13.12.10

Século XX: Lenin e Wilson pela diplomacia exposta

Em 1914, milhares de europeus apresentaram-se voluntariamente às juntas de alistamento militar. Foto: Voltaire Schilling/Reprodução

Em 1914, milhares de europeus apresentaram-se voluntariamente às juntas de alistamento militar
Foto: Voltaire Schilling/Reprodução

No alto verão de 1914 milhares de europeus de idade variada apresentaram-se voluntariamente às juntas de alistamento militar. Por todo lado sentia-se uma euforia patriótica que fez com que a guerra que se avizinhava fosse a mais popular da história do ocidente. Estavam exultando em poder disparar uns contra os outros naquilo que foi provavelmente o maior surto de estupidez coletiva do mundo contemporâneo.

Entretanto, todos tinham motivos nobres para pegar em armas. A causa, acreditavam, era nobre: defender a pátria ameaçada. E, se for preciso, morrer por ela. Foram para as trincheiras aos gritos de Liberdade! Liberdade!

Até os partidos integrantes da IIª Internacional Socialista que juraram fazer uma greve geral contra a guerra sucumbiram à maré belicista, votando nas verbas necessárias para municiar os exércitos e as marinhas.

Somente um minúsculo grupo de exilados russos, liderados por Lenin, então um desconhecido que vivia em Berna, na Suíça, não se deixou seduzir pelo clamor sanguinário. Em setembro de 1915, reunido em Zimmerwald com outros socialistas, ele defendeu a tese de que a 'a guerra imperialista deveria se transformar em guerras civis', para por abaixo a ordem reinante. Mas foi uma declaração inócua.

Tirar a Rússia da guerra
Dois anos e dois meses depois, em novembro de 1917, Lenin e os bolchevistas tomava de assalto o poder na Rússia enquanto o czarismo ruía estrepitosamente. Seu primeiro movimento foi tirar o país da guerra e fazer a paz.

De qualquer modo a Rússia, exausta e com o exército amotinado, não podia mais continuar enfrentando as Potências Centrais (Império Alemão e Austro-húngaro).

Deu-se então que os aliados ocidentais (Grã-Bretanha, França e EUA) jogaram todo o seu peso no sentido de evitar isto. Precisam do soldado russo no fronte leste para fixar parte dos alemães por lá.

A resposta de Lenin foi a publicação dos 'documentos secretos' encontrados no cofre do Ministério do Exterior russo e imediatamente publicados no jornal Yzvestiya entre 10 e 23 de novembro de 1917. Foi a maior exposição até então conhecida das vísceras de um estado.

Os documentos secretos
Lá estavam as provas de que a matança que havia devorado dezesseis milhões de vidas não tinha nada a haver com a 'defesa da pátria', mas era um vergonhoso jogo de toma dá cá de territórios acertado entre os chefes de estado das potências. A guerra, enfim, fora travada com fins imorais. (*)

O presidente dos Estados Unidos W.Wilson, um sincero idealista, dada a repercussão do episódio terminou por colocar nos seus Quatorze Pontos (apresentados ao Congresso em 8 de janeiro de 1918) o compromisso de abolir com a diplomacia secreta como proposta futura a ser seguida por todas as nações. O seu primeiro artigo dizia: 'Inaugurar pactos de paz, depois dos quais não deverá haver acordos diplomáticos secretos, mas sim diplomacia franca e sob os olhos públicos'(-1º dos 14 pontos do presidente Wilson, 1918)

Agora, no caudal da guerra americano-afegã, assistimos outra vez a divulgação de uma massa impressionante de 'documentos secretos' pela WikiLeaks, liderado por Julian Assante, de certo modo cumpre com o programa do presidente Wilson que desejava arejar as relações entre os estados. Só que os tempos do idealismo foram-se há muitos anos com a morte dele.

(*) Os 'documentos secretos' eram composto por uma série telegramas, memorandos, notas diplomáticas trocas entre as embaixadas das potencias aliadas e o ministério do czar. Entre outras preciosidades trazia a proposta de uma barganha pela qual a Grã-Bretanha garantia à Rússia a posse dos estreitos dos Dardanelos, em troca do reconhecimento russo sobre a tutela inglesa sobre a Pérsia. A França, por sua vez, pedia o reconhecimento para a futura anexação da Alsásia-Lorena ao território nacional.

Bibliografia
Deustcher, Isaac - Trotski, o profeta armado. Rio de Janeiro: Editora civilização Brasileira, 1968.

Fischer, Louis - A vida de Lenin. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1967, 2 v.

Kissinger, Henry - Diplomacia. Lisboa. Gradiva, 2009.

Fonte: VOLTAIRE SCHILLING