A história das cidades do mundo em geral é longa, sendo que as primeiras cidades teriam surgido entre quinze a cinco mil anos atrás, dependendo das diversas definições existentes sobre o que define um antigo assentamento permanente como uma cidade. Sociedades que vivem em cidades são frequentemente chamadas de civilizações. O ramo da história e da urbanismo encarregado do estudo das cidades e do processo de urbanização é a história urbana. As primeiras verdadeiras cidades são por vezes consideradas grandes assentamentos permanentes onde os seus habitantes não são mais simplesmente fazendeiros da área que cerca o assentamento, mas passaram a trabalhar em ocupações mais especializadas na cidade, onde o comércio, o estoque de alimentos e o poder foram centralizados. Usando esta definição, as primeiras cidades conhecidas apareceram na Mesopotâmia, tais como Ur, ao longo do Rio Nilo, na Civilização do Vale do Indo e na China, entre aproximadamente sete a cinco mil anos atrás, geralmente resultante do crescimento de pequenos vilarejos e/ou da fusão de pequenos assentamentos entre si. Antes desta época, assentamentos raramente alcançavam tamanho significativo, embora exceções como Jericó, Çatalhöyük e Mehrgarh existam. Harappa e Mohenjo- daro, ambas cidades da Civilização do Vale do Indo, eram as mais populosas destas antigas cidades, com uma população conjunta estimada entre 100 e 150 mil habitantes. O crescimento de impérios antigos e medievais levou ao aparecimento de grandes cidades capitais e sedes de administração provincial, como Babilônia, Roma, Antioquia, Alexandria, Cartago, Selêucida do Tigre, Pataliputra (localizada na atual Índia), Changan (localizada na atual República Popular da China), Constantinopla (atual Istambul), e, posteriormente e sucessivamente, diversas cidades chinesas e indianas aproximando-se ou mesmo superando a marca do meio milhão de habitantes. Roma possuía mais de um milhão de habitantes no século I a.C., sendo considerada por muitos como a única cidade a superar esta marca até o início da Revolução Industrial. Alexandria possuia uma população próxima à de Roma na época (em um censo de 32, Alexandria possuía 180 mil cidadãos (adultos do sexo masculino). Outros grandes centros administrativos, comerciais, industriais e cerimoniais emergiram em outras áreas, mais notavelmente Bagdá, que segundo algumas estimativas teria sido a primeira cidade a superar a marca de um milhão de habitantes, ao invés de Roma. Nos territórios anteriormente ocupados pelo Império Romano, a população das grandes cidades cairia drasticamente entre os séculos V e VI, com as migrações dos povos bárbaros, o colapso do Império Romano do Ocidente e o início do feudalismo. Durante a Idade Média na Europa, uma cidade era tanto uma entidade político- administrativa como um agrupamento de casas. Morar nas cidades passou a ser considerada um ato de liberdade, em relação às obrigações rurais para o Senhor e para a comunidade feudal à época. Stadtluft macht frei (O ar das cidades torna você livre) era um ditado popular em regiões da atual Alemanha. Na Europa, algumas cidades possuíam um legislativo próprio, com as leis de cidades sendo criadas fora do campo, e válidas somente nas cidades, com o Senhor de uma cidade sendo frequentemente outro que não o mesmo da região rural que cerca a cidade. No Sacro Império Romano-Germânico (Alemanha e Itália medieval), porém, algumas cidades não possuíam outro Senhor além do Imperador. Algumas cidades, excepcionalmente, tais como Veneza, Gênova ou Lübeck, tornaram-se Cidade-Estados poderosas, por vezes tomando controle de terras próximas ou estabelecendo extensivos impérios marítimos. Tal fenômeno não limitou- se somente à Europa, como é o caso de Sakai, que possuía um considerável grau de autonomia no Japão medieval. Na Europa, nesta época as maiores cidades eram assim Veneza, que creceu devido ao seu porto onde se faziam as trocas comerciais para o centro da Europa, uma espécie de Roterdão, Florença, que se desenvolveu no Renascimento devido à indústria e à arte e Lisboa, que foi dada por Dom Quixote como a maior cidade da época, gráças ao seu grande porto que era o maior do mundo na época, destronando assim a supremacia económica de Veneza. A maioria das cidades do mundo, após a ascensão do feudalismo, eram pequenas em termos de população, sendo que em 1500, existiam somente aproximadamente duas dúzias de cidades com mais do que cem mil habitantes. Em 1700, este número era pouco menor do que quarenta, um número que pularia para 300 em 1900, graças à Revolução Industrial. Enquanto as Cidades-Estados situadas no litoral dos mares Mediterrâneo e Báltico passaram a desaparecer a partir do século XVI, as grandes capitais européias se beneficiaram do crescimento do comércio que surgira após a ascensão de uma economia trans-atlântica, abastecida pela prata vinda do Peru. No final do século XVIII, Londres havia tornado-se a maior cidade do mundo, com uma população aproximando-se dos um milhão de habitantes, com Paris, Bagdá, Pequim, Istambul e Kyoto sendo outras grandes cidades. O início da Revolução Industrial e a