O Dr. Washington Luís assumiu o poder em 15 de novembro de 1926. A tensão política logo se agravou quando ele recusou anistia aos revolucionários. Em São Paulo, morrera o Presidente Carlos de Campos, sucedendo-lhe Júlio Prestes, que assumiu a presidência do Estado em 14 de junho de 1927. Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, Presidente de Minas Gerais, resolveu seguir outra orientação; de conservador tornou-se liberal, deixando entrever sua ambição de chegar à presidência da República. Era praxe antiga, quebrada apenas pela ascensão de Hermes da Fonseca e Epitácio Pessoa, São Paulo e Minas Gerais alternarem-se nas sucessões presidenciais. Pela ordem natural caberia desta feita a Minas Gerais fazer o Presidente da República. Washington Luís, entretanto, prestigiou Júlio Prestes, demonstrando antipatia pelo governante mineiro e aproximando-se dos gaúchos. Os mineiros, por seu turno, procuraram apoio no Rio Grande do Sul, com o propósito de afastar o candidato paulista, mesmo que importasse na renúncia de Minas. De um entendimento entre o Secretário do Interior de Minas Gerais. Francisco Campos, e o líder da bancada gaúcha, João Neves da Fontoura, nasceu a Aliança Liberal, em 17 de junho de 1929, com a indicação dos nomes de Getúlio Vargas ou Borges de Medeiros para candidatos. O primeiro, evitando desgastar-se, procurou não estabelecer áreas de atrito com o poder central. Em duas cartas secretas a Washington Luís, uma de dezembro de 1928 e outra de maio de 1929, afirmou apoiar o governo. Mas, para a perplexidade de Washington Luís, Vargas aceitava, em julho de 1929, a sua candidatura à presidência pela Aliança, tendo João Pessoa, Presidente da Paraíba, como companheiro de chapa. Em 15 de agosto, a Comissão Executiva da Aliança Liberal lançou a candidatura Getúlio Vargas – João Pessoa. Os tenentes revolucionários foram abordados pela ala radical da Aliança, onde figuravam, entre outros líderes, Virgílio de Melo Franco, João Neves da Fontoura e Flores da Cunha. No Rio Grande do Sul, Siqueira Campos aproximou Luís Carlos Prestes de Getúlio, que lhe ofereceu o comando revolucionário, garantindo apoio em dinheiro e armamento. Prestes não estava acreditando no movimento, achando-o "competição de oligarquias". As suas tendências para a esquerda causavam desconfianças. O delegado Laudelino de Abreu detectou a conspiração em janeiro de 1930. A rebelião crescia também nos meios políticos paulistas. Alguns oficiais revolucionários seguiram para São Paulo, conduzidos por Siqueira Campos e Djalma Dutra. A polícia paulista localizou-os em uma casa da rua Bueno de Andrade e esperou que saíssem. Ao se retirarem do referido prédio foram recebidos à bala. Siqueira Campos reagiu a tiros, conseguindo escapar. Djalma Dutra e Correa Leal foram presos, sendo remetidos para o Rio de Janeiro. Caio Brant estreitava as ligações com Minas Gerais. No Rio de Janeiro atuavam os conspiradores Tasso Tinoco, Eduardo Gomes, Delso Fonseca, Adir Guimarães e Cordeiro de Farias. No Nordeste, a conspiração também ia ganhando corpo. A polícia apertou o cerco; a 11 de janeiro, Juarez Távora foi preso na Fortaleza de Santa Cruz. O Chefe de Polícia da capital. Dr. Pedro de Oliveira Sobrinho, acompanhava de perto os passos dos revolucionários e teve conhecimento de que Juarez planejava uma fuga. Mesmo assim ele conseguiu evadir-se (28 de fevereiro) com alguns companheiros. Miracema era o ponto de concentração de Estillac Leal e outros. Dezoito dias depois Juarez se juntaria a eles, após restabelecer-se de alguns ferimentos ocasionados pela fuga. Aproximaram-se as eleições e as caravanas partiam para as campanhas eleitorais. A tônica dos discursos era a critica arrasadora à plataforma de Júlio Prestes e aos atos de intolerância do Presidente Washington Luís. Com as manifestações, exasperavam-se os ânimos da população, João