16.12.10

Biografia de Descartes

Introdução sobre Descartes


Descartes
Penso, logo existo. Descartes teve bastante tempo ocioso para chegar a essa conclusão. Afinal ele passou quase toda a sua vida sem nenhuma ocupação, a não ser estudar, viajar e se isolar para refletir sobre questões filosóficas que o intrigavam. No fim, isso valeu muito à pena.

Após uma era de ouro na Grécia antiga, entre os séculos 6 a.C. e 4 a.C., a filosofia estava estagnada. Foram necessários cerca de dois mil anos para que ela ganhasse alguma originalidade. E o responsável por isso foi Descartes que propôs como temas fundamentais da filosofia moderna a primazia do indivíduo e a análise da consciência humana.

Apesar do Renascimento ter transformado as artes e as ciências desde o século 15 e a Reforma ter abalado a hegemonia da Igreja Católica no início do século 16, a filosofia ingressou no século 17 dominada pela escolástica, uma adaptação dos pensamentos aristotélicos à teologia cristã, e com a mesma falta de originalidade dos quase 20 séculos anteriores. Naquele momento, Descartes conseguiu formular uma filosofia adequada aos novos tempos e ela logo conquistou toda a Europa, fazendo do cartesianismo a base do pensamento científico moderno. Nas próximas páginas, conheça mais sobre a vida e a obra desse importante filósofo.

Descartes: pensador e cavalheiro

René Descartes foi o filósofo mais original que surgiu desde a morte deAristóteles. Nesse intervalo de quase 20 séculos, o mundo teve pensadores importantes como Santo Agostinho, Averróis, Avicena e Tomás de Aquino, mas eles apenas requentaram o que Platão e Aristóteles tinham criado. Nenhum deles apresentou nada de original. Descartes modificou esse estado moribundo da filosofia e mostrou ser um dos espíritos mais brilhantes de todos os tempos.

Ele nasceu em 31 de março de 1596 no vilarejo de La Haye, na antiga província de Touraine, na região central da França. Sua mãe morreu um ano após seu nascimento e seu pai, que logo se casou novamente, era juiz na Alta Corte da Bretanha e passava a maior parte do tempo longe de casa. Descartes foi criado pela sua avó. Sua infância foi solitária e ele revelava-se introspectivo e reservado. Aos oito anos começou a estudar num internato jesuíta destinado aos nobres locais. Como o reitor era amigo da família, o jovem e frágil Descartes tinha seus privilégios. Um quarto individual, permissão para dormir até a hora que quisesse e uma atmosfera mais relaxada para aprender. Seu desempenho foi brilhante e ao sair do internato mostrava-se um jovem sadio, mas entediado com os ensinamentos que aprendera, pois achava tudo uma bobagem.

Com 16 anos foi estudar direito na Universidade de Poitiers, mas após dois anos se desinteressou pelo assunto. Como dispunha de uma boa renda em função das propriedades que havia herdado da mãe – e por conta disso não precisava se preocupar em trabalhar – foi viver uma vida de solteiro rico em Paris. Mas também se entediou disso após dois anos por lá. Apesar de solitário, Descartes era irrequieto. Após a temporada em Paris tomou uma decisão surpreendente. Católico, acostumado a levantar por volta do meio-dia e sem experiência militar, ele alistou-se como voluntário nas tropas protestantes do Príncipe de Orange dos Países Baixos, que estavam em guerra com a Espanha católica.

As coisas começariam a mudar prá valer em função de um encontro fortuito. No seu período de vida militar, enquanto passeava pelas ruas da cidade holandesa de Breda, encontrou um cartaz com um problema matemático não-solucionado e colocado como um desafio aos transeuntes. Descartes que não entendia holandês pediu a um homem que também observava o cartaz que o traduzisse para ele. O homem concordou em traduzir desde que Descartes se comprometesse a tentar resolver o problema. Ele aceitou e na tarde seguinte levou a solução à casa do homem, que na verdade era o filósofo e matemático holandês Isaac Beekman. Esse encontro despertou o interesse de Descartes pela matemática e pela filosofia.

Descartes e o cartesianismo

No começo de sua vida adulta, Descartes teve uma visão que lhe revelara uma imagem matemática do mundo. Segundo sua interpretação, isso significava que o funcionamento do universo poderia ser explicado mediante a aplicação de uma ciência matemática universal. Na noite em que teve essa visão lhe ocorreram também três sonhos, que influenciariam profundamente o filósofo. Para ele, aquilo era uma revelação de uma incumbência que recebera de Deus e a partir de então prometeu a si mesmo dedicar-se apenas a sua vida intelectual.

Ele desistiu de sua vida errante, vendeu todos os seus bens e tornou-se cada vez mais recluso. Para se afastar de qualquer interrupção em sua missão de pensar, isolou-se completamente na Holanda, que era o país mais tolerante da Europa naquela época. Ele queria desenvolver um método isento de todos os preconceitos e hipóteses e baseado unicamente na certeza. A razão estaria acima de tudo nesse sistema que englobaria e unificaria todo o conhecimento. Descartes entendeu que para isso era preciso que a nossa reflexão obedecesse a duas regras mentais: a intuição e a dedução. Ele escreveu isso em seu tratado “Regras para a Direção do Espírito”. Estava inventado o método cartesiano.

Sua reputação cresceu na Europa e ele passou a escrever sobre vários assuntos científicos, como geometria e astronomia. Enquanto desenvolvia seus estudos, Descartes estabeleceu um relacionamento com uma jovem chamada Hélène, com quem teve uma filha de nome Francine. O filósofo ficou encantado com a criança. Nessa época começou a escrever aquela que seria sua mais importante obra, o “Discurso do Método”. Com ela, o filósofo lança os fundamentos da geometria analítica moderna, das coordenadas cartesianas, propõe a Lei da Difração na ótica, mas principalmente apresenta as ideias essenciais do seu pensamento que revolucionariam a filosofia. Na introdução desse valioso texto, ele estabelece sua única certeza fundamental, a de que é o fato de estar pensando a única prova da existência do ser humano. Um das mais famosas frases da filosofia em todos os tempos: “Cogito, ergo sum” (Penso, logo existo).

Enquanto finalizava “Meditações”, uma tragédia abalou profundamente Descartes. Sua filha Francine adoeceu e morreu. Àquela altura ele era tão famoso que até a realeza reconhecia seu valor. Ironicamente, esse fato acabou sendo fatal para Descartes. A rainha Cristina da Suécia insistiu para que ele fosse residir em Estocolmo para ensinar-lhe filosofia. Após negativas iniciais, Descartes não teve mais como evitar e mudou-se para a capital sueca em 1649. Obrigado a despertar às quatro horas da manhã para as aulas com a rainha e enfrentando o rigorosos e prolongado inverno escandinavo, Descartes acabou morrendo de pneumonia em 11 de fevereiro de 1650. Um capricho da realeza européia levou à morte um dos mais importantes intelectuais da história.
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