ascensão e o crescimento da indústria moderna, no final do século XVIII, levou à massiva urbanização e à ascensão de novas grandes cidades, primeiramente na Europa, e posteriormente em outras regiões, na medida em que as novas oportunidades geradas nas cidades fizeram com que grandes números de migrantes provenientes de comunidades rurais instalassem- se em áreas urbanas. Conclusão O desenvolvimento da agricultura irrigada nas planícies dos grandes rios foi o fator econômico decisivo na fundação das primeiras cidades, no Oriente Próximo. O principal progresso técnico que a acompanhou foi a descoberta e uso do bronze (metal conseguido a partir da mistura do cobre e do estanho), que substituiu definitivamente a pedra na manufatura de todas as espécies de armas e ferramentas. As primeiras cidades surgiram entre 3 500 e 3000 a. C., nos vales dos rios Nilo, no Egito e Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia; posteriormente, mais ou menos em 2 500 a.C., no vale do rio Indo, na Índia e por volta de 1 500 a. C., na China. Agricultura, trabalho coletivo e cidade As enchentes periódicas dos rios deixavam nas margens uma camada de húmus que favorecia a produtividade da terra. Entretanto, os rios que fertilizavam o solo e serviam de acesso às fontes de matérias primas precisavam ser drenados e controlados, o que demandava a cooperação entre os homens. A abertura de canais de irrigação, a drenagem de pântanos, a construção de represas e poços eram obras que requeriam o trabalho coletivo da população de várias aldeias, para o melhor aproveitamento das águas. Exigiam também uma direção centralizada, capaz de dividir e racionalizar as tarefas. A necessidade de centralização levou ao aparecimento da cidade, centro administrativo que reunia várias aldeias surgido em torno do templo do principal deus totêmico da comunidade. Nesse templo era armazenada a produção excedente das aldeias; à sua volta, viviam as pessoas que se dedicavam à administração, ao comércio e ao artesanato. Entre os servidores do templo, destacavam-se os sacerdotes (herdeiros dos “feiticeiros” das aldeias neolíticas), intérpretes da vontade dos deuses, que acabavam por assumir a função de dirigentes das cidades. Exerciam tarefas de muita importância. Como a distribuição das águas e das sementes, a supervisão das colheitas e a armazenagem dos grãos, apropriando-se também de boa parte das terras e da produção dos camponeses, como pagamento de impostos devidos aos deuses. A Divisão do Trabalho, as desigualdades sociais, o Estado Além do desenvolvimento da agricultura, com direção centralizada dos trabalhos coletivos de irrigação, outros fatores contribuíram para transformar as aldeias em cidades. As técnicas de trabalhar metais, ouro, prata, bronze, se desenvolveram com rapidez, tornando-se profissões especializadas, como joalheiros e metalúrgicos. A existência das primeiras cidades dependia também da possibilidade de se organizar o transporte eficaz de grandes quantidades de produtos e de matérias primas. Os habitantes das cidades precisavam receber com regularidade alimentos vindos dos campos ou de localidades distantes. Era indispensável ir buscar em florestas e montanhas, por vezes longínguas, madeira, metais e até pedra. Essas necessidades levaram a um grande aperfeiçoamento dos meios de transporte e ao desenvolvimento do comércio. As canoas primitivas foram sendo aperfeiçoadas, até se transformarem em autênticos navios, capazes de transportar artigos volumosos. A descoberta da vela aumentou o raio de ação dos navios. De igual significação foi o desenvolvimento dos transportes terrestres, com a invenção da roda, da tração animal e também do arado de metal. O comércio, de início, se processava por simples troca; depois, pelo uso do gado (pecúnia) como unidade de troca, ou por meio de artigos valiosos facilmente transportáveis, tais como os metais (cobre e posteriormente ouro e prata). O aparecimento de mercadores especializados deveu-se à necessidade de se adquirir produtos estrangeiros em regiões distantes, transformando essa atividade numa profissão. O desenvolvimento do comércio e da vida urbana em geral tornou inevitável a invenção da escrita, dos processos de contagem, dos padrões de medida e do calendário, que foram sendo melhorados com o tempo. Nas cidades, os cidadãos passaram a ser classificados de acordo com a sua função, incluindo os sacerdotes, os escribas, os mercadores, os artesãos, os soldados, os camponeses, os escravos domésticos, os estrangeiros. A divisão do trabalho e as desigualdades de riquezas entre os cidadãos criaram a necessidade de leis e de forças capazes de fazer cumprir as leis. A liderança natural do grupo, que nas aldeias era exercida pelos mais velhos e sábios, cedeu lugar ao governo de um só homem, geralmente o principal administrador do templo ou um grande chefe guerreiro, surgindo assim a cidade-Estado. Por volta de 3 500 a.C., as cidades dos vales dos rios Nilo, Tigre e Eufrates já constituíam civilizações com governo centralizado nas mãos do rei e o trabalho baseado na servidão dos camponeses. Thiago Souza Araújo Fonte: www.scribd.com