cheia de cachorros sem dono perambulando nas ruas. Muitos diziam que a população sofria também com surtos de piolho. Era então comum encontrar em locais públicos homens e mulheres catando esses parasitas nas cabeças uns dos outros. Mas, afora a alternativa drástica de raspar a cabeça, adotara-se então uma solução inusitada para combater a infestação: macacos foram amestrados na arte de apanhar piolho. Esperando livrarem-se da coceira, cidadãos aflitos deitavam a cabeça no colo desses primatas bem treinados, cujos serviços eram alugados por hora junto aos comerciantes oportunistas da época.



28. Você sabia que, no tempo de D. João no Rio de Janeiro, Perereca era nome de padre. Saiba um pouco sobre a história do maior cronista da Corte joanina na capital da colônia.

O verdadeiro nome do Padre Perereca era Luiz Gonçalves dos Santos. O apelido, um tanto maldoso para um padre, foi dado pelos cariocas em razão da semelhança física existente entre o anfíbio e o clérigo, magro de corpo e com olhos esbugalhados. Perereca nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1767, e viveu até os 77 anos de idade. Na sua obra “Memórias para servir à história do Reino do Brasil”, descreveu, como testemunha ocular da época, o episódio da chegada da Família Real e todas as mudanças ocorridas na paisagem urbana da cidade que, a partir de então, seria a sede do Império Português.





29. Você sabia que D.José, pai de D. Maria I, se mudou com a família real para uma barraca de madeira e pano? Saiba um pouco sobre a história do terremoto de Lisboa.

Anos antes de ser rainha, D. Maria I testemunhou um fato marcante da história de Portugal: o terremoto que arrasou Lisboa em novembro 1755. A família real sobreviveu porque, na hora catástrofe, estava numa área afastada da capital, em Belém. Mas o Palácio Real, residência oficial do monarca, desmoronou com os tremores de terra e com as ondas gigantes que invadiram a margem do Tejo. A princesa, então com 21 anos, em companhia de toda a família, teve então de se mudar para uma grande barraca, erguida às pressas para alojar a realeza. Seu pai, D. José, impressionado com os estragos no antigo Palácio, mandou fazê-la de madeira e pano, supondo que assim não correria riscos em caso de terremoto. Anos depois, porém, a Real Barraca, como ficou conhecida, foi destruída por um incêndio.



30. Esqui e lareira no calor do Rio de Janeiro? Saiba como foram os primeiros meses da abertura dos portos às nações amigas, em 1808.

A primeira providência do príncipe regente D. João, assim que chegou a Salvador em janeiro de 1808, foi decretar a Abertura dos Portos às Nações Amigas. O decreto autorizava a importação de bens industrializados de outros países, uma liberdade antes proibida pelo pacto colonial, que submetia o comércio Brasil à sua metrópole Portugal. A Inglaterra, aliada do príncipe, foi especialmente beneficiada, pois passou a contar com taxas alfandegárias diferenciadas. Mas, nos primeiros tempos, ignorando o clima dos trópicos e entusiasmados com os lucros fáceis, os comerciantes britânicos trouxeram para cá produtos pouco compatíveis com as necessidades da população: esquis, equipamentos de lareira e casacos pesados atulharam os estoques, até serem mandados de volta para a Europa ou serem vendidos, a preços baixos, para os poucos brasileiros que tinham dinheiro em caixa.



31. Você sabia que, ao chegar ao Rio, a comitiva da Família Real se dividiu entre o Convento e a Cadeia? Saiba que soluções foram improvisadas para acomodar a Corte imigrada.

Após receber a notícia de que o príncipe desembarcaria no Rio de Janeiro, o conde dos Arcos, então vice-rei da colônia, mandou desocupar às pressas o Paço, onde funcionavam o Tribunal da Relação e a Casa da Moeda, e onde ele próprio tinha a sua residência. Como, porém, foi avisado de que a comitiva de criados da família real era muito mais numerosa do que imaginara, o conde determinou que o Convento do Carmo e a Cadeia, dois edifícios vizinhos do Paço, fossem também esvaziados e reformados para acolher a multidão dos recém-chegados.





