10.12.10

Guerra das Rosas: luta das casas reais

A Inglaterra ficou dividida na metade do século 15. Nobres disputavam o trono e duas dinastias, representadas por uma cor de rosa, acabaram por se enfrentar em batalhas que duraram anos, num histórico de traições, golpes e muita violência

por Cristiano Dias

William de la Pole era um dos homens mais importantes da Inglaterra. Construiu sua reputação e carreira militar na Guerra dos Cem Anos e chegou a comandar o cerco de Orléans, em 1429. A ascensão rápida lhe valeu um cargo na corte de Henrique VI e logo ele se tornou o duque de Suffolk e braço direito do rei. O vento mudou de lado quando a Inglaterra começou a colecionar fracassos nos campos de batalha. Seu nome passou a ser associado às derrotas e, em 1450, acabou preso e desterrado. Ele navegava para o porto de Calais quando seu navio foi detido por uma embarcação desconhecida. O duque de Suffolk subiu a bordo do outro navio e, mal havia pisado no convés, escutou alguém gritar: "Bem-vindo, traidor". Em seguida, foi colocado numa pequena barquinha e teve sua cabeça decepada com seis golpes de uma espada enferrujada.

A morte de Suffolk é um retrato da Inglaterra na metade do século 15, um país tomado pela violência. O fim da Guerra dos Cem Anos fez voltar ao reino uma turba de soldados habituados a proveitosos saques. Eram assassinos dispostos a lutar por qualquer causa, ainda que ela não fosse a mais justa. E não faltavam também na Inglaterra dessa época lordes com um projeto de poder. Tudo porque o direito sucessório havia sido rasgado e jogado no lixo desde que o duque de Lancaster liderou um golpe de estado, em 1399. Ele depôs o primo, o rei Ricardo II (1377-1399), e se coroou como Henrique IV (1399-1413). A partir de então, a Inglaterra passou a ser comandada por um usurpador. Sua coroação, com a chancela do Parlamento e o aval da Igreja, abriu uma brecha legal para que outros interessados, como os nobres da outra dinastia, os York fariam anos depois, reivindicassem o trono. Assim, o país entrou no século 15 carregando duas cargas perigosas: a confusão sucessória e o retorno dos soldados. O barril de pólvora estava armado. Os cavaleiros que retornaram para casa encontravam ocupação em exércitos privados, formados por lordes locais. Era a senha para uma guerra civil. Só faltava o elemento detonador – fardo que coube a Henrique VI (1422-1461).

O rei pobre

Henrique VI definitivamente não era talhado para tempos tão rudes. Rezava muito antes de cada refeição e mantinha sempre à mesa uma imagem de Cristo. Não dava a menor bola para a guerra e as rivalidades entre os barões do reino. Sua felicidade se constituía em ir à missa e estudar teologia. Em 1440, fundou a tradicionalíssima Escola de Eton e, cinco anos depois, mandou construir a capela do King’s College, em Cambridge. A falta de apego pelas coisas terrenas e todos esses empreendimentos arruinaram as finanças reais. Enquanto nobres e mercadores enchiam os cofres de dinheiro, o rei vivia endividado. Em 1451, Henrique teve de pedir emprestado para celebrar o Natal. No Dia de Reis do ano seguinte, já sem crédito na praça, ele e a rainha não puderam jantar.

Um rei tão ingênuo assim seria presa fácil para cavaleiros e barões sem escrúpulos. O primeiro que se apresentou para derrubar Henrique I foi seu primo Ricardo, duque de York. "A razão era simples. A coroa havia sido tomada pelos reis lancasterianos, e Eduardo se achava no direito de ser rei também”, diz Charles Derek Ross, autor de The Wars of the Roses – A Concise History (sem tradução). Em 1455, ele liderou 3 mil homens na direção de Londres. À frente do batalhão, o brasão da Casa de York: uma rosa branca. Suas tropas foram interceptadas no vilarejo de Saint Albans pelos soldados do rei, que levavam o estandarte dos Lancaster: a rosa vermelha.

