8.8.10

Camarada Ernesto Che Guevara

por José Alberto Gonçalves

Ele abandonou a medicina, a família e seu país para conhecer a América e os americanos. Acabou se transformando num guerrilheiro e lutando pela independência em uma pequena ilha do Caribe, da qual pouco sabia. Morto antes de completar 40 anos, tornou-se um dos símbolos do século 20

O muro de Berlim caiu em 1989, levando junto a União Soviética e uma penca de regimes do “socialismo real”, mas Ernesto Che Guevara sobreviveu. Argentino de nascimento, cubano por adoção e latino-americano por vocação, o jovem que se tornou guerrilheiro e a mais influente figura daRevolução Cubana, só abaixo de Fidel Castro, foi executado em 9 de outubro de 1967 por uma unidade do Exército boliviano treinada pela CIA, a agência de inteligência do governo dos Estados Unidos.

Che deixou a medicina de lado para lutar por justiça social e se transformou no personagem políticomais célebre da América Latina no século passado. Virou ícone universal de rebeldia e desprendimento, alimentando o imaginário e a esperança de jovens, politizados ou não, e entrou para a galeria dos imortais do século 20, ao lado de Mahatma Gandhi, Martin Luther King e John Lennon.

Nascido em14 de junho de 1928, em Rosário, na Argentina, filho de Ernesto Guevara Lynch e Célia de la Serna, desde pequeno presenciou conversas de seus pais com militantes políticos progressistas. Porém, a política não foi a maior paixão de Ernesto, pelo menos não até sua passagem pelaGuatemala, em 1954.

Até então, o que lhe dava maior prazer era viajar e conhecer diferentes culturas, conversar com a gente simples e ajudar pobres e doentes com suas noções de medicina, sempre com pouquíssimo dinheiro no bolso e sem ligar para a aparência. Foi pensando nisso que deixou a faculdade – para desespero de dona Célia – e partiu em sua primeira grande jornada, em janeiro de 1952. De moto, ônibus e trem, dormindo pouco, comendo mal, sofrendo com ataques de asma, em oito meses ele conheceu grande parte da América do Sul. Ernesto escreveu em seu diário: “A divisão da América em nacionalidades incertas e ilusórias é completamente fictícia”.

Esse sentimento o acompanhou para sempre. Voltou à Argentina em setembro para concluir o curso demedicina, mas no ano seguinte partiria novamente. Agora não haveria retorno. Passou pela Bolívia, Equador e Costa Rica, entre outros países, até alcançar o México (veja mapa na página 39).

Ali, aonde chegou em 1954, Ernesto viveu um período de ricas e intensas experiências. Sempre precisando de dinheiro, ele trabalhou como fotógrafo durante os Jogos Pan-Americanos, em março de 1955. O emprego fixo e o salário certo deram-lhe alguma estabilidade. Ele trabalhou em hospitais, publicou duas pesquisas sobre alergia – sua especialidade no campo médico – visitou pirâmides e templos maias em Palenque, Chichén-Itzá e Uxmal e fotografou bastante. Em agosto de 1955, Ernesto se casou com a peruana Hilda Galdea, com quem teve sua primeira filha, Hilda Beatriz Guevara.

Mas a vida em família não aquietou seu espírito. Na Cidade do México, ele conheceu Fidel Castro e seu irmão Raúl, líderes revolucionários cubanos que estavam recrutando simpatizantes para uma ação militar contra a ditadura em seu país. Com eles, Ernesto partiu para um treinamento de guerrilha, onde praticou tiro ao alvo, escaladas e condicionamento físico.

Novembro de 1956. É chegada a hora. Che Guevara embarca no Granma, um iate a motor de 12 metros, com outros 81 homens, liderado por Fidel. Seu destino é Cuba. Seu objetivo é a revolução. Desembarcam na praia de Las Coloradas e por pouco Che não é morto no confronto com o exército do ditador Fulgencio Batista. Uma bala de fuzil o atinge no pescoço, mas ele está entre os 15 sobreviventes que seguem para Sierra Maestra, onde se reagrupam e iniciam a guerrilha.

Na ilha, ele começa sua vida de guerrilheiro como médico, mas depois é alçado ao posto de comandante de uma das colunas do exército rebelde. Torna-se uma das principais figuras do grupo, ao lado de Fidel Castro, Raúl e Camilo Cienfuegos.

