Paleontólogos descobrem mosquito de 46 milhões de anos com sangue preservado dentro do abdômen. O fóssil, único no mundo, dependeu de condições muito raras para se formar.
Por: Sofia Moutinho
No ventre do pequeno mosquito fóssil de aproximadamente 1 cm, paleontólogos encontraram sangue preservado durante 46 milhões de anos. (foto: Tim Rose/ NMNH)
No filme Jurassic Park, cientistas clonam um dinossauro a partir do DNA do seu sangue, encontrado no abdômen de um mosquito preservado em âmbar. Apesar de parecer factível, a estratégia tem vários furos. O principal deles era que até hoje nunca havia sido encontrado um fóssil de mosquito pré-histórico com sangue na barriga. A raridade, no entanto, acabou de ser descoberta por paleontólogos do Museu de História Natural de Washington, nos Estados Unidos.
Dentro do abdômen de um fóssil de mosquito do gênero Culiseta de 46 milhões de anos, os pesquisadores identificaram ferro e heme, substância presente nos glóbulos vermelhos que possibilita o transporte de oxigênio no sangue. Os dois ingredientes são a prova de que o material avermelhado visto a olho nu no ventre do inseto é de fato sangue.
Antes da descoberta, o mais antigo registro de mosquito comprovadamente hematófago (que se alimenta de sangue) era um espécime do gênero Culex de 45 milhões de anos encontrado preservado em âmbar na República Dominicana. Dentro do inseto, havia parasitas da malária aviária, mas nada de sangue.
“Infelizmente, não é possível isolar DNA desse fóssil nem de nenhum outro do mundo”
“A importância desse trabalho é a identificação do componente sanguíneo heme”, diz Dale Greenwalt, principal autor do estudo, publicado esta semana na PNAS. “Isso demonstra que certas moléculas orgânicas complexas podem ficar inteiras mesmo depois de 46 milhões de anos.”
Contrariando expectativas dos fãs de ficção, não foi encontrado nenhum vestígio de DNA no sangue. O pesquisador explica que não esperava mesmo encontrar material genético, pois este se degrada depois de algumas centenas de anos. “Infelizmente, não é possível isolar DNA desse fóssil nem de nenhum outro do mundo”, afirma. “Muito menos clonar um dinossauro desse modo.”
Sem o DNA, não é possível saber que animal contribuiu para a última refeição do mosquito. Pelo estudo dos hábitos alimentares de espécies semelhantes, Greenwalt aponta que possivelmente foi uma ave e descarta a chance de ter sido um dinossauro, pois esses animais foram extintos cerca de 20 milhões de anos antes da morte do mosquito.
Raridade é pouco
O fóssil do mosquito foi encontrado há 30 anos preservado em óleo de xisto petrificado na bacia de Kishenehn, em Montana (EUA), por uma estudante de mestrado que analisava a geologia local. A peça foi doada ao museu há dois anos junto com outros 36 mosquitos fossilizados que foram analisados por Greenwalt e equipe.O mosquito foi preservado em óleo de xisto petrificado. Outros 36 mosquitos foram encontrados na região, mas nenhum deles tinha sangue no ventre. (foto: Tim Rose/ NMNH)
O pesquisador, que há cinco anos escava a região durante todo o verão e já coletou mais de mil fósseis de lá, ressalta a raridade do achado.
“As chances de que um mosquito com barriga cheia não se desintegre antes de ser fossilizado são infinitamente mínimas”
“O abdômen de um mosquito que se alimentou de sangue é como um balão pronto para explodir, é muito frágil”, explica. “As chances de que um mosquito com barriga cheia não se desintegre antes de ser fossilizado são infinitamente mínimas”, analisa. E completa: “Para nossa surpresa, esse inseto tinha acabado de se alimentar quando morreu e foi parar gentilmente em uma camada de sedimentos sem que seu abdômen se rompesse.”
Com sangue ou sem sangue, fósseis de mosquitos em si são raros. Apesar de os insetos serem a classe mais abundante de animais na Terra, até hoje foram descritas apenas 25 espécies extintas de mosquitos. Pouco, se comparado com as mais de 700 espécies de dinossauros já encontradas.
Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2013/10/ultima-refeicao