Herói de brasileiros, uruguaios e italianos, o general segue inspirando livros e filmes que o tornaram símbolo da luta pela unificação da Itália
Garibaldi e sua esposa, Anita, defendendo Roma em 1849, ilustração, Tancredi Scarpelli, 1929-1932
por Claudia Bojunga
O italiano Giuseppe Garibaldi (1807-1882) lutou em ambos os lados do Atlântico, conseguindo um feito poucas vezes repetido: construir uma imagem de herói em dois continentes. Desvendar os caminhos que levaram esse italiano nascido em Nizza (hoje Nice, na França) a tornar-se, ainda em vida, um mito por feitos tanto na Europa quanto na América do Sul e cuja presença no imaginário de tantos povos ainda pulsa mais de um século depois de sua morte é tarefa de dois livros recém-lançados, além de um filme que estreia este mês.
A biografia do jornalista Maurício Oliveira, Garibaldi - Herói dos dois mundos (editora Contexto, R$ 39,90, 208 páginas) traça um amplo panorama dos feitos do general, desde o período em que morou no nosso continente até sua volta à terra natal, onde exerceu papel decisivo nas lutas pela unificação italiana. Já Garibaldi na América do Sul (Boitempo Editorial, R$ 57, 296 páginas), do também jornalista Gianni Carta, concentra-se em decifrar a construção da imagem épica de Garibaldi, forjada por jornalistas e escritores.
RIO DE JANEIRO (1836) Giuseppe Garibaldi veio para o Brasil em fuga. Havia participado de um dos planos de insurreição da organização Giovine Italia (Jovem Itália), mas acabou descoberto e condenado à morte pelo reino de Piemonte-Sardenha. O idealista Garibaldi aderiu à Jovem Itália por acreditar em seu programa, que propunha a criação de uma república livre, igualitária, unificada e independente, além de expulsar estrangeiros da península. Deixou sua terra, mas não abandonou seus ideais.
Depois de longa viagem de navio, em 1836, Garibaldi chegou ao Rio de Janeiro. Tão logo tomou conhecimento da Revolução Farroupilha, decidiu se juntar aos rebeldes. “Para Garibaldi, a efervescência política no Brasil se explicava pelas mesmas razões vistas na Europa: o descontentamento com a monarquia e a expectativa de que a república fosse implantada para dar início a um novo tempo, de maior igualdade e esperança para a população”, explica Oliveira.
Mas a maioria dos líderes sulistas hesitava em pontos como o separatismo e o fim da monarquia, observa Gianni Carta. O autor cita o jurista e historiador Raymundo Faoro, para quem “o separatismo não passava de tática”. A reclamação dos rio-grandenses se concentrava mesmo na cobrança, pelo governo central, de impostos excessivos sobre seus produtos: o trigo, a erva-mate e, principalmente, o charque. A taxação inviabilizava as exportações e prejudicava a venda desses itens para outras províncias brasileiras.
Ao participar da Revolução Farroupilha, Garibaldi manteve-se alheio a interesses comerciais. Ele queria, sobretudo, lutar contra a “opressão do Império”. Data dessa época a publicação da primeira grande reportagem que exalta seus feitos. O texto saiu em 1839 no jornal O Povo, periódico oficial da República Rio-Grandense e relatava um confronto entre os insurgentes e os soldados a serviço do império, classificados de “mercenários do governo brasileiro”.
Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/giuseppe_garibaldi.html