23.5.13

Quem ensina história da ciência?



Químico fez essa pergunta e colocou a resposta em tese de doutorado. Além disso, ainda questionou a licenciatura em química no país, que não estaria formando professores qualificados para usar como método o ensino da história da ciência em sala de aula.

Por: Thiago Camelo




John Dalton (1766-1844) é retratado em seu laboratório. Quem estuda história da ciência descobre que o inglês – conhecido sobretudo como químico e físico – era também meteorologista (foto: Wikimedia Commons).


O repórter desliga o telefone. Cinco minutos depois, chega um e-mail do entrevistado. "Sobre história da ciência, compartilho a seguinte ideia: é um estudo analítico da ciência sobre os seus métodos, caminhos, resultados, conceitos, instituições e contexto social, político e cultural."

O remetente da mensagem eletrônica é o químico Deividi Marcio Marques, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU, de Minas Gerais). Provavelmente, não estava satisfeito com a resposta que dera havia pouco à pergunta: "Como definir 'história da ciência'?".
"Quando falamos em história da ciência, reconhecemos que a ciência é uma construção"

A resposta não tinha sido ruim, apenas mais ampla: "Quando falamos em história da ciência, estamos falando da história da humanidade, reconhecemos que a ciência é uma construção".

A mensagem ansiosa entrega a preocupação que Marques tem com o tema e explica, em parte, a razão por que defendeu tese de doutorado na Universidade Estatual Paulista de Bauru sobre a formação de professores de química no contexto da história da ciência: é um tema com o qual ele tem apreço e cuidado.


Pesquisa com estudantes

Marques se propôs a conversar com estudantes de química prestes a se formar e buscou, basicamente, duas respostas: "Você tem interesse na história da ciência?" e "você aprendeu sobre o assunto no curso?".

As respostas, publicadas e analisadas na tese defendida em junho deste ano, foram reveladoras: a) os alunos têm interesse em história da ciência; b) eles não sabem exatamente onde encontrar material para estudo; c) mesmo que encontrem esse material, a maioria dele está em inglês – o que dificulta bastante o aprendizado; d) mesmo que o material esteja em português, ele é extenso e de difícil compreensão.
Há vontade de aprender, não há material para se ensinar

A tese de Marques apontou, portanto, dois caminhos: há vontade de aprender, não há material para se ensinar.

O químico ainda relata situação preocupante: "Muitos alunos reclamaram da qualidade dos professores que lhes ensinaram história da ciência, disseram que eles não tinham domínio completo do que falavam", diz.


Modelos atômicos


Marques cita uma aplicabilidade prática da história da ciência no ensino de base: o aprendizado de modelos atômicos.

"Geralmente, ensina-se os modelos gregos e se dá um pulo de 1000 anos, até chegar a John Dalton", narra o quimico. "Dá-se um outro pulo, agora de 100 anos, até encontrar Thomson, e por aí vai", completa.
É necessário explicar e contextualizar a época em que o cientista vive

Para ele, seria necessário explicar e contextualizar a época em que o cientista vivia, gerar no aluno a curiosidade de saber por que, naquelas condições, o pesquisador chegou àquele resultado.

Além disso, a história da ciência serve para corrigir erros propagados ano após ano: "Pouca gente sabe, mas Dalton era meteorologista", conta Maques, que, atualmente, dá aula no curso de química da UFU.

Ele ainda apronta com dois alunos uma pesquisa que tem como viés a história da ciência. Também tem um grupo de teatro com alunos e professores chamado 'Luz, química, ação', que pretende, por meio de encenação, divulgar a história da ciência.

Aos 30 anos, o químico faz sua parte para jovens, como ele, terem em mãos um novo material para ensinar (a história da) ciência.

Thiago Camelo
Fonte: Ciência Hoje On-line