9.8.19

Revoluções de 1830 e 1848


Causas da revoluções

Com Carlos X a França restabeleceu o Antigo Regime, com o apoio da facção mais conservadora, os seguidores da “legitimidade”, reimplantando o absolutismo e restaurando os privilégios do clero e da nobreza.

Carlos X sofreu crescente oposição dos liberais (liderados pelo duque Luís Felipe) e da imprensa (especialmente do jornal “O Nacional”), que mobilizaram a sociedade, criando condições revolucionárias que explodiriam em 1830.

A Revolução Liberal de 1830

O ativismo político dos liberais contra a reação absolutista culminou, em julho de 1830 com as “Jornadas Gloriosas”, barricadas levantadas nas ruas de Paris, que derrubaram os Bourbons do trono francês. A Revolução, estimulada e liderada pela alta burguesia francesa, resultou na fuga de Carlos X, temeroso de desdobramentos revolucionários semelhantes aos de 1789, que haviam resultado na decapitação de seu irmão Luís XVI.

A Revolução Liberal de 1830, também chamada de Jornadas de Julho, estancou o avanço reacionário iniciado com o Congresso de Viena de 1815. A repercussão foi in­tensa na Europa e atingiu de certa maneira também o Brasil. Aqui, desde 1824, D. Pedro I impusera um governo absolu­tista com base na Constituição outorgada de 1824. A reto­mada liberal europeia, que culminou na Revolução de 1830, tinha no Brasil como representante o jornalista Libero Badaró, assassinado em novembro de 1830 por partidários de D. Pedro I. Esse acontecimento, somado aos ventos liberais da Europa, levaram à “Noite das Garrafadas” de 1831, enfrentamento de brasileiros contra partidários do Imperador, que levaram à abdicação de D. Pedro, a 7 de abril de 1831.


As revoluções liberais de 1830 e 1848 tiveram como epicentro a França. Ao espalharem-se pela Europa, entretanto, elas se caracterizaram pelo nacionalismo. Povos com uma mesma cultura, etnia e língua clamavam contra a partilha do Congresso de Viena. (Quadro de Delacroix, A Liberdade Guiando O Povo.)

O poder foi ocupado por Luís Felipe, conhecido como o “Rei burguês” ou “Rei das barricadas”, representante de um avanço liberal que repercutiu por toda a Europa, pois impul­sionava o entusiasmo de nações prejudicadas pelas medidas do Congresso de Viena: a Bélgica proclamou sua independên­cia da Holanda, e a Alemanha, a Itália e a Polônia iniciaram as lutas nacionais contra a dominação estrangeira.


A Revolução de 1830 sepultou definitivamente a reação restauradora do Congresso de Viena, motivando uma vaga de progressismo e ímpeto revolucionário, que culminaria na Re­volução de 1848 e em diversos movimentos nacionalistas do período.

Na França, Luís Felipe revisou a Constituição dos Bourbons, reforçando pontos liberais, como a sua submissão à Constituição, que fortaleceu o legislativo; aboliu a censura e o caráter oficial da religião católica, apesar de manter a exigên­cia censitária para eleger ou ser eleito a um cargo legislativo.

Luís Felipe atendeu exclusivamente os interesses da bur­guesia, ignorando os do operariado, o que ativou a agitação político-social, a oposição generalizada.

Os opositores a Luís Felipe organizaram reuniões popu­lares de manifestações contrárias ao “rei burguês”, apelidadas de política dos banquetes — referência às reuniões de políti­cos em restaurantes condenando o regime. Após mais de 60 dessas reuniões, quando o ministro Guizot decidiu proibi-las, em fevereiro de 1848, o descontentamento generalizado explodiu, dando início à Revolução de 1848.

Os adversários do governo — socialistas, bonapartistas e republicanos — uniram-se contra Luís Felipe, reclamando uma reforma eleitoral e parlamentar. Reivindicavam a queda da exi­gência censitária, permitindo o voto para todos os que pagas­sem até 100 francos de imposto anual. O rei e seu ministro Guizot não cederam às pressões reformistas. As manifestações populares, os confrontos e a rebeldia da Guarda Nacional le­varam à demissão de Guizot e à fuga de Luís Felipe para a In­glaterra. Era a Revolução de fevereiro de 1848 na França, o epicentro de explosões por todo o mundo, refletindo o ânimo apaixonado das massas por mudanças profundas.
A Revolução de 1848 e a Segunda República Francesa

Com a derrubada de Luís Felipe, foi proclamada a Segun­da República na França (a primeira foi a de 1792 a 1804), e as massas populares, com suas várias correntes políticas, orga­nizaram um governo provisório, com a função de convocar uma Assembleia Constituinte que elaboraria uma nova consti­tuição para o país. O liberal Lamartine ficou com a presidência do governo provisório, de que participavam também o jorna­lista moderado Ledru-Rollin, o escritor socialista Louis Blanc e o operário Albert.

Dentre as primeiras medidas do novo governo, destaca­ram-se o fim da pena de morte e o estabelecimento do sufrá­gio universal nas eleições, ao mesmo tempo que afloraram conflitos entre as lideranças trabalhistas e as burguesas. Os so­cialistas pressionavam por medidas governamentais que garan­tissem trabalho, direito de greve e limitação das horas de tra­balho. Obtiveram a criação das “Oficinas Nacionais“, traba­lhos para os desempregados em aterros, fábricas e constru­ções do governo, imprimindo como meta política a criação de uma república social. Ao contrário, os liberais-moderados, re­presentantes dos grandes proprietários e burgueses da França, buscavam barrar as medidas de cunho popular, temendo que desembocassem num governo radical como o montanhês de 1793.

Em abril de 1848, nas eleições da Assembleia Constituinte, os moderados saíram-se vitoriosos, obtendo a maioria das cadeiras, graças, principalmente, à atuação dos proprie­tários rurais, radicalizando a polarização política entre socia­listas e burgueses. Os populares multiplicaram suas manifes­tações de rua, tumultuando Paris. Sob o comando do general Carvaignac, o governo massacrou os revoltosos (Massacre de Carvaignac), suspendeu os direitos individuais, fechou as “Oficinas Nacionais”, transformando a Revolução em guerra civil: mais de 3.000 pessoas foram fuziladas, e 15.000 fo­ram deportadas para as colônias. Carvaignac, conhecido co­mo “o carniceiro”, garantiu a vitória da burguesia, assumindo o governo até novembro, quando foi aprovada a nova Cons­tituição republicana. Segundo essa Constituição, o poder le­gislativo caberia a uma assembleia eleita por sufrágio univer­sal por 3 anos, e o poder executivo ficaria a cargo de um presidente eleito por 4 anos.

A 10 de dezembro de 1848, os franceses elegeram seu presidente — Luís Bonaparte, sobrinho do imperador Napoleão I e, portanto, figura carismática, em que se via a possibili­dade de restauração da glória vivida pelo país na época de Napoleão.

Por: Renan Bardine

Fonte: https://www.coladaweb.com/historia/revolucoes-de-1830-e-1848