Neves, diante das reações do auditório do Teatro Princesa Isabel em Recife, Pernambuco, antecipou: "Vamos para as urnas na expectativa de um pleito liso e límpido. Mas jamais, pernambucanos, aceitaremos como boa a sentença da fraude ou nos renderemos à imposição da violência oligárquica. (...) Ide, pernambucanos, para os comícios, confiantes no Direito que nos assiste. (...) Mas, se a 1º de março os donatários do Brasil tentarem apagar no mar morto da trapaça o pronunciamento da Nação, levantemo-nos então em armas por amor ao Brasil!" Nem sempre as caravanas encontravam receptividade. Batista Luzardo, em Garanhuns, embora conseguisse sair ileso na fuga de um comício, teve o carro várias vezes perfurado a balas. Em Vitória, Espírito Santo, quando discursava o Senador Félix Pacheco, irrompeu um tiroteio que provocou mais de 100 vítimas, entre mortos e feridos. Foi nesse clima de agitada campanha eleitoral que chegou o dia 1º de março. Além das várias sondagens sobre as possibilidades eleitorais feitas por Oswaldo Aranha, Lindolfo Collor e Joaquim Sampaio Vidal, seguiam paralelamente as providências para o movimento armado. Na época era comum a fraude eleitoral. Júlio Prestes, ostentando boa margem de votos, foi aclamado pelos conservadores, inclusive pelo Presidente da República. E, em navio do Lloyd, embarcou para os Estados Unidos. Vários próceres do Rio Grande do Sul opinavam que o melhor caminho seria o reconhecimento da vitória do adversário, acatando o resultado das urnas. Todavia, a reação dos extremados foi imediata. Não aceitavam a capitulação. Assis Brasil dizia que o Partido Libertador iria, com seus aliados, até às últimas conseqüências. A conspiração cresceu e, a 20 de março, Batista Luzardo dirigiu-se a Epitácio Pessoa para pedir colaboração, afirmando que o Rio Grande do Sul estava pronto e à espera do apoio de Minas e da Paraíba. Oswaldo Aranha planejou a distribuição das armas trazidas da Tchecoslováquia. O Norte ficara a cargo de Juarez Távora, que se evadira da Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, a 28 de fevereiro de 1930, e viajara para a capital da Paraíba, instalando-se na casa do Tenente Juracy Magalhães; São Paulo, de Siqueira Campos; por Minas responderia o Capitão Leopoldo Nery da Fonseca. Intensificaram-se as articulações. O quadro revolucionário alterou-se com a declaração de Luís Carlos Prestes, que se convertera ao comunismo. Siqueira Campos e João Alberto rumaram para Buenos Aires, no início de maio, a convite de Prestes, onde lhes afirmou ainda não ser a revolução em marcha a que ele desejava. A reforma do Brasil, segundo ele, só seria alcançada com o regime marxista ao qual ele havia se convertido. Não foi possível demovê-lo de sua posição radical, colocada de público com o lançamento do seu Manifesto, nesse mesmo mês de maio. Na viagem de retorno, a 9 de maio, utilizaram um avião "Laté-28" monomotor que caiu no Rio da Prata, morrendo quatro passageiros, inclusive Siqueira Campos, mas João Alberto conseguiu sobreviver. No dia 22 de maio, Júlio Prestes foi proclamado Presidente e a 1º de junho Getúlio lançou um manifesto que, censurando o resultado do pleito, aceitava no entanto a derrota como fato consumado. Oswaldo Aranha demitiu-se da Secretaria do Interior do Rio Grande do Sul. João Pessoa encontrava-se às voltas com os jagunços de José Pereira Lima, que dominava a cidade de Princesa. Era difícil conseguir armamento. O governo federal negava à Paraíba recursos para aparelhar a polícia. O Estado estava na iminência de sofrer intervenção federal. E a imprensa ligada a João Pessoa excedeu-se contra o advogado Dr. João Duarte Dantas, filho de Franklin Dantas, aliado de José Pereira. O ódio de João Dantas cresceu com a publicação de papéis particulares apreendidos em sua casa pela polícia. Jurou vingança. E às 17 horas do sábado 26 