Após liderar a decisiva batalha de Santa Clara, Che entra em Havana nos primeiros dias de janeiro de 1959 e é saudado como um dos responsáveis pela vitória do movimento. Nesse mesmo ano, Che casa-se pela segunda vez, agora com a companheira de guerrilha Aleida March, com quem viria a ter dois filhos e duas filhas. Ao lado de Raúl, passa a ser o principal elo com o Partido Comunista e trabalha para que a revolução cubana adote o caminho do socialismo, o que aconteceria pouco mais de dois anos depois da vitória do movimento guerrilheiro.

Os anos pós-revolução foram de muito trabalho. Che ocupou vários cargos no primeiro escalão do novo governo e negociou acordos comerciais e militares no exterior para romper o isolamento da ilha, que amargava as conseqüências do embargo econômico imposto pelos EUA. Ficou conhecido por seu humor cortante e conduta severa, austera, incorruptível e disciplinada.

Maior ideólogo do internacionalismo de Cuba, umas das principais marcas da revolução cubana, Che pregava que a viabilidade do socialismo na ilha dependia de relações com nações socialistas baseadas na cooperação mútua, incluindo o apoio militar às guerrilhas do Terceiro Mundo.

Algumas biografias de Che apontam que ele e Fidel entraram em rota de colisão, em meados da década de 60. Che queria levar a revolução além das fronteiras da ilha e criticava os soviéticos por não prestarem ajuda a guerrilhas esquerdistas no continente. Fidel, muito mais pragmático e interessado em consolidar o socialismo em Cuba, precisava do apoio financeiro e logístico da União Soviética. Sua filha Aleida Guevara March, hoje com 42 anos, médica alergista em Havana, contesta essa interpretação. “Os setores que tentam utilizar supostas divergências entre o Che e Fidel não são outros senão os historicamente utilizados pela CIA, há muito tempo, com o objetivo de desacreditar a figura do homem que ainda está vivo e demonstrando as falsidades e os crimes do sistema capitalista”, diz Aleida.

Che deixou Cuba em 1965. Partiu em segredo para a África e, em seguida, para a Bolívia, onde foi morto a tiros, em outubro de 1967. Trinta anos depois, seus restos mortais foram encontrados em uma vala próxima do aeroporto de Vallegrande, no meio da selva boliviana, e levados para Cuba, onde estão enterrados.

Dez coisas que você não sabe sobre Che Guevara

1. Argentina, 1952 - MOCHILEIRO DA AMÉRICA

No início de 1952, antes de iniciar o último período do curso de medicina, Ernesto Guevara de la Serna estava insatisfeito. Sentia que precisava conhecer melhor as pessoas de quem iria tratar pelo resto da vida. Sentia uma inquietação que o fazia querer ir mais longe, muito além de sua cidade, muito além da Argentina. Ernesto tinha um parceiro em seus anseios: Alberto Granado. Era dele a motocicleta que chamavam de La Poderosa – uma Norton de 500 cilindradas –, na qual partiram, em janeiro.

Ernesto levava uma mochila, saco de dormir, um cobertor e uma sacola com mantimentos. A namorada Chichina lhe deu 15 dólares para que lhe comprasse um lenço nos Estados Unidos. A moto só agüentou até o Chile, onde foi abandonada, sem freios. O dinheiro acabou em março e ele passou a depender de quem lhe desse comida, carona e abrigo. Mas foi adiante.

Ernesto não era, então, um revolucionário. Era um jovem incomodado com a pobreza e com as desigualdades à sua volta. Visitou hospitais na Bolívia e ajudou em um leprosário na Amazônia peruana.

No Chile, ao visitar um asilo e conhecer uma senhora asmática, anotou em seu diário: “A pobre dava pena, respirava-se no seu cômodo esse cheiro azedo de suor concentrado e patas sujas, misturado à poeira de umas cadeiras, única mobília da casa. Até quando continuará essa ordem de coisas baseada num absurdo sentido de casta é algo que não sei responder, mas é hora de os governantes dedicarem menos tempo à propaganda das coisas boas de seu regime e mais dinheiro para financiar obras de utilidade social”.

2. Guatemala, 1953 - GOLPE E REVOLUÇÃO

Quando Guevara chegou à Guatemala o governo de Jacobo Arbenz tentava mudar o país, implementando a reforma agrária e garantindo direitos trabalhistas aos operários. O bom relacionamento de Arbenz com a esquerda fez da Guatemala o destino predileto de perseguidos políticos de toda a América. Ernesto apreciava o clima progressista que se vivia naquele momento e se aproximou de militantes socialistas, principalmente de um grupo cubano de exilados, conhecidos como moncadistas.