Conflito interminável

Ricardo derrotou os soldados do rei, deixando um rastro de 300 mortos pelo caminho. A Batalha de Saint Albans, em 1455, foi o início da Guerra das Duas Rosas. Nos 30 anos seguintes, a Inglaterra veria uma dúzia de batalhas entre lordes que apoiavam as duas casas, com a vitória se alternando entre uma e outra rosa. Em uma delas, morreu Ricardo, duque de York, e coube a seu filho Eduardo conduzir o clã dos York na guerra.

Em 1460, yorkistas e lancasterianos voltaram a se enfrentar em meio a uma nevasca numa colina chamada Towton. Os arqueiros de Eduardo se posicionaram melhor e lançaram flechas a uma distância maior que a do inimigo. A Batalha de Towton foi vencida pelo duque de York. O rei Henrique VI fugiu com a família para a Escócia. Em 1461, Eduardo IV foi coroado na Abadia de Westminster.

A guerra estava longe de terminar. Lordes partidários dos Lancaster e o próprio rei deposto, Henrique, no exílio, mantinham viva a resistência contra os York. Eduardo IV apagou os focos de revolta e reinou com mão pesada, dando as costas à nobreza – inclusive para certos aliados, como seu irmão, o duque de Clarence, e o poderoso barão Warwick. Os dois nobres descontentes foram decisivos em 1469, quando mudaram de lado. Agora empunhando um estandarte com a rosa branca, eles conseguiram destronar Eduardo IV e chamar de volta do exílio Henrique VI.

A coroa voltou à cabeça de um Lancaster, mas por pouco tempo. Em menos de um ano, o duque de York reorganizaria seu exército e voltaria a ser rei, em 1471. Warwick foi morto em batalha, e Henrique VI, encarcerado na Torre de Londres. Para evitar futuros aborrecimentos, Eduardo mandou matar o rei e seu filho. Com isso, a Guerra das Duas Rosas sofreu uma parada brusca, até a morte de Eduardo IV, em 1483. Ele deixou dois filhos – o mais velho, de 12 anos. Contudo, seu irmão Ricardo, duque de Gloucester, mandou prender os dois garotos na Torre de Londres e se fez coroar como Ricardo III. Para garantir a posição, matou os sobrinhos.

A paz tinha uma chance. Restava um Lancaster: Henrique Tudor, duque de Richmond, que fugira ainda adolescente para a Bretanha. Se ele pudesse se casar com Isabel de York, filha de Eduardo IV, estariam finalmente unidas as duas casas. Quando o rei Ricardo III percebeu o perigo, era tarde demais. Em 1485, Henrique desembarcou na Inglaterra com 5 mil homens e marchou para depor o rei. Os dois se encontraram em Bosworth. O exército dos York tinha 10 mil soldados, o dobro da armada adversária. Ricardo III abateu vários guerreiros, mas foi morto. Apesar da disparidade, Henrique Tudor venceu a batalha e foi coroado como Henrique VII. No ano seguinte, se casou com Isabel, unindo as rosas branca e vermelha e ponto fim à Guerra das Rosas.

A luta do escocês Coração Valente contra a Inglaterra

Em 1296, o rei inglês Eduardo I anexou a Escócia. Em um ato de bravura, os escoceses, liderados pelo cavaleiro William Wallace, se revoltaram contra o domínio inglês. Apesar do menor poder de ação, a primeira grande vitória veio no ano seguinte, na Batalha da Ponte Stirling, que praticamente garantiu a independência da Escócia. Mas os escoceses foram derrotados em Falkirk, em 1298, o que obrigou Wallace a desenvolver uma tática de guerrilha. Isso viria a provocar enormes estragos no exército real, que perdeu centenas de soldados. O herói acabou sendo traído por um aliado, Robert the Bruce. Em 1304, Wallace foi capturado e executado. Em 1305, Bruce então se declarou rei da Escócia. Após vencer os ingleses na Batalha de Bannockburn, em 1314, ele de novo declarou independente a Escócia. A história se tornou conhecida em 1995, quando Mel Gibson produziu e dirigiu o premiado Coração Valente, vivendo ele próprio o papel de sir William Wallace. Embora a luta entre ingleses e escoceses ainda perdurasse por séculos, as duas coroas foram unificadas em 1603.

Fonte: Aventuras na História