de julho de 1930, entrou na confeitaria Glória, em Recife, onde se encontravam em uma mesa o Presidente João Pessoa, Agamenon Magalhães e Caio Lima Cavalcanti e descarregou três tiros em João Pessoa. O crime teve muita repercussão no campo político; era um novo impulso dado à revolução. Virgílio de Melo Franco, sem perda de tempo, reativou contatos com Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Em São Paulo o Capitão Ricardo Hall assumiu o posto de Siqueira Campos, mas, descoberto, teve de fugir. Os irmãos Etchgoyen foram designados para Mato Grosso. Juarez reativava o Norte. Em agosto, veio o apoio de Borges de Medeiros, resultado do esforço de Oswaldo Aranha. O movimento recebeu a adesão de outros oficiais do Exército. O Tenente-Coronel Pedro Aurélio de Goes Monteiro foi escolhido chefe do estado-maior revolucionário. A eclosão estava preparada para o dia 3 de outubro. Fonte: www.brasilescola.com "Os primeiros boatos que circularam na cidade diziam que o movimento revolucionario rebentara em Bello Horizonte. Succederam-se outras noticias. O agitador Assis Chateaubriand, bem como o Sr. Nelson Paixão, redactor do "Diario da Noite", teriam sido presos. Momentos após, a nossa reportagem era informada que a policia havia effectuado mais a prisão de varios jornalistas pertencentes aos jornaes "Diario da Noite", "O Jornal", "A Batalha", "Diario Carioca" e "A Patria". Em todos os quarteis da cidade, a promtidão era rigorosa. O quartel-general, do mesmo modo, mantinha-se guarnecido por um grande numero de sentinellas. Em varios pontos da cidade viam-se piquetes de cavallaria e a estação da Central do Brasil mantinha-se vigiada por um grande numero de agentes policiaes, que fiscalisavam a entrada e sahida de pessoas. (...)" A Crítica, 4 de outubro de 1930. "Apesar do terrorismo dos fantasiados pela imaginação exaltada de certos derrotistas, o rythmo normal da vida carioca não soffreu alterações de natureza alguma. O mesmo movimento dos dias communs, a mesma calma imperturbavel que é caracteristica não se modificou. A cidade quase não commentou o que os boatos vehiculavam. Nas casa de diversões a concurrencia foi normal. Os cafés e logares publicos apresentavam o aspecto de sempre, algo mais vivo por ser sabbado - dia ordinariamente consagrado a expansões maiores. A Avenida - mostruario da elegancia e da fitilidade do Rio - não se despovoou, nem, ao menos, seu ruidoso movimento envolvente. Não se viam physionomias sobressaltadas, nem se ouviam commentarios reciosos. Estava sob a mais completa calma a cidade, hontem. E, o carioca, generoso, bom, nobre, e respeitador, teve seu somno absolutamente tranquillo." A Crítica, 5 de outubro de 1930. "Deante da situação anormal creadas pelos acontecimentos de Minas Geraes e do Rio Grande do Sul, despertando os appetites de alguns retalhistas inescrupulosos, que pretendiam explorar o povo, o governo da Republica resolveu tomar immediatas e energicas providencias, tendentes a evitar o assalto á bolsa do povo. Apezar das difficuldades de transporte entre os Estados de Minas e Rio Grande, nada justificava o assalto dos "profiteurs" do momento (...)" A Crítica, 8 de outubro de 1930. "A impressão causada no espirito publico pelo manifesto do presidente Washington Luis prova a necessidade de um contacto permanente entre os governantes do paiz. Os moldes da nossa republica isolaram do povo os seus dirigentes. Desse isolamento se aproveitam os exploradores para a interpretação capciosa de certos actos governativos que permaneceriam inattingiveis ao desvirtuamento si a palavra presidencial os defendesse perante a Nação. (...) O presidente Washington Luis - si já tinha a confiança do Brasil que trabalha e deseja prosperar em paz multiplicou, com o seu manifesto, a efficiencia do apoio que a Nação lhe dava. Nada falará melhor do que esse documento sobre a