A situação no país, no entanto, esquentou. Arbenz irritou latifundiários e grandes empresas, como a United Fruit, multinacional americana, e passou a ser pressionado para renunciar. Em 28 de junho de 1954, a capital foi bombardeada por Honduras, com apoio dos Estados Unidos.

Guevara refugiou-se na embaixada argentina e, em carta enviada à sua mãe, criticou Arbenz e mostrou sua nascente veia revolucionária: “Ele podia ter dado armas ao povo e não quis, e o resultado foi esse”.

3. México, 1955 - ERNESTO E FIDEL

Fidel Castro chegou ao México em junho de 1955, junto com seu irmão Raúl e outros dissidentes cubanos, com o intuito de organizar a luta armada em Cuba. Eram conhecidos como moncadistas por terem participado do ataque ao quartel de Moncada, em Santiago de Cuba, em 1953, na tentativa de derrubar a ditadura de Fulgencio Batista. Fidel permaneceu preso em Havana até maio de 1954. Foi anistiado e fugiu.

Ernesto conheceu Fidel em julho de 1955 e, menos de um ano depois, deixou o trabalho em hospitais para se integrar ao grupo. Como médico do exército rebelde, participou do treinamento de guerrilha no Rancho San Miguel, a cerca de 55 quilômetros da capital mexicana, e por causa disso foi detido e ficou 57 dias preso. Foi nesse período que Ernesto enviou uma carta à sua mãe, incorporando o Che – apelido dado a ele pelos amigos cubanos – à sua assinatura.

Che poderia ter ficado menos tempo preso se agisse como Fidel, que negou as acusações de conluio com comunistas cubanos e mexicanos. Ao contrário, ele admitiu ser comunista e ainda tentou convencer os militares mexicanos da justeza de sua luta revolucionária. Até hoje Fidel costuma comentar o episódio para exemplificar a honestidade sem limites do amigo.

4. Santa Clara, Cuba, 1958 - O GRANDE ROUBO DO TREM

O avanço da guerrilha liderada parecia irrefreável no final de 1958. Para seguir rumo a Havana, no entanto, era preciso tomar Santa Clara, o principal entroncamento de transportes e comunicações da ilha. Com apenas 340 homens para enfrentar as tropas do Exército apoiadas por aviões e tanques, a estratégia de Che era tomar um carregamento de armas que chegaria à cidade em 29 de dezembro. Os guerrilheiros sabotaram os trilhos e o trem descarrilou.

“Os homens eram tirados com coquetéis Molotov do trem blindado, que se convertera em um verdadeiro forno”, escreveu Che. Os soldados se renderam, entregando um arsenal de 600 fuzis, 1 milhão de cartuchos, dezenas de metralhadoras, um canhão de 20 milímetros, morteiros e bazucas.

Finalmente, eles estavam prontos para Havana.

5. Havana, 1959 - PAREDÃO

No início do ano, o calor da tomada de Havana e dos combates que se seguiram não arrefecera. Em meio à incerteza quanto ao triunfo do movimento socialista em Cuba, discutia-se o que fazer com os prisioneiros que haviam defendido o governo de Batista, o ditador deposto. Eram militares acusados de tortura, crimes comuns e execução de rebeldes.

Che não escondeu sua posição sobre o assunto. Para ele, a revolução só triunfaria se todos fossem julgados e pagassem as penas que recebessem. Ele defendia a execução dos condenados. E assim foi.

Em La Cabaña – uma antiga fortaleza construída pelos espanhóis no século 18 –, em janeiro de 1959 foram fuziladas dezenas de pessoas, no que ficou conhecido como “El Paredón”. Até 1960, entre 200 e 700 pessoas foram mortas. Em Che Guevara: A Vida em Vermelho, o escritor mexicano Jorge Castañeda escreveu: “Nem se tratou de um banho de sangue, nem se exterminaram pessoas inocentes. Depois dos excessos de Batista, e em vista da exacerbação das paixões em Cuba, é até surpreendente que a quantidade de execuções tenha sido tão pequena”. Mas até hoje os cubanos contrários ao regime de Fidel citam El Paredón como um assassínio indiscriminado e culpam Che por ele.

6. Outubro de 1962 - A CRISE DOS MÍSSEIS

Che era a favor da presença de mísseis soviéticos em território cubano. De fato, ele participou ativamente do acordo militar com o governo soviético que, em julho de 1962, instalou armas nucleares em Cuba, a 150 quilômetros do litoral da Flórida. Para ele, a presença dos mísseis protegeria a ilha de uma invasão.