32. Você sabia que o cabelo da moda na Corte de D. Maria em Lisboa era uma gaforinha? Conheça a origem desse penteado.

Se alguém falar que seu cabelo parece uma gaforina, é bem provável que não esteja fazendo um elogio. “Gaforina” significa, hoje, cabelo desgrenhado, cheio, com topete. Antigamente, no entanto, era assim o cabelo das pessoas que queriam parece elegantes. Quem lançou a moda em Portugal foi Isabel Gafforini, cantora lírica italiana que fez sucesso por lá no início do século XIX. Seu sobrenome deu origem à palavra “gaforina”, usada para designar um penteado parecido com o seu: alto, atopetado, com grenhas dos lados. De início a novidade não agradava ao gosto das mulheres, mas, depois, foi sendo copiada por elas. Até a rainha de Portugal, D. Maria I, adotou o estilo por uns tempos.





33. Você sabia que o nome da cidade do Rio de Janeiro nasceu de um erro de observação dos marinheiros portugueses? Saiba por que essa confusão existiu.

Quando, no século início do século XVI, os primeiros navegantes portugueses entraram na Guanabara, acharam que estavam atravessando um rio, e não uma baía. Como era então o mês de janeiro, batizaram a baía de “Rio de Janeiro”. Anos mais tarde, em 1565, Estácio de Sá juntou, a essa antiga denominação, o nome do rei de Portugal na época para dar nome à cidade que havia fundado: “São Sebastião do Rio de Janeiro”.



34. Por que os nobres eram chamados fidalgos? Saiba por que essa expressão designava os homens bem acomodados na vida.

No tempo dos reis e rainhas, a família real vivia rodeada de pessoas que faziam a corte. Para acumular privilégios, os nobres, como eram conhecidas as pessoas, procuravam mostrar-se úteis ao rei, ora ajudando-o na administração do Estado, ora bajulando seus filhos e preferidos. Ser ministro era então tão importante quanto ser mordomo do monarca, e às vezes essas funções se confundiam: o mesmo duque ou marquês que assinava em nome do rei um importante pacto de comércio era quem o ajudava a mudar de camisa ou lavar as costas. Essa nobreza era escolhida entre os donos de terra e os homens com dinheiro, e, como seus títulos eram hereditários, passando de pais para filhos, os nobres eram conhecidos também por “fidalgos”, forma abreviada da expressão “filhos-de-algo”, que determinava a condição dos sujeitos bem nascidos.





35. Quem vai pagar o pato? Saiba de onde vem essa expressão.

Muitos brasileiros devem imaginar que a expressão “pagar o pato” tem relação direta com a ave desse nome. Mas, na verdade, esse termo é derivado de uma expressão originalmente portuguesa, “pagar o pacto”. Tentando imitar esse modo de dizer, o brasileiro, não se sabe quando, deixou de pronunciar a letra “c”, e esse uso consagrou na fala e na escrita a forma “pagar o pato”. A expressão, aplicada a qualquer dívida ou negócio, acabou ficando engraçada, a não ser quando se trata de comprar um pato: aí, é claro, ela tem aplicação literal.





36. Você sabia que o hábito inglês de tomar chá foi introduzido por uma rainha portuguesa na Inglaterra? Conheça um pouco sobre a vida de D. Catarina de Bragança.

O hábito de tomar o chá às 5 horas da tarde é mundialmente conhecido como um costume inglês, mas já era familiar entre os portugueses da época da princesa D. Catarina de Bragança. A expansão marítima em direção ao oriente fez os portugueses entrarem em contato com o chá, principalmente através dos chineses. Em 1662, quando D. Catarina foi recebida pela Corte inglesa por ocasião de seu casamento com o então rei da Inglaterra D. Carlos II, ela levou na bagagem ervas e porcelanas originais da China e, assim, ensinou aos britânicos a preparar e a apreciar o chá. O casamento trouxe muitas vantagens comerciais para a Inglaterra; mas o costume de tomar chá, talvez o mais característico da sua cultura, ela importou de Portugal.


Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/inquisicao.phtml