indignidade do golpre desferido contra o Brasil quando os beneficios de um quadriennio honesto e laborioso se reflectiam em todas as classes. A magoa do patriota não diminue, porém, a sua fé. Fortalece-a . Á politica do Rio Grande do Sul coube, para maior sorpreza do administrador probo, o papel de Brutus. A unidade sulina recebeu do governo Washington Luis os maiores auxilios e honrarias. Escolhido para ministro da Fazenda neste Governo, o Sr. Getulio Vargas habilitou-se á presidencia do seu Estado graças ao prestigio que lhe adveio dessa escolha. A sua lealdade é conhecida do paiz. Passando por cima de um documento garantindo a sua colaboração na questão da candidatura presidencial - elle candidatou-se á revelia dos compromissos assumidos. Declarando acceitar o veredictum das urnas como epilogo da sua felonia, elle armou, ou consentiu que se armassem, os seus correliogionarios. Brutus em escala maior, o Sr. Getulio Vargas depois de apunhalar pelas costas o amigo, apunhalou pelas costas o Brasil. (...)" A Crítica, 11 de outubro de 1930. "O termo da intimação, dirigida ao presidente Washington Luis, estava redigido nos seguintes termos: Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1930 - Exmo. Sr. presidente da República - A Nação em armas, de Norte a Sul, irmãos contra irmãos, paes contra filhos, já retalhada, ensanguentada, anseia por um signal que faça cessar a luta ingloria, que faça voltar a paz aos espiritos, que derive para uma benefica reconstrução urgente as energias desencadeadas para a entre destruição. As forças armadas, permanentes e improvisadas têm sido manejadas como argumento civico para resolver o problema politico e só têm conseguido causar e soffrer feridos, luto e ruina, o descontentamento nacional, sempre subsiste e cresce, porque, vencida, não pôde convencer-se de que, o que teve mais força, tenha mais razão. O mesmo resultado reproduzir-se-á como desfecho da guerra civil, a mais vultosa que se viu no paiz. A solução politica, a integridade da Nação, o decoro do Brasil e até mesmo a glória de v. ex. instam, urgem e imperiosamente commandam a v. ex. que entregue os destinos do Brasil, no actual momento, aos seus generaes de terra e mar. Tem v. ex. o prazo de meia hora a contar do recebimento desta para communicar ao portador a sua resolução e, sendo favoravel, como toda Nação livre o deseja e espera, deixar o poder com todas as honras garantidas. (aa.) João de Deus Menna Barreto, general de Divisão, inspector do I Grupo de Região; João Fernandes Leite de Castro, general de Brigada, commandante do 1o DAC; Firmino Antonio Borba, general de Brigada, 2o sub-chefe do EMB; Pantaleão Telles, general de Brigada, e varios generaes e almirantes de que não houve tempo de colher as assignaturas. Pela Avenida Rio Branco corria anormal o movimento. O povo - depois de longa tyrannia e liberto, saltava, pulava, dando expansão á alegria immensa que o empolgava. Automoveis, repletos de militares, em fraternal mistura com o povo, passavam aos gritos de - Viva a Revolução! - Viva João Pessoa! - Viva Getulio Vargas! É quando um carro passa, repleto de elemento civil. Ha um movimento geral de curiosidade. O povo cala-se por instantes. Foi obra de um segundo. Immediatamente, um grito irrompe em todas as bocas: - Mauricio! Era o Mauricio de Lacerda que passava. O grande tribuno, notava-se sem sua phisionomia alegre, transpirando jubilo intenso, estava cansado e mantinha-se ali, com custo porque (talvez effeito dos rudes golpes por que passou nestas duas ultimas semanas) elle estava mais magro, e abatido, physicamente. O povo pediu, em altos brados, que Mauricio, o seu estremecido tribuno, falasse. Mauricio, entretanto, não poude fazel-o. Limitou-se a sorrir, enquanto dirigia um cumprimento ao povo e acenava com as mãos pedindo-lhe calma. Depois, a massa popular que cercava-lhe o auto