O presidente americano John Kennedy deu um ultimato aos soviéticos para retirarem as armas. Caso contrário, ameaçava retaliar. No dia 28 de outubro, Kruschev concordou em levar os mísseis de volta. Che e Fidel sentiram-se traídos.

Foi o mais próximo que o mundo chegou da uma guerra nuclear.

7. Congo, 1965 - O DESAPARECIMENTO DE CHE

Em 1965, correu a notícia, primeiro em Cuba e depois na imprensa mundial, que Che estava preso em um hospital. Semanas depois, novo boato: ele teria vendido segredos militares de Cuba e desertado. As falsas informações procuravam explicar um fato concreto: Guevara estava desaparecido. E permaneceria assim durante quase oito meses.

Na verdade, Che havia partido para a missão mais secreta da Revolução Cubana. Tão confidencial que só 25 anos depois – em 1990 – foi totalmente confirmada por Fidel Castro. O segredo guardado por tanto tempo era a participação de Guevara – e do governo cubano – na guerrilha na República Democrática do Congo (ex-colônia belga) entre abril e novembro daquele ano. Lá, Che e cerca de 70 cubanos voluntários, financiados por Cuba, juntaram-se ao grupo rebelde local. O objetivo era reinstituir o regime nacionalista de esquerda de Patrice Lumumba, morto em janeiro de 1961.

Os cubanos enfrentaram várias dificuldades, não conseguiam sequer compreender os dialetos locais. Quando perderam o apoio da Tanzânia, os congoleses desistiram da luta. Che anotou em seu diário: “Esta é a história de um fracasso”.

8. Havana, 1966 - TIO RAMÓN

“Mamá, acho que esse senhor está apaixonado por mim”, disse Aliusha a sua mãe Aleida após beijar o homem que conhecia como tio Ramón. Ao ouvir a menina, então com 5 anos, os olhos do velho se encheram de lágrimas. Aliusha era a filha mais velha de Aleida e Ernesto Guevara.

Tio Ramón era Ramón Benítez. E Ramón Benítez era Che Guevara. O disfarce havia sido produzido pelo governo cubano, que criou identidades falsas, nos anos de 1965 e 1966, para que Che pudesse permanecer incógnito em Cuba – bem como entrar e sair do país – e assim poder planejar e executar seu plano de fomentar movimentos de guerrilha socialista pela África e pela América. Ramón era um homem de meia-idade, na faixa dos 50 anos. O disfarce exigiu que Che retirasse boa parte dos cabelos e usasse óculos de aros grossos e dentes postiços.

Foi um dos momentos mais difíceis de Che em toda a sua vida. Como pai, sofreu por estar enganando as crianças. Mas não lhe restava outra opção. Era a única forma de vê-las. Tudo precisava permanecer em sigilo máximo. O medo de espionagem era enorme e se temia que, caso descobrissem que Che sairia de Cuba, ele fosse perseguido e morto.

9. Bolívia, 1966-1967 - PALAVRA FINAL

“Continuamos sem qualquer contato ou esperança de estabelecê-lo em futuro próximo. Continuamos sem a colaboração dos camponeses.” Numa das últimas anotações em seu diário, no final de setembro de 1967, Ernesto antevê o fracasso de sua tentativa de estabelecer um focoguerrilheiro na Bolívia. À frente de um grupo de apenas 17 homens, na região de rio Nancahuazú, no meio da selva boliviana, Guevara estava magro, faminto, praticamente desarmado e cansado de fugir do Exército, que o perseguia havia meses.

Em outubro, o grupo foi cercado pelos soldados bolivianos. Sem sua carabina M-2, perfurada por uma bala, e tendo perdido o carregador de sua pistola, Che foi alvejado com um tiro na perna e tentou fugir, mas foi avistado pelo sargento Bernardino Huanca, que o capturou. Ernesto teria dito ao militar: “Não atire. Eu sou Che Guevara. Valho mais para você vivo do que morto”.

Depois de passar a noite detido, Che foi executado a tiros perto das 13h30 do dia 9. O corpo foi levado a Vallegrande, onde permaneceu exposto à imprensa e à população até as primeiras horas da manhã do dia 11. Enterrados numa vala comum, os restos mortais só foram descobertos 30 anos depois.

10. Para sempre, Che - O HOMEM NOVO

Sem ganhar um tostão, Che Guevara operou uma máquina que cortou 81 900 arrobas de cana na Província de Camaguey durante nove dias, em fevereiro de 1963.

