Entre 1936 e 1939, a Espanha foi convulsionada por uma guerra civil que deixou meio milhão de mortos. Concluída há 70 anos, a luta dos republicanos contra os nacionalistas do general Francisco Franco (1892-1975) ficou marcada pela participação expressiva de voluntários estrangeiros. Aproximadamente 60 mil pessoas, de 53 diferentes nacionalidades, se alistaram nas Brigadas Internacionais, um grupo de apoio aos defensores da República. Os brigadistas perderam a luta para Franco, que tinha mais homens e armas, mas tornaram-se exemplo de sacrifício por uma causa. Um grupo de 15 brasileiros esteve lá. Vários deles tiveram participação marcante. Fonte: por Tadeu Breda
Esses soldados eram jovens que, em 1935, haviam participado da Intentona Comunista, a mal sucedida tentativa de golpe contra o governo Getúlio Vargas. Em 1937, eles foram para a Espanha. Saíram de diferentes locais, com destinos variados.
Em 1938, quando os brigadistas foram desmobilizados, começou uma nova aventura para os brasileiros. Vários ficaram em campos de concentração na Argélia e na França. Os que voltaram para casa foram presos. Com o tempo, suas experiências ficaram esquecidas. Hoje todos os veterenos estão mortos e apenas dois deles, Apolônio de Carvalho e José Gay da Cunha, escreveram memórias, os livros Vale a Pena Sonhar e Um Brasileiro na Guerra da Espanha.
GUERREIROS VOLUNTÁRIOS
Vindos de todos os lugares, os brigadistas atuaram na base do improviso
FALTA DE ESTRUTURA
Apesar do apoio da União Soviética, os armamentos usados pelas Brigadas eram ultrapassados. Muitos soldados usavam canhões da Primeira Guerra Mundial.
BATALHÃO INTELECTUAL
Em geral, os voluntários eram operários. Mas os artistas fizeram a fama do grupo. O escritor George Orwell, por exemplo, foi ferido no pescoço.
HOMENAGEM
Em 1996, o governo espanhol cumpriu uma promessa feita 60 anos antes: todos os brigadistas ainda vivos receberam cidadania espanhola. Foi o caso de quatro brasileiros.
AFINIDADE COMUNICATIVA
Brigadistas que falavam idiomas parecidos lutavam juntos. Vários brasileiros foram incorporados ao Batalhão Garibaldi, formado por italianos e espanhóis.
MARCAS TUPINIQUINS
Cidades onde brasileiros pegaram em armas e quatro casos heroicos
Nacionalistas
600 mil homens
600 aeronaves
Republicanos
450 mil homens
350 aeronaves
Brigadas Internacionais
60 mil pessoas
53 nacionalidades
Resistência física
Aqui Joaquim dos Santos sofreu ferimentos duas vezes
Morte no ar
O avião de Eneas Jorge de Andrade foi abatido e ele não sobreviveu
Ação arriscada
Em minoria, o tenente Eny Silveira assaltou uma trincheira inimiga
Granadas e mortes
Histórias de coragem e sangue em território espanhol
Em julho de 1938, as forças republicanas fizeram uma travessia surpresa em um trecho do Ebro, o mais volumoso rio espanhol. Durante os 100 dias seguintes, o Exército de Franco perdeu 30 mil homens, mas conseguiu matar 60 mil inimigos. Terminava assim, em tragédia, a última grande ofensiva das Brigadas Internacionais. Considerada por muitos historiadores como o conflito mais decisivo da Guerra Civil Espanhola, a batalha do Ebro contou com a participação de dez brasileiros. Nesse dia, o tenente pernambucano David Capistrano usou uma metralhadora para imobilizar os inimigos tempo suficiente para que seus homens batessem em retirada. Outra batalha que ficou marcada pela participação decisiva de um brasileiro foi a de Piedras de Aolo, quando o tenente gaúcho Hermenegildo de Assis Brasil lançou mais de 100 granadas de mão para repelir quatro assaltos consecutivos. Entre os compatriotas promovidos, destaque para Apolônio de Carvalho, que começou como capitão, alcançou a patente de coronel e chegou a comandar batalhões. Dois brasileiros morreram na Espanha. Um deles foi o piloto Eneas Jorge de Andrade. O outro, Alberto Besouchet, é uma possível vítima de fogo amigo. Pouco depois de chegar à Espanha, no primeiro semestre de 1937, ele desapareceu em Barcelona, durante um confronto entre dois grupos de brigadistas. Há suspeitas de que ele tenha sido fuzilado. "A morte do tenente ocorreu em condições ignoradas", afirma Paulo Roberto de Almeida, diplomata e pesquisador do assunto.