abriu alas, dando-lhe passagem, aos gritos de: - Viva Mauricio! Viva Getulio Vargas! Viva a Revolução! Pouco atrás do carro em que vinha Mauricio, o povo agglomerava-se, aos gritos, incessantes, de "Viva a Revolução", emquanto acenava com varios pedaços de pannos vermelhos ao ar. Approximámo-nos, e, então, pudemos comprehender a causa do enthusiasmo do povo. Ali estava, parada, a "barata" n. 12.026. No seu interior uma moça gentil e bella rasgava o vestido de côr rubra, para distribuir os pedaços entre o povo. Quizemos falar-lhe, mas foi impossivel, tão compacta era a massa popular que cercava a sympathica brasileira! (...) O povo suburbano, constituido na sua grande parte pelos menos favorecidos da fortuna, explodiu em vibrantes e enthusiasticas manifestações, dando expansões ruidosas ao seu incontido jubilo pela victoria dos ideaes revolucionarios. Os sentimentos de revolta do povo, por tanto tempo suffocados pelos actos da mais torpe prepotencia, romperam tumultuosos, enthusiasticos e delirantes. (...)" A Esquerda, 24 de outubro de 1930. "Neste instante é difficil fixar no papel, no torvelinho da hora historica que a Nação atravessa, as impressões extraordinarias que nos envolvem. O aturdimento da victoria inebria o povo. Defronte á nossa redacção, povo e exercito, povo na sua mais ampla expressão, senhoras e crianças, em verdadeiro delirio, acclamam a liberdade. A Avenida é toda uma visão alucinante. Os aviões cortamn-a sob a vibração das massas. As sirenes atordoam. Em outros pontos, defronte do Paiz e da Noticia as fogueiras improvizadas pelo povo consomem jornaes velhos, livros, escrivaninhas, cadeiras, tudo quanto o povo, no primeiro impeto arrancou de dentro daquelles jornaes atirando para a rua. Pelas ruas desfilam multidões inebriadas. O espetaculo é emocionante. A cidade está sob a impressão de desafogo. Apparecem retratos de Getulio Vargas, em quadros estampados, deante dos quaes o povo prorompe em vivas. Era de causar funda impressão o verem-se senhoras quando mais viva era a agitação distribuirem flores ao povo. Lenços vermelhos, bandeiras vermelhas, um delirio vermelho vermelho empolgou a capital. O povo victorioso explodia em vibrações permanentes. São 11,30. (...) Diário da Noite publica com o jubilo natural o documento abaixo, dictado nesta redacção, á hora em que chegava á Avenida Rio Branco noticia da quéda do governo, pelo capitão Raymundo da Silva Barros, do Corpo de Intendencia, a valorosa corporação que se associou immediatamente á causa do povo. São as seguintes as palavras do valoroso militar que falou ao povo de uma das janellas deste jornal, o primeiro militar que falou sobre o golpe definitivo da Revolução. Pela madrugada de hoje, ás 5,30, os officiaes, general Menna Barreto, Firmino Borba e Leite de Castro e João Gomes Ribeiro Filho, apoiados pelo 1o C/P de São Christovam lançaram um manifesto aos militares da 1a Região, convidando para o pronunciamento militar que fizesse para de uma fez para sempre o modo impatriotico de governar o Brasil. Nesse momento o coronel Bastos, da Intendencia da Guerra, parlamentou com o 1o grupo para saber se se tratava de uma resolução definitiva e não de um embuste. Á adhesão do grupo depuzemos immediatamente o general Xavier de Barros que não oppoz resistencia. Esse official general tinha em seu poder um documento pelo qual lhe haviam sido adiantados para operações 1.000 contos de réis pelo Banco do Brasil. Reuniu-se immediatamente o Conselho de Administração para tomar conta dos dinheiros publicos, sendo presos e desarmados, quando se hasteavam a bandeira brasileira e revolucionaria o coronel Heitor Abrantes e tenente Ravedutti. o 1o de Cavallaria fez a guarda da revolução, reaffirmando o valor patriotico de seus homens que vivavam a causa do povo e mantendo as suas tradições de heroismo, apoiados pelo 1o Grupo de Artilharia