O trabalho voluntário foi uma constante na vida de Che. Desde os tempos de sua primeira viagem, quando visitou hospitais paupérrimos no Peru e indignou-se mais com a pobreza que com a doença. Não foi diferente quando ele, por essas voltas que a vida dá, tornou-se dirigente de um governo em que ele acreditava sinceramente, um sonho que ele ajudou a construir. Em 1963, Ernesto era um dos principais dirigentes do governo cubano, Ministro das Indústrias, viajava pelo mundo, representava seu povo e apertava a mão de presidentes. Mas, voltando a Cuba, colhia cana. Para ele, era uma forma de estimular os demais cubanos a também se dedicarem ao trabalho voluntário, uma das principais características do “homem novo”, um dos conceitos formulados por ele, que advogava a necessidade de criarmos uma nova dimensão para as relações entre os homens, baseadas na solidariedade e na justiça social.

Em agosto de 1964, discursando em Havana, Guevara declarou que o trabalho voluntário prepara “o caminho para uma nova etapa da sociedade, onde não existirão as classes e, portanto, não poderá haver diferença nenhuma entre trabalhador manual ou intelectual”.

Guevara era comunista e revolucionário. Incorruptível e disciplinado, acreditava que o indivíduo precisa colaborar solidariamente com a transformação. Ele tinha um sonho. E sua rebeldia o levou aonde seu sonho podia alcançar. Por isso, os jovens o amam. Por isso, aqueles que ainda querem ser jovens o amam. Che é o próprio “homem novo”.

Um rosto para a história

A imagem mais reproduzida de Che foi feita pelo fotógrafo cubano Alberto Korda em 5 de março de 1960. Korda flagrou Che durante uma homenagem às 136 pessoas mortas durante uma explosão em Havana. Na ocasião, Fidel acusou a CIA de sabotagem. Korda morreu em 25 de maio de 2001

Coração americano

1ª Viagem

Buenos Aires (janeiro de 1952)

Ernesto Guevara parte de moto para conhecer a América. Levava mochila, saco de dormir, cobertor, mantimentos e pouca grana

Santiago (março de 1952)

A motocicleta é abandonada com defeito na embreagem e no freio. Guevara segue viagem de ônibus e de carona

San Pablo (junho ou julho de 1952)

No Peru, próximo à fronteira com o Brasil, Ernesto ajuda em um leprosário local. Nas horas vagas, joga futebol

2ª Viagem

Guatemala (dezembro de 1953)

Guevara aproxima-se dos grupos socialistas. O golpe de Estado contra o governo de Arbenz recrudesce sua disposição revolucionária

Cidade do México (setembro de 1954)

Ernesto viveu mais de dois anos no México. Trabalhou como médico e fotógrafo, casou-se e teve uma filha. Conheceu Fidel Castro e sua turma e tornou-se guerrilheiro. De quebra, ganhou o apelido de Che

Las Coloradas (novembro de 1956)

Na praia ao sudoeste da ilha, Che desembarca com outros 81 homens e entra em combate com tropas do Exército cubano. Apenas 15 sobrevivem: baleado no pescoço, Che está entre eles

Santa Clara (dezembro de 1958)

Bem no centro de Cuba, o local é estratégico para o controle dos transportes e da comunicação do país. Ali, liderados por Che, os rebeldes tomaram um grande carregamento de armas. Com isso, a vitória passou a ser uma questão de tempo

Havana (janeiro de 1959)

Guevara chega à capital como um dos líderes do movimento. Por dois anos, foi um dos responsáveis pela instalação do socialismo e, depois, exerceu várias funções no governo

Guerrilha na selva

Bolívia (novembro de 1966)

Che chegou disfarçado ao país para organizar um foco guerrilheiro, liderando um grupo de 17 homens. Ele foi capturado e executado pelo Exército boliviano em outubro de 1967, em Vallegrande

Saiba mais

Biografias

Che Guevara: A Vida em Vermelho, Jorge Castañeda, Cia. das Letras, 1997

Che Guevara – Uma Biografia, John Lee Anderson, Objetiva, 1997

Diários

De Motocicleta pela América do Sul, Sá Editora, 2001

Outra Vez, Ediouro, 2003

Passagens da Guerra Revolucionária – Congo, Record, 2000

Diário da Guerrilha Boliviana, Edições Populares, 1980

Para conhecer a ação no Congo, leia

O ano em que Vivemos em Lugar Algum, de Paco Ignácio Taibo, Frollán Escobar e Félix Guerra (Scritta, 1995), e sobre a guerrilha boliviana, Che Guevara e a Luta Revolucionária na Bolívia, de Luiz Bernanrdo Pericás (Xamã, 1997)
Fonte: Aventuras na História