1.5.13

30 de abril de 1981: O atentado no Riocentro



por: Lucyanne Mano

Duas bombas explodiram no Riocentro quando era realizado um show em homenagem ao 1º de Maio, com a participação de vários cantores de música popular brasileira.

A primeira bomba explodiu no interior do automóvel Puma cinza metálico RJ - 0297 que manobrava na pista do estacionamento enquanto, a 120 metros de distância, a cantora Elba Ramalho abria o show promovido pelo Centro Brasil Democrático. Uma segunda bomba explodiu 10 minutos depois, na casa de força do Riocentro. Uma terceira bomba que não explodiu foi recolhida pela polícia no automóvel destruído.
Os passageiros do Puma eram o Sargento Guilherme Pereira do Rosário, que morreu na hora, e o capitão Wilson Luis Chaves Machado, que ficou gravemente ferido. O carro estava cheio de explosivos e ficou parcialmente destruído. Os policiais encontram e recolheram partes dos corpos dos seus ocupantes em pontos distantes mais de 50 metros do carro.

A área teve sua faixa de isolamento ampliada e o policiamento foi duplicado, tendo sido proibido fotografar a qualquer distância do local. A intenção dos policiais era evitar que os fotógrafos e as câmeras de televisão documentassem o ocorrido. O Exército assumiu a responsabilidade de investigar o atentado.

Em 1974, Ernesto Geisel havia sinalizado, através de discursos e declarações, que iniciaria a abertura política de forma lenta, gradual e segura. Os civis e militares contrários à redemocratização iniciaram então um processo violento contra os grupos que faziam oposição ao regime militar. Foram vários os casos de tortura, assassinatos, bombas, e execuções por esquadrões da morte.

A bomba explodiu no governo
A bomba arrebentou com a credibilidade do governo. O Exército assumiu as investigações e, contra os laudos periciais que indicaram que uma das bombas explodira no colo do sargento, concluiu que os dois militares, em vez de autores do atentado, teriam sido vítimas de um ato terrorista.

Foi realizada uma nova investigação, que não respondeu à principal pergunta: quem mandou explodir a bomba no Riocentro e até que ponto o conhecimento desse atentado subiu a escala hierárquica das Forças Armadas.

Fritz Utzeri e Heraldo Dias desmontam versão oficial
A dupla de jornalistas Fritz Utzeri e Heraldo Dias preparou um impecável trabalho e pela primeira vez contestava-se diretamente a versão do Exército, de que a bomba teria sido deixada por militantes da esquerda no Puma usado pelos seus dois militares.

A apuração dos jornalistas começou logo no dia seguinte à explosão, quando eles foram com o fotógrafo Rogério Reis, até um terreno em frente a 16ª Delegacia, na Barra da Tijuca, para onde havia sido levado o Puma, em busca de reunir a maior riqueza de detalhes possíveis, registrando o carro de todos os ângulos. Em uma série de reportagens, Fritz e Haroldo levaram ao extremo sua capacidade investigativa: denunciaram provas forjadas, questionaram laudos e chegaram a reconstituir as circunstâncias da versão oficial, não hesitando em confeccionar a bomba. O trabalho culminou com a grande reportagem seria publicada no dia 2 de julho daquele mesmo ano: “Teste mostra que seria difícil não ver bomba no Puma”.

A série de reportagens rendeu ao Jornal do Brasil não apenas o Prêmio Esso de Jornalismo e o Prêmio Vladimir Herzog. E foi decisiva junto à opinião pública.
Fonte: Jblog