Pesada, disposto e prompto a proteger a marcha revolucionaria sobre a capital. São essas as palavras que nos ditou, entre vivas e acclamações o capitão Silva Barros que o povo pediu que falasse e que depois saiu carregado pela multidão para reunir-se aos seus companheiros." Diario da Noite, 24 de outubro de 1930. "Após um periodo de 21 dias de allucinante expectativa e fundas appreensões, os imperativos da alma popular determinaram os memoraveis acontecimentos que culminaram, hontem, nessa apotheose á liberdade coroando a redempção de um povo nobre e altivo, que parecia pequeno porque permanecia de joelhos. Trazendo no peito o fogo sagrado que levou João Pessôa ao sacrificio supremo da vida, abalado pelo enthusiasmo santo que o patriotismo communica a todas as almas bem formadas, o povo carioca saiu hontem para a rua, realizando galhardamente a conquista de seus direitos conspurcados. Vibrando em estos de civismo, delirante de alegria, na qual tomaram parte senhoras e creanças, ao tremular do Pavilhão Nacional a ao aceno dos lenços vermelhos, symbolos e distinctivos da revolução redemptora, soube o povo, usando de suas prerogativas de conscio de seus deveres, dar o merecido castigo a todos quantos tripudiavam sobre a caudal de sangue patricio, generoso e bom que a caricata de um Cesar de papelão desencadeára sobre o solo da Patria. Castigou e purificou a fogo o ambiente emprestado pela covardia inonimavel dos lacaios agachados por traz dos communicados officiaes, supremo escarneo atirado ás faces de um povo, cuja capacidade de soffrimento se esgotou, emfim. E no momento justo em que a Nacionalidade reclamava a sua collaboração decisiva, eil-o que entra em acção vibrando o golpe de misericordia, na tyrannia inconsciente e moribunda. Da sua actuação na jornada gloriosa de patriotismo e redempção, que hoje inicia a sua primeira etapa vitoriosa, damos a seguir detalhados informes. (...) Desde as sete horas da manhã, que a aristocratica Avenida Atlantica, se encontrava em verdadeiro delirio e sob os impulsos incontidos de alegria sem par, que a todos causou a victoria da revolução brasileira. Nas immediações do Forte de Copacabana - o tradicional forte da immortal epopéa dos dezoito heróes - a massa popular era consideravel. Ali, como em todo o percurso da elegante praia, o enthusiasmo dos moradores, attingiu ao auge, e, á passagem de carros conduzindo praças revolucionarias, todas com um laço vermelho no fuzil ou na farda, o povo prorompia em vivas ardorosos ao "Brasil Livre" e á "Revolução Victoriosa". Senhoras e crianças, populares e militares viveram horas da mais completa confraternização. Foi um brilhante espetaculo, o da manhã de hontem, na aristocratica avenida, espetaculo que se prolongou até á noite. O povo na sua incontida expansão de vindicta contra os conspurcadores de sua liberdade, praticou varias depredações. Os mais sacrificados com a ira do povo foram os jornaes que apoiaram o governo derrubado. Assim as sédes dos jornaes "A Noticia", "A Critica", "Vanguarda", "Gazeta de Noticias", "A Ordem", "O Paiz, "Jornal do Brasil" e "A Noite" foram violentamente alvejados. Destes, as redacções do "Jornal do Brasil", "A Noite" e "O Paiz" e as officinas da "Gazeta de Noticias", chegaram a ser incendiadas, sendo necessario o comparecimento do Corpo de Bombeiros para abafar as chammas. O edificio da "A Noite" ficou damnificado até ao 4o andar, alem das avarias da redacção. Enquanto isso, o povo victoriava "A Esquerda" e "A Batalha" e outros orgãos das sympathias populares eram victoriados. (...) A Batalha, 25 de outubro de 1930. "Triumphou hontem em toda a linha, pela intervenção dos generaes que intimaram o Presidente da Republica a deixar o poder, triumphou desde as primeiras horas nesta capital e pode-se considerar victoriosa em todo o paiz, a revolução desencadeada por Minas Geraes, Rio Grande do Sul, Parahyba e elementos de outros Estados, contra o governo da Republica. Movimento de reivindicações legitimas, necessarias á normalização do paiz, perturbado pelas injustiças do poder - foi uma revolução eminentemente civil, dos elementos politicos e populares dos governos estaduaes irmanados com o povo, a que as forças armadas do Exercito e da Marinha, confraternizadas com a Nação, como sempre, em todas as phases graves da nossa historia, déram o concurso indispensavel a uma decisão mais rapida. Minas Geraes teve, por seu governo e pelo seu povo, um papel preponderante nesta grande jornada civica. Ainda ao Rio Grande do Sul e a Parahyba, foi o nucleo central da resistencia e da offensiva contra o governo que, transviado da sua missão, tendo enveredado para os caminhos da prepotencia e da injustiça, interveiu nos dissidios politicos, empregando em favor de um grupo todos os recursos que ao poder foram dados para garantia de todos, para tranquillidade e progresso da Nação. É cedo nesta primeira hora, de paixões ainda candentes, é cedo para julgar definitivamente da conducta que entendeu observar o ex-presidente, homem honrado, de qualidades sem duvida apreciaveis, probidade, caracter e patriotismo, mas violento e obstinado, que a ninguem ouvia, ou antes só obedecia ás inspirações da sua vontade discrecionaria. Não lhe falaram com franqueza seus ministros e conselheiros, ou não os escutou. De que a norma por elle adoptada no exercicio da sua magistratura, que desviou de sua verdadeira missão pacificadora - prova a revoluçÃo, ora victoriosa em todo o paiz e nesta Capital, por entre demonstrações de regosijo popular bem maiores do que as que assignalaram o advento da Republica. É o regimen que sahe victorioso desta provação, a que o paiz inteiro se associou orientado e dirigido por um pugilo de patriotas destemerosos civis e militares, cujos nomes estão já inscriptos no kalendario republicano como regeneradora de uma época, descortinando o futuro. Getulio Vargas, Olegario Maciel, Antonio Carlos, Arthur Bernardes, Oswaldo Aranha, Juarez Tavora, e seus bravos companheiros de armas, Flores da Cunha, João Neves, e tantos outros heroes, civis e militares, desta jornada de altivas repulsas e corajosas affirmações, com os generaes e almirantes que hontem déram o golpe final da campanha, assumiram grandes compromissos com a Nação. Estamos seguros de que vão abrir para o Brasil um novo acto de garantias effectivas, de trabalho, de progresso, e civilização. Liberdade e Justiça sejam o lemma desse periodo historico, que se abre para a nossa patria, deante do olhar vigilante do continente e do mundo. Liberdade, autoridade, direito, justiça - tudo isso temperado pela equidade, emanação da bondade constructora. Bondade que desarma e pacifica, fundando os alicerces do edificio social no coração do povo, fraternisado e feliz. Viva a Republica! Viva o Brasil unido e forte!" A Patria, 25 de outubro de 1930. "A população do Rio de Janeiro sabe que o edificio da A Noite foi assaltado, que as suas officinas foram quasi totalmente destruidas, que os escriptorios e empresas installados no arranha-céu foram roubados, mas ainda não conhece os autores dessas brutalidades, que surprehenderam a todos, e ninguem attribuiu, nem poderia logicamente attribuir, ao generoso, ao culto povo carioca. As attitudes da A Noite no momento que passava não explicariam taes crimes, que tiveram origem no odio e na inveja, procurando aproveitar-se de uma situação anormal para destruir um jornal em cujas columnas têm amparo todos os desgraçados e que despende uma média mensal de trinta contos para soccorrer os necessitados que batem á sua porta. O jornal que tem aberto em favor dos humildes as subscripções mais vultosas, que dá conta minuciosa, aos doadores dos donativos que lhe são entregues, que tem collocado nos hospitaes milhares de enfermos pobres, que levanta das ruas os infelizes sem tecto, que affronta os poderosos na defesa dos fracos, nunca seria, e não foi atacado pelo povo a que se devotou. Conforme declarações espontaneamente feitas deante das novas autoridades, alguns communistas, auxiliados por individuos despedidos da A Noite, no momento em que se atacava O Paiz, conseguiam arrastar os elementos communistas e grupos de individuos fluctuantes, sem classificação,, nem idéas, para atiral-os contra a nossa folha, cujos empregados, em grande parte, como adiante demonstraremos, estavam nas fileiras da revolução, enfrentando os corpos que ainda não se haviam definido contra o governo. Na A Noite, á hora do assalto, estavam, apenas, um dos directores da Sociedade Anonyma, o gerente, o redactor-chefe, alguns empregados do escriptorio e parte do pessoal das officinas. Quando os aggressores se aproximaram, suppondo-os revolucionarios, recebemol-os como amigos janellas e portas abertas. Um delles, porém, destacando-se exigiu que arriassemos a bandeira nacional, hasteada no terceiro pavimento, gritando-nos: - Arrie a bandeira burgueza! Outro exigiu: - Levanta a bandeira vermelha! Fizemos então baixar as portas exteriores de aço. Uma dellas foi arrebentada com auxilio de um caminhão. Arrancada de nosso fachada a bandeira do Brasil, foi pisada pelos communistas, que a rasgaram, levando um de seus pedaços como um trophéo, a redacção do "Diario da Noite", como noticiou esse vespertino. Assistimos depois á invasão do nosso edificio e á depredação do nosso material. Pensamos no primeiro momento que soffriamos, apenas, a "revanche" do communismo e só mais tarde viemos a saber que outros elementos por despeito e inveja tinham-se reunido aos subversores da sociedade. (...)" A Noite, 4 de novembro de 1930. As Ultimas Informações Sobre O Movimento Subversivo De Minas Geraes e Rio Grande - Foi Decretado O Estado De Sitio Para Minas, Rio Grande, Parahyba, Districto Federal E E. Do Rio (A Critica) As Tropas Federaes Estão Senhoras Da Situação - Reina Completa Calma Em Todo O resto Do Paiz - Todas as Altas Patentes Do Exercito Solidarias Com O Governo (A Critica) Como Será Feito O Abastecimento De Generos Alimenticios Á Cidade - O Governo, Attento, Ao Bem Estar Publico, Toma Energicas E Efficazes Providencias Para O Abastecimento De Generos Á População (A Critica) Num Gesto Que Bem Define A Sua Mentalidade E Tanto Ennobrece Os Seus Sentimentos, O Povo Da Capital Da Republica Acaba De Vibrar O Golpe Decisivo Nesse Montão De Miserias E Sordices Que Era O Governo Que Acaba De Cair, Afogado Na Propria Ignominia. Precipitando Os Acontecimentos E Dando A Victoria Á Causa Sagrada Da Patria, O Povo Carioca Pôz Um Dique, Á Caudal De Sangue Desencadeada Pelos Moribundos E Avultou, Aureolado, No Coração Do Brasil - Salve Povo Carioca! (A Esquerda) Viva O Brasil ! Viva A Republica Nova E Redimida ! Os Ideaes Da Patria Venceram ! (Diario da Noite) O Sr. Washington Luis Que, Diziam Os Seus Amigos, Era Destemido E Bravo, Teimoso E Valente, capaz De Morrer No Seu Posto, Sem Recuar, Teve Medo Do Povo. Teve Medo E Até Ás 14 Horas De Hontem Permanecia No Palacio Guanabara, De Onde Teimava Em Não Sair, Porque O Povo Estacionava Nas Immediações. Doloroso Epilogo De Uma Farça; Triste Fim De Um Regabofe Indecoroso Que Se Esvae Por Entre Arrepios De Pavor E Temores De Medo... (A Batalha) Alliando-se Á Republica Triumphante, Os Generaes De Terra E Mar Apressam A Victoria. O Povo Carioca, Numa Confraternização Commovedora, Tomou Parte Na Arrancada Final Em Que As Forças Armadas Depuzeram O Governo Que Nos Infelicitava E Desagradava. O Ex-Presidente Foi Conduzido, Preso, Para O Forte De Copacabana. A Victoria Da Revolução (A Patria) As Attitudes Da "A Noite" (A Noite) Fonte: www.uol.com.brOs Antecedentes
AS MANCHETES
Brutus (A Critica)